Odi profanum vulgus et arceo

23/04/06

Vox populi: a Lei malparida

Sinceramente, acho mal. O povo, essa massa constituída por seres-humanos absolutamente desprovidos de raciocínio - espécie de minhocas estranhamente bípedes, para a qual espécie a finalidade última da existência consiste em absorver nutrientes por um orifício e evacuar os desperdícios por outro - andará agora extremamente confusa, inquieta com mais esta extraordinária invenção dos políticos, essa outra subespécie de vertebrados que ociosamente se entretém a endrominar coisas complicadíssimas. Em suma, refiro-me à legislação recentemente aprovada pela Assembleia da República sob a mimosa designação de "Lei da Paridade", e às nefastas consequências que tal trapalhada virá a ter nas referidas cabecinhas elementares, e os efeitos devastadores que poderá acarretar para o cerebelo rudimentar e diminuto - do tamanho de uma cereja, para ser exacto - que se lhes situa entre as orelhas e o escalpe.

Sinceramente, repito, acho mal. O povo fica, em sentido literal, todo fodido quando "se" depara com novidades e incompreensibilidades quejandas. O que o leva, ao povo, a exercícios de terríveis e imprevisíveis consequências, como sempre acontece - e como é lógico - quando se pede, por exemplo, a um cefalópode desprovido de cabeça que raciocine sobre determinado tema ou que resolva certo problema. Convenhamos, deve ser mesmo lixado, para o polvo, para a lula, como é para o povo, para a matula: o que caralho vem a ser essa tal coisa da paridade, assim prizemplos?

Tentemos, exercitemos, academicamente falando, por mais absurdo que tal possa parecer, as nossas capacidades de emulação do pensamento imbecil, do raciocínio totalmente acéfalo. Não será fácil, já pelo paradoxo, já pela intrínseca loucura do exercício. Ora, portanto, vejamos: o que "pensará" o povo sobre a tal Lei da Paridade? Como articulará a questão, como a encaixará (entre duas "imperiales", três peidos e dois arrotos), encostado - o povo, essa horrível figura de Bordalo Pinheiro, labrego atarracado, barbudo, porco, troglodita - ao balcão seboso de qualquer tasca, o seu habitat natural? Como discutirão entre si os elementos da espécie tão ingente, patente, urgente, inteligente, de repente questão?

O diálogo que se segue, escutado por mim mesmo, em carne e osso, ontem, na Leitaria das Trinas, à Rua das Trinas, em Lisboa, por coincidência, e cuja leitura se desaconselha a menores de quarenta anos e a pessoas normais em geral, poderá lançar alguma luz sobre o assunto.

_ Pá, caralho, essa merda da lei da paridade (óquiéí) é uma ganda paneleirice lá deles, dos políticos, esses chulos d'um filhadaputa. Cá pra mim é pra ver s'arranju maizuns tachos, ó caralho, filhosdaputa.
_ Pá, caralho, mas isso éoquêí, essa puta de lei da paridadi ó o caralho mais velho?
_ Pá, caralho, tázavêri, a lêí da paridadi tem a vêri c'oas melheris: paridadi vem de parir, tázavêri? As gajas é que são capazes de pariri, e parece que há poucas gajas na p'lítica, ó caralho.
_ Pá, caralho, pariri? Ah, pois. Pariri, paridadi. Entendi. Nã sabia, nã senhora.
_ Pá, caralho, é assim: é a ver se há tantas gajas deputadas como gajos deputados, lá no parlamento, ó caralho.
_ Pá, caralho, pois, bem me parecia. Tá bem visto, tá sim senhora. Paridadi vem de parir, prontes. Atão mas e essa merda é só prás deputadas? Qué-se dezêri: agora não vou ter que levar c'oa essa merda lá em casa, vou? Foda-se! Caralho!
_ Pá, caralho, és mesmo burro. Mas qual lá em casa qual cacete! Foda-se! Ganda besta, ó caralho! Isto é uma merda lá dos políticos, ó caralho. É só ali em S. Bento, tázavêri? O resto que se foda. Fica tudo na mesma. Isto digo eu, cá na minha...
_ Pá, caralho. Que se foda lá essa merda, foda-se. Puta que pariu as mulheres, parideiras ó o caralho que as foda. Qué-se dezêri: atão agora uma gaja, lá porque é capaz de pariri tem drêto a um tacho de deputada? Olha que caralho! Gandas filhosduma puta. São todos iguais, esses cabrões. Chulos do caralho.
_ Pá, caralho. Podes crer. Mas prontes. Caga nisso. Ó sê manéli. É más duas aqui prá gênti, fáxabôri.





Nota: nas "leitarias" de Lisboa não se serve leite, por mais estranho que isso possa parecer. É mais bagaços, cerveja, vinho, "uísquezinhos", Favaios, "martines", etc. Também há jaquinzinhos fritos, muelinhas, pipis, pica-paus, dobradinha, caracóis, caracoletas, pataniscas e outros salgadinhos. Os diminutivos do cardápio raramente se coadunam com os preços, mas muito com a qualidade. São, contudo, locais de observação excelentes para o zoólogo mais interventivo ou mesmo inexperiente. E são também, por fim, reservas naturais onde nunca penetrarão coisas tão abstrusas como a tal da paridade (óquiéisso).

