Odi profanum vulgus et arceo

29/11/05

onomatopeia exclusiva


:-)

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É horrível, mas... olha que interessante (*)

The killing machine that is Marxism
Posted: December 15, 2004
1:00 a.m. Eastern
By R.J. Rummel
© 2004 WorldNetDaily.com




(*) Interessante, para quem ainda não sabia, claro. Ou para quem se interessa por números, por massacres, por factos e outras coisas horripilantes. Enfim, para os reaccionários em geral e para quem se está nas tintas para os intelectuais de esquerda.

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Nota escatológica sobre a consulta IX


Para quem andava por aí a dizer que eu era incapaz de escrever fosse o que fosse sem encher tudo com palavrões, ora aí está a resposta. Um "lençol enorme", como diz o outro, sem uma só caralhadazita. Toma. Nha-nha-nha-nha. Nem "mamas" nem nada! É "seios" que eu lá digo, foda-se. Seios, não mamas. Mas também, olha que caralho, quando se fala de cancro nesses deliciosos ditos cujos, diz-se "cancro da mama", não "cancro do seio"; cancro da mama é um termo técnico e tudo! Eu cá gosto de mamas (e de seios também, claro). Mamas. Mamas. Nhiam nhiam. Porra. O que me custou escrever "seios" em vez de "mamas". Ninguém imagina. Fartei-me de apagar "mamas" e de substituir pela forma politicamente correcta. Foi literalmente fodido escrever aquela merda. Nem uma caralhada, foda-se! Nem uminha só. Estou aqui exausto. Não me cabe um feijãozinho. Caralhosmafodam mai-la censura. Vão-se todos foder, mas é.

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Consultório sentimental IX

Atracção fetal

"Smooth-skinned and feminised looks are characteristics of youth. It's possible that these looks stimulate not only sexual but also maternal feelings. If women want to be more dominant, they will look for a little-boy face."
Desmond Morris

O maior mistério da existência, logo a seguir ao da própria existência: qual é a coisa qual é ela que mais nos atrai numa pessoa? Quem feio ama, bonito lhe parece. Porquê? O que é a paixão, afinal?

Desmond Morris, o velho sábio, diz - com a propriedade do costume - que se trata de uma manobra biologicamente motivada por cima da qual foram barradas diversas camadas de explicações mais "convenientes"; entretanto, estas camadas acabaram por recobrir tão eficazmente a verdadeira motivação da atracção, algures durante o processo evolutivo, que acabámos por já nem saber bem qual ela era, ao certo. Mas continua sendo rigorosamente a mesma de quando ainda havia mamutes sobre a Terra; hoje como há milénios, é ainda a velha e por vezes rezingona Mãe Natureza quem manda, tanto nisso como em todas as coisas: ide e multiplicai-vos, eis o fundamento bíblico, e simultaneamente natural, da atracção física. Mas trata-se de um princípio que se aplica apenas à nossa espécie, pelo menos de uma forma proactiva e não apenas reactiva, como acontece em algumas espécies de aves e na maior parte das famílias de primatas, bem como em outras espécies de mamíferos; por exemplo, algumas aves exóticas executam maravilhosas "danças nupciais", e casos existem em que elaboram complicadíssimas "pérgulas", decoradas com diversos materiais; existem rituais de "cortejamento" em espécies tão diversas como as renas, as focas, os golfinhos, ou mesmo entre espécies por nós domesticadas há milénios, como o gado bovino ou o simpatiquíssimo gato caseiro. Podemos também considerar que em quase todas, se não todas, as espécies, e mesmo entre os répteis, sucedem episódios de "conquista" - geralmente através da exibição de poder físico, por parte dos machos, que lutam entre si pelo direito de acasalar com uma ou mais fêmeas.

Porém, ao que se sabe, por exemplo a um cão será completamente indiferente se a cadela que vai cobrir tem um pêlo mais macio, se está bem lavada ou se costuma ser carinhosa com os seus cachorrinhos; ao mesmo canídeo pouco ou nada importará se à parceira ocasional faltar um olho ou uma pata, ou se terá mau feitio, ou se não passa de uma cadela vadia, em sentido literal e não figurado. O que está em causa, do ponto de vista do cão - e da cadela - é a reprodução da espécie... mesmo que disso não tenha a mais ínfima das consciências.

Connosco é obviamente diferente, tudo muito diferente. Da atracção física depende, em larga medida, o futuro do par, do casal, ou mesmo da própria consumação do acto sexual. Aquilo que é atraente para uns não será para outros, entre os sexos e para os elementos destes entre si, mas existem factores comuns que ajudam a compreender a mecânica quase reflexológica deste impulso básico.

Citando mais uma vez o sabidíssimo Desmond Morris, "o que não correu muito bem na evolução da nossa espécie, foi que o nosso cérebro cresceu cem vezes, ou mil vezes, enquanto o resto do nosso corpo ficou praticamente como era, no início". Ou seja, se a fisionomia da espécie humana tivesse acompanhado a evolução do cérebro humano, hoje em dia ninguém necessitaria de comer, beber, dormir, defecar, urinar. Assim, somos senhores de um pensamento livre, de uma cultura arreigada e complexa, mas ficámos agarrados a um corpo absolutamente primitivo, complicado, desgastante e, de certa forma, descoroçoantemente trapalhão: um corpo que engorda estupidamente, ou que emagrece irritantemente, que é necessário lavar permanentemente, um corpo sempre cheio de fome e de sede, um corpo que envelhece todos os dias, que ganha rugas, e cãs, e banhas; trazemos sempre connosco o nosso próprio cadáver adiado que, enquanto se não fina de vez, persiste em adoecer, ou cujas partes mais delicadas estão sempre em vias de quebrar em algum sítio. É um desespero, enfim, este corpinho que nos tocou em sorte. Temos a tecnologia para ir à Lua, ou mais além, mas um dos grandes problemas dos astronautas é como se desfazerem dos dejectos a bordo, ou como cortar as unhas no Espaço, por exemplo.

