Odi profanum vulgus et arceo

16/07/07

Excuse me?Keywords
nAChR neuroprotection Alzheimer's disease Parkinson's disease acetylcholine
Abstract
Activation of neuronal nicotinic acetylcholine receptors (nAChRs) has been shown to maintain cognitive function following aging or the development of dementia. Nicotine and nicotinic agonists have been shown to improve cognitive function in aged or impaired subjects. Smoking has also been shown in some epidemiological studies to be protective against the development of neurodegenerative diseases. This is supported by animal studies that have shown nicotine to be neuroprotective both in vivo and in vitro. Treatment with nicotinic agonists may therefore be useful in both slowing the progression of neurodegenerative illnesses, and improving function in patients with the disease. While increased nicotinic function has been shown to be beneficial, loss of cholinergic markers is often seen in patients with dementia, suggesting that decreased cholinergic function could contribute to both the cognitive deficits, and perhaps the neuronal degeneration, associated with dementia. In this article we will review the literature on each of these areas. We will also present hypotheses that might address the mechanisms underlying the ability of nAChR function to protect against neurodegeneration or improve cognition, two potentially distinct actions of nicotine. © 2002 Wiley Periodicals, Inc. J Neurobiol 53: 641-655, 2002

Wiley InterScience Journal
Index: Alzheimer+smoke

(See also) BBC News

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07/05/07

Só Saúde (SS)

In Nazi Germany, for instance, abstinence from tobacco was a "national socialist duty" (Hitler gave a gold watch to associates who quit the habit, though this didn't stop them lighting up in the Berlin bunker once they heard the Fuhrer had committed suicide). Armed with such senior sanction -- loyally, Reichsfuhrer Heinrich Himmler banned SS men from smoking, though not shooting, on duty, and Propaganda Minister Joseph Gobbels was obliged to hide his ciggie whenever he was filmed -- anti-tobacco activists succeeded in banning smoking from government offices, civic transport, university campuses, rest homes, post offices, many restaurants and bars, hospital grounds and workplaces. Tobacco taxes were raised, unsupervised cigarette vending machines were banned, and there were calls for a ban on smoking while driving.

Thanks to the Ministry of Science and Education, and the Reich Health Office, posters were produced depicting smoking as the typically despicable habit of Jews, jazz musicians, Gypsies, Indians, homosexuals, blacks, communists, capitalists, cripples, intellectuals and harlots. Zealous lobbyists descended into the schools, terrifying children with tales of impotence and racial impurity.

If some of these measures appear familiar today, then consider the rules laid down in 1941 regarding tobacco advertising. "Images that create the impression that smoking is a sign of masculinity are barred, as are images depicting men engaged in activities attractive to youthful males (athletes or pilots, for example)," and "may not be directed at sportsmen or automobile drivers," while "advocates of tobacco abstinence or temperance must not be mocked." Advertisements were banned from films, billboards, posters and "the text sections of journals and newspapers." Nevertheless, even the Nazis couldn't equal the recent ban on smoking on death row, meaning prisoners about to undergo massive electric shocks are forbidden from indulging in "one last drag" -- talk about cruel and unusual punishment.

Extractos de Hitler's Anti-Tobacco Campaign

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30/03/07

Gerador de verdades



No sítio The People's Cube, onde se procede a actividades generalistas em prol dos povos de todo o mundo, existe um mecanismo inovador e muito útil que permite gerar automaticamente todas e quaisquer verdades que se pretendam.

Quando a gente tem dúvidas sobre qualquer assunto, e estando em ânsias por saber o que pensar a respeito, por exemplo, dos professores, então não tem problema nenhum: é ir lá, meter "teacher" na caixinha dos inimigos de classe, dar ao botão e pronto, aí vem a resposta:

"Teacher, you are a clean-shaven tool of the capitalist class because you watch Fox News regularly!"

Tudo clarinho como água. E, evidentemente, o que vale para professores vale para todos os outros inimigos de classe, os "chuis" ("cops, you are a flat-earth believing tool of the capitalist class because you think that America is overtaxed!"), os capitalistas, os trabalhadores (!), as amas de criancinhas ("baby-sitter, you are an immigrant-bashing strict constructionist because you don't root for Cuba!"), as próprias criancinhas, coitadinhas, e até mesmo os cães e os gatos (a sério, fui conferir, os cães e os gatos são inimigos do povo).