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22/04/06


A verdadeira receita de posts de pescada

para um arroto atrevido

Ingredientes:
meia colher de chá
uma tonelada de descaramento
algumas noções de gramática
uma mão-cheia de amizades
duas ou três referências descaroçadas
calão à discrição
um gajo tipo "ó mô-mô-mô"
lata q.b. (quanta? Bué)

Material necessário:
máquina de encher chouriços
computador (previamente ligado à corrente)
linha telefónica, ou cabo, ou um bom tacho
weblog (grátis) a fundo negro (também grátis)


Preparação:
Cozer o gajo em lume brando, retirando-lhe depois os ossos, as peles, as penas e, já agora, as peúgas.
Introduzir o gajo, cortado em pedaços grosseiros, com um conjunto de entre 184 e 335 palavras, tudo ao mesmo tempo, na máquina de encher chouriços; efectuar a manobra em cachão, empurrando energicamente para baixo com o peso do descaramento.
Corrigir a massa produzida, al dente, mais melosa ou mais peganhenta, utilizando as noções de gramática e polvilhando com o calão, a gosto mas sem ser sovina.
Dispor o produto parcimoniosamente, em pequenos montinhos (posts) na travessa (blog); enfeitar a coisa dando uns toques meio cubistas com a ajuda da grande lata.
Verificar se o efeito visual produzido é suficientemente parecido com a versalhada do aramaico, mas em versão revista e aumentada. Corrigir o alinhamento dos parágrafos, se necessário.
Avisar os amigos ("tá na mesa, pessoal"), dando-lhes tempo para que escrevam as suas referências sem caroço (ó maravilha, que espanto, ah, temos artista, etc.).
Mirar a própria imagem reflectida no fundo da colher de chá meio cheia, tendo o cuidado de não entornar.
E pronto. Burp! Aí está a verdadeira Miss Tela, também conhecida como Miss Xórdia, cujas origens remontam à conhecidíssima, ancestral, simplérrima, incrivelmente saudável sopinha de letras.



(imagem de texto: Gunnarswanson)

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17/04/06

Jeep urbano


Existe um modelo humano que vem equipado de série com esquecedor. Vocacionado para o todo-o-terreno existencial, este modelo apresenta tracção integral igualmente de origem e um comportamento invejável em velocidade de cruzeiro. Obviamente, perde bastante embalo quando se lhes puxa pelos cavalos, em sendo necessário. Mas não se pode ter tudo. O esquecedor, essa genial engenhoca - caríssimo extra na generalidade dos modelos topo-de-gama - possibilita uma condução suave e discreta, quase subtil, mesmo nos terrenos mais acidentados e principalmente quando depara com obstáculos inesperados, terrenos arenosos, areias movediças, troços destruídos por intempéries, pântanos, barreiras de qualquer espécie ou mesmo encruzilhadas difíceis.

Fiável até ao absurdo, este modelo representa, por assim dizer, o paradigma do meio de transporte ideal para a família excêntrica, não convencional. Um must, sem dúvida. Peça já o seu test-drive. Vai ver que, depois, não quer outra coisa.

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13/04/06

O pobrema


Os comunistas, os socialistas e outros esquerdistas indiferenciados, regem-se por uma lógica existencial extremamente simples mas, ao mesmo tempo, absolutamente incompreensível: o que é pobre, é bom. Não há porquês na coisa. É só isto, o axioma: se alguém é pobre, ou se, pelo menos, tem aspecto de pobre - ou um pobre aspecto - determinado ser-humano, um qualquer, ao calhas, só pode ser excelente, bondosa, superior, fascinante pessoa. O que é total, radical, definitivamente atestado pelo seguinte silogismo: gajo que é rico, ou herdou ou roubou, e por isso não passa de refinadíssimo filho de uma puta; homem que é pobre, nem herdou nem roubou, sendo portanto filho de gente séria; logo, a riqueza é uma grande sacanice e a pobreza um bem em si.

Acontece que já não se fazem pobres como antigamente. Nem ricos, de resto. Hoje em dia, qualquer mecânico de automóveis, canalizador, pintor de paredes ou serralheiro, protegido pela abençoada designação genérica de "operário", ganha tanto ou mais do que um cabrão de um neurocirurgião, por exemplo. Coisas destas, constatações ou comparações deste teor, se por um lado escavacam a puta da teoria esquerdista, por outro irritam profundamente os mesmos esquerdistas, que se recusam a reconhecer, ou a sequer ver, que foram ou estão a ser indecentemente, descaradamente roubados sempre que necessitam dos serviços de qualquer desses "operários".

