Odi profanum vulgus et arceo

31/05/06

O blog do poder glúteo

É raríssimo, mas de vez em quando lá aparece um blog interessante, coerente, inteligente. Tropecei agora mesmo numa dessas preciosidades que, além daquelas três coisas acabadas em "ente", ainda por cima está bem escrito e cheio de belíssimas fotografias.

Embora já exista há bastante tempo, aquele blog especializou-se recentemente num tema absolutamente inovador: a peida portuguesa ou, melhor dito, a peida da portuguesa. Espantoso. O autor anda atrás de mulheres, no "metro", no café, no super-mercado, em plena rua, e zás, fotografa-lhes o pandeiro, que publica diariamente sob a sugestiva designação genérica de "Uma Granda Peida Por dia".

É uma ideia brilhante, convenhamos. As imagens dos cus, surpreendentemente diversos, são por regra ilustradas com texto. Como, por exemplo, esta pérola:

Há peidas que não valem um cu.

Isto por excepção, claro, porque de facto ali o que mais abunda é o cuzinho mimoso, o traseiro estonteante, a bela peidola. Vale bem a visita diária, por conseguinte.

Os meus sinceros parabéns ao autor, pela ideia, pelo requinte do tema e pela fascinante análise sociológica que vai elaborando de forma retroactiva, por assim dizer. E não esqueçamos o contributo linguístico da obra, já que o autor acabará certamente por efectuar um exaustivo levantamento da terminologia conexa: nominal, como rabo, padiola, cagueiro, nádegas, nalgas, nalguedo, bunda, etc., verbal, como enrabar ou rabejar, por exemplo, e mesmo expressiva ou idiomática, seja como em "dar ao cu", "vai levar na peida", "cair de cu", "nascer de cu virado para a lua", "no cu de Judas", "fugir com o rabo à seringa", e assim por diante.

Apenas uma desprezível minoria de blogueiros, aqueles mais cagões, se poderão dar ao luxo de achar que A Vida É Uma Festa não vale um peido, como gostam tanto de dizer de todos os blogs menos do seu. Habituados a confundir sistematicamente o cu com as calças, apenas a essa espécie de caguinchas o assunto poderá suscitar algum tipo de caganças, ou reserva mental.

Como nota final de destaque, aprecie-se também a lista de "links" daquela página: um verdadeiro paradigma de coerência.

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30/05/06

Avaliação professoral: variações sobre o tema


_ Olhe, mulherzinha. Fazemos assim: bocemecê dá binte ao meu filho e eu dou-lhe boa nota de abaliação.

_ Mas, ó setora. Carambas. O que é que lhe custa a si escrever "vinte" num papel? Ora essa! Ai é? Então veremos qual vai ser a sua avaliação no fim deste ano.

_ Como? Oferece-me uma chouriça? Ó minha senhora, nem que me oferecesse um porco inteiro. Não dá a nota ao meu filho, amanhe-se, ouvi dizer que a marinha está a admitir pessoal. Leva zero na minha avaliação e já vai com muita sorte. Sua corrupta do caralho, você pensa que me compra com um enchidozito de merda? Ora, ora, meta mas é o chouriço na peidola, sua galdéria.

_ Então está combinado: você passa-me o catraio e eu dou-lhe nota máxima a si.

_ O que é que prefere? Se você dá nega à minha filha, das duas uma, ou eu lhe dou avaliação negativa ou lhe espeto um murro nos cornos. Então? Como é que vai ser?

_ E ela bem se esforça, coitadinha! Passa os dias todos a estudar, acredite. Vá lá... Suba lá isso para o cinco, vá. Eu depois dou-lhe também nota máxima. E olhe. Digo-lhe mais, mas isto fica só aqui entre a gente. Eu conheço os outros encarregados de educação, são meus vizinhos, e tal. Vai ver que eu lhe arranjo uma boa avaliação final, entre todos. Temos que ser uns para os outros, não acha? Hmmm, bezinha?

_ Ai riscou-lhe o carro? E isso que tem? Um riscozito de nada, coitadinho, que não faz mal a uma mosca. E o que tem o risco no carro a ver com a nota dele? Ah, ele é isso? Pois muito bem. Vai ver que nota lhe dou eu, no fim do ano. É outro risco. É 1, um, ouviu? Um, de cima a baixo! Trrj!