Esta maravilhosa engenhoca não falha uma, posso afiançar. Desde a propagação da fé no aquecimento global à invasão do Iraque e aos amanhãs que cantam Allah-U-Akhbar Lá-lá u-lá-lá; a máquina da verdade (Pravda, no original) gera sentenças aleatórias progressistas, sempre certas e exactas, na sequência aliás da tradição infalível do socialismo científico. É bestial, aquela merda, espécie de novo electrodoméstico essencial em cada lar feliz e na cabecinha pensadora de qualquer esquerdista que se preze.

É que não falta nada ali, nadinha mesmo. Até tem uma secção, tanto ou mais útil ainda do que as outras, intitulada "Uma verdade por dia", onde qualquer pessoa menos esclarecida pode tomar sua dose diária de esquerdismo militante, esse maldito vício a que ninguém escapa.

Caralhosmafodam se isto não é serviço público. De facto, como eles próprios dizem, os geniais inventores do esclarecimento electrónico, num dos seus lemas, "cem anos de falhanço total, o que é isso?"

Bem estávamos todos precisados de algo assim, uma maquineta tecnologicamente evoluída, sem nada a ver com a cassete do Cunhal, a grosseria da Odete ou as paneleirices do Louçã. Foda-se, agora é que é: entram dúvidas e perplexidades por um lado, sai um ticketzinho com a resposta pelo outro. Maravilha das maravilhas, reconheçamos reconhecidos.


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25/03/07

Quatro batatas


Quatre patates
Vier kartoffeln
Four potatoes
Quattro Patati (Patatá?)
Cuatro patatas
VIER AARDAPPEL!

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21/03/07

Coisas que me emocionam profundamente

Ouvir, na televisão, um oficial da Armada portuguesa elucubrando sobre a "praia-mar". A cada novo "praia-mar" do sr. oficial, confesso, até me vêm as lágrimas aos olhos, tal é a emoção.

Ver, na televisão, o Emanuel aos pulinhos por ter ganho o "festival da canção" com a maior pimbalhada de todos os tempos. Parte-se-me o coração, de tão comovido.

Ler, nos jornais, a preocupação pressurosa (e um pouco sebosa, convenhamos) da nossa classe jornalística, a propósito da saúde periclitante de Jerónimo de Sousa, esse excelente dinossauro. Com merdas assim, eu cá é logo baba e ranho.

Ouvir e ver, em tudo quanto é lado, nosso Primeiro a dar uma de gajo porreiro e muito preocupado com a bendita saúdinha. Lembra-me logo aquela coisa altamente bichona do "work-out" e pronto, quedo-me assim, ó.

Ver, pues que en la pantalla, a Odete Santos declamando umas cenas, com um salero do caralho, tipo perna aberta e assim. Ah, a poesia, a poesia! O respectivo dia mundial que hoje passa, e tal, ah, ah.

Ouvir, no andar de cima, a puta da velha a arrastar móveis, enquanto arruma a casa pela duocentésima milésima vez. Com essa merda, fico tão emocionado que até amarinho pelas paredes.

Ler, numas coisas que têm capa e folhas, a ver se não me esqueço, o paleio de chacha do ALA. Imagino-o lá pelas suécias, à espera do prémio, coitadinho, com aquele frio de um caralhoqueofoda.

Ouvir, à nossa juventude, essa puta dessa espécie de candidatos ao genocídio, falando o seu dialecto preferido, mescla de mau Português e de péssimo Inglês. Aquilo é de arrumar qualquer um, de tão espiritual e cretino. Ya, chuif.

Saber, de fonte segura, que Portugal há-de continuar a ser o país mais atrasado da Europa, mas com o povo mais contentinho da vida que existe no mundo. É que nem os brasileiros nos batem nessa, chiça.

Ouvir e ler altos espingardanços contra a licença de isqueiro do Salazar e agora ter de ir tirar uma licença para dar banho à minhoca, vulgo pescar. Com a mais profunda emoção o digo: vão prá puta que vos pariu!

Assistir, com cerveja e tremoços, à peixeirada que vai pelo Largo do Caldas, na sede do CDS (Casa Da Sogra ou Centro Das Sopeiras?). Aquela Senhora, a Mizé, a que é linda de morrer, o que diabo andará por ali a fazer?

