Odi profanum vulgus et arceo

31/10/05

Tecnologia de ponte

Deve ser a isto que se refere não sei exactamente que primeiro-ministro, quando fala em "choque tecnológico". Trata-se da mais pura tecnologia de ponte, isto é, a forma mais expedita para trabalhar o menor número possível de dias, em cada ano civil, fazendo "pontes" entre os fins-de-semana e os feriados.

Hoje, 31 de Outubro, é um desses dias. Verdadeiro pilar do nosso modo de vida tão peculiar, e sendo, como é, uma coisa tão apreciada "lá fora", a ponte está desde há muito instituída nos hábitos nacionais, pelo que não será muito visível a necessidade imediata do "choque tecnológico" referido. Pontes é o que mais se faz, em Portugal, e com uma limpeza estrutural, uma destreza manual, e uma esperteza natural que sem dúvida espantará qualquer povo dito "civilizado", como japoneses, chineses, russos e outros gajos de olhos em bico.

O que é facto é que somos absolutamente recordistas mundiais em pontes, o que decorre naturalmente do número de dias feriado, de folgas, de dias de férias e de "baixas obrigatórias, tudo indicadores dos quais somos igualmente os maiores, a nível mundial. Nisso, ninguém bate os portugueses: somos os maiores calões do mundo.

Assim pela rama, existem alguns casos mais relevantes, quanto àquilo que se poderia designar por nacional-rebaldaria.

Por exemplo, as chamadas "férias judiciais" duram, aqui, e ao contrário de apenas o resto do mundo, qualquer coisa como dois meses; ou seja, durante sessenta dias por ano, pelo menos, ninguém faz absolutamente nada, em todo o sector judicial, em todas as instituições e em todas as profissões relacionadas com a Justiça, ou com o sistema judicial, lato sensu.

Privilégio semelhante reservam para si próprios os titulares de cargos públicos, ou seja, todo o poder executivo e serviços adjacentes; os governantes e os titulares de cargos públicos podem assim dar largas ao seu cosmopolitismo e ao seu interesse pela cultura mundial, através de instrutivas e proveitosas visitas a locais exóticos, da Índia às ilhas Seychelles, passando por Cancun, Macau e Singapura, em estando bom tempo.

À classe professoral, e apesar de todas ameaças e sucessivos cortes orçamentais, continua a ser facultada grande largueza de cabedais laureantes, como férias pelo Natal, pela Páscoa e pelo Carnaval, além, evidentemente, das chamadas "férias grandes", entre Julho e Setembro - se não houver atrasos no início do ano lectivo. É claro que outro tanto, mais coisa menos coisa, vale para os estudantes de todos os graus de Ensino, cerca de 1.000.000 (um milhão), dez por cento da população.

Em Agosto, ou seja, durante um doze avos do ano, Portugal está a banhos; à excepção do Algarve, um pedaço sazonal do território que funciona precisamente, e apenas, durante o Verão.

A chamada "baixa por doença" tem, neste curioso país, um período mínimo obrigatório. Isto é, legalmente não é possível ter uma constipação, uma gripe ligeira ou um simples ataque de diarreia, por exemplo; se é "doença", o médico dá "baixa" de 3 dias: é o mínimo legalmente aceitável. Um dia ou dois não pode ser.

Entalado entre os 13 feriados nacionais, mais o feriado municipal que toca sempre a todos, e os 52 fins-de-semana anuais, ao que acrescem os trinta dias de férias e uma ou outra "baixa" mínima de 3 dias, o português vê-se na contingência de, ainda por cima, ser obrigado a comparecer no seu local de trabalho em todos os dias que sobram. Ora, isto é evidentemente grande maçada. Não exactamente por ser obrigatório trabalhar, nos locais de trabalho, mas porque se torna contraproducente andar sempre a quebrar o ritmo; portanto, o "trabalhador" português passa longas, intermináveis horas matando a cabeça com esquemas mentais, em excruciantes, dificílimos cálculos, construindo pontes no calendário. Primeiro de Novembro, terça-feira, dá 4 dias; dias 1 e 8 de Dezembro, duas quintas-feiras, com uma "baixa", uma "balda" por "artigo" e dois dias de férias antecipadas, dá 11 dias no total, ou 16 com jeitinho, se arranjar um esquema qualquer; o Carnaval é sempre a uma terça-feira, são mais 4 dias de "folga"; Natal e "ano-novo", pelo menos 8 dias; bintecincudabrile e primeiro de Maio, mais 8. Ora, vejamos, em que dia calha este ano o "Corpo de Deus"? E o 10 de Junho? E o 5 de Outubro? Ora, pertantos, aqui mete-se um artigo, dá mais 4; ali, vale uma baixazinha, xacáver, dois, quatro, seis, sete dias, lá terá de ser uma tosse convulsa valente, ou assim; olha, ali é só um dia, uma 6ª, dá 4 dias, mete-se um "artigo" de manhã e uma "assistência à família" à tarde.

Com algum jeito e muita engenharia de pontes, qualquer trabalhador nacional pode, desde que se esforce e se socorra de toda sua perícia, comparecer no local de trabalho apenas o suficiente: entre 150 e 180 dias por ano. Isto no caso, evidentemente, de ainda não se ter conseguido arranjar uma baixa prolongada, uma reformazinha antecipada ou, suprema aspiração, quem sabe, a passagem à situação de "reforma por invalidez": o português típico adora todos os achaques "incapacitantes", como perder um polegar ou sofrer de esquizofrenia paranóide, desde que isso lhe garanta um rendimento vitalício e não o impeça de arranjar outro emprego ou de estabelecer-se por conta própria.

Também por isso se revelam fundamentais, as pontes, já que vão contribuindo decisivamente para encurtar as distâncias em direcção à reforma, a finalidade única do trabalhador que se diz honrado.

São de resto estas pontes, com toda a argúcia de engenharia laboral que demonstram, os verdadeiros pilares que sustentam a nação. É entre as margens destas pontes que se estende o real e ancestral espírito português. É com estas pontes, e apenas por causa delas, que podemos ir à outra banda com facilidade e frequência. E quem diz outra banda, diz foz, ou café, ou Vale de Estacas, Riba D'Ave, Caxarinas, por exemplo, ou mesmo vale de lençóis, para os mais recatados.

Está por conseguinte em vias de resolução o eterno mistério da decadência que já se disse peninsular e que hoje é exclusivamente lusitana, no contexto europeu: é uma questão de pontes. Não somos nós que somos decadentes, são os outros povos europeus todos que são estúpidos. São eles quem, de facto, não possui nem engenho nem arte. A prova está em que não têm e sequer podem fazer pontes. Cambada de burros. De carga. Escravos. Não sabem o que é bom.

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30/10/05

Consultório sentimental - VII

Orgasmo Feminino
Matéria publicada num jornal de Sergipe, assinada pelo jornalista Ricardo Nunes

Orgasmo feminino é coisa da qual as mulheres entendem muito pouco e os homens muito menos. Pelo fato de ser uma reação endócrina que se dá sem expelir nada, não apresenta nenhuma prova evidente de que aconteceu ou se foi simulado. Orgasmo masculino não, é aquela coisa que todo mundo vê. Deixa o maior flagrante por onde passa.

Diante desse mistério, as investigações continuam e muitas pesquisas são feitas e centenas de livros escritos para esclarecer este gostoso e excitante assunto. Acompanho de perto, aliás, juntinho, este latejante tema.

Vi outro dia, no programa do Jô Soares, uma sexóloga sergipana dando uma entrevista sobre orgasmo feminino. A mulher, que mais parecia a gerente comercial da Wallita, falava do corpo como quem apresenta o desempenho de uma nova cafeteira doméstica. Apresentou uma pesquisa que foi feita nos Estados Unidos para medir a descarga elétrica emitida pela piriquita na hora do orgasmo e chegou à incrível conclusão de que, na hora H, a piriquita dispara uma descarga de 250.000 microvolts. Ou seja, cinco pererecas juntas ligadas na hora do "aimeudeus" seriam suficientes para acender uma lâmpada. Uma dúzia, então, é capaz de dar partida num fusca com a bateria arriada. Uma amiga me contou que está treinando para carregar a bateria do telefone celular. Disse que gozou e, tcham, carregou.

É preciso ter cuidado porque isso não é mais xibiu, é torradeira elétrica ! E se der um curto circuito na hora de "virar o zoinho" além de vesgo, a gente sai com mal de Parkinson e com a linguicinha torrada. Pensei: Camisinha agora é pouco, tem de mandar encapar na Pirelli ou enrolar com fita isolante. E na hora H não tire o tenis nem pise no chão molhado... pode ser pior ! É recomendável, meu amigo, na hora que você for molhar o seu biscoito lá na canequinha de sua namorada, perguntar: é 110 ou 220 volts ??


Se não, meu xará, depois do que essa moça falou lá no Jô, pode dar "ovo frito no café da manhã".

Humor numa boa


Consultório sentimental VII

Ejaculação feminina?

Desmond Morris interpreta o fenómeno designado por "orgasmo feminino" como algo de exclusivamente humano, sociológica e culturalmente determinado, com fundamentação zoológica mas de forma totalmente desligada de qualquer condicionante evolutiva. Desenvolvendo, o orgasmo feminino é algo que ocorre apenas na espécie humana - não ocorre em nenhuma outra espécie de primatas ou sequer de mamíferos - e resulta não de qualquer necessidade evolutiva primária mas da interacção entre grupos sociais e, dentro destes, entre os dois sexos. Será, por conseguinte, uma manifestação de inteligência e não um fenómeno estritamente natural.

De facto, não será necessário espremer muitos neurónios, nem fazer alarde de grande sageza observativa para se constatar que, por exemplo, a gata ou a cadela domésticas não experimentam qualquer espécie de "orgasmo", por mais que tentem e por mais prestáveis que sejam os respectivos donos; do mesmo modo, não consta que alguma macaca, ou leoa, ou vaca, ou girafa, ou baleia, ou qualquer fêmea de qualquer outra espécie, possa ter alguma vez experimentado tal coisa. Evidentemente, pelo menos quanto aos mamíferos, todas as fêmeas têm os seus períodos de fertilidade máxima, o chamado "cio", durante os quais demonstram interesse acrescido pela actividade sexual; poder-se-á deduzir, por conseguinte, que as fêmeas terão alguma espécie de "gratificação" - durante o cio - por forma a procurarem a relação sexual; não tendo (presumivelmente) consciência de que estará contribuindo para a propagação da espécie, à fêmea animal comum é oferecida pela natureza uma compensação pelos bons serviços prestados à causa da conservação, e esse prémio será a produção de substâncias que induzem prazer ou apenas, mais prosaicamente, sensação de bem estar.