Os esquerdistas olham para qualquer peixeira com o mesmo fácies embevecido que fica bem aferrolhar quando se observa um ternurento cachorrinho: ah, que lindo, que amoroso. Espraia-se-lhes radioso sorriso na expressão sempre que lhes é dado observar uma cena lúdica, campestre, aldeã, lavadeiras a lavar roupa no tanque, camponesas plantando o arroz, pescadores remendando suas artes, oleiros fazendo rodar o torno com o pé e com destreza. Comunista que é comunista até se baba de prazer quando tem o privilégio, a bênção da contemplação do povo. Ah, o povo, o povo. Que maravilha, exclamam, entre profundos suspiros. Admiram, miram e remiram, tiram fotografias e fazem filmes, organizam excursões ao "país real" e ao "Portugal profundo", fazem exposições de "arte popular" e concertos de música idem, produzem séries e filmes que pretendem retratar a realidade que imaginam ser a do povo e dos pobrezinhos em geral, debatem entre si a "problemática da pobreza", esgrimem argumentos sobre os direitos dos "mais desfavorecidos", e assim por diante.

A aglomeração intelectualóide em torno da pobremática é não apenas sistemática e obsessiva como chega às raias de verdadeiro festival. O pobrema constitui, de resto, motivo central da agenda política, chegando-se cada qual o mais à frente que pode, na chamada "defesa" dos tais, estranhíssimos, misteriosos direitos das classes populares; direitos esses, aliás, de carácter evidentemente divino, já que foi o próprio filho do Homem quem disse coisas como "bem-aventurados os pobres, porque deles será o reino dos céus" ou, e esta é de escachar, "mais facilmente passará um camelo pelo buraco da agulha do que entrará um homem rico no paraíso". Claro que o pessoal das esquerdas se marimba perfeitamente para estas coisas da religião, mas às vezes uma citaçãozinha ou outra vem mesmo a calhar para o raciocínio, para a lógica subjacente ao primado da pobreza.

Mesmo na gente das chamadas direitas, existe o mesmo, profundo, arreigado, entupidor complexo de culpa em relação ao pobrema. Muita gente com algum juízo apresenta os mesmos sintomas de idolatria do ícone popularucho, o mesmo sentimento de culpa pelo que imaginam ser e pelo que ouviram dizer que é o pobrema. Herdeiros de informação genética da facção Pedro Homem de Melo do antigo regime, esta categoria de burgueses "populares", se bem que mais virada para a caridade periódica, como método de alívio para a culpa que carrega, ainda assim é gente que lá vai comprando seu artesanatozinho das Caldas, bem como contribuindo esporadicamente para as obras de mérito, como o "combate à pobreza", os "bancos da fome" e coisas que tais. A nenhum dirigente das classes economicamente desafogadas ocorre sequer a peregrina ideia de tentar pôr cobro ao roubo, ao saque, ao sistemático, quotidiano assalto de que é vítima, por parte do seu estucador, do seu electricista, do motorista de táxi que o conduz. A lavagem ao cérebro esquerdista foi tão eficaz, ao longo de mais de trinta anos, que mesmo o mais retinto dos fascistas se deixa levar, amodorrado, pela vaga sensação de que é perfeitamente justo ser roubado por quem nada tem, ou que pelo menos parece não ter o suficiente.

Por junto, e arredondando a conta por cima, o facto é que toda a gente acha muito bem que um qualquer labrego, imundo, grosseiro, ignorante, troglodita e imbecil pobrezinho profissional cobre o que muito bem lhe apetecer por mudar as velas a um motor ou por desentupir um autoclismo; sem qualquer factura, ou sequer recibo legalmente reconhecível, evidentemente, tudo direitinho para o bolso do "operário", que não paga um tostão de impostos, nunca pagou nem pagará, e que muito provavelmente estará recebendo um qualquer subsídio do Estado, de desemprego ou por invalidez, ou que, em muitos casos, não paga nem a fornecedores nem aos seus próprios empregados. Porque a coisa já chegou ao ponto de existirem verdadeiros empresários da pobreza, isto é, pessoas que - a coberto do seu vitalício estatuto de pobrezinhos - se estabelecem por conta própria, com outras pessoas ao seu serviço, mas de forma integralmente clandestina; são conhecidos os flagrantes de redes de mendicidade organizada, mas existem também muitos outros, nas áreas da construção civil e, em especial, nos serviços de mecânica automóvel.

Essa gente, ninguém se atreve a fiscalizar. É a impunidade total. Um nirvana, um paraíso existencial português, do qual esta nova classe de privilegiados, legal e oficialmente protegidos, se ri alarvemente.

Pessoas para as quais representa tremenda sorte pertencerem a qualquer minoria étnica, e às quais é oferecido, de mão beijada, um apartamento inteiramente grátis (ou a preços simbólicos, apenas para disfarçar o escândalo). Pessoas que são premiadas pelo facto de viverem do tráfico de droga ou do contrabando, às quais são atribuídos subsídios diversos sob a capa de "reintegração", como recompensa pelo facto de se declararem dispostos a largar o seu modo de vida criminoso. Pessoas que vivem de esquemas e de trampolinices sortidas, geralmente muito imaginativas, que nunca em toda a sua vida contribuíram fosse com o que fosse para o erário público, mas às quais o mesmo erário "garante" um mínimo de subsistência sem quaisquer contrapartidas ou garantias.