Ter tomado conhecimento, pelas vias competentes, de que Gabriel Alves foi despedido a chuto da RTP. Caralho! Finalmente! Aleluia! Ai, que ainda me dá uma coisa. Ah, ah, ah, ah. Aguenta, coração!

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17/03/07

Colecção Séries a Sério. Genéricos fora das farmácias (II)


Uma bela porcaria, para quem (re)vê aquilo com olhos de hoje. O coitado do canguru (que, por acaso, não era um, mas vários) lá tinha de contracenar com seres humanos muito estúpidos e canastrões, principalmente os "actores" centrais, pai e filho, aos quais bem se poderia aplicar a máxima "tal um, tal outro". Pobre animal.


http://www.youtube.com/watch?v=m_wFEB4Oxlo
Love Boat ("u barcku du amôare")

A maior cagada alguma vez exibida em televisão. Mas enfim, o que se há-de fazer, foi uma série que toda a gente viu e, portanto, um clássico. Inesquecível, de facto, aquele mundo de americanos todos muito bonzinhos em viagem por esse mundo cruel fora. Ainda não havia fundamentalismos islâmicos, ah, bons tempos, era só uns nativos que falavam invariavelmente espanhol, e assim. Excelente para ver aos Domingos, típico dia de ressaca: quando começava o episódio, aguentava-se uns minutinhos e o resultado era garantido: uma gajo disparava a correr para a casa-de-banho, e aí despejava com tremendo alívio doses industriais de vomitado. Era uma bela terapia para a "bisícula".


Depois da saga do Padrinho (I, II, III, IV), esta série foi a melhor coisa que se fez dentro do género; género mafioso, quero dizer. As cenas do velho Tony com a psiquiatra são, verdadeiramente, de partir a moca a rir. O gajo era o boss dos mafiosos, matava gente enquanto palitava os dentes mas, coitadinho, tinha uns problemazitos com a sua consciência.
_ "Do you think you're a happy person?" - pergunta a doutora.
_ "Am I happy?" - responde ele, completamente no gozo.
Impagável.


Bom, esta é só a melhor série de sempre, se houvesse um concurso tipo festival da canção para o efeito vídeo. Aquela ruiva, espantosa, lindíssima, mais a sua lindíssima, espantosa mãe; o irmão mais velho, o mais normal de todos eles, o que morre de morte gloriosa - pifou depois de uma queca à traição; o outro irmão, bicha até à raiz dos cabelos, mai-lo seu negro que "ninguém diria" pegasse de empurrão. E depois aquela gente que gravitava por ali, o pai fantasma, o pai substituto, a completamente maluca mulher do irmão mais velho, o "hispânico" que amanhava os cadáveres com maestria e empenho (aquela de "tamponar" os mortos, foi onde aprendi), enfim, uma galeria de personagens e peras, como se costuma dizer. Estragaram tudo com o último episódio, mas pronto, são americanos.


Palavras para quê? É um artista americano e só usa pasta medicinal Couto, que lhe permite ter gengivas fortes e saudáveis. Quem já viu uns 10 episódios da série, já viu todos mas, ainda assim, não deixa de ser uma coisa muito bem esgalhada. Os médicos a sério é que se devem fartar de rir com aquilo tudo. Tomemos como exemplo o que se passa quando alguma coisa "de computadores" ou "de informática" entra em qualquer produção americana: é tudo barrete, de fio a pavio; os ianques julgam que o espectador médio é burro que nem um penedo (e é), de maneira que nem se ralam a contratar alguém que saiba alguma coisa seja do que for. É meia-bola e força. De maneira que, repito, este Dr. House deve estar cheio de tangas, mas enfim, a gente engole aquela merda toda só pela pinta de mal encarado da personagem.




Um apelo, ó: alguém sabe onde é que estão os genéricos das duas melhores séries alguma vez feitas em Português? Falo, evidentemente, de "Bocage" e de "Alves dos Reis". Qualquer coisinha, é usar o e-mail. Gracias.

