Odi profanum vulgus et arceo

29/09/03

Viver mata


Nunca tinha visto um único maço de tabaco feio. Agora não há um único maço de tabaco bonito. Aliás, já pouco se distingue um SG Filtro de um Ducados: por fora, e por lei (europeia, note-se, deles, portanto) todos os outrora fascinantes maços têm uns dizeres a branco em fundo negro, "fumar mata", "o tabaco provoca o cancro do pulmão", "vais morrer, ó sacana", etc.; olha a grande novidade.

Longe de mim a peregrina ideia de defender "Os Benefícios do Tabaco"; é inútil e tremenda parvoíce, porque não está provado que fumar faça bem à saúde. Há até quem diga que faz mal, mas isso agora não interessa nada, nunca interessou. O óbvio pretexto para sacar mais uns milhões em impostos, porque esta medida irá certamente fazer disparar o consumo, ou seja, o pretexto do costume, vem agora escorado pela satisfação dos interesses assanhados da trupe de mentecaptos PC. Julga-se assim estarmos perante um espertíssimo golpe de asa da moderna sociedade, uma coisa com pinta até mais não: os politicamente correctos ficam satisfeitos, ao menos por uns tempos, e sempre se reduz o défice. Brilhante. Giro.

É o triunfo do PC, por fim, afinal os amanhãs não cantam, não bebem e não fumam. Que bom. E, ainda por cima, aquela gentinha da saúde a metro pode assim dar largas à emoção, ai que gozo, estragamos-lhes os pacotes, salvo seja, toma-toma-toma, queres fumar mas agora levas com os letreiros e depois vais levar com fotografias de pessoas a morrer. É realmente uma coisa muito gira.

Sugeria, no entanto, que se estendesse a coisa a outros igualmente ou piormente nocivos prazeres: "fazer" praia, conduzir ou ver Televisão, em escolha aleatória. Dado o número de ocorrências nefastas, e na mesma proporção dos maços de tabaco, as praias deviam ter um cartaz de 150 por 10 metros, espaçados cem metros entre si, com os seguintes dizeres: "o Governo adverte que trabalhar próbronze, além de escaldões e outras chatices, origina cancro da pele"; isto e as variantes que a imaginação sugerir. Qualquer automóvel novo devia vir acompanhado de um folheto com fotografias, por exemplo, do Hospital do Alcoitão, mostrando as consequências que o uso prolongado dessa maldita máquina ocasiona sistematicamente. Todos os canais de TV deveriam ser obrigados a colocar cartazes semi-transparentes por cima de todas as suas emissões, alertando os incautos espectadores de que se estão arriscando, naquele preciso momento, a morrerem de estupidez, mas acrescentando que é mesmo de morte macaca, lenta e dolorosa.

Já agora, em vez de calçada à portuguesa, o Governo devia pintar nos passeios umas mensagens subliminares, com fotos se necessário, alertando o incauto peão para os imensos perigos que poderá correr se tiver o galo de tropeçar num buraco, ou a grande e assustadora probabilidade que existe de que um autocarro lhe passe por cima.

Nas tascas, em vez de quadros pirosos comprados na feira, era melhor uns esclarecedores dizeres a propósito das tremendas merdas que ali se comem. O mesmo nas ementas dos restaurantes: o Governo adverte que o bacalhau à Gomes de Sá lhe pode provocar uma azia do caraças, e outros igualmente esclarecedores avisos. Claro, MacDonald's está bom de ver: "enfardar Big-Mac's provoca doenças mortais", e assim.

Sou de opinião de que todas as drogas, do haxixe ao cavalo, deviam passar pelos circuitos comerciais estatais, e não pelos paralelos e ilegais, como até agora. Para que, ao menos, se protegesse o consumidor contra qualquer coisa da qual porventura estivesse a Leste; evidentemente, há muitos agarrados, mais atreitos a produtos naturais, como a cocaína, que não fazem a mais pequena ideia dos malefícios da droga. Há que informar esses também, protegendo de igual modo os interesses do Estado, que é, ao fim e ao cabo, todos nós, e bem-haja por isso.

Fica a sugestão.

Pensando nas vantagens desta coisa, porém, concluo que é agora que a minha colecção de maços de tabaco vai quintuplicar de valor. Obrigado.