O "orgasmo feminino" existe exclusivamente na espécie humana, o que se pode facilmente comprovar pelo facto de que tal "desiderato" apenas se poderá atingir com recurso a "técnicas", antes e durante o acto sexual, e preferencialmente por parte não de um mas de ambos os elementos do casal; o recurso a estas "técnicas" implica, evidentemente e no mínimo, ter delas conhecimento, e implica também que exista alguma espécie de afinidade ou de cumplicidade entre os elementos envolvidos. Ora, nas outras espécies animais, presume-se que não existam nem essas cumplicidade ou afinidades nem, muito menos, qualquer tipo de conhecimento - em toda a extensão do termo.

Por conseguinte, sendo um exclusivo da espécie humana, será perfeitamente aceitável que o "fenómeno" tenha resultado de uma evolução idiossincrática, de base evolutiva mas de cariz cultural. A ejaculação masculina cumpre uma função biológica inalterada, a inseminação da fêmea, mas desde há muito perdeu essa finalidade unicamente reprodutora; se bem que se conheçam algumas similitudes, esporádicas e localizadas, em algumas espécies de golfinhos e de (outros) primatas, a actividade sexual de cariz lúdico, por assim dizer, surgiu com a criação de grupos humanos e evoluiu em paralelo com a complexificação desses grupos, das relações entre os seus membros, e das estruturas que regulam o seu funcionamento e a sua interacção; ou seja, reitere-se, o sexo deixou de ser, nas sociedades humanas, um fenómeno natural, e passou a ser um fenómeno cultural.

O papel determinante da imaginação, na actividade sexual humana, é o factor decisivo para que se possa aferir definitivamente que esta se desligou completamente da sua base animal, zoológica; isto, evidentemente, se assumirmos que nenhum outro animal possui capacidades imaginativas, e que é isso mesmo que nos distingue dos outros seres vivos.

Ora, e retomando a tese de Desmond Morris, é precisamente com base na imaginação que se desenvolve um tipo de sexualidade totalmente novo, o qual tem a máxima expressão na sexualidade feminina e, fundamental nesta, o tema central, esse misterioso "orgasmo feminino". Da mesma forma que o conceito de "sensualidade", por exemplo, existe apenas na nossa espécie, e é também um fenómeno de expressão cultural, os conceitos de "beleza" física, ou de "aparência", ou mesmo de "moda", todos evoluindo em paralelo e em concomitância, contribuem para que o sexo seja hoje o centro de gravidade das relações entre as pessoas; passamos, em apenas alguns milénios, de sociedade geneticocêntrica para uma outra simplesmente egocêntrica, na qual as prioridades deixaram de ser a propagação da espécie e a satisfação de necessidades básicas e passaram a ser a satisfação e o prazer pessoais. De facto, à falta de sustentação zoológica, as fêmeas humanas produziram uma emulação do "orgasmo" masculino, cuja sustentabilidade do ponto de vista sociológico é interpretável (e interpretada, por vários autores) de diversas formas; Morris é de opinião que esta emulação orgástica surgiu pela necessidade (biológica, zoológica) de a mulher se conservar deitada, após a ejaculação do macho, por forma a evitar que, levantando-se, o esperma escorresse da vagina. Enfim, é uma teoria, como existem outras sobre o assunto, mas nenhuma delas exclui nada nem é decisiva em coisa alguma.

O que é facto é que não existem, por exemplo, "passagens de modelos" para vacas charolesas, nem esteticistas para ornitorrincos fêmea, nem cabeleireiros especializados em hienas, ou sequer existe uma única loja Christian Dior em todas as reservas naturais do mundo. Quer dizer: o argumento, posto assim, é bem provável que não colha; mas, que diabo, não será possível que a explicação para tão gigantesco enigma esteja mesmo debaixo dos nossos olhos, sem ser preciso ir escavar mais longe?

O "orgasmo feminino" será igualmente avassalador e extenuante, numa camponesa analfabeta e numa secretária executiva? Para uma fêmea de qualquer tribo perdida na savana as "técnicas" utilizadas para atingir o orgasmo serão as mesmas de qualquer dona-de-casa europeia? E será que o homem da savana se desvelará tanto, com cada uma das suas vinte mulheres, como o burguês das nossas cidades com sua Maria das Dores?

Se tentarmos analisar a coisa, salvo seja, através da simples observação, o "orgasmo feminino" ainda mais evidentemente fingido parecerá: o "orgasmo masculino" (a ejaculação) resulta na expulsão de sémen; e no feminino, o que acontece? Qual é a substância "expelida"? Urina? Ou são óleos naturais de lubrificação vaginal que "se vêm" por ali fora, em quantidades industriais? Se a ejaculação (masculina) serve para a expulsão de espermatozóides que, sem ela, não poderiam servir para nada, o correspondente feminino serve para o quê, exactamente?

As sociedades humanas modernas desenvolveram mecanismos de interacção complexos, sem paralelo. A fêmea humana e, de certa forma, o macho também, não tem hoje em dia absolutamente nada a ver com o que era há seis ou sete mil anos: perdeu quase completamente a pelagem, modelou os seios e as formas de acordo com padrões estéticos, adquiriu comportamentos totalmente novos e, por fim, assumiu um estatuto de total parceria - na acepção de igualdade - em relação ao sexo "oposto". Ora, entre outras coisas, o que tinha este de fundamental, radical, de certa forma irritantemente diferente? O orgasmo.

Tinha, disse bem.

Claro que isto é, de certa forma, grave. Novos problemas e desafios se colocam ao homem moderno e, principalmente, ao pós-moderno, esse patarata. Até já existe um ramo colateral, na medicina, dedicado exclusivamente ao "orgasmo feminino"; na variante não consumada, à boa maneira medicinal, é uma chatice tecnicamente designada por Anorgasmia; certamente por exorbitância preciosista, o nome completo da coisa é "anorgasmia feminina", pelo que se pode deduzir que a chamada "impotência" já não existe, finou-se, agora deve ser "anorgasmia masculina". Ora bem. Estamos todos bem fodidos, é o que é. Com uma coisa destas, que tem nome científico e tudo, já cá se sabia, agora é que vão ser elas: gaja que é gaja está assim superiormente autorizada, ordens do médico, a pedir - melhor, a exigir - a qualquer gajo com o qual se digne dar uma trepada, coisas assim:

_ Chavalo, isso assim não me dá gozo. Foda-se. É aqui. Olha. Aqui, tás a ver? Clítoris. Isto chama-se cli-to-ris. Pronto. Pões aqui dois dedos e esfregas, para cima e para baixo. Assim. Não. Assim. Ah. Aaaaahhhh. Aaaahhhh. Ai! Merda! Magoaste-me! Mas ca ganda besta me saíste, tu, ó palhaço. Da-se!

Acabou-se a velha e elegante rapidinha, por exemplo. Agora ele é só "técnicas" e mais "técnicas", não vá dar-se o caso de a fulana ficar "insatisfeita" e, sabe-se lá, apresentar queixa na polícia. Já não basta andar com preservativos, boletim de sanidade em dia e cartão de dador benévolo de sangue, não tarda nada gajo que é gajo terá de se munir também de registo criminal e de uma certidão médica, declarando que não é impotente, nem sofre de ejaculação precoce, nem pega de empurrão, nem é portador de grandes taras e manias. Conveniente e jeitoso será também meter na carteira uma quantas cartas de recomendação, passadas por senhoras satisfeitas que declaram, por sua honra, que o portador é pessoa de dar três seguidas sem tirar fora, especialista nas posições tais e tais, e tal, merece nota x em orgasmos, e tal, tantos de tal, segue assinatura reconhecida notarialmente. Qualquer dia, o direito da mulher ao orgasmo terá um artigo próprio na Constituição da República, recomendando mesmo que se puxe pelo canastro o suficiente para que a dita tenha direito a orgasmos "múltiplos", dia sim dia sim ou dia sim dia não, pelo menos. A velha pergunta "como te chamas" será em breve substituída por "aguentas quanto tempo".

Dodo. Geralmente, o que quiser. Mas depende.

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29/10/05

D. Sebastião, o Verdadeiro

Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782)
Marquês de Pombal
Conde de Oeiras
Entradas lexicais

pombalibilidade s.f.: qualidade ou condição de pombalizável; 1. grau de carência de pombalização; 2. característica ou conjunto de características do que é pombalizável ou foi pombalizado.
pombalino adj: relativo ao primeiro marquês de Pombal (1699-1782) ou à sua época; acto ou efeito de pombalização.
pombalismo s.f.: Hist. 1. conjunto de princípios que caracterizam a governação do marquês de Pombal (1699-1782), como o absolutismo, a centralização do Estado e o desenvolvimento económico; 2. período da sua governação (1750-1777); 3. corrente política actualmente com um único apoiante (cf. Dodo).
pombalista adj. Hist.: 1. relativo ao marquês de Pombal ou ao pombalismo; adj. 2 g., s. 2 g.: 2. partidário do marquês de Pombal.
pombalização s.f.: 1. acto ou efeito de pombalizar (-se); 2. tudo o que se põe em prática, que se consegue pombalizar; 2.1. algo que se obtém com esforço; 3. p. ext. grande feito, acto de heroísmo.
pombalizado adj.: que se pombalizou; 1. levado a efeito; executado 2. que ganhou realidade, que se efectivou 3. que conseguiu atingir os seus objectivos.
pombalizar v.: realizar, executar, proceder de modo pombalino ou à maneira pombalina.
pombalizável adj. 2 g.: passível de pombalização ou algo que é possível pombalizar, executar ou realizar eficazmente.