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15/03/07

Seria um prazer esquecerem-se do teu nome



Claro, sem qualquer rebuço o declaro, não gramo este gajo nem um bocadinho. Não é lá pelo arzinho enfastiado que o tipo arvora, com aquela maneira irritante de exalar o mais profundo desprezo pelo comum dos mortais, em todos os gestos e atitudes; nada disso; quero bem que se foda a pinta de espertinho do bacano, a sua pose de "grand seigneur" das artes, ou da p. que o p. Também não me rala nada que sua excelência fale - quando se digna falar às massas - com a mais superlativa das caganças existentes à face da Terra; é natural, este caramelo é portador de uma síndroma não tão rara quanto isso, mas que na sua pessoa condensa todo o poder de verdadeira patologia, a SPA (síndroma das peneiras agudas).

Foi portanto a esta patologia articulada, e não propriamente ao seu portador e máximo expoente, que foi hoje atribuído mais um premiozito de 20.000 contos por, diz-se no respectivo despacho de pronúncia, caracterizar-se aquela doença pel' "a maestria em lidar com a língua portuguesa, aliada à maestria em descortinar os recessos mais inconfessáveis dos homens, transformando num exemplo de autor lúcido e crítico da realidade literária."

Quer-se dizer: uma maestria, mais outra maestria, soma duas maestrias. Pronto, nesse caso, toma lá vinte milhas e cumprimentos à esposa.

A folha de jornal em que esta coisa espantosa vem embrulhada é um extraordinário exemplo da admiração pacóvia do portuguesito analfabeto por semelhante canastrão, imberbe escrevinhador de anagramas, aldrabão especializado em rabiscos, enfim, esse pobre tonto com o qual me arrisco a gastar todo o meu arsenal de impropérios, em não poupando uns quantos para mais tarde.

E o que me move, afinal, contra tal personagem, hem? Pois é, diz lá, ó Xiramaneco, hã, quem te julgas tu para estar práqui a cagar sentenças contra tão ilustre e premiada cachola?

Ora vamos cá ver. Nada. Não tenho nada contra. Repito: quero bem que o homenzinho se foda, e que seja muito feliz, na companhia dos seus. Mas, foda-se, ó gente incauta de uma cana, então mas não se está mesmo a ver que este gajo é um perigo? Hem? Que me dizeis? Não é? Não tarda nada, lá irá ele de novo para Estocolmo, para a Pensão do costume, até já deve ter uma chapa com o nome na porta do quarto, e pronto, a ver se é desta que pinga o nobelzinho da ordem. Mas não se está mesmo a ver? Agora, com este empurrão institucional no bolso, se calhar ainda lhe dão o diploma e a medalhinha, porra, porra, porra, longe vá o agoiro.

Não é como Português que me envergonharia tal merda, ver este patrício na galeria dos laureados; que se lixe, não é por aí, pois que já bem sabemos que o Nobel da Literatura foi por diversas vezes atribuído a escritores menores, isso é seguro e não aborrece ninguém. O problema reside, aqui para o abaixo não assinado, no facto indesmentível de esta figura em particular não ter nunca escrito fosse o que fosse de jeito, em toda a sua vida, não podendo por isso ser considerado como "escritor", nem maior nem menor. Atribuir-lhe a maior distinção - neste ramo de produção - a nível mundial, seria, a acontecer, um verdadeiro absurdo, uma tragédia de proporções épicas, uma bronca de todo o tamanho. Imagine-se que, um dia mais tarde, daqui a uma ou duas gerações, por exemplo, algum fulano lá do frio nórdico lhe dá para abrir um dos livros do dito cujo. Vai ser um escândalo do caralho! Não custa nada imaginar o tal fulano a entrar espavorido pelos aposentos reais (adentro), lívido, balbuciando num sueco muito pouco habituado a confusões:

_ Alteza, Vossa Majestade perdoará a intromissão... mas... mas... nós, em 2007, entregámos o Prémio Nobel a... como direi... Vossa Alteza sabe... enfim... (como é que hei-de dizer esta merda, bálhamedeus) a um... a alguém que... bom, cá vai: o homem, este Português aqui, este António Não Sei Das Quantas não batia bem da bola. Aí tem Vossa Alteza. Majestade. Sir. Li umas coisas dele, ao princípio nem queria acreditar, peguei num livro, depois noutro, depois outro, folheei não sei quantos, e é isto: não tem ponta por que se lhe pegue, se me permite Vossa Alteza a expressão; aquilo é tudo nhó-nhó-nhó, palavras a esmo, uma pepineira sem qualquer sentido; alguém fez... hum... "coisa" da grossa, lá na academia daqueles tempos, deram-lhe o prémio mas ninguém se deu ao trabalho de ler uma única linha, sei lá bem, nem eu próprio compreendo como pôde uma desgraceira destas acontecer. Uff. Pronto. Já disse. E agora, com sua licença, Majestade, os meus respeitos, venerador, atento e o obrigado, adeusinho.