É esta a nova classe de ricos pobrezinhos, os que passeiam os seus andrajos tradicionais em viaturas topo-de-gama, os que enchem os restaurantes mais dispendiosos com o seu ruído e com as suas cascas de lagosta, os que se entretêm atroando os ares e fazendo vibrar as paredes com as suas aparelhagens "Hi-Fi" a alto débito de música pimba.

Em substância e em género, não existe qualquer diferença entre o que rouba o banqueiro e o que rouba o caixa do Banco. Em género e em substância, qualquer António Champalimaud tem um émulo operário, certo Zé das Iscas ou Toni Bacano, roubando cada qual na medida das suas possibilidades, ou seja, aquilo que e enquanto os mecanismos de regulação do Estado o permitirem, fecharem os olhos ou assobiarem para o ar. A essência daquilo que os distingue reside não no que fazem, roubar, sacar o mais que podem no mínimo de tempo possível, mas precisamente no modo como a opinião pública encara um e outro dos dois tipos de vigaristas, arrivistas, parasitas: o rico é um filho-da-puta, não por roubar mas porque é rico; o pobre (que não é sequer pobre coisa nenhuma) está automaticamente desculpado, ilibado, porque, coitadinho, é pobrezinho, e portanto não rouba, porque se roubasse não era pobre, pelo contrário, estaria podre de rico.

Uma lógica férrea, como se vê. Os pobrezinhos agradecem.

E os ricos também, já agora.

Uns e outros apenas têm a ganhar, quanto mais não seja virem algures no futuro a ser os mais ricos, os mais saudáveis, os mais belos do cemitério, enquanto puderem continuar a sugar todos aqueles que não são nem uma coisa nem outra... mas que gostariam de ser. Os indecisos, os hesitantes, os patarecos, os brancos, os homens, os portugueses, os heterossexuais, os não toxicodependentes, os não alcoólicos, os que pagam impostos, os que têm bilhete de identidade e cadastro limpo. Os mesmos, portanto, que sustentam e apoiam - entusiasticamente - a bipolaridade política fulcral: de um lado os ricos, os cabrões, do outro os pobres, coitadinhos. Nada no meio. Nada de fora. Nada. Nem um simples neurónio.

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12/04/06

Vai levar na peida digital

Mesmo tendo alguma razão


Despedida Digital

Clara Ferreira Alves

Quando o Diário Digital começou não havia diários digitais. Quando comecei a escrever aqui, pouco tempo depois de ter começado, a imprensa portuguesa vivia na supremacia do papel e da pasta de papel, como viveu durante anos, com viveu sempre desde Gutenberg. O projecto partia, assim, como uma ousadia anacrónica por antecipação. Hoje, todos os jornais, ou quase todos, têm páginas online e alguns mostram essas páginas mediante o pagamento de uma quantia, o que também sempre me pareceu elementar. A gratuitidade dos jornais da internet só se justificava se, tal como os jornais de distribuição gratuita como o Metro e o Destak, a quantidade de publicidade inscrita pagasse os custos da publicação. Não aconteceu. Não aconteceu ainda, na minha opinião.

Nestes anos todos, o meio e o suporte têm sofrido as mais variadas alterações e adaptações, e os jornais de referência, impressos e vendidos em papel, entalados entre a competição (e a competência) das televisões e a obsolescência natural, têm sido obrigados a adaptar-se ou morrer. O formato broadsheet tem vindo a revelar-se impraticável e substituído por formatos menores e manuseáveis, a reportagem e a entrevista, sobretudo a reportagem, têm vindo morrer e a ser substituídas pela opinião e as «hard news», a manchete já não é a essência da primeira página, as pequenas notícias e as breves ocupam o lugar dos artigos de fundo, a fotografia mudou a sua função ilustrativa e subsidiária, a pedagogia jornalística (por insuficiente ou superficial que fosse) foi trocada pelo sensacionalismo, as secções culturais deixaram de interessar o grande público (também por culpa da neutralidade e banalidade da abordagem dessas secções culturais, cultoras da prosa de epígonos e da indiferenciação crítica), a reportagem de guerra acabou por falta de fundos, a reportagem de investigação extinguiu-se ou vive da denúncia e da administração de rancores denunciantes, as secções políticas privilegiaram a intriga adjectiva sobre a substância informativa e, com tudo isto, e apesar de a fornada de jornalistas ser hoje mais culta e mais educada e mais informada e mais preparada do que alguma vez foi, os jornais não estão por isso mais interessantes ou atraentes.

Os jornais ainda não encontraram a fórmula para combater os seus dois inimigos, a televisão e a net, incluindo esse novo mundo da blogosfera, que será em breve um velho mundo e sofrerá o seu backlash. A blogosfera é um saco de gatos que mistura o óptimo com o rasca e acabou por tornar-se um prolongamento do magistério da opinião nos jornais. Num qualquer blogger existe e vegeta um colunista ambicioso ou desempregado ou um mero espírito ocioso e rancoroso. Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, agora publicam-se as ejaculações. Mas, sem querer estar aqui a analisar a blogosfera e as suas implicações, nem a evidente vantagem dessa existência e da qualidade e liberdade que revela por vezes, destituindo do seu posto informativo os jornais e televisões aprisionados em formatos e vícios, o resíduo principal de tudo isto é que os jornais mudaram, e muito, e mudaram muito rapidamente. Parafraseando Pessoa na hora da morte, We know not what tomorrow will bring.