Outra forma de ganhar alguma coisa com esta Lei europeia é açambarcar já uns milhares de "porta-maços", aquelas coisas que servem para meter os maços dentro; uma coisa que dantes se oferecia às pessoas quando não havia tempo para comprar um presente de jeito. Agora, um porta-maços já deve valer umas lecas valentes. Melhor ideia ainda será arranjar um maduro que tenha jeito para o negócio e fabricar porta-maços em alumínio de 1mm, com estampagem exterior de todas as marcas de tabaco. Assim, lá dentro, os cigarritos até ficariam mais protegidos e continuando a ostentar, por fora, todo o esplendor da marca original.

Às ordens.

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25/09/03

Sabedoria (pura e simples)


As mulheres tratam os homens como aos pensos higiénicos. Metem-nos na mala, usam-nos e deitam-nos fora a sangrar...

O que as mulheres querem

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ah, poeta, foda-se!


foda-se foda-se foda-se foda-se
foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se
foda-se foda-se!
foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se
foda-se foda-se foda-se foda-se
foda-se foda-se!
foda-se?
foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se...
podes crer

com o gentil patrocínio das rações para galináceos da famosa marca Porranenhuma, este singelo poema é uma homenagem ao brilhante e pipilante poeta cá do blogbairro; ó pra ele aqui a declamar

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21/09/03

UnGoogle


Coisas que não constam mas deviam

TROGLODITAR: v., de troglodita, acto de tornar algo primitivo, incivilizado; efeito do trogloditismo; diz-se de quem abre a boca e entra mosca.

ACHANDRAR: o m.q. axandrar, quando aplicado ao acto achativo; quando se achava mas já não se acha o mesmo; ficar caladinho; meter a viola ao saco; entupir.

ACHATIVO (acto): pulsão lusitana; o verbo achar conjuga-se, em Português, apenas de duas formas e em duas pessoas: "eu cá acho que" e "tu não achas?"

ÓLHAQUESTA: expressão idiomática do Português; usa-se, por exemplo, quando nos apalpam as partes à má-fila.

EMPREGADISTA: s., 2 géneros; pessoa que arranja empregos aos amigos e aos camaradas do Partido; no plural, aplica-se aos "trabalhadores" portugueses em geral e aos funcionários públicos em particular.

CAVACAMENTO: coisa feita à maneira de Cavaco Silva; com o prefixo "en" indica tratar-se de acto reiterado.

ENTRETERAM-SE: forma criativa do verbo entreter; atestado pelo jurnalista Luís Octávio Costa, do jornal Público (21.09.03, pág. 38), com a célebre frase «sem trabalho de maior, Fouhami e William entreteram-se com o adversário». Jóia. Parabéns. (*)

RRRRUAAACHH: onomatopeia que representa o som que antecede a projecção, por parte de qualquer bom macho nacional. da bela, verde, meio sólida e impositiva escarreta.; tb. um símbolo nacional da arte portuguesa do despejo. Eça usava "restituir", hoje usa-se escarrar na rua. É lindo.

PTUM!: som produzido pelo omo portugalensis quando despede sua escarretazita na calçada. Forma sonora de marcar território. Tb quer dizer programa de transportes urbanos do município de S. Paulo, Brasil.

BARDAMÉÉÉÉRDA: neologismo oficialmente atestado pelo Sr. Almirante Pinheiro de Azevedo, ex-primeiro-ministro, já falecido. Foi também ele o autor do célebre termo upôvésereno, entretanto caído em desuso.

QUIÊ-ÍE: Q.I. no Norte de Portugal

ÓBÁLHAMEDEUS: expressão típica dos cooperantes portugueses em Timor, quando não sabem nem querem saber o que mais dizer. Atestado montes de vezes por um tal Paulo.

VÓMITÃO: contracção de verbo (ir, 2pp) e advérbio (então); forma de slang muito utilizada entre a R. Augusta e o Intendente, em Lisboa.



(*) esta deu 13 resultados na Google! Deve ser engano.

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19/09/03

A furacona


Novilíngua II


A violência PC (policamente correcta), em especial a nível linguístico, chega a ser hilariante. O DN de hoje titula, a páginas 20:

«Isabel» em fúria varre costa Leste

Esta Isabel é um furacão e a costa é a dos EUA. O fenómeno em si não tem piada nenhuma, principalmente para quem vive naquela zona, mas o nome de baptismo que lhe deram já tem alguma graça.