O Rei da Suécia (ou a Rainha, sabe-se lá quem estará no trono daqui a uns tempos), branco como a cal da parede, vendo seu fiel escudeiro a fugir porta fora, recua de escantilhão e deixa-se cair num largo cadeirão, o queixo descaído, os olhos arregalados de espanto; esmagado pela terrível notícia, Sua Alteza o Rei da Suécia levará ainda algum tempo até conseguir fechar a boca e abri-la outra vez, chamar alguém, acudam, acudam, por favor, mas onde é que vocês estão, ó seus estupores, então não querem lá ver que agora me deixam aqui sozinho com esta porcaria em mãos, quer dizer, fazem a merda e depois aqui o palerma do rei que resolva, cambada de filhos da puta, ai, que não me estou a sentir nada bem.

Ora, portanto, sejamos discretos, deixemos Sua Alteza Real em sossego, deixemo-lo pensar, reflectir na melhor forma de se desenrascar de tão aflitiva embrulhada. Haja respeito pelas ralações alheias.

Cheguemo-nos nós outros aos santinhos de nossa devoção, acorramos em massa às igrejas - de qualquer confissão - e apelemos com fervor à compreensão e ao auxílio divino, nesta hora nefasta, oremos - de rastos, se preciso for - a toda a corte celeste, beatos e milagreiros incluídos, para que tal tragédia não suceda. Ainda vamos a tempo, ó almas de pouca fé! Aquela cena com o rei é só daqui a uns anos, em boa verdade ainda não se passou, mas lá que se arrisca a passar, ah, pois arrisca. Contribuamos assim, com a nossa fé e o nosso empenho colectivo, para que, através da interferência divina, com a preciosa ajuda da inspiração e dos bons pensamentos de Pai, Filho e Espírito Santo, enfim, pronto, que lá os gajos da academia sueca se não ponham com merdas e que caguem positivamente no nosso putativo laureado da literatura 2007 (ou 2008 e seguintes). Salvemos Sua Alteza Real o rei da Suécia de um futuro, inevitável de outra forma, lixadíssimo ataque cardíaco. Poupemo-lo a um fanico dos piores.

Vale a pena o sacrifício. Que seja pelas alminhas de quem já lá mora.




Foto e palavreado: DN

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13/03/07

Vinte a Ensinês

Indo direito ao assunto, podemos começar por admitir que no final de 12 anos de escolaridade o estudante português não está em condições de distinguir moral de ética, princípio de lei, moralidade de legalidade. O estudante saberá um quase nada de História de Portugal, quase nada de História das ideias e nada de nada de Direito (ou de Português, já agora). E o pouco que sabe, quantificado ao longo de um trajecto escolar que não garante fiabilidade, é inútil. O sistema não o levou para uma compreensão interdisciplinar e transdisciplinar; ou seja, o aluno recolheu alguma informação, mas ela é avulsa, desconexa, incompleta. Como consequência, a Escola não talha cidadãos, pois boicota a formação de uma visão de conjunto da sociedade. É como se a Escola tivesse aversão à realidade, tudo fazendo para proteger o aluno do mundo exterior. Esse aluno, cuja vida foi só brincar e decorar, e que pertence à elite dos menos de 25% que concluem o Ensino Secundário, parte para as licenciaturas, ou para o mercado de trabalho, sem saber onde está, donde vieram os seus pais, para onde vão os seus filhos. Entretanto, já pode conduzir e votar sendo que a última actividade é ainda mais perigosa do que a primeira.

(extracto de Aspirina B: ácido acetilsalicílico+tiamina+aneurina+um porradal de substâncias)

Não sabia que alguém escrevia posts mais compridos do que os meus e, assim como os meus também, quase sem erros de Português. Duvido de que alguém leia aquilo tudo, como acontece aqui neste rés-do-chão, número 001 do Quebra-Costas, mas enfim, eu cá até li, enchi-me de coragem e aqui vai disto. Não doeu nada.