(imagem de Planeta deAgostini)

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28/10/05

Beijar palavras,
apalpar termos

Certo dia, o macaco Adriano apareceu na clareira onde habitualmente se reuniam os animais da floresta, mas vinha com um ar muito cansado, abatido, com olheiras enormes e pêlo desgrenhado.
_ Mas o que é tu tens hoje?, perguntou o leão.
_ Pá, nem me digas nada. Passei a noite toda com a girafa, e 'tou aqui que nem posso.
_ Com a girafa?! Ena!, diz a hiena. Então, e que tal, e que tal?
_ Brrrr!, suspirou o macaco Adriano. Foi uma loucura. Fiquei todo rebentado.
_ Imagino, comenta o papagaio. Não tiveste sossego...
_ Não, não é bem isso. É que o raio da girafa tem lá umas manias, uns "fétiches", e passou o tempo todo a dizer: beija-me na boca e apalpa-me as mamas, beija-me na boca e apalpa-me as mamas, beija-me na boca...

A vizinha Azimutes produziu um post sobre palavras, algumas palavras, as preferidas dela, suas sonoridade e beleza. Porém, o que esta listinha possui de mais curioso, e se calhar sádico, é obrigar o (pobre) leitor a andar feito maluco, para cima e para baixo, lê palavra, vê nota, lê palavra, vê nota; o problema é que as palavras estão seguidas, à cabeça, e as notas estão todas lá em baixo, algures nos "cafundós" virtuais. Este será, portanto, um "post" inspirado na velha anedota do macaco e da girafa que tentam "fazer amor", o que obrigou o pobre macaquinho a esfalfar-se desgraçadamente, pescoço acima e pescoço abaixo.

Já agora, e a propósito, porque me parece ter "postado", algures no passado, uma coisa semelhante (quejanda, como ela não gosta que se use), não a respeito de palavras "amáveis" mas daquelas que mais detesto, vou tentar alinhavar (se calhar, este verbo também não agrada, haja paciência) umas quantas, em jeito de plágio perfeitamente assumido. Mas desta vez sobre alguns dos termos que mais me agradam. Ou, como a vizinha diz, saborear as palavras dizendo-as:

cambalacho: tramóia, giga-joga, cilada
macacaúba: a trave-mestra das velas do moinho
fava-rica: um sabor da infância
Linda-A-Velha: o mais belo nome de terra
Quiaios: o mais longo hiato em Português
sovina: agarrado, unhas-de-fome (bras.)
mosto: a papa de uvas em fermentação
biltre: canalha, sacana, cabrãozito
trompete: sopra-se por uma ponta e sai música pela outra
trombone: usa-se para meter a boca nele
sousafone: um trombone esquizofrénico
clavicórdio: o trisavô dos instrumentos de cordas
sonegar: roubar, gamar
clave-de-sol: devia ser só "clave", porque não há de outras notas
arco-íris: quando os deuses saltam à corda
balaustrada: sacada, varanda
magnólia: o nome da flor é bonito, mas não conheço a flor
urze: excelente ração natural para equídeos
soneca: dormir, o maior prazer que existe
boto: parecido com pé-chato; animal raríssimo
chaputa: este peixe não é grande coisa, mas tem sonoridade
caneco: bolas, caramba; esposo da caneca; o m.q. do cacete
chouriças: encher c., m/f
páleo: cobertura para autoridades eclesiásticas, tipo dossel móvel; corrida de cavalos medieval
moinante: songa-monga, mula, mosquinha-morta marginal; pândego(a)
soldada: pré, miséria que o soldado recebe; hoje em dia, também já a pode receber na camarata
defenestrar: atirar pela janela fora; janela devia ser "fenestra", portanto
pucarinho: diz-se "de casa e p.", juntar os trapinhos; pequeno púcaro
colação: assunto corrente
ar-condicionado: a maior invenção depois da roda
candelabro: candeeiro de tecto; adereço principal do filme "Atracção Fatal"
poliglota: bilingue, não; de trilingue para cima
bolina: velocidade (gir.); apreciar seios tactilmente
esternocleidomastoideu: um osso entalado na garganta da cinematografia universal
Samouco: localidade do distrito de Setúbal (?)
olvidar: esquecer, castelhanismo; o. Cavaco Silva
corcel: cavalo, medieval ou romântico
chispe: pé; de coentrada, se for de porco ou de vaca; chispado, na "bisga", depressa
sonrisa: em Castelhano, sorriso; pronuncia-se "xonricha"
nestum: papas de aveia; nada, nestes, népia
sapatão (bras.): lésbica, fufa, fressureira
salpico: de salpicar, aspergir; pingos
onanismo: seguidores de Onan, o deus da mão direita (ou da esquerda, para quem é canhoto)
patológico: chanfrado, maníaco, marado dos cornos
deontologia: aahhh... deontologia
cacilheiro: cruzeiros de luxo entre o Terreiro-do-Paço e Cacilhas
santola: a lagosta dos tesos
esmoer: o que se faz depois de uma refeição opípara
arremedo: ameaço; trejeito ou falta de jeito
mártir: apreciador de Lobo Antunes
pua: ferramenta para furar
medronho: fruto que dá uma aguardente baril
penates: regressar a p., o m.q. regressar a casa
cabrestante: peça de roldana, nos barcos à vela
burro: um animal simpático, ou qualquer antipático animal
cacetada: o que me apetecia oferecer à vizinha de cima
morcão: pronunciado como "murcom-e", significa palermita, idiota, lerdo; larva de frutas e legumes
supimpa: termo queirosiano, significando excelente, o máximo
vagabundo; errante, maltrapilho; no Brasil, significa "marado", falso, barato, artigo de loja dos 300
delfim: golfinho; herdeiro do trono (ou cargo, tacho, etc.)
dispepsia: sensação de enfartamento; trata-se com pastilhas Rennie ou soltando (discretamente) umas valentes "farpolas"
exegese: interpretação de texto ou obra; paleio de chacha; patati-patatá
abada: "capilota"; por exemplo, Benfica 5 - Sporting 0 (o m.q. cinco secos)
engonhanço (engonhar): maneira de trabalhar tipicamente portuguesa; conteúdo do discurso políticamente correcto

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27/10/05

Quem fala assim, não é gago

É Galego. E está muito bem.

"GALEGO E PORTUGUÉS: UNHA CUESTIÓN DE SUTAQUE?

Din algúns que as diferencias entre o que se entende hoxe por língua galega e o portugués son "de sutaque". Non é así. Compre lembrar que hai unha tradición, moi cultivada no estado español, de non querer aceitar que as demais línguas merecen traballo e que hai que aprendelas e comprendelas; no fondo, o que non se admite é que haxa línguas diferentes e por iso querse reducir todo a unha cuestión de "sutaque". E nese "sutaque" entra a fonética, a sintaxe, a pronunciación e todo o código propio de cada língua. Ven sendo como querer tocar o violín como se fose un piano.

As palabras teñen marcas fonolóxicas que as fan diferentes, e o ouvinte ten unha marxe moi estreita de recoñecimento das formas. A diferencia entre o sonido p en español e o sonido b fai posíbel distinguir entre pata e bata. Esa mesma diferencia de sonidos no inglés fai que, se non se pronuncia o p como hai que pronuncialo nese idioma, e non como se pronuncia en español, o ouvinte crerá que, en vez de Perez, lle din Beres. Cando un falante de español pronuncia, para Oxford, Osfor, con vogais e consonantes castelás, non hai nada aí que coincida co codigo desa palabra en inglés, e para un falante de inglés podía ser calquera cousa menos o nome desa cidade inglesa. E cando un falante de español pronuncia o je francés decindo ye non é que esté falando francés con outro sutaque, é que non está falando francés. Como non están falando galego as e os que na TV galega pronuncian hose en vez de hoxe. Os rasgos pertinentes que na estructura linguística marcan por contraste o significado da palabra non se poden mudar a vontade, nen son cuestión de sutaque, senon rasgos do morfema.

Se a língua galega tivese evoluido con normalidade e fose a língua predominante da Galiza, entre o portugués e o galego non habería mais que algunhas diferencias de entonación e de algunhas palabras talvez. Mais na Galiza, por circunstancias históricas, o galego quedou acurrado e esquecido, cuase sen escrita e falado só polas xentes menos cultivadas, moitas delas analfabetas, e a língua predominante foi durante moitos séculos a castelá, como segue sendo ainda. A consecuencia desa historia é que a língua galega se perdeu en grandísima parte e se contaminou máis cada vez do castelán. O galego que hoxe se fala e escrebe ten máis de castelán na fonética, sintáctica, semántica e pronunciación, que de galego. Se tivese evoluido normalmente, as diferencias có portugués serían mínimas; tal como está, as diferencias son cuase as mesmas que hai entre o castelán e o portugués."

"Non aceitar que hai un problema é a pior maneira de enfocar o asunto, porque só pode levar a non solucionalo nunca. A solución cando, como neste caso, trátase de "resucitar" unha língua, non pode vir a treu e sen atender ás consecuencias dunha historia que foi así e non de outra maneira, góstenos ou non.
O que habería que aceitar é que a língua galega está moi castelanizada,facer todo o posíbel por parar ese proceso de castelanización e entender que o portugués, ou algo moi semellante, é a língua que o galego tería sido se tivese evoluido debidamente e non quedara desprezado e tirado da memoria. Coller palabras do portugués, como se ven facendo nestes últimos tempos, é o que se debía facer sen disimulos, e tamén coller maneiras de expresarse en vez de coller as do castelán cando se fala e escrebe galego. E tamén habería que aprender ou "lembrar" ou "resucitar" a fonética e a pronunciación.
Porque así como soa o portugués é como soaba e soou sempre o galego de verdade, e non como soa agora, que é con fonética, entonación e pronunciación do castelán. E iso fai que a un portugués lle sexa seguramente mais doado entender a un andaluz que lle fale castelán que a un galego que lle fale en "galego urbano", ou sexa, nen en castelán nen en galego e moito menos en portugués."

www.grupotraballogalego.uk.net


Por supuesto
Curiosa, esta mania portuguesa de "lutar" à viva força por "causas" que não interessam nem ao Menino Jesus, como é o caso da pretensa "uniformidade" linguística de Portugal e Galiza; entre outros sítios óbvia e apenasmente virtuais, costumam reunir-se os militantes desta "causa" num endereço que se designa por Portugueses pela Galiza Lusófona. Ali, calculo, imagino, esses militantes esgrimem seus certamente acertadíssimos argumentos sobre este espantoso, interessantíssimo assunto: na Galiza fala-se Português, logo, o Estado espanhol deveria reconhecer essa Língua (o Português, não o Galego) como oficial, em parceria com o Castelhano, o Catalão e o Basco, entre outras, se calhar (Andaluz? Astur-Leonês?).