O Diário Digital muda agora. Esta é a última crónica que aqui escrevo e devo dizer que, estes anos todos, gostei de escrever aqui e gostei que um jornal digital se aguentasse contra ventos contrários ou as pitonisas que diziam que os jornais digitais não seriam lidos e muito menos pagos.

Continuo a achar que o jornal digital é o futuro e que pertenço a uma das últimas gerações que venera o papel como suporte nobre da palavra. Daqui a 50 anos, nem a oferta de um faqueiro em ouro gravado com as iniciais do leitor poderá levar os leitores de jornais, com as suas casas digitais e a sua informação integrada, a comprar papel em vez de acender o écrã.

Até uma leitora compulsiva de jornais como eu era, se tornou uma leitora de jornais na net, e o New York Times dos domingos chega-me aos olhos sem que tenha de ir a Nova Iorque. Continuo, apesar de tudo, a gostar do cheiro dos jornais. E, quando vou a Nova Iorque, continuo a comprar os quilos do NY Times de domingo mas, porque sou do antigamente, porque gosto do papel e de revistas e porque gosto de o levar ao colo para o café. Um dia, os leitores de jornais em cafés também desaparecerão, e todos os cafés serão internet cafés ou os seus avatares. Os cafés literários são hoje, como sabemos, peças de museu para turista ver. Ninguém escreve poesia e prosa ou faz tertúlia de café. Infelizmente. Com a morte do café literário morre uma literatura mas, isso é outra conversa.

A net mudou o mundo e mudou-nos a nós. Também os jornais digitais têm de se adaptar ou morrer porque mesmo estando certos com o seu tempo, têm como os seus colegas escritos de combater a competição e tornarem-se mais atractivos do que ela. Desejo que o Diário Digital se reformule, continue, e não desapareça. E foi um prazer, estes anos todos, trabalhar com os seus editores e com a impecável cavalheirismo e boa administração do Luís Delgado. E que nunca, apesar de ideologicamente em campo diferente do meu, me tolheu a liberdade quase «licenciosa» de certas coisas que aqui escrevi. Desejo ao DD felicidades e muitos jornais por fazer.

Diário Digital, 05-04-2006 21:33:05

Qué-se dezere. Não me parece.
Nenhum colunista, daqueles tradicionais, que escrevem a lápis em papel, pode ser ambicioso.
Nenhum colunista empregado, mesmo que escreva a maço e escopro em papiro, pode estar desempregado porque, se estiver, certamente irá despejar o seu despeito para um blog manhoso
Os jornais têm dois inimigos, a saber, a televisão e a net; inimigos, filha? Mas adonde? E porquêí?
A gente que escreve em blogs é aquela que gostaria de escrever nos jornais, além daqueles que escrevem nos jornais. Respectivamente, os espíritos desempregados e os colunistas rancorosos.
Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, agora publicam-se as ejaculações. Dantes, filha? Agora já não?

Qué-se dezere. Também me parece.
O blogbairro será em breve um bairro-de-lata, decadente, em ruínas, deserto e mal cheiroso, patrulhado por meia-dúzia de gatos escanzelados e famintos, miando tristemente pelos cantos. Todos eles, os gatos, saídos do mesmo saco, todos da mesma raça, todos filhos da mesma mãe, extinguir-se-ão por fim devido a problemas de consanguinidade.
A gente que escreve em blogs é a mesma gente que escreve nos jornais, além daqueles que gostariam de escrever nos jornais. Respectivamente, os colunistas ociosos e os espíritos rancorosos.
Não serás tu, ó Brutus, um infoexcluído? Serás tu, ó Clara, uma ninfoexcluída? Não vegetará em ti um blogger ressabiado?
Esta foi a última coisa "licenciosa" que a rica escreveu no DD.

(pista para o link: Desblogueador de conversa)