Aquele extracto de complexo vitamínico, ali em cima, refere-se a um assunto deveras interessante (para mim e para os meus botões) sobre o qual ninguém se atreve a mandar umas bocas, nanja eu: o ensino não tem absolutamente nada a ver com a aprendizagem.

Bom, nanja eu é como quem diz.

Qual é a semelhança que existe entre a matéria de estudo de uma determinada disciplina, em qualquer grau de ensino, com o objecto ou conteúdo dessa mesma disciplina?

Longa pergunta para resposta sintética: nenhuma. Por exemplo: o que tem a disciplina de Inglês a ver com o Inglês? Nada; qualquer semelhança entre uma coisa e outra é pura coincidência; numa semana de férias em Londres, qualquer atrasado mental aprende mais Inglês do que em dois ou três anos de aulas de "Língua Inglesa".

Esta disciplina, como qualquer outra de línguas "vivas" - ou de qualquer outra área, mas já lá iremos - obedece a uma lógica meramente curricular, totalmente desligada da realidade pragmática e do ambiente linguístico a que teoricamente se refere; depende em exclusivo, em termos de eficácia e de proficiência, do esquema geral do processo de ensino/aprendizagem que consiste, em Portugal, em assistir às aulas, ter boas notas nos testes e passar de ano; consiste ainda, por fim, na transmissão (ou apropriação, por qualquer meio, incluindo o chamado "copianço") de esquemas padronizados de utilização da língua (principalmente, exercícios de gramática), e baseia-se num "approach" que privilegia a escrita em detrimento da oralidade.

Ou seja, um aluno poderá aprender alguma coisa, nas aulas de Inglês, mas não ficará nunca - com toda a certeza - apto a utilizar aquela língua com um módico de eficácia. O que significa o seguinte, e com isto voltamos ao início do paradigma: não é Inglês que se aprende nas aulas de Inglês. Aliás, nesta como em qualquer outra disciplina curricular, reiteremos, em todos os graus de ensino, existe um linguajar específico, um modo de comunicação instituído e ritualizado que afasta ainda mais o estudante do objecto de estudo. As aulas de Inglês são dadas numa "espécie de" Inglês, que muito pouco ou nada tem a ver com a língua inglesa. O que interessa é que a nota a essa "cadeira" contribua para a média geral, bastando para isso despejar umas coisas acertadas nos testes e exames teóricos (sobre coisas de que nenhum anglófono alguma vez ouviu falar) e, de "cadeira" em "cadeira", ano após ano, cortar a meta final, qual Carlos Lopes da ignorância, recebendo a sua medalhinha - o diploma - pelo esforço dispendido em tão longa maratona.

O mesmo princípio se aplica a todas as outras "matérias", não apenas às línguas, a começar na Matemática e a acabar (nem de propósito) na História, passando muito evidentemente pelo Português. O verdadeiro desastre nacional a que se assiste quotidianamente, naquilo que à língua portuguesa diz respeito, não é uma consequência directa do sistema anacrónico de ensino: a escola poderá, quando muito, dar uma ajuda, mas o factor primordial de aprendizagem do Português é a leitura, primeiro, e a escrita, depois. Ora, peguemos então por aqui, como bem sabemos não é o aluno que mais lê e mais escreve, em princípio ou por definição, aquele que melhores classificações obterá na disciplina de Português; pelo contrário, e isso é tanto mais notório quanto mais descermos no grau de ensino. E este espantoso, quantificável e verificável facto deve-se exclusivamente ao "pormenor" de, mais uma vez, o Português do sistema de ensino não ter nada a ver com o Português. Não é possível escrever (ou mesmo ler) correctamente sem ter lido muito, ler muito, ter escrito muito e escrever muito; ninguém precisa de declinar casos verbais para escrever uma lista de compras ou um tratado de anatomia; uma frase bem construída é resultado da experiência e do manancial de conhecimentos informais de cada qual e, pelo contrário, o erro discursivo surge da ausência desses mesmos conhecimentos e experiência, da falta de livros - a qual significa, fatalmente, ausência de automatismos discursivos e de intuição linguística.