Quem sou eu para me imiscuir em tão elevados desígnios, eu, que apenas dei uma única volta à Galiza e que, antes disso, só uma vez tinha ido comprar uns caramelos a Tuy. Conhecia aquele território apenas de ouvido, quando era garoto, porque o Julito Iglesias (o gajo seboso da úlcera no estômago) tinha uma "cantiga" que se intitulava "Un Canto a Galicia, hey" e era necessário, naqueles tempos, gramar aquilo em altos berros, em tudo o que era feira ou arraial popular.

Parece-me, sem pruridos de qualquer espécie, que a questão da "lusofonia galega" é uma falsa questão. Não existe, a não ser nas cabecinhas iluminadas de meia-dúzia de intelectuais ociosos. Na Galiza, fala-se Galego. Onde é que está a dúvida? Quem já lá foi, sabe que alguns galegos entendem perfeitamente o que a gente lhes diz, na lusa fala; mas é necessário falar devagarinho e misturando um pouco de palhacês (a linguagem dos palhaços de circo, ós qué fálán ássi, méninós i méninás, béne venidos à nostro precioso ispétácólo). O Galego é tão parecido com o Português como o próprio Castelhano; como diz o autor da prosa transcrita, não se trata somente de uma questão de sotaque; não é possível, de facto, tocar violino como se fosse um piano.

Para aferir da evidente diferença entre uma e outra Línguas, bastaria escutar o mesmo texto, lido por um Galego, na Língua galega.

Deve ser realmente alguma dificuldade ou limitação minha, devo ser de facto muito estúpido e ainda ninguém se lembrou de me recordar o facto, mas não entendo. Para que serve uma "Galiza lusófona"? Qual é, qual seria a finalidade, se tal viesse a suceder? Quem ganharia o quê com isso? O que melhoraria na vida dos galegos, na dos portugueses, ou na dos habitantes da Patagónia?

Mistérios insondáveis. E os gajos a darem-lhe e a burra a fugir. É que não falam a mesma Língua, nem saem de cima, os patuscos da tal agremiação virtual. Não tenho a certeza, é só um palpite, mas parece-me que os elementos desta devem ser rigorosamente os mesmos de uma outra, de iguais relevância e militância, que "lutam" pela "restituição" de Olivença (uma localidade espanhola chamada Olivenza) a Portugal; estes até se "reunem" num sítio de primeiro nível e tudo (http://www.olivenca.org/). Ena, como soi dizer-se.

Admirável, de facto. Ele há gente para tudo. Consumidores de causas. Devoradores, melhor dizendo. E, pelos vistos, isto é tudo pessoal de convicções arreigadas e que não apenas leva a peito, extremamente a peito, tudo aquilo em que se mete, como parece levarem-se a si próprios muito a sério. Bem, como andam a bater no ceguinho há um ror de anos e ninguém lhes liga patavina, deve ser por serem realmente eles mesmos os únicos, portugueses, galegos ou oliventinos, que se levam a sério, que acham que a sua "causa" é legítima, ou viável, ou positiva. Ou que se trata sequer de uma causa... real e não inventada.

Digo eu, que não percebo nada nem de um nem de outro dos assuntos. E poucochinho de apenas uma ou duas coisas.

Mas enfim, que seja pelas alminhas. Isto deve-se a que, aparentemente não tendo nada a ver, anda aí um gajo brasileiro a vociferar contra a "colonização cultural portuguesa" lá no país dele. É um tal Não Sei Quantas Neto, diz que as editoras portuguesas estão a "inundar" o mercado literário do Brasil com obras de autores lusos, onde já se viu. E parece que o homenzinho é de esquerda. Ora, pois. Estas coisas chateiam-me à brava. Um murro no focinho, isso é que era. Mas qual quê. Em causas destas, sérias e consequentes, ninguém pega, tá queto ó preto.

Qual Galiza lusófona, qual cacete! Qual Olivença, nem meia Olivença! Arrasar esse cabrão desse brasuca é que era! Vamos a isso, companheiros! Abaixo o Neto! Abaixo!

E daí, talvez não. Pensando melhor. Há coisas mais importantes e mais úteis para fazer. Deixe-se lá o Neto babar as asneiras que quiser. Malhar no Neto, esse pobre diabo, seria uma outra causasinha de merda.

O Neto que se foda. Eis uma causa morta à nascença.

Lindo.

Rodapé
Nota de rodapé: o nome por extenso do tal cretino é Miguel Sanches Neto. Existe um artigo publicado no DN que se refere ao assunto; neste outro artigo, a coisa é ainda mais clara.

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Consultório sentimental VI

A gata com tusa

(...)
Tenho acompanhado o seu "consultório sentimental" com algum interesse e verifico que há um assunto que refere muitas vezes, mas sempre ao de leve, sem aprofundar grande coisa. E é esse, precisamente, o assunto que aqui me traz, um pouco constrangida, confesso, mas também curiosa de saber a sua opinião: afinal, o que é ao certo aquilo a que geralmente se chama "tesão"? Qual é a diferença entre a "tesão" num homem e "tesão" (ou tusa?) de uma mulher?
É lógico que há diferenças no desejo sexual entre homem e mulher, mas nunca entendi porque razão não se fala da tesão (ou do tesão, é feminino ou masculino?) que as mulheres sentem, tanto ou mais que os homens.
Como acima referi, estou casada há quase vinte anos e essa questão já nem se põe, no que diz respeito ao meu marido; mas interessa-me a mim, que diabo! Os homens costumam dizer "eu sou casado, não sou capado"; ora bem, falo por mim, comigo é rigorosamente o mesmo, não é uma nem duas vezes por dia, lá no escritório ou até na rua ou no autocarro, vejo um gajo qualquer que me agrada e desato imediatamente a fantasiar umas coisas que não deve valer a pena explicar em pormenor. Por exemplo, tenho um colega, muito mais novo do que eu, que não me sai da cabeça; ainda ontem passei toda a noite em claro, com o maridão ao lado a ressonar, a imaginar o que faria se apanhasse (ou quando apanhar) o gajo sozinho, no armazem, no departamento, quando não estiver ninguém, ou mesmo no elevador, à falta de melhor. E acredite que (esta não foi nem a primeira nem a décima vez) ter o meu marido ali ao meu lado a dormir, enquanto eu me masturbo durante horas...
Nem imagina, o idiota. Também já aconteceu às tantas virar-me para ele, puxar por ele, e cá vai disto. Afinal, um homem é um homem, e nestas ocasiões até mesmo um marido serve. O problema é que não é nada fácil acordá-lo ou, pelo menos, excitá-lo o suficiente para o efeito pretendido; só de manhã é que o animal costuma acordar de pau feito, como se costuma dizer. É o tal "tesão do mijo", a especialidade dele.
(...)

(sem identificação)


Cara amiga,

Este seu naco de prosa é extremamente suculento, por assim dizer. Compreenderá que, para um homem, e para mais não sendo formado nem em Medicina nem sequer em "sexologia", não é fácil articular grandes teorias sobre o assunto em causa; até por desconhecimento técnico relacionado com mecanismos fisiológicos, sobre os quais apenas um médico se poderá pronunciar, não me caberá (salvo seja) a tarefa de explicar as diferenças entre o desejo sexual masculino (vulgo, a tesão) e o equivalente feminino (vulgo, a tusa); de igual modo, caberia a um especialista em sexologia, a ciência que estuda as quecas, estabelecer diferenciações motivacionais e condicionantes sociológicas. Por exemplo, sendo eu homem, não consigo imaginar aquilo que acontece no organismo feminino quando em presença de um estímulo erótico.

Em concreto, sei eu e sabe qualquer homem que a gente sente um baque no coração, sempre que deparamos (nós, os homens, repito) com uma mulher "podre de boa", as narinas dilatam-se-nos, começamos a respirar mais depressa e sentimos, algures na zona dos testículos, uns esticões e umas mexidelas esquisitas. Ora, não posso fazer a mais pequena ideia sobre aquilo que acontece com uma mulher em situação similar; será que sentem também alguma coisa a mexer, na região uterina ou nas imediações, quando topam com um homem que, para elas, será "uma estampa"? Este é um mistério eternamente masculino, e que nos acompanha fatalmente até à cova: o que diabo sentirão as mulheres em relação a nós, homens? O que raio será, no cérebro feminino, a imagem de homem correspondente a "uma estampa", ou "um pão", ou qualquer das expressões equivalentes aos nossos simples e óbvios "gaja boa" ou "podre de boa"?

Mas enfim, não irei agora cair na tentação de virar este consultório ao contrário e desatar eu mesmo a fazer-lhe perguntas a si, cara leitora e correspondente. Posso dizer-lhe que em nós, homens, o efeito causado pelo simples avistamento de um bonito cu ou de um belo par de mamas é algo de avassalador, por vezes, e manifesta-se de forma visível... coisa que já não acontece convosco, mulheres. Daí a curiosidade, até porque essas coisas não aparecem muito por aí, nas folhas de couve e nos almanaques, e muito menos falam as próprias mulheres do assunto - supostamente em nome do recato e dos bons costumes. Acredite que não sou só eu quem gostaria de saber: além dos sintomas característicos anteriormente mencionados, a nós enrijece-nos fatalmente o pau; e a vocês, o que sucede, ao certo? Uma amiga confessou-me em tempos que ficava "húmida" e que sentia os mamilos a despontar e as mamas a intumescer (ela dizia "enrijar"). Será isto? Ou há mais para saber? Seria interessante uma descrição pormenorizada; se quiser dar-se à maçada, cá espero o seu relato circunstanciado, para posterior publicação. Os blogosferos ficariam muito reconhecidos por tão prestimoso serviço à comunidade.