O conflito sistemático entre a nossa cultura, ou chamemos-lhe inteligência, e a nossa condição de simples e comum espécie animal é aquilo que mais nos confunde, de resto. A atracção, em qualquer das suas formas, seja a simpatia (ou o seu inverso, a antipatia), a amizade ou o chamado "amor", é a forma observável deste conflito: o que atrai (geralmente) um homem, numa mulher, as curvas mais ou menos voluptuosas do corpo dela, a sua voz ou a sua forma de andar, tudo isto não terá qualquer importância - e, por conseguinte, não implicará qualquer atracção - se, por exemplo, o cheiro dessa mulher for desagradável para aquele homem em particular; do mesmo modo, aquilo que (geralmente) poderá ser atractivo para uma mulher, num homem, a sua força física, o seu carácter descontraído, ou seja o que for, de nada tal servirá se, por acaso, esse homem for absolutamente inepto, ou brutal, ou simplesmente porcalhão. São, por regra, factores subtis e aparentemente insignificantes aquilo que provoca atracção (ou repulsa), mas em qualquer caso existe sempre uma base absolutamente primária para que ou uma ou outra das coisas suceda.

As formas "voluptuosas" que o homem vê, representam uma garantia de alimento para a prole; uma "gaja boa" é, por conseguinte, uma imagem geneticamente programada para o sexo masculino da nossa espécie; daí, simplificando ao máximo, o conceito de "beleza feminina" - que é uma ideia exclusivamente masculina. A força do macho, factor decisivo nos primórdios mas ainda hoje muito importante, representa a capacidade que aquele terá de defender a prole e a própria fêmea, além de que garante - previsivelmente - alguma qualidade genética para a constituição de uma prole saudável e com probabilidade de, por conseguinte, vingar. Beleza e força - ambos conceitos relativos - são dois sinais exteriores de saúde, garantia de qualidade geracional, e tanto mais quanto mais complexos se tornarem. A atracção, para ambos os sexos, consiste hoje em dia muito mais na apresentação do que na representação: a força física vai sendo radicalmente substituída pelas vestimentas que o homem enverga, pela viatura que conduz, pelo emprego e pela posição social que ostenta; o automóvel é hoje o símbolo maior do macho dominante, como era a moca para o homem primitivo, o machado para o troglodita ou o conjunto armadura e montada para o cavaleiro medieval. Por outro lado, a posição social garante alguma espécie de inteligência, o que é um factor não desprezível de outro tipo de força, igualmente ou ainda mais útil do que a simples força bruta.

Para um "bosquímane" da África central, uma mulher atraente não será por certo exactamente a mesma coisa que para qualquer camponês do Vietname; é claro que, para o hommo urbanus actual, muito provavelmente tanto a mulher bosquímane como a vietnamita não apresentariam o mais pequeno atractivo. Concluindo que a beleza física - e, portanto, a atracção - é um fenómeno cultural, poderemos talvez depreender que alguma evolução fisiológica ocorreu nas sociedades modernas, e especialmente no que às mulheres diz respeito. Os atractivos sexuais femininos evoluíram de facto, e estamos a falar de mudanças realmente fisionómicas: as formas físicas femininas, e em particular os seios, desenvolveram-se, apenas nas sociedades urbanas ditas "evoluídas", e transformaram-se num símbolo de fertilidade (e de atracção para o sexo oposto) absolutamente único em todos os seres vivos, mas isto somente ocorreu na mulher citadina, europeia ou ocidental - não nas sociedades tribais ou culturalmente herméticas. Digamos que a chamada "mulher moderna" se transformou num produto de consumo altamente produzido, tendo esta transformação sido mais interiorizada e assumida pela própria mulher do que induzida ou imposta pelo sexo masculino.

Acontece, porém, que a mecânica mental subjacente ao processo de atracção se afasta cada vez mais da motivação biológica original; aos olhos de uma fêmea humana, o automóvel, a "encadernação", o cabelo limpo e a dentadura rebrilhante de um macho representam algo de ainda mais evidente e rasteiro do que a simples viabilidade reprodutiva; ou seja, representam dinheiro, aquilo que viabilizará uma vida descansada e sem necessidades, muito mais do que a agora desprezível capacidade de cobrição. Como cantava Marilyn Monroe, um ícone da verdadeira boneca urbana, "diamonds are a girl's best friend". Os músculos perderam grande parte da atracção, sendo rapidamente substituídos pelos cifrões - esses sim, aquilo que mais cativa o sexo feminino; de facto, qualquer mulher é perfeitamente capaz de se "apaixonar" perdidamente por uma grande conta bancária e de passar a desprezar olimpicamente qualquer desgraçado que se ache, de repente, por exemplo, no desemprego. Se bem que este seja um tipo de "atracção" perfeitamente delimitado, ou seja, tendo em vista a formalização contratual de uma ligação, aquilo a que vulgarmente se chama "casamento"; porque, para efeitos mais imediatamente sexuais, ou lúdicos, por assim dizer, os factores de atracção primordiais alargam-se um pouco: já não é apenas o dinheiro que interessa, no candidato a companheiro sexual, mas voltam a ter importância decisiva os factores físicos, a força, a coragem, os dentes, o hálito, o cabelo, o cheiro, as mãos, os olhos, etc.; neste particular o arsenal feminino é imenso e, por vezes, absolutamente hilariante.