Através de uma rigorosa sondagem de opinião, num universo de 7 pessoas lá do bairro, e com uma margem de erro de 0,03%, concluí que apenas 14% (1 dessas 7 pessoas) sabia que os nomes dos furacões têm regras: é furacão menina-furacão menino-furacão menina-furacão menino e assim sucessivamente. Qué-se dezeri, agora é obrigatório que os furacões sejam fifty-fifty.

E isto tem, de facto, a sua lógica indestrutível. Então não querem lá ver? É que, dantes, muito provavelmente durante a longa noite fascista, os furacões tinham sempre nomes próprios de mulheres: ele era Ariana, Barbara, Sofia, Amélie, Christianne, etc. Evidentemente, isto era uma tremenda injustiça para o belo sexo (agora isto diz-se "condição feminina") e vá de repor as coisas no devido lugar; em que é que as mulheres são menos do que os homens? Ora, atão vá, ponham lá também nomes de homens a essa coisa, e depressinha, a ver se a gente não se zanga.

Tradicionalmente, e desde que existe uma coisa chamada meteorologia (ciência da atmosfera), os furacões sempre foram designados com nomes próprios femininos; pretendiam aqueles cavalheiros, talvez, homenagear o carácter por vezes irascível das senhoras; pensavam eles que não havia nada mais parecido com um furacão, porque também elas levam tudo à frente, quando se zangam, e são de igual forma imprevisíveis, misteriosas, poderosas; o buraco no centro do fenómeno, um e outro, quase garanto, não terá ocorrido a nenhum meteorologista como pretexto ou mote da analogia.

Foi quanto bastou para que às feministas e a outros espécimes semelhantes tivesse dado um tremendo ataque de cólicas, mas o que é isto, não pode ser, queremos igualdade, e patati-patatá. E pronto, a malta vergou a mola mais uma vez, com sempre, de resto, quando se trata de "igualdade". Portanto, agora temos o furacão Isabel e o próximo há-de ser, com a graça de Deus, quem sabe, Joaquim, Alfredo, John, Bruce ou coisa que o valha; há-de ser furacão macho, dê lá por onde der.

Todos sabemos que isto das quotas para o risco-ao-meio já chegou até ao parlamento; é motivo suficiente para a admissão na FP e nos grandes empórios; qualquer anúncio de emprego deve, por lei, referir (M/F) como condição de candidatura ao lugar - e é muito engraçado ver anúncios pedindo umA SecretáriA qualificadA com essa coisa do M/F. Todos estamos ao corrente destes deprimentes factos. Agora, pelos vistos, quanto às quotas M/F para nomes de furacão é que pouca gente sabe. As estatísticas não mentem, não é?

Talvez fosse boa ideia completar o ramalhete com o género do substantivo, ele mesmo. Furacão é masculino, e, por conseguinte, obviamente desprestigiante e discriminatório para tão delicada, susceptível, injustiçada metade da espécie humana. A massa de ar e água que está agora arrasando a costa Leste dos Estados Unidos da América passaria então a ser, por despacho, a furacona Isabel.

Fica a sugestão. Já agora, por arrasto e por inerência, palavrinhas de igual quilate desigualitário deveriam também mudar de género: vamos a lexicar, prestes, digo, já, tempestado, fúrio, síndromo, doenço, dor-de-cabeço, facado, sopeiro, etc.; neste etecetera deverão ser incluídas todas as palavras que tresandam a coisinha má e que foram, por lapso, classificadas como de género feminino. Pela inversa, que também as há, o mesmo: tipo globa celeste, céuza, Sola, dinheira, ordenada, a automóvel, carra, oura, bronza. Para os termos com ditongo final alguma coisa se há-de arranjar.

O machismo está clarissimamente entranhado na linguística e há que corrigir tão flagrante injustiço.



Feminismo termina no pneu furado (frase de pára-choques de camião brasileiro)

Novilíngua I

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18/09/03

Macacos me mordam


Será verdade que a SIDA se transmitiu à espécie humana através dos nossos primos, os macacos? E que o sexo oral sem protecção deveria ser acrescentado à lista de comportamentos de risco para a transmissão do HIV? E que foram as transfusões de sangue uma das primeiras formas de transmissão? E que esse sangue, se não no todo pelo menos em parte, tinha sido doado mas entrou no circuito mundial de tráfico? E que não está absolutamente provado ou demonstrado quando, como, porquê e com quem se pode ser infectado? E que o número de infectados já atingiu o de mortos na 2ª Guerra Mundial? E que existem casos de pessoas que desenvolvem imunidade, mas desconhecem-se as razões para isso? E que, e que, e que?