_ Meu família diz senhora nom ter dretu. Nós meu pátria assim unido, tudo coisa faz no conselho família. Senhora não pode (como se diz) reprova meu filhinha. Meu filhinha passa, senhora boa (como se diz) avaliação. Senhora não passa meu filhinha, senhora mau avaliação. Eu nom kéfrô, senhora, eu ingutchia.

_ Mais nóiss istamus áqui em Pórrtugáu fais tempo! Quiéisso, gentchi! Dá negatchiva pru meu filho não, sô! Isso dáí, cara, é xênofôbia, viu? Qué québrá a cara, moça? Eu lhi pégu, cara, cê vai vê! Vô tchi tascá zero em sua avaliação, morou? Zero, zerinho mêzmu, ó!

_ Eu tenho estado a falar consigo, cheio de paciência, mas sinceramente tenho mais que fazer. É assim: ou passa o meu filho ou eu chumbo-a a si. Entendido?

_ É que ele ficou traumatizado com as aulas de educação sexual, tá a ver? Aquelas coisas ainda lhe fazem muita confusão, coitadinho, tão pequenino, tá a ver?. Andou-me murchinho durante um mês, nem queira saber, tá a ver?. Mas pró ano, vai ver, o rapaz espevita, tá a ver? Dê lá a notazinha, ande. Olhe a sua avaliação, tá a ver? Quem me avisa meu amigo é, tá a ver?

_ Bom, realmente, quando uma pessoa não cede a argumentos curiais, perdoará a franqueza, isso tem um nome, e esse nome é teimosia. A senhora doutora não passa de uma teimosa, desculpe que lhe diga. Ora, na minha opinião tal coisa constitui uma grave lacuna pedagógica. Por conseguinte, serei forçado a avaliar negativamente o desempenho da senhora doutora. Cumprimentos.

_ Eu disse ao meu paizinho que a setora me ia dar negativa e o meu paizinho disse para eu dizer à setora que o meu paizinho manda dizer que ou a setora me dá positiva em vez de negativa ou o meu paizinho vem cá falar com a setora por causa da avaliação que o meu paizinho vai fazer à setora.

_ Aiiii sinhoraaaa. Ataum ê vô têri negativaaaa? Aiiii. Ku mê páí nã vai gostar nadaaaa. Aiiii ku mê páí tamém lhe vai dari negativa à sinhoraaa. Aiiii.




Adenda
Acabo de ouvir na rádio uma transcrição de certo blog, de um tal Daniel Não Sei Quê, a propósito deste mesmíssimo tema de papás avaliando profes. Pois fui correndo ver o radiodifundido post no tal blog tipo "D. Rosa, chegou a sua filha", a fim de conferir. Pois confere. Aquilo é que é falar, bolas, soberbo paleio. Mas, claro, como não se pode ter tudo, esse identificadíssimo Daniel tresanda a comunistice, ou comunistite, e, portanto, torna-se para mim impossível tecer qualquer espécie de consideração a respeito. O que é chato, porque ficaria aqui a calhar uma referência mediática, cheia de pinta e nem por isso bajuladora. Nada feito. É esta maldita alergia, ó raio de coisa. Não consigo, "derivado a" este meu maldito feitio. Tudo aquilo que diz um comunista não vale um caracol, como estou farto de repetir. Mas fico ciente, mais uma vez, de que ser comunista, além de "corajosamente" assinar com um nome qualquer, dá muito jeito a quem pretende singrar no reino da blogosfera colunável, filmável, entrevistável, publicável e radiodifundível.
Apenas como ilustração do carácter comunistóide, tóxico, perigosíssimo, daquele arrastão soviético, fica uma pequena citação: "Alguém que deixa as televisões filmarem as crianças da sua escola para mostrar como são criminosas em potências não se pode dedicar ao ensino."
O verdadeiro Kuomitat Gozudarstvennoi Bezopanosti em todo o seu esplendor. Complexas "potências". Apenas por mera coincidência um comunista pode debitar a mesma "opinião" de um anti-comunista, ou estarem ambos do mesmo lado; se calhar, quem sabe, é porque o outro lado afinal não deve ser assim tão mau.