Mesmo permanecendo na mais indecente obscuridade, quanto a esse particular, o que é facto, e disso qualquer sapateiro poderá falar, é que ambas as coisas existem, a tesão nos homens e a tusa nas mulheres, e que não é pouco - nem num caso nem no outro, e em especial naquilo que ao belo sexo diz respeito, como é sabido. O que à saciedade comprova que sexo não tem absolutamente nada a ver com amor, e vice-versa. E nisso, precisamente, na forma como o desejo é encarado e interpretado, radica a principal diferença entre os sexos: para o homem, tesão é tesão; para a mulher, tesão convém que seja amor. Ou seja, parece que as mulheres não perdoam a si próprias o facto de sentirem tesão e, por conseguinte, compulsivamente necessitam de chamar a essa coisa outra coisa qualquer, mais aceitável do seu ponto de vista, mais moral e aceitável do ponto de vista daquilo que julgam ser as conveniências; portanto, sendo a prática do sexo a consequência natural do desejo, o elemento feminino envolvido tende a encobrir o primarismo do acto com algo de diáfano e delicado; logo, sexo no feminino não é sexo - é simpatia, é paixão, é amor. É conforme... o grau de tesão. Quanto maior for a tusa, maior se dirá o "amor" correspondente. E vice-versa, de novo. Basicamente, as pessoas casam porque o sexo foi bom e divorciam-se porque o sexo já não é.

Do mesmo modo que não existe ninguém mais racista do que um preto, não há nada mais machista do que uma mulher. Suponho não serem os homossexuais masculinos quem nitidamente prefere homens "feios, porcos e a cheirar a cavalo", pelo que se poderá depreender que a excitação sexual (a tusa) feminina está intimamente - e de que maneira - relacionada com o primarismo da atracção. Ramos de flores e converseta a armar ao inteligente são preliminares redundantes que podem interessar a uma ínfima minoria de intelectuais, um subtipo feminino que mantém uma relação conflituosa, mas igualmente intensa, com a sua sexualidade.

Evidentemente, este conflito entre a moral e a tesão, entre os bons costumes e a foda pura e simples, esbate-se com o passar dos anos e acaba por fatalmente explodir, em todo o seu esplendor, por volta da chamada meia-idade. Criada a prole e, por consequência, liquidada a finalidade social da relação, assiste-se à ressurreição individual do tesão, no seu estado mais puro. Acresce que, existindo uma deflexão patente entre as épocas de maturidade sexual do homem e da mulher, as consequências tornam-se muito mais visíveis nesta do que naquele; regra geral, o homem atinge a maturidade sexual na adolescência e entra na curva descendente (em sentido literal) a partir dos 35 ou 40 anos; ora, com esta idade, precisamente, está a mulher em plena pujança, que aumentará ainda a partir daí e até à menopausa; acresce ainda que, mesmo após esta, e enquanto qualquer infeliz cinquentão ou sessentão já terá bastante dificuldade em "pô-lo em pé", a felizarda da mulher conservará ainda, por muitos e bons, uma acrescida tendência libidinosa e malandreca. Por alguma razão o Viagra e quejandos se vendem às toneladas, não existindo no mercado qualquer "medicamento" congénere para as mulheres. É natural. As mulheres conservam intacta toda a tesão, acumulam-na com juros ao longo da vida, enquanto os homens a vão simultaneamente perdendo.

Ora, a amiga que nos escreve (e que não se identifica, faz muito bem) reflecte no seu texto precisamente este processo de desencontro libidinoso (ou encontro, tanto faz); repare que se refere a seu digníssimo esposo, por esta ordem, primeiro como "maridão", depois como "marido", em terceiro lugar como "idiota", e finalmente como "animal". Exacto. É essa a progressão habitual, no casamento. E deixe-me que lhe confesse, já agora, o seguinte: esse pormenor da masturbação com o "idiota" ali ao lado, a ressonar, é verdadeiramente de mestre. Imagino que, até porque terá de se conter um pouco, para o não acordar, é o facto de ter ali o seu marido, mesmo ao lado, na mesma cama, e estar a traí-lo mentalmente, isso ainda mais a deve excitar; calculo que sonha, mesmo acordada, com o dia em que há-de meter esse tal colega, lá do escritório, em pleno leito conjugal - enquanto o "idiota" continua a ressonar como um porco.

Não se rale excessivamente, pois. O seu casamento, como é fatal ao fim de vinte anos, está por um fio. E olhe: talvez essa sua "tesão" que, pelos vistos, até já não a incomoda, poderá vir mesmo a representar a salvação do próprio casamento. Conservar uma mulher sem sexo, como se fosse uma posta de atum em óleo vegetal, é mais difícil do que acertar na chave do "euro-milhões"; é uma probabilidade em muitos milhares de milhões; por isso, quanto mais a nossa amiga laurear sua pevide, maior será a viabilidade que o seu marido terá de o continuar sendo. É que, veja bem, sabe perfeitamente, não é lá por lhe apetecer um pirafo com este ou com aquele que agora terá de casar também com esses; o primeiro bastou para o efeito, não é?

Está na idade, agora é a sua vez. Faça como nós, homens, tentamos fazer enquanto nos deixam: havendo tesão, é foder, e foder, e foder. E depois, mandá-los foder. Todos.

Ou todas, consoante o caso.

No intuito de abrilhantar esta modesta prelecção, deixo-a, cara amiga, com uma conhecidíssima versalhada de certa consagradíssima e, pelos vistos, doidona autora.

Amar!

Florbela Espanca

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...




P.S.: sobre aquilo que refere como "o tesão do mijo", uma palavra resume bem: esqueça. Isso não existe. Ou, melhor, existe a erecção matinal, é de resto absolutamente típica. Porém, e ao contrário do que vulgarmente se pensa e se diz, isso não resulta e não tem nada a ver com questões relacionadas com o tracto urinário. A prova disso mesmo é extremamente simples: se essa erecção resultasse de uma extrema necessidade de urinar, então o mesmo sucederia sempre que um homem se visse em apertos do género, o que acontece a qualquer um amiúde. Definitivamente, não. A erecção matinal resulta de excitação sexual ocorrida durante o sono; na juventude, é isso mesmo que provoca as chamadas "ejaculações nocturnas". Para um adulto, pode já não ocorrer esse tipo de ejaculação, mas continua a haver tremenda excitação, induzida por sonhos, pela imaginação. A maior, a única arma do tesão.

(origem do copy/paste do poema: http://members.tripod.com/MarciaAPinheiro/amar.htm)

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26/10/05

Descontar para as SS

A vizinha Gotika escreve hoje sobre o tema candidaturas e entrevistas para emprego. Refere casos em que lhe foram oferecidas "remunerações" absolutamente ridículas; subtraindo àquelas "fabulosas" maquias os descontos, ditos "obrigatórios", para a Segurança Social (SS), o saldo final seria ainda mais irrisório: 125 Euros, num caso, e perto disso no outro.

Ora, cara vizinha, permita-me algumas observações. Apenas sobre a parte em que se refere aos "descontos obrigatórios" para a SS, porque sobre os "fabulosos" vencimentos que lhe foram oferecidos nem vale a pena comentar, tão irritante e deprimente é o tema.

Ora, portanto, sobre os descontos para a SS.

Primeiro, e por aqui se fica o conceito de "justiça social" aplicado pelos nossos sucessivos governos, não sei se sabia que é possível descontar zero Escudos ($), ou zero Euros (€), para a SS: com rendimentos abaixo de um determinado nível remuneratório englobado (6, 7 ou 8 ordenados mínimos, não me recordo exactamente), o "beneficiário" pode requerer a respectiva isenção.

Segundo, existe uma outra forma de não pagar aquelas contribuições: não pagando. Ou seja, explicando melhor: a forma mais expedita de não pagar as contribuições "obrigatórias" é, pura e simplesmente, não as pagar. Até ver, as Finanças, os serviços próprios da SS, todas as entidades envolvidas no processo apenas podem fazer uma coisa, a respeito dos "faltosos": abrir, para cada um deles - e acredite que são largos milhares - uma fichinha de "faltosos"; a alternativa seria a execução fiscal, mas não apenas aquelas entidades têm jurisdições e orgânicas diferentes como seria ilegal a apreensão ou arrestamento de bens dos "contribuintes" em falta. Além disso, presume-se que uma pessoa que se sujeita a ganhar menos do que 7 ou 8 ordenados mínimos por ano não será detentora de grandes contas bancárias que possam ser cativadas, nem lhe poderão ser confiscadas - para efeitos de leilão executório - viaturas topo-de-gama ou qualquer património imobiliário de valor.

Terceiro, é necessário saber para que serve, em concreto, o estatuto de "beneficiário" da SS: em rigor, para nada... a não ser para pagar os ordenados aos funcionários da própria SS e, principalmente, para financiar subsídios a parasitas (por exemplo, o chamado "Rendimento Mínimo Garantido", com esta ou com outra designação); depois de consumida a maior fatia das contribuições, a meias para estas duas finalidades, o restante servirá, teórica e transitoriamente, para pagar pensões de reforma. E a curiosidade da coisa reside precisamente na forma como esta última fatia do bolo é distribuída: em princípio, existem escalões de vencimento por reforma, calculados em função dos descontos efectuados ao longo da "carreira contributiva"; porém, e igualmente até ver, porque todo o sistema está na iminência de absoluta falência, existe uma pensão de reforma mínima - para quem nunca descontou ou, de qualquer outra forma, não cumpriu os requisitos legais para vir a ter direito a uma reforma escalonada.

A questão principal é esta, e parece-me que pouca gente estará ciente de qual é a diferença entre uma coisa e outra, isto é, entre a pensão a que se tem direito sendo contribuinte do escalão de rendimentos mais baixo (a chamada "contribuição mínima obrigatória - CMO") e aquela que tocará a quem nunca descontou um cêntimo. Calculo de memória, que já vai titubeando e precisada de reforma urgente: a diferença entre uma coisa e outra rondará os 8 contos dos antigos, ou 10, ou 12, mais coisa menos coisa.