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11/04/06

Agarrado


Comecei a fumar à séria aos doze anos. Antes disso, apenas umas experiências, geralmente desagradáveis, com barbas de milho, com cigarros feitos à mão, com restos de beatas apanhadas do chão e também, por esquisito que pareça, com os cigarros de chocolate que então se vendiam nas pastelarias; houve uma ocasião em que dei uma passa numa folha de papel cavalinho enrolada, sem tabaco nenhum lá dentro. Maluquices da juventude. Mas enfim, a sério mesmo, a travar e tudo, foi só aos doze. Acho que passei a barreira do maço por dia aí aos quinze ou dezasseis, mas estou certo de que ultrapassei a marca dos quarenta cigarritos diários ainda antes da maioridade. É que, sabe, esta coisa é terrível, um vício danado, a gente quanto mais fuma mais gosta de fumar. É uma chatice, mas eu cá gosto e sempre gostei de fumar. Mas também, vejamos, agora sou um veterano, já não marcha uma porcaria qualquer. Uma coisa é fumar cigarros outra coisa é fumar SG Filtro. Ainda me lembro dos High-Life, dos Provisórios e dos Definitivos, que nomes espantosos, e de outras marcas, nacionais e estrangeiras, que desapareceram: Ducados, Gitanes, aquilo era tabaco negro, muito forte, havia uns que tinham uns cristais no filtro, acho que era o 2002 Control, os Ritz, o maço com mais classe da História, o SG Ventil e o SG Gigante - foi a minha marca favorita, durante uns tempos -, uns de mentol que havia e que a gente dizia que eram cigarros de puta, porque davam tesão, não me lembro da marca... enfim, que jovens e inocentes que era a rapaziada daquele tempo. Eu cá topava tudo, compreende? Passei um ano ou dois a fumar cachimbo, tive dois ou três, não descansei enquanto não lhes queimei a chaminé a um terço, como manda a regra. Um espectáculo, faz favor senhor doutor. E agora é isto, aqui estou, mais para lá do que para cá, cheio de doenças, com chatices até ao garrote. Fizeram muito bem em mandar-me para aqui, faz favor senhor doutor, pode crer, eu estava mesmo a pedi-las. Bem vejo que estava enganado, afinal isto não é a lavagem ao cérebro que eu pensava que era, e que sempre disse que era. Estava redondamente enganado. Aliás, devo dizer que, agora acho, isto sim, é acção social, é uma coisa altruísta e benemérita, algo que se deve apreciar e a que nunca se deve renunciar. Toda a gente podia ver perfeitamente o estado a que eu cheguei, aliás vê-se logo, um tipo cheio de olheiras, escanzelado, magro ou gordo de mais, já não sei ao certo, um gajo que não bate palminhas nos concertos, nem acende isqueiros nos concertos, porque nunca vai a concertos, um proscrito, o mais cretino dos cretinos, um esquisito que não gosta nem de praia, nem de cães, nem de telenovelas, nem de música pimba, nem do António Lobo Antunes, um agarrado que gasta uma renda de casa em tabaco, todos os meses. Acho perfeitamente. Eu sou um Lucky Luke dos primórdios, sempre com o cigarrito de enrolar à mão à mão, sou um Cristo sempre de beata na boca e cercado de beatas por todos os lados, sei lá eu bem, sou o mais refinado dos imbecis. Uma besta assim como eu, faz favor senhor doutor, bem merece tudo aquilo que lhe possa acontecer e mais alguma coisa. Bem haja, senhor doutor, se faz o favor. E o mesmo, idem, idem, aspas, aspas, para aquela boa gente que para aqui me trouxe. É para o meu bem, sim, reconheço e agradeço. O meu velho eu ficou lá fora, eu fiquei lá fora, eu, o traficante de SG Filtro, eu, que empestava qualquer ambiente com a minha simples presença, eu, que já ia nos três maços por dia, e quantas vezes deitei abaixo uns quatro ou cinco, eu, que já devia estar morto há um porradal de anos mas que ainda aqui ando, vá-se lá saber porquê. Eu, em resumo, que já não me sinto lá muito bem, mesmo sabendo que Cristo morreu, Marx também, um fumador, o outro não, isto a mim faz-me muita confusão, mas eu, dizia eu, que, em resumo, assumo por inteiro toda a maçada que dei ao mundo e às pessoas em geral, assumo a responsabilidade pelas preocupações que dou ao Estado, desnecessárias, ridículas, assumo o meu comportamento criminoso, a minha teimosia contumaz ou, digamos, a minha contumácia, assumo por inteiro a responsabilidade por qualquer coisinha má que possa ter dado a alguém por via do meu vício, o meu maldito vício. Estou capaz de me esganar a mim mesmo, posso afiançar. Estou com uma tal raiva de mim que nem me posso ver. Portanto, já agora, isto quer-me parecer uma boa deixa, aqui o deixo, regresso à minha cela, vou ver se tenho um ataque cardíaco, uma camoeca, um chilique, um fanico, uma porra qualquer, com sua licença, que me leve desta para melhor. O mundo ficaria muito melhor sem mim, faz favor senhor doutor, muito me penaliza dizê-lo mas é a mais pura das verdades. Diabos me levem. Ora então, boas-tardes. Cumprimentos à esposa, senhor doutor, faz favor. Com licença. Muito obrigado.

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10/04/06

Mediocridade congénita

Que população! Dois milhões de habitantes numa área de setenta ou oitenta léguas de comprimento por quarenta e cinco de largura.

Tratando-se de ciências e de artes, dos seus médicos, dos seus físicos, naturalistas, geómetras, astrónomos, engenheiros, logo proclamam serem os melhores do universo. Os seus oradores, julgam-nos como sendo os mais eloquentes, os seus poetas os mais engenhosos e os seus historiadores os mais verídicos. Estão convencidos de que as artes foi entre eles que desenvolveram todas as graças e perfeições de que são susceptíveis e que os seus muitos monumentos atestam tal superioridade.