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29/05/06

_ Bem, isto é muito estranho. Acho que nunca me senti assim.
_ Pois, eu também. Há que tempos não penso noutra coisa...
_ Será que é isto aquilo a que se chama uma relação tórrida?
_ Não sei, querido. Sinto-me bem contigo. Parece-me que sim.
_ E sentes isto, eu escrevendo em ti, como se fosses uma lousa?
_ Sim. Gosto de que escrevas em mim. Sou feliz, acho-me... sólida.
_ Pateta. Adoro-te, sabias? Amo o teu corpo todo em cima de mim,
o teu cabelo acolhido ao meu peito, aqui, onde a tua cara poisa,
e esta música feita por Deus, e este silêncio, e esta luz pálida.
Olha, lembrei-me: e se a gente parasse o tempo agora mesmo?

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23/05/06

Olho clínico

||| Coisas para nunca fazer.
O regionalismo literário, a escrita engraçadinha, a piada étnica que só os indígenas entendem, a oralidade do bairro ou o sotaque da província passado a letra, a mania de truncar palavras, o vício de transformar sons, o humor de terceira.
A Origem das Espécies

Excelente, certeira, fichérrima definição da merdosíssima escrita que aqui se produz, se bem que não tenha gramado lá munto o adjectivo c'o dimunutibo. Mas bá lá, quem fala assim num é gago, carago, essaéquié essa. (Oops, puto de vício, isto é fodido, perdoai.)
Muito me honra a distinção, sem porém, contudo, no entanto, e nem mas nem meio mas. Obrigado, camaradas, por se darem à maçada ou, melhor, a duas maçadas, a saber, à uma lendo as minhas patacoadas e arejamentos, às duas etiquetando umas e outros com semelhante, lapidar, judiciosa, sintética razia . Acho que não sou merecedor, para mais sendo eu próprio o último exemplar de espécie extinta, o que é precisamente o contrário da vossa especialidade. Pelo que imagino a trabalheira.
Fico devedor.

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20/05/06


Micro-causa estourada


Arrepelam-se, virtuosamente, certos e certas gajos e gajas que se julgam pessoas finas, por causa dos touros e das touradas, e daquilo que, nas respectivas, doutas, esclarecidas opiniões, representam esses espectáculos: sangue, violência, primitivismo. Causas estouradas, por conseguinte e como adiante se comprovará, por mais frívolo que pareça o modestíssimo jogo de palavras. Sucedem-se os fogachos do género, nos últimos dias, e enquanto a "causa" e a coisa estiverem a dar, apenas porque foi anteontem re-inaugurada a praça de toiros do Campo Pequeno, em Lisboa e, como costuma suceder em qualquer recinto do género, ali decorreu uma corrida competentemente inaugural.

A foto lá em cima provém do próprio blog citado, que não refere a fonte (certamente por uma boa causa), e mostra a horrível imagem de um toiro sangrando abundantemente do morrilho - cravejado de bandarilhas, como compete. Acontece que este, por sinal, belíssimo exemplar de toiro bravo, aparece em pontas; o que significa que o animal retratado não foi corrido anteontem, no Campo Pequeno, excelente, tradicional, lindíssimo e renovado local onde decorreu uma corrida dita de "à portuguesa", isto é, com lides a cavalo, apenas, mais as respectivas pegas de caras; não dá muito jeito, como sabemos, como sabem até os mais empedernidos militantes dos direitos dos (outros) animais, por exemplo ao cabo de qualquer grupo de forcados, receber no peito o focinho integral do toiro com os cornos em pontas; o mesmo vale para os cavalos, que são, como também não é difícil entender, aqueles bichos em cima dos quais montam os cavaleiros. Ora, acontece que estes cavalos de toureio, como os cavalos em geral, custam muito dinheiro; um forcado não valerá assim tanto como um cavalo de lide mas, convenhamos, não seria lá muito prático recolher sistematicamente cadáveres de forcados das praças, no fim de cada corrida. Aquilo é um espectáculo como qualquer outro, pelo menos desde que - malogradamente - acabaram os circos romanos.