Por analogia com a semana de férias em Londres, qualquer estudante (ou não estudante) aprende mais a escrever com correcção num único romance de Eça de Queirós, por exemplo, do que em toda a sua carreira académica. Levando a coisa ao extremo argumentativo, uma única página, um singelo parágrafo daquele romancista excelente, qualquer dessas coisas é mais instrutiva do que dezenas de horas passadas nas aulas. E, note-se bem, é este um dos romancistas portugueses aos quais mais e mais sistematicamente são assacados "erros" na escrita. Quem? Ora, quem: esquisitos, admiradores de Lobo Antunes, e assim.

Por paradoxal que possa parecer, isto não é nenhuma espécie de apologia do empirismo e muito menos do chamado "saber de experiência feito". Pelo contrário. A escola pode (ou poderia) constituir uma forma de estruturação do saber; porém, a realidade actual demonstra que a escola não é tal: não apenas não forma como, de certa maneira, deforma o objecto de estudo e, por consequência, desestrutura o conhecimento, espartilhando-o em formatos metodológicos rígidos.

O linguajar específico de cada disciplina, normativo e impositivo, afasta cada vez para mais longe a matéria, os conteúdos, o objecto a que teoricamente se refere. Tomemos como ilustração o "matematiquês" (a língua veicular da disciplina de Matemática): muito mais importante do que saber resolver uma equação de 2º grau, através de raciocínio lógico e com recurso a alguns conhecimentos básicos, é conhecer o significado de expressões-chave do dialecto específico; mesmo inteligente, mesmo dotado, ainda que possuindo ferramentas mentais extraordinárias, estudante algum será capaz de resolver o problema caso desconheça aquele linguajar. É nesta medida que o ensino regular se revela totalmente desligado da realidade e, por consequência, daquilo que se presumiria ser o seu objectivo primordial, isto é, a transmissão do saber.

Existe uma lógica meramente formal, no ensino, que viabiliza este paradoxo: um aluno pode ser capaz, mas mostrar-se incapaz, ou ser incapaz e mostrar-se capaz. É por isso que vemos tantos licenciados (e mestres e doutores) que não sabem escrever, mas debitam palermices e asneiras em tudo quanto é pasquim; alguns destes incapazes promovidos pelo sistema de ensino dialectal chegam mesmo a dar aulas, em todos os graus de ensino mas principalmente nas universidades, reintegrando-se no fluxo de disseminação da ignorância diplomada.

São conhecidos, porque o descaramento não tem limites, casos de professores de Alemão que, sem rebuço, confessam não saber "nada de Alemão"; pois, mas sabem muito, têm todos longos anos de experiência de ensino de Alemão, o que é, já sabemos, algo totalmente diferente. Claro. O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Os alunos vão às aulas para "aprender" a declinar casos (Nominativ, Akkusativ, Dativ, Genitiv) e umas coisinhas assim; saber Alemão não interessa para nada, nem é o que está em causa. Não deve surpreender ninguém que um filho de emigrante na Alemanha tenha dificuldades com esta disciplina, em Portugal.

Para passar com distinção a Geografia, a Biologia, o aluno apenas deverá reconhecer as fórmulas canónicas do "geografês" e do "biologês", marrar umas coisas na véspera ou copiar outras tantas no exame, e pronto, não tem nada que se ralar com pormenores como o RPC dos países em vias de desenvolvimento ou com as causas do míldio; há que interpretar a expressão "atente na figura e discorra sobre as consequências do efeito de estufa, a nível de..." (algo ensaiado na aula), sem fazer a mais pequena ideia daquilo que vem a ser uma estufa ou para que efeito serve; declinar a anatomia da rã, eviscerada num desenho, é muito mais importante, pelos vistos, do que saber de que lado é o fígado nos seres humanos.

Os exemplos seriam inúmeros, e fastidiosos, demonstrando em toda a latitude que não existe qualquer intersecção entre o saber e a escola ou que, na melhor das hipóteses, essa área comum é singularmente microscópica. O sistema de ensino "pós-moderno" é um sistema constituído por uma rede de depósitos de jovens, imberbes e ignorantes, sistema esse cuja função consiste em esperar que aos jovens cresça barba.

Presumir que ou ter alguma espécie de esperança em que alguém aprenda alguma coisa no processo, é desconhecer (ou fingir desconhecer) que a razão de ser do sistema de ensino não é propriamente o aluno, mas que o aluno é a razão para que o próprio sistema subsista, como coisa em si, tornando irrelevante o ensino e muito mais ainda a aprendizagem.

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