Para que fique absolutamente claro: se um "trabalhador" português, ao longo de toda a vida ou nos últimos quinze anos de "carreira contributiva", descontar mensalmente apenas a "CMO", quando se reformar irá receber pouco mais de 50 contos por mês; se nunca descontou, terá direito a cerca de 40, coisa que se designa por "pensão social mínima". Não é extraordinário? Não são absolutamente brilhantes, os nossos políticos?

Façamos algumas contas de merceeiro, as mais adequadas para que se compreenda o espírito da nossa legislação, as mais próximas do nível intelectual de quem a pariu, a essa legislação.

Por exemplo: se eu passar 45 anos (dos 20 aos 65) a descontar a CMO, a um valor actualizado equivalente a 30 contos (150 €) por mês, quando atingir a idade da reforma terei pago à SS qualquer coisa como 16200 contos (81000 €) [45X12X30=16200]. Assim, muito contente por ter cumprido as minhas obrigações legais e o meu dever cívico, passarei a receber - a partir daí e até entregar a alma ao criador - uma mesada de aí uns 55 contos. Portanto, se ainda estiver vivo aos 80 anos, o Estado ter-me-á entretanto (em 15 anos) reembolsado 9900 contos (49500 €) dos 16200. A diferença (6300 contos) dará perfeitamente, também por exemplo, para que algum dirigente da SS tenha direito ao seu discreto automóvel de serviço.

Por outro lado, em alternativa ao cumprimento das referidas obrigações e deveres de cidadão cumpridor, posso perfeitamente não descontar nunca um único chavo. O que acontece, afinal? Vou preso? Não, é claro. Então? Fico sem qualquer meio de subsistência, até bater as botas? Não, evidentemente. Receberei, mesmo assim, até morrer, uma pensão mensal que rondará os 42 contos (210 €).

Mal por mal, não fará grande diferença sobreviver na velhice com 55 ou com 42 contos, por hipótese. Miséria por miséria, é preferível ir depositando uns cobres no Banco, ao longo da vida, e depois viver do acumulado mais juros. Com a vantagem acessória de que esse dinheiro pode ser utilizado antecipadamente, numa qualquer emergência, e para o nosso Estado não existem emergências pessoais: dinheiro nosso que entre naquele buraco sem fundo, ou nunca mais de lá sai ou, se sai, são eles quem decide quando, como, para quem e para quê.

Bem sei que é difícil acreditar nisto, pelo menos quando as coisas são postas de forma clara e inteligível. Como dizia o outro, é fazer as contas. Ou rumar, de peito feito, ao balcão da SS mais próximo, tirar o "ticket", esperar duas, quatro, oito horas e, por fim, perguntar a quem atender:

_ Quanto receberei de pensão de reforma se efectuar todas as contribuições mínimas obrigatórias?
_ Quanto receberei de pensão de reforma se não efectuar nenhumas contribuições?

É experimentar. Para os mais incrédulos, recomenda-se o uso discreto de micro-gravador.

Depois digam qualquer coisinha, se for o caso.

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Digital Organism Designed for Observation




(a máscara até que é gira, mas não gosto lá muito da boquinha apaneleirada; além disso, o bico não me cabe naquela merda)

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001.blogspot.com

Este é o único local sossegado que existe à superfície da Terra.
Aqui, ninguém fala alto, ninguém ergue a voz, ninguém adora ouvir a própria voz, ninguém arrasta os pés, ninguém arrasta pensamentos que não interessam a ninguém, ninguém tergiversa, ninguém berra como se comentasse os mais densos enigmas.
Não há aqui nada para comentar, nem para arrastar, nem para erguer, nem sequer para demolir.
Não há camartelo, nem broca pneumática, nem berbequim, nem pregos nem rebites, nem sirenes ou apitos.
Aqui, nenhum som, ninguém nem nada produzindo ruído.
Aqui, apenas palavras que fluem como a água dos rios, umas vezes suavemente, outras em torrente, como que enfurecidas.
Aqui, apenas as palavras rebentam, como ondas na praia, em odisseias de espuma, subindo e descendo ao ritmo da maré.
Aqui, é o Paraíso por escrito. Onde mora o silêncio. Lar, doce lar.




(imagem de esplatter.com, via "um amigo pop")


Nota (20): agradecimentos à vizinha do Canadá (posso fazer link?), que se deu ao trabalho de me indicar um erro de Português neste post. Mas é isto mesmo: olhe... ainda agora... agora mesmo... barulho... patadas... vou ter de sair daqui... sem rever... sem corrigir... sem...

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25/10/05

A Lei do Barulho

Já aqui escrevi, e por mais do que uma vez, sobre uma coisa a que ternamente se chama, em Português, "Lei do Ruído". Mais uma daquelas leis que, em Portugal, e à semelhança de uns quantos milhares de congéneres, não valem o papel em que estão impressas.

Este deve ser o primeiro "post" alguma vez produzido, a nível mundial, por um gajo de auscultadores nos ouvidos, volume no máximo; cá vou, por uma vez sem exemplo, rabiscando coisas sem qualquer alinhavo, os tímpanos quase rebentando.

No andar de cima, a puta da vizinha arruma pela milésima vez toda a casa, arrastando os pés entre o lado poente e o lado nascente, toc-toc-toc-toc, arrastando também todos os móveis que lá tem, vrruuuum-vrrruuum-vrrruuum, no "apartment", uma coisinha chiquérrima com o chão integralmente revestido a "mosáíque". O filho-da-puta do miúdo dela, um catraio de olhar perfeitamente bovino, está neste momento a treinar uma nova modalidade desportiva para putos charilas, o salto em comprimento caindo de costas: faz a corrida de lançamento, tunga-tunga-tunga-tunga, faz a chamada, tum, e por fim a recepção com todo o estilo: catrapum.

E isto todos os dias, durante todo o dia. Evidentemente, não é possível pensar. Escrever. Trabalhar.

A merda do chão em "mosáíque", típico das casas do povinho metido a burguês, que é mais ou menos o povinho todo, deve-se ao facto de - além de ter muito mais "sainete" - se tornar muito mais fácil de limpar. O mulherio, hoje em dia, com as amplas liberdades e assim, pela-se por não fazer um caralho, salvo seja, e é evidente que se limpa muito mais facilmente aquela merda dos mosaicos do que aconteceria se o soalho fosse em tacos ou em alcatifa. Hoje em dia, um chaozinho rebrilhante e parecido com o de uma verdadeira casa, tipo "maison", faz as delícias das delicadas esposas e de seus não menos requintados rebentozinhos. Hoje já não há, como dizem os lisboetas, "assoalhadas"; o que há é "mosaicadas".

Acresce que o mesmo povo, em toda a sua proverbial elegância, desconhece o que seja caminhar sem bater com as calcanhares no chão, com toda a força de que são capazes; já tentei imitar, não consigo, deve ser defeito meu, por não ser do povo.

E pronto. Acabou-se. Mesmo assim, com os auscultadores no máximo, continuo a ouvir as patadas dos animais que vivem por cima. Sinto-lhes as vibrações. Pum pum pum pum pum pum pum. Não dá. Tenho de fechar a loja, sair, ir laurear a pevide, ir remoer o ódio para outro lado.

Animais do caralho. Surdos. Bestas quadradas.

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20/10/05

Os tempos do verbo

A avó, entradota, cheia de achaques e manias, cabelo branco, rugas profundas, sempre agarrada à bengala que não larga nunca desde que partiu uma perna; a filha, já perto dos quarenta mas bem conservada, bela trunfa negra e face escorreita, muito senhora do seu nariz, elegante num discreto saia-casaco azul, empresarial e diligente; a neta, bonita, irrequieta criança, caracóis aloirados refulgindo em desassossego, sorriso maroto, sempre fazendo perguntas e inventando novas brincadeiras. Sentam-se, todas as três, na mesa do café. O passado, a velha senhora, o presente, a mulher feita, o futuro, a criança irrequieta.

À minha frente, a apenas dois passos e com somente duas mesas de permeio, ali está aquilo que é, em termos cronológicos, históricos, ainda que pessoais, o passado, o presente e o futuro.

A miúda, mimada e impertinente, que não pára quieta, é o retrato fiel daquilo que foi sua Mãe - e não há muito tempo. A senhora idosa, sempre implicativa e já um pouco senil, pede a lista que não existe e embirra sistematicamente com o empregado; reparando melhor, noto que tem uma verruga enorme no queixo, de onde despontam alguns pêlos, rijos como cerdas; ora ali está um verdadeiro estafermo; deve ser insuportável, afinal, por debaixo de todas aquelas camadas de "base" e pó-de-arroz. Quanto à filha, entalada entre duas gerações, parece perdida e sem saber o que fazer, ao certo: se espetar uma estalada na malcriada da filha se mandar calar o raio da velha, que persiste em pedir a ementa, quando aquilo é uma simples pastelaria de bairro.

À minha frente, à distância de apenas um olhar mais insistente, e com somente algumas palavras cativantes de permeio, estaria aquilo que poderia ser, se eu fosse completamente estúpido, o passado, o presente e o futuro: a criança é o que a Mãe foi, e não há muito tempo, atrevida e petulante, é o passado; a Mãe não engana, é tal qual o que se vê, expedita e bem cheirosa, é o presente; a senhora de idade é aquilo em que a Mãe da miúda se irá transformar, não tarda nada, um coiro insuportável com uma verruga horrorosa, é o futuro.

O verbo não é amar. O verbo não é sequer prever. O verbo é já ter visto.

Logo, o tempo do verbo é composto: pagar a conta e fugir.

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19/10/05

O Crime


Cristiano Ronaldo está neste momento a ser interrogado em Londres, numa esquadra de Polícia, por suspeitas de violação.

À porta da esquadra, formaram-se já diversas filas de jovens que esperam por novidades. Consta que foram instalados nas imediações aparelhos de "Tick-O-Matic", um por quarteirão, para que as jovens possam retirar o seu "ticket" e aguardar a sua vez, ordeiramente, na fila respectiva.