Mas deixemos estas minudências, pelo menos para já, que não são relevantes os pormenores. O que interessa, aqui a tese, onde o ponto bate, quanto a mais esta indignadíssima manifestação de amor aos (outros) animais, é que a foto que ilustra o referido chorrilho de diatribes é absolutamente falsa; foi ali colocada, pretensamente figurando o arrazoado de indignações, e, para mais, com retoques de malvadez - como filtros de gama, para realçar a fealdade do sangue empastelado - apenas com uma finalidade: tentar convencer os mais ou mais provavelmente ingénuos da putativa "bondade" e das excelentes intenções civilizadoras que movem e impulsionam aquela gente, os tais, os bonzinhos, os defensores dos (outros) animais. Tudo, como sempre acontece com esta espécie, em nome de algo que os ditos consideram ser a sua (deles) superioridade moral. Conseguem, frequentemente, calculo que sustendo o riso, dar uma (ideia) de que são puros e impolutos, perfeitos e acabados, supremos e superiores, eles sim, em suma, a realização do ideal humano: são a bondade personificada, eles, demónios todos os outros. É muito simples.

Poucos destes paladinos sabem aquilo que sucede a um toiro depois de uma corrida "à portuguesa". Aliás, estão-se nas tintas para minudências do género, como sempre, em circunstâncias conexas, quando em plena actividade de "luta", e é gente muito viajada, como se sabe, vão a todas, a Paris, com os "estudantes", a Teerão, com os "estudantes", a Cabul, com os "estudantes". São aparentemente muito estudiosos, ou, pelo menos, muito amigos dos estudantes, mas não sabem - como os estudantes não sabem - porra alguma de coisa nenhuma. Não sabem, por exemplo e em concreto neste assunto, que um toiro lidado, em Portugal, é deixado nos curros até ao dia seguinte, com as bandarilhas espetadas no dorso; que estas bandarilhas têm pontas em ferro e que, portanto, o animal sofre rapidamente uma infecção generalizada; que a baia na qual o toiro é metido não lhe permite quase mexer-se, o que irá certamente agravar o estado de alucinação, a febre provocada pela infecção; que, em alguns casos, quando a praça de toiros não tem espaço para alojar todos os toiros lidados até ao dia seguinte, alguns são amarrados e pendurados pelos artelhos, ficando de cabeça para baixo até à chegada do veterinário; que os animais apenas podem ser abatidos, por fim, finalmente, se e quando este veterinário estiver disponível para assinar a respectiva papelada; que muitos toiros morrem, miseravelmente, de colapso cardíaco ou, pior ainda, simplesmente de stress - ironia das ironias - por não poderem mexer-se, correr, marrar, lutar, como antes faziam na sua charneca natal, nas suas planuras alentejanas, ou algures nos prados da Extremadura espanhola.

A corrida "à portuguesa" surgiu precisamente pelo horror esquizofrénico e delicadíssimo que a oligarquia nacional sentia por ver o toiro a ser estocado em plena arena. O mesmo tipo de nata, ou borra social, pretende agora liquidar não apenas a variante "à portuguesa" da corrida de toiros, como qualquer outro tipo de tourada. Fazem tremenda tourada por causa das touradas. Pretendem, do alto da sua pretensa superioridade moral, acabar com todos os espectáculos taurinos. Bem, menos com um: o do bife do lombo, de preferência de "vitela". Pois essa "vitela" que dá prós bifes, amiguinhos, geralmente, é um pobre bezerro que nunca vê a luz do dia, para que desenvolva uma esplêndida anemia (o que dá o tom rosado e a maciez à carne), que está confinado a uma baia minúscula, desde que nasce até que morre, uns meses, até ser paralisado com pistola eléctrica e, pendurado como os toiros pelos artelhos (os tendões das patas, valha-me Deus), é-lhe vazada a jugular, percorrendo então - enquanto larga vivo todo o sangue que tem para um escoadouro - a sua última e electrónica via-sacra: o primeiro operário da linha de desmontagem corta-lhe a cabeça com uma serra mecânica; o segundo abre-o, de baixo para cima, do pescoço até aos quartos traseiros; o terceiro corta-o ao meio, o rabo para a direita; o quarto, no fim da linha, empurra cada uma das metades em seu guincho, cada qual pendurada em seu chispe, até à câmara frigorífica.