Como existem gostos para tudo, há mulheres que apreciam particularmente - e aferem daí a qualidade do macho que têm em presença - o pé masculino; consideram, e algumas chegam a proferi-lo descaradamente, que o tamanho do pé de um homem é rigorosamente igual ao tamanho do seu pénis. Curioso axioma. Também há algumas que afiançam tirar tais medidas, a priori, pelo tamanho de uma mão aberta; outras, apreciam e fazem equivaler de igual modo o tamanho do nariz com o respectivo "coiso". No fundo, e descontando estes palpites especulativos, o que resta como facto é que o tamanho interessa - ao contrário do que afirma a mulher politicamente correcta - e é mesmo fundamental, essencial, fatal como o destino. Isso e a "performance" do macho, a fama de garanhão que transporta colada à pele e que é passada de boca em boca pelas mulheres que vão conferindo as capacidades de cada um, ao longo da vida.

E chegamos por fim ao irónico desenlace de todo o processo. Aquilo que atrai uma mulher num homem (dinheiro, para casar, e hormonas, para acasalar) implica um tremendo esforço por parte daquela, para se tornar atraente aos olhos deste: a mulher pinta-se, produz-se, perfuma-se (e ainda bem, por amor de Deus) não para "se sentir bem consigo mesma" (como fica bem dizer-se) mas apenas para cativar a atenção do maior número possível de homens; é o princípio básico da manada de gnus em estado selvagem, ou do cardume de sardinhas, mas na perspectiva inversa: quanto mais elementos tiver a manada ou o cardume, menor probabilidade toca a cada um de ser caçado por um predador; para uma mulher, quanto mais machos "atrair", maior será a probabilidade de poder escolher vários e, destes, caçar os mais aptos (em dinheiro e em potência, preferencialmente, ou, se não for possível, ir-se-á testando cada coisa em sua vez). Ora, está bem de ver que a táctica resultou em pleno, após milénios de evolução e de informação genética aperfeiçoada: realmente, não existe qualquer alternativa nem pode haver qualquer resistência, do ponto de vista masculino, ao arsenal de atractivos femininos. Por regra e por definição, uma mulher é tanto mais feia, mal feita (e, portanto, moralista), quanto menos se importar com o seu aspecto físico ou quanto menos beleza natural lhe tiver sido distribuída, por fatalidade ou por deficiente combinação genética. As potencialidades atractivas, inerentes às condições físicas, têm o seu início ab ovo, em sentido literal; utilizando um jogo de palavras um pouco redutor, mas apenas para passar a mensagem, tudo começa no feto, continua no fato e acaba na foto; ou seja, tudo depende daquilo que se passar ainda antes da fecundação, a herança genética de pai e de mãe, das suas condições de vida e do seu estado de saúde, e da própria gravidez (o feto) ; depois, depende das condições sociais de cada qual e das incidências pessoais que ocorrem durante a infância e a adolescência, até ao resultado na vida adulta, profissão, estatuto, etc. (o fato); por fim, ou no fim, não resta nada, ou quase nada, a não ser recordações, memórias, aprendizagens (a foto).

Como a saúde é um estado clínico que não augura nada de bom, a beleza física é um estado de decadência transitoriamente agradável à vista. Bem como a atracção, a paixão, o amor, são as diversas facetas de uma mesma, deprimente, por vezes horrível realidade: a fase larvar e pulsátil que antecede o envelhecimento e a morte. Uma mulher pode ser espantosamente bela durante algum tempo, mas não o será certamente durante muito tempo, e muito menos durante o tempo todo. Como um homem pode ser o mais rico lá do bairro e arredores, ou o mais forte, ou o mais esperto, mas não será nunca mais do que o mais esperto, o mais forte ou o mais rico do cemitério onde for enterrado. E isto, ainda assim, se tiver a sorte de ser enterrado. Se tiver tido filhos, portanto. O princípio e o fim, portanto. Afinal, só isso é importante, portanto. Só isso é verdadeiramente atraente. Portanto.

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Cusca, Bóbi, cusca!


ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Lei n.º 53/2005
de 8 de Novembro

Cria a ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social,
extinguindo a Alta Autoridade para a Comunicação Social

Artigo 6.º
Âmbito de intervenção


Estão sujeitas à supervisão e intervenção do conselho regulador todas as entidades que, sob jurisdição do Estado Português, prossigam actividades de comunicação social, designadamente:

a) As agências noticiosas;

b) As pessoas singulares ou colectivas que editem publicações periódicas, independentemente do suporte de distribuição que utilizem;

c) Os operadores de rádio e de televisão, relativamente aos serviços de programas que difundam ou aos conteúdos complementares que forneçam, sob sua responsabilidade editorial, por qualquer meio, incluindo por via electrónica;

d) As pessoas singulares ou colectivas que disponibilizem ao público, através de redes de comunicações electrónicas, serviços de programas de rádio ou de televisão, na medida em que lhes caiba decidir sobre a sua selecção e agregação;

e) As pessoas singulares ou colectivas que disponibilizem regularmente ao público, através de redes de comunicações electrónicas, conteúdos submetidos a tratamento editorial e organizados como um todo coerente.


Este post foi visado pela ERC





O "pointer" azul

Grandessíssimos filhos de uma senhora mal comportada. Efeminados de um enganado pela legítima. Ide mas é tomar no esfíncter, seus artistas circenses. O que vocês mereciam, ó pessoas desprovidas de sageza, era que vos enfiassem o decreto por onde o sol nunca brilha (do Inglês, "where the sun never shines") acima. Olha que grande órgão reprodutor masculino! Então agora passou a ser possível produzir conteúdos desorganizados, sem um todo coerente? Tenha-se relações!!! Como assim, um todo incoerente? Como é possível uma coerência apenas parcial? Hem, pergunto eu, ó democratas de pacotilha. Paizinhos e salvadores da Pátria, uma estrelinha que vos guie e um penizinho que vos fecunde.