Pobre povo! Como podes tu estar tão enganado? Como podes iludir-te tanto sobre a tua profunda ignorância em todos os géneros, sobre a tua pouca civilização, sobre a mediocridade dos teus monumentos, a mesquinhez das tuas edificações, sobre as imperfeições da cidade que habitas, sobre os perigos a que uma má administração te expõe de contínuo, sobre a simplicidade mesquinha da corte do teu príncipe e do palácio que ele habita? Como podes tu desconhecer a superioridade das outras nações, mesmo da que é inferior a todas as outras e tu desprezas, a da corte de Espanha? Como podes tu ignorar a superioridade do pequeno número de sábios estrangeiros que vieram à tua terra e tu não soubeste atrair, a de alguns artistas apreciáveis que vieram ao teu país e não soubeste retê-los? Como desconheces esses artistas estrangeiros que aqui ficaram e que, embora medíocres, são infinitamente superiores aos teus naturais? Quais são os teus oradores? Os pregadores, tradutores dos Bourdalone, dos Massillon, dos Fléchier, dos Bossuet? Quais são os teus engenheiros, os teus oficiais de artilharia? Se tens alguns, são franceses. Se tens dois ou três bons oficiais de marinha, são ingleses. O único dos teus médicos digno de tal nome é italiano. Onde estão os teus físicos, os teus geómetras, os teus astrónomos, os teus pintores, os teus escultores, os teus gravadores os teus pintores, os teus arquitectos? Não os tens, nem nacionais nem estrangeiros.

Os teus ourives, os teus lapidários, os teus relojoeiros, são franceses, os teus melhores artífices são estrangeiros.

Sai do teu país, corre mundo, percorre a França, a Inglaterra, a Alemanha, a Itália, a Rússia, e até a Espanha; observa, admira, reflecte, humilha-te, e envergonhar-te-ás de teres nascido português, corarás de confessar onde nasceste e concordarás então que o teu país é o mais atrasado, o mais ignorante, o menos civilizado, o mais selvagem e bárbaro de todos os países da Europa.

Panorama de Lisboa no ano de 1796
J.B.F. Carrère
Ed. BN, série Portugal e os Estrangeiros, Lisboa 1989
trecho transcrito: capítulo "Superstição Nacional", página 145

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Singela homenagem aos jovens da França



Simbolicamente representados pelos dois agentes da autoridade e pelo bombeiro que se vê ao fundo, na imagem.

Jovens que trabalham e dão, literalmente, o corpo ao manifesto pelo seu país.

Jovens que lutam de forma desigual e, portanto, bravamente, contra turbas de rapazes com as hormonas aos pulos e de raparigas com a cona aos saltos.

Jovens decentes, aqueles, portanto, que também os há, e por sinal em esmagadora maioria. Não são eles os profissionais da caça ao pretexto para a arruaça e o motim. Não são jovens como eles quem, apoiados no terrorismo de Estado juvenil, na paranóia politicamente correcta, se divertem com a violência gratuita, com a mais puramente hormonal exibição da força bruta.

Não foi por eles, por aqueles jovens franceses, que a França se rendeu, capitulou, após mais um Maio do 69.

Já que não ocorre a ninguém, nunca, jamais, em tempo algum, reconhecer o valor e enaltecer a bravura da juventude, daquela que vale e que vale a pena, aqui fica o meu singelo aplauso, o meu modestíssimo, mas enérgico, se bem que anónimo louvor.

Lá como cá, sei eu, sabemos nós outros perfeitamente, poderemos sempre contar com a imensa legião de jovens normais, equilibrados, elementos das diversas forças policiais que defendem os bens e protegem as vidas dos cidadãos - da barbárie juvenil reinante, daquela ridícula minoria que não sabe nem quer saber como controlar a testosterona em excesso.

O que diz ou diz pensar um "estudante", francês, português ou Taliban, quando utiliza o fogo-posto, a destruição, a agressão e a pilhagem como argumentos, merece apenas uma e uma só resposta: porrada neles.

Abençoada polícia-de-choque!


imagem: USA Today
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07/04/06

Como? Como? Perdão, perdão. Isto aqui é uma casa de respeito.


http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=ISO-8859-1&q=como%20escavacar%20uma%20gaja%20a%20porrada&meta=

"Como escavacar uma gaja à porrada?" Escavacar? Uma gaja? À porrada? Foda-se! Aqui não há disso. Era o que faltava! Juízo, ora, ora.

(Chefinho, e não diga que vai daqui: primeiro espete-lhe uma cabeçada em cheio nas ventas; depois, é a gosto. Desem-merde-se. Uns pontapés a esmo, onde calhar, por exemplo. Não me diga que não sabia. Ah, seu malandro. Onde já se viu, como dizem uiss nóssuz irrmãuns. Bata na mulher não, sô! Kié issô mêirrmãum! Gajas há muitas. Essa que se foda. Bocê num se desgrace, carago! A próxima, se também se armar em esperta, que se foda tamenhe. Que se fodam as mulheres todas. Bater-lhes é que não, amigo. Isso nunca. Só em legítima defesa, claro. Ou em se dando o caso de esta ou aquela gostar; em qualquer desses raríssimos casos, por mais que isso nos custe, a nós, pessoalmente, há que fazer peito, das tripas coração, e tunga, pimba, toma, toma, toma e embrulha. Um sítio onde nunca se deixa marcas e, por conseguinte, provas, é na zona do fígado; e isto vale "para ambos os sexos", como nos barbeiros à moda antiga, quando os paneleiros eram uma minoria irrisória. Mas enfim, ó amigo; veja lá isso. Não bata na chavala, caralho. Não faça semelhantisso. )