Vocês, os "amigos" dos (outros) animais, não fazem a mais pequena ideia daquilo que é um toiro de lide. Pelo mesmo motivo que não distinguem um bife do lombo de uma posta mirandesa ou mesmo de uma fatia de torresmos: é tudo paparoca, não é? Desde que não vejam o cozinheiro a cuspir-vos na sopa, tudo bem, certo? Não imaginam que algum padeiro, para apenas dar um exemplo, possa ter mijado na massa do pão, fornecendo-vos de madrugada a carcaçazinha ligeiramente mais condimentada. O horror não vos passa pela cabeça, camaradas. Comida é comida e, desde que se não veja como é feita, tudo vai bem. Adorais frango "do campo", devidamente grelhado a carvão, pois não adorais? Leitãozinho assado, hem, à moda de Negrais ou a fingir que é "verdadeiro Mealhada"? E umas almondegazinhas feitas com belíssima carne de burro velho, vale? Não é pitéu admirável? E o belo fiambre, desperdícios orgânicos dos matadouros, macerados primeiro, liquefeitos depois, e solidificados por fim com gelatina? Hmmm? Não é deliciosa, a "sandezinha"? Ah, a gelatina, esse doce admirável, constituído por material triturado proveniente dos chispes (as patas das rezes), liofilizado, misturado com aromatizantes, conservantes, edulcorantes, glutamato monossódico (intensificador de sabor, sal) e, por fim, com essa substância caríssima que é a água da torneira.

Enfim, amiguinhos, fiquemos pelas amostras. Excelentes merdas comeis vós, os bonzinhos, os amiguinhos dos (outros) animaizinhos, como comemos nós outros, os "mauzinhos", os aficionados, aqueles que apelidais de "assassinos" e de "sádicos". Confere. Pelo menos não somos, nós, os outros, masoquistas. Ou estúpidos, tão estúpidos. Ou cegos. E ainda, muito menos, hipócritas.

De facto, é uma tristeza o que sucede ao toiro de lide; mas não durante a corrida, aquilo para que foi criado, antes depois - o que lhes sucede depois, quero dizer - e que é, admitamos sem rebuço, algo de malévolo, e sádico, e criminoso. Realmente, o toiro deveria ser morto em plena arena, logo após a lide, passado a estoque ou por qualquer outra forma digna.

Ora, se isso não acontece, vejamos: de quem é a culpa?




P.S.

Pois. Exactamente. O que eu pretendia dizer era



isto mesmo.

A morte do toiro na arena.

Se for no açougueiro é, de facto, diferente. Concordo. Nesse caso, a referida morte não pode sequer ser aclamada "em uníssono por milhares de pessoas", basicamente porque nos matadouros não existem, geralmente, bancadas. Aliás, não é a morte que é aclamada nas arenas. Pelo contrário. É a vida. Não vejo o que há de incompreensível nisto. Mas deve ser problema meu.

Sai uma costeleta de novilho. Mal passada, sim?

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Adeus. Fez-se noite.
Já não me apetece caminhar,
passear contigo por essas veredas.
Adeus. Está de noite.
Parece-me que já te não vejo
tão bem como dantes. Agora custa mais.
Adeus. Caiu a noite.
É um silêncio, uma escuridão,
uma calma já sem saudade nem desejo.
Adeus. É noite.
O princípio de um novo dia
e o fim de tudo. Tudo. Já não interessa.
Bela, a noite. Adeus.


 

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16/05/06

A Júlia dos pinheiros


Mas esta Júlia que apresenta agora na TVI coisas como o "Circo das Celebridades", e o "Big Brother", e a "Quinta dos Famosos", gente, esta mesma Júlia, não me fodais, é a Júlia Pinheiro que "moderava" a "Noite da má-língua"? Da-se! É a mesma gaja? Sério? Aquela que fazia um arzinho inteligente, perpassando pelos espaços da chuva intelectual de bacanos como o Miguel Esteves Cardoso e o Rui Zink? Aquela que sabia tudo de toda a gente? A que atirava argumentos e ironia ao ar, verdadeira, maravilhosa malabarista do palavreado, caralhosmafodam, que sei eu, enfim, é a mesma? Não me digam. É, não é?

Que horror, bálhamedeus. Que galinha asquerosa. Esta não leva tanto por bico, mamada, broche. É mais upa, upa, pelos vistos, especializou-se em pratos de geraldina, broche colectivo, mamada simultânea a milhões, faz bico a todo um povo, a ganda vaca, é consoante o que mais estiver a dar.