Estão finalmente vingados, e em forma de lei, os paladinos da identificação compulsiva, os Abruptos e os Queridos do sistema, mai-los esbirros Bloguíticos e os histéricos tipo Granado. Evidentemente, uma das primeiras medidas desta coisa ERC será identificar todos e cada um dos autores de blogs nacionais. "Mas quem será este desnaturado?", matutarão aquelas cabecinhas autorizadas, "ora espera aí, filho, que eu já te fodo bem fodido; ai és anti-comunista? Por exemplo? Ah, então isso é conteúdo organizado. Fodeu. Deixa cá ver o teu IP. Ora, portantos, e tal e tal e tal, uma chamadita para a DCCB, ora bem, és Fulano de Tal. Já vai uma brigadazinha a caminho, ah ah ah ah, cacei-te, ganda morcão. Next!"

Entregue a "blogosfera" a esta bicharada, em pouco tempo restarão apenas umas quantas centenas de blogs absolutamente inócuos, uma babugem exclusivamente reprodutória, plagiadora, situacionista, conformada, um grupelho de indigentes mentais que se dedica a produzir banalidades coerentes, mas sempre, sempre, sempre devidamente identificadas. O blogger anónimo passa, a partir de agora, automaticamente à categoria de autor suspeito e, por consequência, de perigoso bandido intelectual, alguém que procura corromper as sãs mentalidade e convivência democráticas. Se é anónimo, presume-se que tenha algum motivo para o ser - e isso não augura nada de bom para a estabilidade do regime e para a segurança do Estado. Se é anónimo, é porque tem algo a esconder - e se tem alguma coisa a esconder, vamos lá a ver, só pode ser uma coisinha má.

No fundo, no fundo, esta malta que escreve nos blogs é como as crianças, que escondem caramelos numa mão e mostram a outra como quem diz "não fui eu, não tenho nada, não sei quem foi". Alguns até se comportam menos mal, principalmente aqueles que trazem ao pescoço a chapinha regulamentar, com nome e endereço; e, destes, alguns serão mesmo úteis à polícia virtual, porque certamente denunciarão os vizinhos que se acoitam por detrás de pseudónimos.

Os bufos começam de facto a meter o focinho onde não são chamados, gozando por antecipação o poder que a Lei 53 lhes confere. Espreitam blogs suspeitos, deixam recadinhos nas caixas de comentários, enviam umas mensagens estranhas, a ver se conseguem descobrir quem é Fulano, Sicrano ou Beltrano. A mediocridade sempre foi delatora, porque o bufo é, por definição, invejoso e mesquinho; quanto mais freneticamente assinam por baixo todos os dislates e imbecilidades que escrevem, mais assanhadamente se revoltam contra os párias heterónimos, esses anormais, pensam eles, que se estão nas tintas para a bajulação, a frivolidade, a notoriedade.

Entre agentes e informadores da nova Polícia Virtual (PV), a coisa rondará neste momento os 300 a 400. Os primeiros são pagos pelo erário público e os segundos recebem elogios da oligarquia bloguística, são convidados para umas palestras e umas mesas-redondas sobre o "Bloguismo", esse mistério, comparecem em almoços e jantares de "confraternização", organizados por grupos excursionistas; alguns serão os "eleitos", mas poucos os "escolhidos" para o Grande Conselho onde, sentados à direita e à esquerda do Grande Irmão, deliberarão sobre quem merece e quem não merece permanecer no blogbairro, quem deve ser promovido a blog "de referência" e quem deve ser excluído da irmandade, quem deve ter direito a dizer o quê e quem não deve ter direito a sequer pestanejar; tudo com fichinhas de avaliação devidamente fundamentadas, com referências e assinaturas reconhecidas.

Conseguiram, vocês outros, paladinos das "amplas liberdades", democratas geneticamente modificados. Conseguiram, por fim. Liquidaram, a golpes legislativos, a última réstia de liberdade que existia em Portugal.

Daqui, deste púlpito sobranceiro e recôndito, do alto deste anonimato que me esconde do mundo e da vergonha, lanço um anátema sobre as vossas cabeças: malditos sejam!

Que Deus vos perdoe, e a mim porque não sou capaz.


P.S. (salvo seja): a este respeito, ler aquilo que talvez seja o primeiro documento a fazer jurisprudência sobre o assunto publicado no Blasfémias.
Ler também as mais recentes deliberações da AACS, que incluem uma sobre certo blog de "alegado conteúdo racista e xenófobo". [citação](...) considera esta Alta Autoridade que se acha hoje impedida de tomar qualquer medida no âmbito descrito no presente processo, cuja denuncia, no entanto, considera procedente e provada.[fim de citação]. Qual poderia ser a "medida" a tomar, por estes senhores? Forca em praça pública? Açoites? Puxão de orelhas ao autor das "alegadas" diatribes? Multa? Prisa? Ou o que raio, então?




(proprietário actual do carimbo: Fundação Mário Soares; copyright 1933-1974: Comissão de Censura)

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27/11/05

_ Nesse caso, - disse o Dodo, pondo-se em pé, todo solene - eu proponho que esta assembleia seja adiada, para adopção imediata de medidas mais enérgicas.
_ Fale um Inglês que se perceba! - disse a Aguiazinha - Não sei o que querem dizer metade dessas palavras compridas, e, ainda para mais, não acredito que você também saiba! - E a Aguiazinha baixou a cabeça, para esconder o sorriso; ouviram-se as risadas à socapa de alguns dos outros pássaros.
_ O que eu ia dizer - continuou o Dodo, num tom ofendido - é que a melhor coisa para nos secarmos é fazermos uma corrida eleitoral.
_ O que é uma corrida eleitoral? - perguntou Alice; não que ela estivesse interessada em saber, mas porque o Dodo fizera uma pausa, como se achasse que alguém devia falar, e porque mais ninguém parecia disposto a dizer fosse o que fosse.
_ Ora... - disse o Dodo - A melhor maneira de a explicar é fazê-la. (E como vocês podem querer fazer essa experiência numa noite de Inverno, vou explicar-vos como é que o Dodo organizou a coisa...)

Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas

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(recebida por email; origem desconhecida)

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25/11/05

onomatopeia de asco


blarrgh

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23/11/05

T0, T1, T2, T3?

TIPOLOGIA ENXOVIA 1 FAMÍLIA

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TPC e falta de material


Ensino de 1960: Um componês vende um saco de batatas por 100 francos. As suas despesas de produção elevam-se a 4/5 do preço de venda. Qual é o seu lucro?

Ensino tradicional de 1970: Um componês vende um saco de batatas por 100 francos. As suas despesas de produção elevam-se a 4/5 do preço de venda, ou seja 80 francos. Qual é o seu lucro?

Ensino moderno de 1970: Um camponês troca um conjunto B grande de batatas por um conjunto M de moedas. O cardinal do conjunto M é igual a 100 e cada elemento bM vale um franco. Desenha 100 pontos que representem os elementos do conjunto M. O conjunto C dos custos de produção compreende menos 20 pontos que o conjunto M. Representa o conjunto C como um subconjunto de M e responde à seguinte pergunta: qual é o cardinal do conjunto L do lucro (escreve-o a vermelho)?

Ensino renovado de 1980: Um agricultor vende um saco de batatas por 100 francos. Os custos de produção elevam-se a 80 francos e o lucro é de 20 francos. Trabalho a realizar: sublinha a palavra "batatas" e discute-a com o teu colega de carteira.

Ensino reformado de 1990: Um kanpunez kapitalista privilejado enriquesse injustamente em 20 francos num çaco de batatas, analiza u testo e procura os erros de kontiudo, de gramatica, de ortugrafia, de pontuassão e em ceguida dis o que penças desta maneira denriquesser.

(transcrito de APM- Educação e Matemática)


Este nada cómico texto circula desde há muito pelas escolas portuguesas. Inspirado no modelo picante e cheio de ousadia do nosso "pronto-a-escrever" (no post anterior), talvez se pudesse estender o conceito de "reforma pedagógica" a outras áreas do Ensino, nomeadamente quanto à sua terminologia própria. Por exemplo, duas coisas que os alunos de todas as gerações conhecem, uma como "TPC" e a outra como "faltas de material".

Ensino tradicional de 1970: TPC era acrónimo de "trabalhos para casa" e estes eram corrigidos e avaliados, contando para a "nota final" do aluno; a "falta de material" (manuais, cadernos, material de desenho ou de ginástica) era marcada a verde na ficha individual do aluno e tinha influência na avaliação.

Ensino moderno de 1970: TPC era "trabalhos p'ra casa", e estes eram corrigidos às vezes e avaliados quando era necessário subir a "nota final" ao aluno; a "falta de material" (manuais, cadernos) era assinalada, por vezes, a lápis, na ficha do aluno; a falta de material de "ginástica" deixou de existir porque essa Disciplina passou a chamar-se "Educação Física".

Ensino renovado de 1980: TPC era TPC, e aquilo, quando existia, servia exclusivamente para ajudar o estudante a passar no final do ano; a "falta de material" (manuais) era, esporadicamente, referida numa folha de papel.

Ensino reformado de 1990: TPC era "trabalhos p'a casa", que serviam para passar o jovem; a "falta de material" desapareceu completamente, à excepção da bola de futebol que era sempre necessária para as aulas de EF.

Ensino renovado de 2000: TPC é "trblhs p kz" e não serve para nada, nem sequer existe; a "falta de material" ressuscitou, mas agora como forma de promoção social dentro dos "gangs" a que dantes se chamava turmas, e refere-se a "ténis" de marca, tatuagens e objectos metálicos no corpo, calças dez números acima, pastilha elástica na boca e no cabelo. "Falta de material" é também, entre a malta do "naum pagamus", não trazer consigo umas quantas "brocas" ou "panfletos"; o futebol foi substituído, no plano curricular, pela chamada "fuga à polícia".

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001: pronto-a-escrever

Montra de temas para "posts", com título e sinopse ou tópicos. Escolha, freguês, escolha. Tudo original, novinho em folha. Tamanhos S, M, L, XL e XXL. Ai quem m'acabórresto quem m'acabórresto quem m'acabórresto, aiiiiii