Não entremos em detalhes meio capciosos; de tudo isto apenas se poderá talvez concluir que estamos metidos num belo sarilho. Se assumirmos que o nível individual de militância moralista é inversamente proporcional à respectiva moral íntima, bem podemos esperar pela pancada. Aliás, o assalto neomoralista já começou, se bem que ainda apenas pela rama, não indo ao essencial: o namoro e a fidelidade são hoje, de novo, tão valorizados como eram na primeira metade do século XX, para não ir mais longe; a selecção de um único inimigo público é muito mais fácil e massificante do que a dispersão de atenções por vários de igual calibre, daí a absoluta demonização da pedofilia sem qualquer referência a quaisquer outras taras de equivalente perigosidade social, como a zoofilia, a coprofilia ou a necrofilia; paralela e concomitantemente, existem há décadas outros fenómenos, como a perseguição aos fumadores, a obsessão pela saúde, a hipervalorização da juventude, a condenação violenta da contravenção em paralelo com a desculpabilização da verdadeira criminalidade. No limite, aceitando como boa a lógica de Desmond Morris, por exemplo, o que representa esta sanha de uns grupos, maioritários, contra outros, minoritários e por vezes irrisórios, é apenas o instinto de auto-defesa da espécie: estando em causa a viabilidade do corpo, este defende-se; seja esse corpo um ser vivo, um indivíduo, um grupo, uma sociedade ou uma espécie, o princípio da conservação é rigorosamente o mesmo.

A analogia torna-se ainda mais evidente de um ponto de vista biológico: a produção em massa de anti-corpos é despoletada em presença de qualquer corpo estranho, e em proporção com as respectiva violência, quantidade ou perigosidade. Ainda nesta acepção, e por maioria de razões a respeito da SIDA, a reacção torna-se tanto mais urgente, difícil, e geralmente contraditória, quanto é o próprio sistema imunitário o atacado.

Será, portanto, natural que - face a um perigo desconhecido - reapareçam novas cruzadas e novos cruzados contra o inimigo sem rosto, sem nome, e que não se sabe de onde vem. Ora, não é nem fácil nem cómodo - como ilustrou Cervantes - lutar contra coisa nenhuma; factor de coesão do grupo é a instituição do inimigo comum e é necessário que este seja facilmente identificável: "os outros". Sob diversas capas, comunistas ou fascistas, hereges ou infiéis, mas sempre "eles". Esta pulsão natural revela-se nos diversos planos de interacção social, principalmente o político e o religioso, mas sempre estribada na mais básica das ideias: nós somos os bons e os outros são os maus; fenómenos verticais, comuns a todos os grupos humanos, como é hoje o caso da SIDA e foi no passado o da peste, conduzem a crispação social, a aumento exponencial da rigidez nos costumes.

A nova cruzada contra não-se-sabe-bem-o-quê começou, sem qualquer coincidência, em meados dos anos 80 do século passado, precisamente quando foram isolados os primeiros casos e foi possível detectar a progressão geométrica da pandemia. Entretanto, muita coisa mudou. Mas não no fundamental, ou seja, que a nova peste permanece e que é necessário combatê-la. Seja lá como for. Com repressão em vez de informação, provavelmente, com moralismo em vez de ciência, certamente. Levada ao extremo, e parece ser essa a situação actual, a lógica maniqueísta vai separando sucessivamente os grupos de inimigos: se já não são comunistas e fascistas, hereges ou infiéis (dependendo de quem são os "outros"), hão-de ser por força coisa talvez pior, fumadores, devoradores de carne, vermelha pior ainda, aficionados das touradas, adeptos de um qualquer "outro" clube. Na velha tradição, de resto, de diabolizações passadas, fora de moda, por assim dizer, dos bárbaros aos homossexuais, passando por bruxos, bandidos, meliantes, drogados, alcoólicos e "marginais" em geral.

Com outros nomes, os costumes mantêm-se , portanto. Não aprendemos nada desde as pirâmides. Será?

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16/09/03

Informação é poder


Paulo Portas abriu a "saison" com as suas habituais e muito sinceras invectivas contra as coisinhas do costume. Pacheco Pereira respondeu, logo, de repente, abruptamente. Bojarda-resposta, vacuidade-alarvidade, teorema-teoria, boca-rosnanço. Escolha o seu par ou arranje outro mais adequado. Não importa.