Imagino daqui nosso MEC arrepelando-se todo, "ó, caralho, e dei eu trela a este estafermo". Por isso o gajo anda desaparecido, ora pois, tal deve ser a vergonha, o embaraço esmagador. Mesmo aquele palerminha gordo, aquele do Porto, até esse, que se julga algo, certamente andará por aí carpindo suas mágoas, óilha que canudo, canudo, atoum-e fui eue dar cunfiánça àquela chabala, fuada-se, carago, mas quenhe me maundou-e a minhe bubere assim taunto, tóino, biesta do cacete, cacete. Presumo que, para não ir mais longe, a maluquinha de serviço lá das Noites da Má-língua, (uma que é actriz, ou actora) mesmo essa deve andar agora a rezar trinta avé-marias e dez salvé-rainhas, de penitência, amaldiçoando a hora em que se meteu em tal alhada, com semelhante nojo popularucho. O outro, aquele do PPM, palpita-me que até teve um ataque cardíaco, um fanico, deu-lhe uma coisinha má quando se apercebeu de que, afinal, a apresentadora da NML não passava de uma refinadíssima imbecil, não passa e não passará nunca; fenece-lhe assim a fé em El-Rei, longe vá o agoiro, ao monárquico, por via de semelhante aventesma.

E ninguém diz nada. Ninguém acha estranho. É Portugal, ninguém leva a mal. É natural. Bestial. Normal. Uma idiota, amiguinha do povo, verdadeira operária da estupidificação, fazer-se passar por pessoa, e para mais com alguma coisa na cabeça, ser tu cá-tu lá com pessoal da intelectualite - a versão teoricamente letrada do socialite -, e pronto, é assim, como agora se diz, todo o mundo acha isso bem, perfeitamente, nos conformes.

Pois eu cá não acho. Sinto-me enganado. E quando eu me sinto enganado, devo asseverar, fico fodidíssimo dos cornos. Até espumo de raiva. Puta que a pariu. Então ficava eu até de madrugada,à espera daquela merda, achava graça ao programa e tudo, e agora, afinal, aquela Júlia, nosso Senhor lhe perdoe porque eu não sou capaz, andava ali a fazer de conta? Era tudo postiço, falso, marado?

Da-se. Ganda burro.

O que me vale é que não sou o único.

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13/05/06




(via Blasfémias, que diz, por seu turno, ter descoberto a coisa no... hmmm... varreu-se-me adonde)

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11/05/06

Cromos da bola

Repetidos

Troca-se essa merda que está aí em cima (selecção de Espanha, cromo nº 530) por qualquer outro, da colecção FIFA World Cup - Germany 2006, ed. Panini.
Gracias.

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06/05/06

Ao longe, a vontade deixa de ser
cansaço, aquela coisa que se não encobre.
É água já esgotada, gasta como uma pedra
rolando pela praia, desolada esta,
deserta, a perder de vista.
Incompreensível areal,
misterioso e fino, mas generosamente companheiro.
Um só fôlego, último, emocionante, de quem
se encontra por fim com a verdade
que escorre por entre os dedos e que vem
e vai com a maré.
Fim dos tempos, como o sargaço,
em noite de lua cheia, embrulhando
os reflexos da tua juventude.
Que saudades, meu amor!
Que saudades tenho de mim.

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05/05/06

Saboroso


Este chocolocate preto com bolacha. Parece muito, mas nunca é de mais.
Este copo de água mineral, serrana. Sabe bem, satisfaz, diz que tem sais minerais.
Este jornal que me suja os dedos. Novinho em folha, amanhã será já muito velho, antigo.
Este belo cafezinho. Bebo-o a mãos ambas, satisfeito, sereno, em paz com o mundo e comigo.

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04/05/06

Divertido


Dar milho aos pombos. Vê-los a debicar, freneticamente disputando.
Dar banho à minhoca. Ver os peixinhos todos a gozar seus ócios, rabejando.
Dar uma vista de olhos aos blogs. Vê-los freneticamente gozando seus lazeres.
Dar graxa ao cágado. Vê-lo deliciosamente calmo, rebrilhando, sem urgentes afazeres.

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