Modelo leisure
Jazz morto e arrefece...
A música, terá ela cor política? Mantovani é nitidamente de direita, Janita Salomé obviamente de esquerda, Mónica Sintra (Cintra?) inequivocamente do centro. Poderá a música servir como instrumento de propaganda? Desenvolver: 1. Poderá; 2. Não poderá.
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Modelo social
Citações pimba
Breve levantamento de citações e expressões que toda a gente utiliza para impressionar o patego, em especial aquelas que se atiram "porque parece bem" e porque dá um ar de intelectual muito fixe, pinta de gajo lido e/ou com estudos. "Tipo" como diria messiê de La Palisse, a temática hegeliana, materialismo dialético, socialismo científico, o pêndulo de Foucault, a lei de Murphy, ich bin ein berlinner (como diria JFK), etc. Desenvolver o etc.
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Modelo avant-guard
Avantajado camarada, avantajado
Micro-conto e micro-causa. Um comunista dos quatro costados, amigo dos pobrezinhos e tudo, desata a engordar que nem um varrasco de cobrição. Isto cai mal junto dos camaradas, e dos ditos pobrezinhos, pelo que todos se mobilizam para ajudar o pobre obeso a peder uns quilitos. Tudo em nome da saúde, é claro, mas também pelo mau aspecto que dá um solidário militante andar por aí arrastando as banhas, com a terrível fomeca que vai pelo mundo. Desenvolver: pouco. Eliminar cacofonia de "fomeca que"; inverter adj. e s.
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Modelo formal
Sua Excelência Francisco Louçã
Post a publicar no dia em que o dito for eleito Presidente da República. Traçar-lhe o perfil de estadista. Realçar o seu papel na resolução dos problemas dos injustiçados em geral e dos "mais desfavorecidos" em particular. Omitir a sua condição de "mais favorecido". Não desenvolver porra nenhuma.
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Modelo No Arame
Segura-me nos tímpanos
Poema. Palavras-chave: amor, amore, amour, adeus, aufwiedersehen, goodbye. Desenvolver a ideia geral de paixão auditiva, ou de como os pavilhões auriculares são muito desaproveitados no amor.
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Modelo intelectual de esquerda
Cusca Bóbi, cusca!
Post de intervenção. Ou de protesto, ou assim. Sobre os rafeiros da "blogosfera", aqueles que deixam mijadelas em todo o lado, desde o Papa Pacheco (link) ao Cardeal Patriarca Querido (link), passando pelos diáconos (2 links), sacristãos (4 links) e acólitos (porradal de links). Que são uma trupe de cabrões identificados e que andam muito satisfeitos com o projecto de policiamento virtual (espetar aqui o texto dessa merda que anda por aí a circular). Desenvolver a ideia de "puta que os pariu".
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Modelo yé-yé
Telefona-me para trás
Área: linguística. Tema: traduções. Sub-tema: os tradutores portugueses são uma boa merda. Além de "call me back", citar outros exemplos, como "mas o que é que tu sabes" (what do you know), "enforcado pelo pescoço" (hung by the neck), "vai-te lixar" (fuck you), etc. Dividir o sub-tema em camadas de cocó: livros, filmes, interpretação. Desenvolver: brasileiros (quer dizer, não os brasileiros propriamente ditos, porque isso seria impossível, mas apenas os que se dizem tradutores de "português"). Citar a gajinha que se intitula como "tradutora" e que tem um bloguezito (link). Referir a outra que está em Madrid e que não sabe traduzir sequer de Português para Português (não vale a pena a merda do link).
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Modelo picante e cheio de ousadia
Cetora, posso bater uma punheta?
O projecto de educação sexual nas escolas. Adivinhando o futuro, quando perguntas do género farão parte do quotidiano liceal.
"Ó s'tora, este menino apalpou-me o cu! Foda-se. Acha bem, s'tora? Tarado sexual do caralho, não é?. "
"S'tora, oriente-me aí uns preservativos, fáxavore."
"Mas, ó setôre, o Jaquim é paneleiro! Eu agora tenho de fazer trabalho de grupo com picolhos? G'anda grupo, olha ,olha."
Mencionar frases pedagógicas que serão proferidas pelo pessoal docente, como "meninos e meninas, ora então aqui temos (nesta gravura) um pénes; repitam todos: um pénes; isso", ou "hoje vamos estudar a função libidinosa do sexo, aquilo que geralmente se designa por tesão", ou ainda "o sumário de hoje é: as posições sexuais, da canzana ao sessenta e nove".
Referir TPC (redacção sob o tema "a minha primeira menstruação", a executar por alunos e alunas); referir faltas de material: vibrador, camisas-de-Vénus sortidas, lingerie, cuecas fio dental. Desenvolver a perspectiva "bacanal institucional". Usar linguagem apropriada para foder o canastro a essa cambada de psicopedagogos da treta.
(googlizações nesta data: 0; a interrogação "posso bater uma punheta" tem 7 citações; "bater uma punheta", 641; o substantivo "punheta" aparece 98100 vezes, nada mais, nada menos; tudo gente que andou na escola...)

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20/11/05

Legendas do horror - I


A julgar pelo "video-clip", esta não é propriamente uma das "lendas urbanas" que David Emery colecciona; trata-se de um caso real e documentado, a completa, horrorosa, nauseante infestação de um seio por larvas de certa espécie de mosca tropical (Cordylobia anthropophaga). A vítima, uma mulher nigeriana de 70 anos, não apenas sobreviveu como parece ter recuperado rapidamente, depois de lhe serem extraídas todas as 14 larvas do seio direito.

Especialmente às senhoras, e também aos cavalheiros apreciadores ou dados à bolinação(*), e ainda a qualquer pessoa mais impressionável, recomenda-se vivamente que não vejam as imagens. É de facto horripilante.


(*) termo técnico para "apalpanço", especialmente quando se trata de mamas

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19/11/05

imagens em diálogo (*)

Note-se a limpeza, a arrumação, a impecabilidade do local. Tudo isso deve ter passado absolutamente despercebido à autora da fotografia, de tão habituada que está aos ambientes civilizados. Não deve existir um único sítio assim, em Portugal. Não há cascas de tremoços ou de amendoins, ou embalagens de chocolates, ou de batatas fritas, nem maços de tabaco amarrotados, lenços de papel, beatas de cigarro; nada; não há nada no chão; presume-se que nem sequer escarros patrióticos, ou dejectos de outros tipos de animais de companhia.

A estrada é de alcatrão, mas não tem buracos, nem covas, nem lombas, nem mesmo pedra solta. Cada lancil está perfeitamente alinhado, e os declives do pavimento aparentam suavidade, moderação e eficácia; nada que possa partir uma perna a qualquer idoso, por exemplo.

O candeeiro de iluminação pública está perfeitamente alinhado, numa vertical rigorosa, irradiando uma luz que não cega nem agride, com um globo que não deve nunca sido partido à pedrada ou a tiro.

O letreiro luminoso diz "Ultramar", sem quaisquer complexos, e tem uma ave também luminosa por logotipo. Azul, azul e azul, três tons de azul, até o cinzento parece rebrilhar, azulado também pela chuva que acabou de cair. Aquele brilho não é de óleo derramado, nem de viscosidades ou sujidades religiosamente conservadas.

As setas no pavimento estão frescas, direita, esquerda, em frente, tracejado para as ultrapassagens; tudo impecável, sem a mais pequena dúvida. Vê-se que não são coisas pintadas a trouxe-mouxe, pelo tipo mais jeitoso do bairro que dá ao pincel nas horas vagas.