Ao cuidado da nossa estimada e inestimável ERC, aí vai, devida e ciberneticamente bufada, a identidade e demais dados do energúmeno, esse grandessíssimo cara de caralho que alarvemente pretende rebentar uma gaja:

Domain Name bluewin.ch ? (Switzerland)
IP Address 81.62.42.# (Bluewin)
ISP Swisscom Fixnet AG
Location Continent : Europe
Country : Switzerland (Facts)
State/Region : Zurich
City : Zrich
Lat/Long : 47.3667, 8.55 (Map)

Language French
fr
Operating System Macintosh MacPPC
Browser Internet Explorer 5.0
Mozilla/4.0 (compatible; MSIE 5.0b1; Mac_PowerPC)
Javascript version 1.3
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Um imigronte do cacete, vê-se logo. Ganda filho-da-puta. É apanhá-lo, a esse ganda cabrão, e fodê-lo logo ali, à vista. Uma cabeçada no meio da testa, fodeu, arrumou, uns pontapés discretos (na zona do fígado), uma ou duas patadazitas em cheio nas mãos, a partir-lhe os deditos todos e, para concluir em beleza, um pontapé de grande-penalidade em cheio na boca, a fazer-lhe voar uns quantos dentinhos. Toma, toma toma, sacana. Já estás aviado. Gostastes?

P.S. Ó amigo. É "à porrada", não "a porrada". Contracção de preposição e artigo, ok? Isto, ora vejamos, ele há que ser rigoroso nas coisas. Uma merda com acento, grave ou agudo, é diferente da mesma merda sem acento. Sejamos claros.

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Já tinha dito que este gajo tem um piadão?



Se não disse, digo agora: este gajo tem um piadão.

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Largamabraguilha


Pá, larga-me a braguilha!, é o que sempre digo
Quando me fodem o juízo, me azucrinam as meninges.
Larga-me a braguilha, caralho, será que não atinges?
És uma chaga insuportável, és uma porra, és um perigo.
Deixa-me em paz, por favor, andor, põe-te nas putas!
Desanda, pisga-te, vai-te foder, queres mais claro?
Mas afinal, disto que te digo, que parte não entendes?
Já não posso aturar-te, foda-se, não dá, não consigo.
Estou cheio, farto até aqui das tuas malditas lutas,
Das zangas, das confusões, das eternas disputas,
Da tua suposta inteligência, do teu insuportável faro
Para as coisinhas mais pequenas, menos importantes.

Quero ver-te pelas costas, tchau, e depressinha.
Ainda tenho vida para viver, gente para conhecer
E muito, mas muito mais, tanto de útil para fazer.
Compreendes, ou queres que te faça um desenho?
Foi uma asneira, uma asneira integralmente minha,
Mas agora só há que seguir em frente e esquecer,
Virar a página, partir, fugir, escapar, desaparecer.
O que eu era já não sou, o que tinha já não tenho.
Os tempos eram outros, já lá vão, isso era dantes.
Agora (há quanto tempo?) é só tédio, só chatices.
Estou farto disto tudo, e de mim, e vice-versa.
Mas enfim, bem sei, o que te peço é impossível.
Não entendes, é natural, e é isso que é terrível.
Ninguém corta relações ou acaba consigo mesmo.
Pelo menos, não assim só de conversa. Essa é que é essa.





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Cromos repetidos: A Solução Final (Endlösung)


Rauchen Verboten
Estudos para uma nova sinalética anti-fumaica


modelo de letreiro para ghetto de fumadores em espaços públicos (aeroportos, gares, etc.)


modelo de etiqueta para fumadores, pendurada ao pescoço, afixada na lapela ou em braçadeira



Nicht rauchen macht frei! Sieg Heil!



Cromo repetido de 28 Dezembro 2005.
A "aeroportos, gares, etc.", juntar ao etc. cafés, restaurantes, espaços públicos "em geral". A etiqueta passará também a ter modelo de ferro, para gravação rechinante, definitiva e indelével, nas costas, no peito, na testa e nas bochechas da rês tabagista.
Dentro de quatro ou cinco anos, por volta de 2010, os fumadores restantes serão executados sumariamente, com um tiro na nuca, de forma limpíssima e extremamente saudável. Ficará então, por conseguinte, mein Führer, cumprido o plano de extermínio da raça fumaica, sob a superior, brilhante, inteligente orientação do nosso estimado líder, que Deus proteja. Livre para sempre daquela praga nojenta, poderá por fim, a nossa gloriosa raça ariana, viver feliz e em paz, cumprindo-se afinal, plenamente, os supremos desígnios da nossa missão sobre a Terra. Nós, os eleitos, poderemos então dizer, com toda a glória: agora sim, já se respira melhor.
H.G.

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