O que é significativo, o que é novo nisto, é a nova forma de comunicação que agora surge. Nem o próprio Pacheco se terá apercebido - quando fez o Abrupto - da dimensão e do poder desta nova coisa, os blogs. Resposta, intervenção, diálogo, provocação, seja o que for, mas de imediato, em qualquer ponto do mundo e sem quaisquer interferências ou impedimentos. O próprio conceito de liberdade está aqui muito claramente expresso: liberdade de pensamento, de opinião, de cidadania, sem quaisquer limitações, nem políticas, pelo vazio legal do meio cibernético, nem temporais, pelo imediatismo que faculta, nem geográficas, pela absoluta diluição de distâncias, nem mesmo de meios, pela generalização galopante de recursos informáticos e comunicacionais.

Em resumo, e parece-me que isto passou despercebido até mesmo aos intervenientes: o Paulinho das feiras vociferou em Lisboa, Portugal, e o Josélito atirou-se-lhe às canelas desde Bruxelas, Bélgica, apenas porque existem blogs; de outra forma qualquer, há apenas alguns meses, isto não teria sido possível. Enquanto um debitava sua ladainha, pode bem ter estado o outro com o portátil nos joelhos, escrevendo já seu brilhante massacre a tão vil retórica.

Porque é hoje possível não haver distância (nem tempo), conceitos antigos como ponderação, meditação, ou um módico de prudência, poderão estar já condenados, a caminho da extinção. Ora aí está, caro Dr. Pereira, algo que não consta da sua lista de objectos, coisas e ideias extintas ou em vias de desaparecer; não procure mais longe; a ideia (mais uma) que lançou no seu blog deveria começar por aquilo que vai desaparecendo já em si, em mim, em todos: a paciência. Seja ela para escrever uma simples carta e levá-la no dia seguinte ao marco de correio mais próximo, seja para, mais prosaicamente ainda, pensar um pouco antes de escrever.

Numa perspectiva meramente técnica e evolucionista, estamos perante uma revolução: a Internet, e em particular a técnica "blog", eliminam de facto aquilo que medeava a causa e o efeito, ou seja, o tempo e o espaço. Mas eliminam com igual radicalismo o que tempo e espaço antes implicavam e que perde agora todo o valor: a razão.

Em progressão geométrica, a verificar-se de forma tão absoluta que E=mc2, ainda veremos posts em blogs contestando discursos que ainda não foram sequer proferidos. Não sei bem se isso será bom.

Talvez?

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Caro visitante,
Provavelmente, você é uma daquelas pessoas que gosta de provérbios mas nunca se deu ao trabalho de meditar um pouco sobre o assunto. Muitas pessoas, defendem que um provérbio é uma frase criada pelo povo mas, numa análise mais cuidada, o tema mostra-se bastante mais complexo.
(*)


Ditados populares e expressões idiomáticas portuguesas


Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem é.

Não sei se beba um tchá, se coma uma tchouriça.

Grécia, 11 - Portugal, 0 (**)

É Portugal, ninguém leva a mal.

Mais vale um pássaro na mão do que dois na prisão.

25 de Abril nem sempre!

Mais vale Duque de Bragança por um dia do que chifrudo toda a vida.

Ao menino e ao borracho, Deus arranja sempre um tacho.

Calça branca em Janeiro, sinal de que é bichona.

Quanto mais me bates mais gosto de bater em ti.

Uma andorinha não faz a Primavera, quanto mais o Verão.

Nem tanto ao mar nem tanto aterra.

A união faz a forca.

O fado é kinduca e o futebol é kinstrói.

O pior cego é o ceguinho de todo.

Quem não tem cão caça sozinho.

Quem ri por último faz figura de parvo.

Está a chover cães e gatos em Londres.

Somos todos filhos de Deus mas a mãe não sabe.

Boda molhada, boda estuporada.

Sol na eira e nabos no nabal.

Pelo S. Martinho, vai à adega e prova o vinho com parcimónia.

Quem sai aos seus não sabe a quantas anda.

O Benfica é uma naçon, carago.

A reacção não passará nem passarou.

Quanto mais prima, mais desatina.

Cantas bem mas não me alegras.

Somos filhos da madrugada mas só às vezes.

Oito vezes oito são mais ou menos sessenta e oito.

Quem sai aos seus, bálhamedeus.

Patrão fora ou dentro, dia santo na loja.

Quem muito se abaixa, vê-se-lhe a racha.

Amigo do meu amigo, amigo dele é.