Entrevistada pela BBC, uma dessas jovens declarou:

_ Não percebo nada desta merda. Eu queria ser violada pelo Cristiano Ronaldo, cheguei aqui de madrugada, até trouxe uma cadeirinha e umas sandes, porque já sabia que ia ter muito que esperar, mas há uma data de gajas - gandas galdérias - que a sabem toda, conhecem chuis aqui da esquadra, brochistas do caralho, chegam-se à frente e as outras que esperem. Putas do caralho! Esta merda tá mal, foda-se! Aquela merda lá dentro é um ver-se-te-avias e nós aqui à espera, ao vento e ao frio. Tá mal, foda-se! Eu não sou menos do que as outras. Também tenho direito a ser violada pelo Cristiano Ronaldo. Caralho! Não acha? É uma injustiça! Se uma gaja qualquer vem aqui e diz que foi violada pelo Cristiano Ronaldo, eu também quero, porra. Então mas isto é sempre só para os mesmos, ou as mesmas, neste caso? Eu também quero ser violada por ele! É sempre a mesma merda! Foda-se! Merda de mundo. Estou triste.

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Consultório sentimental V

(11) Não conceberás
Estando em preparação azafamada, nas complicadas e imensas cozinhas dos palácios de Belém e de S. Bento, a legislação que irá finalmente despenalizar o aborto, cumpre tecer algumas considerações a respeito. Não sobre a faceta mais escatológica e terminal, por assim dizer, não sobre o aborto propriamente dito, mas apenas - de acordo com o carácter modesto deste blog - a propósito dos seus diversos sucedâneos, ou seja, sobre as formas e métodos que estão ao alcance de qualquer, e que poderão com toda a limpeza impedir que se chegue a tal extremo.

De facto, existem diversas, variadas, e algumas até divertidas formas de evitar o envio de fetos, feitos em pedaços, para a incineradora. Actualmente, é todo um arsenal que está ao dispor de quem pretender evitar raspagens e aspirações, ou métodos mais anacrónicos de aborto, como a agulha de tricot. Existem imensos métodos anticoncepcionais, em suma, e é sobre esses que incidirá, por conseguinte, a presente consulta. Desta vez, não respondemos directamente a nenhum dos inúmeros e-mails recebidos, até por questões de recato e sigilo, mas pensamos responder assim a todos eles, de forma genérica, abrangente, e de certa forma igualmente cirúrgica.

Nos estranhos tempos que vão correndo, verifica-se que a chamada "sexualidade" deixou, na espécie humana, de ser um acto natural e corriqueiro; ao contrário de qualquer outra espécie animal (com a excepção, ao que se diz, dos golfinhos, que fodem que nem uns desalmados, e dos coelhos, que também), nos humanos a coisa transformou-se em algo semelhante a um "direito". É vulgaríssimo escutar pessoas, aparentemente em seu perfeito juízo, e até políticos e pessoas de idade, referindo-se ao acto sexual como algo que deverá ser obrigatoriamente "gratificante" e, para mais, "praticado" regularmente, a tantas vezes ao dia, à semana, ao mês e ao ano; presume-se e geralmente aceita-se que, abaixo dos números considerados como "normais", ou a gaja é frígida (caso raríssimo) ou o gajo é impotente ou, no mínimo, sofre de "disfunção eréctil"; nos casos de míngua libidinosa masculina, pode também acontecer que o gajo tenha entretanto dado em paneleiro, ou assim, mas sobre este particular a coisa complica-se em extremo. Enfim, abreviando, consiste esta teoria, vagamente terrorista, numa coisa absolutamente única no universo: qualquer pessoa sexualmente "insatisfeita" tem todo o direito a ser ressarcida, seja através da troca de parceiro, seja por via do "tratamento" compulsivo deste; daí o aumento vertiginoso da taxa de divórcios e idem aspas da venda de comprimidos para a falta de tesão. Fala-se, estuda-se e perora-se, acaloradamente como convém, sobre "performances" sexuais, sobre a importância do tamanho (comprimento e espessura) dos pénis, sobre as medidas de peito, cintura e ancas (ou tamanho das mamas, ou qualidade das coxas, por exemplo), e vai proliferando alarvemente uma indústria paralela que se dedica a inquéritos sobre os hábitos e as "preferências" (posições, orifícios favoritos) de homens e de mulheres; muito mais destas e sobre estas do que daqueles e sobre aqueles, evidentemente, o que não retira um átomo ao carácter alienado do assunto, se considerado de um ponto de vista meramente zoológico.

Nesta conformidade, portanto, e no pressuposto de que hoje em dia é socialmente obrigatório foder, e foder "bem" ainda mais obrigatório é, a humanidade vai-se entregando cada vez mais e mais profundamente, salvo seja, a tão interessante e refrescante actividade. Desaparecida a motivação genética, porque já não existe qualquer necessidade de propagação de uma espécie que se propagou em evidente demasia, resta o factor absolutamente lúdico do acto em si. Vivemos tempos em que as relações sexuais são um fim em si mesmo, é foder por foder, e de preferência até um gajo ficar tuberculoso ou acabar por lhe cair a gaita, e sempre sem a mais ínfima relação com a motivação biológica do acto: a concepção. Só que, pelos vistos, a Natureza (ou Alguém que a criou) esqueceu-se de um pequeno, irritante, lixado pormenor, a saber, desligar ou interromper as nossas funções biológicas, como a produção de óvulos, na mulher, e de espermatozóides, no homem. Aí é que a coisa correu mal. Assim, quando tudo nos empurra e todos nos atropelamos para foder o mais possível, surge essa não pequena maçada de um dos parceiros (até ver, a mulher) poder engravidar, e para mais com alto grau de probabilidade, tanto mais alto quanto mais teimar.

Assim, para suprir esta incompatibilidade entre o cariz biologicamente reprodutor e o impulso socialmente promotor do acto sexual, criou-se a necessidade imperativa de artificialmente subverter o processo; surgiram, portanto, os métodos anticoncepcionais. Principalmente a partir da segunda metade do século XX, explodiu uma nova indústria, a da contracepção, primeiro com o preservativo masculino e depois com a chamada "pílula"; o primeiro já existia desde a Antiguidade, feito principalmente de tripa de porco, mas foi com a produção industrial de uma nova substância, o látex, que se democratizou e globalizou a sua utilização; o aparecimento do contraceptivo oral, em finais da década de 50, completou o processo de separação do acto sexual da concepção. Sem grande necessidade de divagações filosóficas sobre a origem da galinha e do ovo, será perfeitamente pacífico admitir que a chamada "revolução sexual", com todo o cortejo de "direitos das mulheres" (e quejandos), foi algo que surgiu depois do aparecimento destas "ferramentas"; sem o preservativo e a "pílula", não apenas uma série de "direitos" teriam ficado no tinteiro como a ninguém ocorreria hoje que foder é uma obrigação e o orgasmo um direito.

Mas sendo assim mesmo, e não havendo nada a fazer, então o melhor será utilizar as ditas ferramentas contraceptivas com a máxima eficácia - no sentido de que não haja realmente gravidez "não desejada" e, por conseguinte, necessidade de abortar.

Sobre a "pílula", muito pouco há a dizer ou, melhor, já está tudo dito - e por pessoas com muito mais autoridade. O que nos interessa, aqui e agora, é escalpelizar o preservativo masculino; não com muita força no bisturi, é claro, não vá a coisa romper.

O grande problema do preservativo masculino é ser extremamente chato, maçador; ao contrário do que nos querem fazer crer, geralmente através de campanhas televisivas nas quais são sempre mulheres a dar a cara (pois claro), a chamada camisa-de-Vénus representa a negação do próprio acto. Toda a gente finge que aquilo é muito fácil de pôr e de tirar... mas não é: para colocar um preservativo como deve ser, é necessário - das duas uma - ou muita, mas mesmo muita experiência, ou tirar um curso sobre o assunto. Aquela merda, além de ser a coisa mais empata-fodas que existe, tem uma terrível tendência a enrolar de novo, de volta à posição original, antes não muito, esporadicamente durante, e frequentemente depois da ejaculação. Quantos de nós nunca insultaram aquilo, de "puta que pariu esta merda" para cima? Qual é o homem que aprecia, quando está engalfinhado, quando já não apetece nada parar, quando a vertigem se torna incontrolável, ter de parar, respirar fundo, contar até cem, e procurar febrilmente a porcaria da camisinha? Depois, ainda é necessário abrir a puta da embalagem, que parece feita de "kevlar", rasgá-la à dentada, tirar a dita cuja, desenrolar uns centímetros, tendo o cuidado de usar o lado com desenrolar mais fácil, encaixá-la na gaita, puxar para baixo com cuidado. Pronto. Finalmente, com sorte apenas dois ou três minutos depois de ter interrompido o coito, aí temos o instrumento preparado para uma fodinha estéril. Só que, entretanto, e dois ou três minutos é tempo mais do que suficiente para isso, já toda a excitação se escapou, evaporou-se. Ora foda-se, ocorre dizer. É preciso recomeçar tudo de novo.

Como escreveu Miguel Esteves Cardoso, o saudoso MEC, estas merdas deviam ser, como a roupa, algo de aspergível, ou seja, uma coisa que se pudesse pôr com um simples "spray": pchh e já está. Mas não. Aquilo é mesmo uma chatice, e das antigas. E para tirar é ainda mais chato do que para pôr. É preciso ter muito cuidado, ir lá com a mão, segurar a camisinha (pelo gargalo baixo) e, enquanto a gente se tira de riba da mulher, sempre nunca largando, retirar a gaita encamisada, sem largar o conjunto; por fim, recolher o "produto" por atacado, plac, e se calhar dar um nó na ponta, não vá o Diabo tecê-las.

Não há merda mais chata. O preservativo é a pior cagada que alguma vez se inventou. Puta que pariu o preservativo. Romance? Qual romance! Não há romance encamisado, caralho. Chega a ser uma coisa nojenta. Foder uma gaja com preservativo não é, como dizem os burgessos, o mesmo (ou sequer parecido) que chupar um rebuçado ainda embrulhado. É pior. Que se foda o rebuçado, mais a metáfora pindérica. Foder uma mulher com preservativo é uma chatice do caralho. Perde-se o mistério. Perde-se a excitação. Perde-se a tesão. É fodido.

Mas: é melhor. Nada a fazer. Seja pelas alminhas. Caralhosmafodam. Não podiam inventar um método igualmente eficaz mas um bocadinho menos nojento? Porque será que ninguém fala disto, ao menos, a ver se alguém inventava uma coisinha melhor?