Ao fundo, uma casa discreta - sem vizinhos por cima, nem dos lados - faz calmamente por não se tornar notada, umas quantas faias a toda a volta. Muito provavelmente, é ali que vive o proprietário da estação-de-serviço, um qualquer Mr. Silva, emigrante português de 2ª geração, com a sua família canadiana.

Assim mais pela noite, Mr. Silva tem o hábito de sair de casa, quase clandestinamente, meter-se na "station wagon" enorme e conduzir durante cinco ou seis quilómetros, até chegar a um local ermo, algures nos arredores da localidade. Aí, finalmente, poderá fumar seu cigarrito diário mais ou menos descansado. Depois, mastiga uma pastilha de mentol para disfarçar o hálito e regressa ao lar com o ar mais culpado deste mundo.



(*) segundo (ou seguindo) uma ideia original do Maestro José Atalaia ("música em diálogo").

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17/11/05

email umbiguista

Olá M.

Agora já não deve valer a pena transcrever o teu email. Recebeste a mensagem, é o que interessa. Aliás, acho muita piada a mim mesmo quando me surpreendo a raciocinar sobre o 001 como se fosse alguma coisa séria; ou como se fosse alguma coisa, de resto. E acredita que estou cada vez mais satisfeito com as crescentes obscuridade e insignificância do blog; já não é apenas o anonimato - esse pecado de lesa-mediocridade - que me permite alguma liberdade; principalmente desde que retirei a ferramenta de comentários e as listas de "favoritos" e de acessos, o blog ficou reduzido à sua verdadeira dimensão (nenhuma) e importância (zero); não contando com os teimosos e as simpáticas de sempre, a minha página deve ser a mais autista do mundo.

Aliás, era essa a intenção inicial, e daí o próprio endereço virtual: zero (0) de importância, zero (0) de dimensão, uma única (1) pessoa, eu, e ainda para mais não passando de espécime extinto. Olha que bem. Surpreende-me que ainda alguém espreite os meus escritos e, de certa forma, torna-se incómodo. A liberdade de escrita, que é igual à liberdade de pensamento com um código mais formal, depende e varia na razão directa do grau de privacidade; já tentei explicar esta teoria de diversas formas, tentando torná-la mais clara e objectiva, mas não é nada fácil por causa das palavras; uma ideia pode ser claríssima, na nossa cabeça, mas ficar muito complicada e dúbia quando verbalizada.

No fundo, com a ajuda da velha mania dos silogismos e das máximas paradigmáticas, trata-se de conservar um módico de independência através do distanciamento máximo. Cada pessoa que lê o que alguém escreveu (ou que ouve o que alguém diz) vai fatalmente condicionar aquilo que futuramente se dirá ou escreverá; e isto vale nos dois sentidos. Principalmente nos blogs, o fenómeno é facílimo de identificar: quantos são hoje produzidos sem um público(zinho) específico? A partir de uma "entourage" prévia de amigos e conhecidos, o "blogger" lança os seus primeiros conteúdos já contando com (e em função de) esse reduzido "público"-alvo; em pouco tempo se forma uma teia envolvente de conhecimentos e de simpatias que, alargando em número esse alvo, irá paradoxalmente restringir a margem de manobra do(s) autor(es); rapidamente, de forma quase alucinante, cada blog acaba por assumir uma personalidade própria, mescla da identidade de quem o faz e de quem o lê. O que acontece de curioso, por regra, é que essa personalidade é ditada de fora para dentro, ou seja, um autor começa por captar leitores em função daquilo que escreve, mas são esses leitores que passarão a influenciar o autor - acabando por lhe condicionar a escrita, podendo ainda, em extremo, liquidar pura e simplesmente toda a criatividade que antes pudesse ter existido. São inúmeros (e conhecidos) os casos de blogs que, desde há muito, escrevem e produzem conteúdos exclusivamente em função daquilo que os seus visitantes pretendem. É um ciclo vicioso: quanto mais público, menos heterogéneo este será (outro paradoxo aparente) e mais dependente desse público e desse crescendo de público será o conteúdo. Como o sabonete Lux para as estrelas de cinema, nove em cada dez blogs ditos de referência são escritos segundo aquilo que o(s) autor(es) julga(m) que os leitores esperam dele(s). É uma forma de ditadura das audiências, salvas as devidas distâncias; para aferir da eficácia do paradigma (e do paradoxo), basta ver o número de almoços, jantares, passeios, encontros e colóquios de blogs - formas aparentemente elevadas mas absolutamente primárias de palmadinhas nas costas, de demarcação de territórios, de estabelecimento de hierarquias e mesmo, esporadicamente, de formação de pares.

Disto decorre a conhecidíssima irritação, por parte dos patriarcas da chamada "blogosfera" e de outros balofos que tal, para com o anonimato em geral e a heteronimia em particular. Claro que é condição indispensável, para comparecer em tertúlias ou em festanças, levar o próprio corpo, com umas pernas por baixo e uma cabeça em cima; a não ser que se inventasse uma sessão de catadela em grupo levando cada qual sua máscara integral, dos pés à cabeça e com dispositivo de empastelamento da voz, convenhamos que não dá muito jeito a um anónimo comparecer em semelhantes eventos. Ora, isso torna-se de facto irritante, porque o anónimo foge ao controlo, à influência, quiçá ao putativo esmagamento intelectual por parte dos "bravos" identificados (geralmente tão anónimos como qualquer peixeira, mas que gostariam de o não ser). Se um anónimo militante (sete ou oito, contando comigo) recusa convites(1), se não aparece - justamente para, no mínimo, preservar o seu precioso anonimato - e se, por consequência, recusa o escrutínio da "inteligentsia" instalada(2), essa mesma fica de mãos a abanar, zoologicamente falando: não podem dizer a esse, por exemplo, "olá, eu sou Fulano de Tal, do blog macacosmemordam.blogspot.com"; é uma maçada, o anónimo não vai responder porra nenhuma, a começar porque nem sequer está presente, e assim o "valentão" identificado perde um possível leitor ou, quem sabe, um aliado ou simples compincha.