Se queres perder um amigo, pede-lhe dinheiro emprestado.

Ó Rosa arredonda a saia, vá lá a ver.

Portugal anda aos papeis desde o século XVI.

Coimbra diz que estuda, Lisboa diz que baila e o Porto diz que trabalha.

Se os brasileiros são nossos irmãos, eu quero ser espanhol.

Se os espanhóis são nuestros hermanos, eu quero ser biafrense.

Homem pequenino, ou poeta ou grande cretino.

A vida é dois dias e o Carnaval é uma porrada deles.

A cada pé seu Louis Vuitton.

Deus põe e o homem dispõe da mulher.

Para Angola, e em força.

Ainda a procissão vai na Rua da Betesga.

Quem espera sempre tem muita pachorra.

Troçar é o contrário de destroçar.

Não me chateia nada que dois e dois sejam quatro.

Quem nesta casa entrar, ao inferno vai parar.

Cada dor de cabeça, sua sentença.

Deus, Pátria, Família, uma dose de caracoletas assadas e um copo-de-três.



(*) fonte inspiradora, salvo seja: http://proverbios.no.sapo.pt/leia-me.htm
(**) título do jornal Público de hoje; a Grécia regista crescimento de PIB positivo há 11 meses; entrementes, Portugal vai negativo. Daí.


(*) ó fonte: "você é um daqueles que" gostam! Ok, chefinho?
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ahhhh. Já me sinto melhor.

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07/09/03

No comment


Alguns bloggers brasileiros, do alto da sua modéstia, acham que os portugueses isstaum um pôkinho atrasados - presume-se que em relação a eles mesmos, brasucas. Pois se até é raro ver um blog portuga com sistema de comentários!
Caríssimos, a explicação é simples: Portugal é um país de trogloditas (é essa a vossa herança genética, certo?); os comentários, nos blogs portugueses, funcionam como balde do lixo; permitir que um qualquer imbecil vomite uma série de patacoadas, geralmente agressivas, provocatórias e insultuosas, borrando por baixo aquilo que escrevemos, é uma tremenda parvoíce. Existem comentadores ou, melhor dito, comentaristas militantes, gentinha que não faz outra coisa além de chatear este e aquele; correm os blogs da moda e, nos que têm sistema de comentários, deixam a sua marca odorífera... isso, como os canídeos de bairro. Procuram assim alguma notoriedade, quanto mais não seja pelo cheiro. E, claro, quanto pior disserem e pior cheirar, melhor. Excelente exemplo daquilo que é e para que servem os sistemas de "bocas" é o velho pipi, recordista mundial de comentários; aqui sim, a coisa adequa-se e tem tudo a ver, como qualquer latrina pública há muitas coisas escritas nas portas e nas paredes, tudo condizente, tudo com o mesmo fedor entranhado, tudo com sarro por igual.
Depois há as paragens obrigatórias, as "blogzonas", por regra com "posts" microscópicos, mesmo a pedir sua bajulaçãozinha a cada um; que ele também há disto, o inverso da pinchagem, tu-comentas-o-meu-que-eu-comento-o-teu.
Por fim, o comentarista militante, que vai a todas, vai também aos outros, aos do fim da lista, aos blogapeadeiros; e é nestes que malha, sistematica e parcimoniosamente.
Não há pachorra. Aqui no Godot, quem quiser comentar ou simplesmente mandar umas bocas que use o email; é mais higiénico. Dispensa-se antecipadamente o esforço, mas vá lá.
De resto, entre as muitas coisas que a maioria dos cromos nacionais ainda não entendeu, há uma que é realidade insofismável: ninguém é obrigado a ler coisa nenhuma; muito menos comentar, portanto. Dentro de uns meses, quando esta moda dos blogs for substituída por outra, absolutamente ninguém se vai lembrar de um único endereço, de um só "post" mais catita, da mais lapidar frase.
Isto é uma ideia gira a termo certo, como tudo na vida. O que aqui se escreve é absolutamente etéreo, porque virtual, valendo muito menos do que uns rabiscos em qualquer toalha de papel. Os "comentários" são como graffittis, pinchagens em parede acabada de pintar. Mesmo os de sentido inverso, os de pura graxa, são igualmente ou mais ainda dispensáveis.
Eu, abaixo assinado, declaro que me estou altamente nas tintas para o facto de alguém me ler ou não. Por isso, não há aqui nada a comentar.

Dodo

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