Como método anticoncepcional, a camisinha não colhe, em sentidos figurado e literal; tanto é que, em muitas e documentadas ocasiões, aquilo ou se solta, ou rompe, ou já vem roto de fábrica. Este é outro dos muitos aspectos negativos que toda a gente cala, a respeito. Também nunca ouvi falar em tamanhos, ou que diferenças existem entre as diversas marcas de preservativos, mas aqueles e estas existem; alguns não servem, não cabem, ou ficam tão apertados que incomodam; outros contêm espermicidas ou outras substâncias que podem provocar reacções alérgicas, ardor ou prurido.

Como método de prevenção das DST, pelos mesmos motivos, também não é grande coisa. Basta um leve roçar de unhas para o látex rasgar, geralmente de forma invisível a olho nu, e é evidente que ambos os riscos permanecem - tanto o da gravidez como o da transmissão de doenças. Com a agravante de que o uso de preservativo implica uma sensação de segurança absolutamente falsa, como se vê. Quanto mais não seja por isto mesmo, colocar máquinas de venda automática de preservativos, nos estabelecimentos escolares portugueses, é uma evidente estupidez e uma quase criminosa, peregrina, perigosíssima ideia; o alvo politicamente correcto da Esquerda em geral é, de facto, os estabelecimentos de Ensino Básico e Secundário e não as Universidades, onde qualquer caloiro pode e deve andar sistematicamente "prevenido". Ora, para jovens dos 10 aos 18, ter à disposição aquela espécie de "self-service" preservacional, como qualquer vulgar máquina de refrigerantes, é um convite, é um valente empurrão para o facilitismo; é o mesmo que dizer-lhes: "ide e fodei à vontade, não há problema, estais bem protegidos". É mentira, claro, mas a juventude acredita piamente em tudo aquilo que os adultos dizem, desde que não seja sobre trabalho, estudo ou responsabilidade.

Tirando essa aberração esquerdista, para já ainda apenas na forma tentada, não há alternativa ao preservativo, de facto. É incomparavelmente melhor usar do que não usar, mas seria igualmente producente que o tema fosse mais discutido, publicitado, e mesmo vulgarizado e democratizado. A começar pelos preços: é ridículo que uma simples camisa-de-Vénus custe 1, ou 2, ou mesmo 3 Euros, dependendo da marca, do local de compra e do número de preservativos por embalagem; por exemplo, e com este pormenor pretendendo apenas esclarecer as camadas mais ingénuas da população, qualquer homem que requisite os serviços de uma profissional é obrigado a liquidar uma sobretaxa, correspondente ao "custo" do preservativo; ou seja, em concreto e em linguagem mais acessível, um gajo, quando "vai às putas", paga o serviço pretendido (ou serviços, entre um e três), conforme a especialidade e a qualidade da escolhida, e ainda é forçado a dar mais um quanto (desconheço a cotação actual) "p'rá camisinha". Também existe a variante "sem camisa" mas, por um serviço desses, as raras profissionais que o praticam fazem-se pagar principescamente. Porquê? Porque existem ainda pessoas que o fazem, sem qualquer espécie de "protecção", clientes e prostitutas?

Por tudo aquilo que antes ficou dito: porque essa "protecção" é em grande parte ilusória, como as prostitutas sabem perfeitamente; porque os "clientes" são homens e, por conseguinte, absolutamente parvos, no que ao sexo diz respeito, quando não em relação a tudo o mais; porque o "risco" é um poderoso acepipe erótico, e arriscar a vida é o supra-sumo dos perigos, o mais excitante ; e porque, finalmente, o preservativo é uma chatice do caralho, em sentido lato, e cada qual julga que é apenas ele quem pensa isso.

Soluções milagrosas, não há. Num dos filmes de Woody Allen, há uma cena em que o autor e uma actriz envergam um preservativo integral, da cabeça aos pés, mas é bem possível que a coisa não seja lá muito prática. Talvez a conjugação de diversos factores e a tomada de várias medidas em simultâneo possa ajudar.

Em primeiro lugar, a higiene: muito sabão macaco, muito duche, muito bidé (já vai sendo tempo de os portugueses se deixarem de paneleirices - o bidé não é uma coisa "só para mulheres"); depois, as senhoras devem usar muita carga de Dystron (ou qualquer outra marca de desinfectante vaginal), e os cavalheiros devem habituar-se a bons (e caros) sabonetes líquidos com desinfectante e/ou espermicida.

Segundo, a precaução: ser dador de sangue tem uma série de benefícios, dos quais o mais importante é estarmos a par - ao menos de seis em seis meses - com a nossa condição de não portadores de qualquer DST; não quero saber que espécie de vigarices fazem as entidades com o meu sangue, se o vendem a peso de ouro ou se o traficam no mercado clandestino; estou-me nas tintas para a abolição de "taxas moderadoras" que a condição de dador me confere; mas, ao menos, sei que (além de poder ajudar a salvar uma vida, o que já não seria pouco) não vou transmitir a ninguém nem SIDA, nem Sífilis, nem nenhum dos tipos de hepatite.

Terceiro, o conhecimento: saber quais os riscos associados ao uso do preservativo implica saber utilizá-lo; conhecer os riscos associados às relações sexuais ocasionais implica saber evitá-los minimamente. É de extrema conveniência tentar pensar com a cabeça de cima e não com a de baixo; quando isso não puder de todo ser evitado, usar uma bateria de contraceptivos - cones vaginais, espermicidas, desinfectantes e... água, muita água.

Por fim, em quarto lugar mas de forma igualmente fundamental, usar a imaginação: existem muito mais maneiras de "praticar sexo" do que a simples penetração. Nestas coisas do sexo "seguro", vale muito mais a sensação de que falta qualquer coisa do que a possibilidade de algo poder vir a estar a mais. É que, na barriga das mulheres, ao contrário do que algumas alucinadas dizem, não são elas quem manda - é a Natureza, a mesma, omnisciente e omnipresente Mãe universal, que engendrou uma imensidão de castigos e maldições para quem a tenta enganar.

Por alguma razão, que se saiba, não existem doenças sexualmente transmissíveis em mais espécie alguma, além da nossa. Nenhum macaco, ou cavalo, ou porco, ou elefante, se arrisca a apanhar um "esquentamento". Tampouco a uma vaca, ou cabra, ou gata, ou baleia, ocorre a possibilidade de impedir e muito menos de interromper uma gravidez "não desejada". Os outros animais não sabem o que é o "planeamento familiar" e desconhecem o conceito de foda lúdica.

Nisso reside, aliás, o que de fundamental distingue o homo eroticus de todas as outras formas de vida. Afinal, somos seis mil milhões, no universo, e estamos todos absolutamente sós. Cada qual entretido com o seu próprio umbigo. Ou, bem, um pouquinho mais abaixo.

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18/10/05



Este homem faz, entre outras coisas belíssimas e utilíssimas, os seguintes artefactos tradicionais:

1. Rolo-da-massa em madeira genuína: além das aplicações culinárias óbvias, e também para a tradicional pancada da gentil esposa em seu esposo, serve como excelente objecto para massagens; é experimentar. Massagem nas costas com um rolo-da-massa, usando um pouco de óleo para bebé, bom, senhoras e senhores, é requintado pitéu.
2. A pombinha: brinquedo inesquecível, todo em madeira, claro, uma espécie de passarola colorida, com rodinhas, que bate as asas quando posta em movimento. Uma invenção portuguesa, fabulosa, genial.
3. O malabarista: engenhoca extremamente funcional que tem um elemento estranho, a borracha: apertam-se duas hastes que, através de dois elásticos, fazem saltar um boneco (em madeira, pois) por cima de um trapézio, para trás e para diante.
4. O ciclista: utiliza uma daquelas espantosas bicicletas de fins do séc. XIX, com uma roda enorme e outra minúscula. Tudo em madeira (claro) às cores (pois), e anda e tudo.
5. O carrocel: dois pares de figurinhas (em madeira e coloridas) rodam loucamente através de uma engrenagem simples, por contacto com as rodas do brinquedo.

Palavras para quê? É um artista português e só usa as mãos e a simplicidade. Os seus brinquedos (quatro para crianças e um para adultos) são um mundo de possibilidades infinitas. E há mais, de onde estes vêm, e há mais cores.

Até o nome da oficina é curioso, de uma inocência comovedora.

Ide lá ver, ao Cartaxo. Diz que se pode aproveitar para fazer uma cura de águas. É bom para males do fígado, e assim.

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17/10/05



Letter James

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Letter James

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14/10/05

Um "post" PC (politicamente correcto)



O nosso povo, o nosso povo, o nosso povo, as amplas liberdades, as liberdades, as liberdades, as amplas, avante, o povo é sereno, o povo não rouba, o povo é inteligente e sabe o que quer, igualdade entre homens e mulheres e entre mulheres e homens, as raças não existem, nem espécies, só existe uma espécie, e uma raça, que é a raça humana, e a espécie humana, e os direitos, os direitos, os direitos dos trabalhadores, os direitos do nosso povo, do nosso povo, do nosso povo, abaixo as classe exploradoras, vivam as classes trabalhadoras, e os direitos, os direitos, os direitos, a Constituição e a constituição, avante, caminhemos em direcção à sociedade sem exploradores e explorados, abaixo a burguesia, a História é a luta de classes, as minorias, as minorias, as minorias, os direitos, os direitos, os direitos, o nosso povo, o nosso povo, o nosso povo.

Outra vez.

O nosso povo, o nosso povo, o nosso povo, as amplas liberdades, as liberdades...

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Um "post" CDS (como deve ser)


Curto. Com poucas palavras. Muitas palavras é chato, dá trabalho, porque ler dá trabalho. Não queremos cá "lençóis" nem frases complicadas. Que chatice.

É melhor não.

Assim (com parágrafos tipo

Lobo antunes). só assim (com minúscula seguir a ponto). que giro. ganda pinta.

olha que bem.

não se diz porra nenhuma, mas

é giro.

uma coisa do género

deixa cá ver

ora bem

hoje fui

pescar

e o mar estava manso.

Toma. Já sei.

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