Uma coisa é, evidentemente, não confundamos, o comentário anónimo (e, esse sim, pode bem ser soez, cobarde, canalha) e outra bem diferente é o autor anónimo. Tanto se me dá, indo por analogia à literatura, que Manuel Tiago tenha resolvido botar a boca no trombone como sendo Álvaro Cunhal; ou que Miguel Torga seja afinal Adolfo Correia da Rocha; ou assim por diante, existem dezenas ou centenas de casos. O que é um nome, para o autor? Quanto vale, quando vale alguma coisa? É o autor quem faz o seu nome, ou é o nome aquilo que faz um autor?

Guardadas mais uma vez as devidas distâncias, no blogbairro a questão é a mesma. E se eu não gostar de cumprimentar os vizinhos, e muito menos de que os vizinhos me cumprimentem? Mas por que cargas de água hei-de eu catar os outros macacos, se nem me apetece? Logo eu, que nem macaco sou, pobre ave pernalta de bico adunco, e ademais extinta. Que se lixem. Passem muito bem, em suas importantes saúdes, é o que mais desejo. Quero sossego, não posso? Não dão licença, não?

Mas isto, a liberdade para ser anti-social, ou o direito a ter hipoglicémia, por exemplo, é apenas uma parte da questão. Basicamente, o anonimato pode ser uma atitude deliberada, consciente e determinada. Pode resultar daquilo a que a intelectualite dominante chamaria "busca interior": quem sou eu? Até que ponto serei capaz de ir? E se, afinal, tudo aquilo que penso estiver errado? O que haverá do outro lado? O que pensará um fascista? Os comunistas, serão eles humanos? Afinal, o Pessoa era bichona ou não era? O que haverá hoje para o jantar?

Coisas assim, profundas e deliberativas, às quais apenas se acede sem engulhos mentais, sem preocupações de agradar ou de desagradar e, principalmente, sempre cagando de alto(3) naquilo que Fulano, Beltrano ou Sicrano irão dizer, pensar ou até escrever sobre o que eu digo, penso ou até escrevo. Atingir este nirvana intelectual, este karma cagativo, o anonimato absoluto, é não pequeno empreendimento; dá uma trabalheira dos diabos não entrar em guerrinhas entre grupos e entre indivíduos, não responder a quase nada - nem sequer à maioria das mensagens que, estranhamente, ainda vou recebendo.

Esta é uma excepção, portanto. Dupla. Mas não te preocupes, amiga M. Tenho a certeza de que ninguém vai ler isto.

De resto, devo confessar que se me varreu completamente o motivo inicial desta troca de correspondência. Bom, assim com'ássim, tendo a coisa descambado para o micro-ensaio, deixemo-lo seguir como está. Isto de blogs, de posts, de emails, é como o Melhoral: nem faz bem nem faz mal.

Um abraço.

D




(1) nunca tive a oportunidade de recusar um único, note-se
(2) inteligentsia: polícia política, serviços de espionagem; inteligentsia instalada: polícia mental, serviços de espionagem
(3) pardon my French

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16/11/05

Ainda Kafka

Esta nota de 1000 coroas, impressa em 1902, circulou no espaço do Império Austro-Húngaro; depois (Novembro 1918), provavelmente manteve o seu valor facial na Áustria e na Hungria enquanto países independentes.

Em 12.03.1938, com o chamado "Anschluß", passou a ter validade na Grande Alemanha até à desintegração desta, em 1945. O carimbo vermelho que se vê na nota diz "DeutschÖsterreich".

Quem sabe não terá passado pelas mãos do tio Franz...

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Kafka adjectivo


1. Relativo a Franz Kafka, (1883-1924), escritor judeu de língua alemã nascido na cidade de Praga (pertencente, na época, ao Império Austro-Húngaro e actualmente à República Checa) ou à sua obra; 1.1. Que, de forma semelhante à obra de Kafka, evoca uma atmosfera de pesadelo, de absurdo, especialmente num contexto burocrático que escapa a qualquer lógica ou racionalidade (diz-se de situação, obra artística, narração, etc.).
(Dic. Houaiss)

Nada estava perdido. Corríamos para a parte da frente da casa. «Graças a Deus que aqui estás!» - «Chegas sempre atrasado!» - «Mas porque é que sou só eu?» - «Porque és mesmo tu, porque é que não ficas em casa se não queres vir?» - «Tolerância zero.» - «Mas "tolerância zero" porquê? Que história vem a ser essa?»
(in Contos, "Crianças numa estrada de província", F. Kafka)

Assim como nunca ninguém leu coisa alguma de M. de la Palisse, até porque M. de la Palisse nunca escreveu nada, também Kafka é profusamente citado por gente que, na sua imensa maioria, nunca leu uma única linha dos seus escritos. De resto, o próprio Kafka tinha deixado expresso o pedido de que, assim que morresse, lhe destruíssem todos os manuscritos; foi um amigo seu (Max Brod) quem resolveu desobedecer ao pedido do autor, publicando postumamente toda a obra que hoje é conhecida. Conhecida, mas nem por isso lida, repito. Aliás, não é que isso valha muito a pena e, provavelmente, Kafka tinha alguma razão no pedido testamentário.

Mas a curiosidade da questão permanece: porquê "kafkiano"? Porque se diz vulgarmente, por exemplo a respeito das repartições públicas portuguesas, que o ambiente, ou os processos administrativos, ou mesmo o funcionário do "guichet", porque será que é tudo "kafkiano"? Conceitos como incompetência ou laxismo são sistematicamente substituídos pelo muito mais simples, redutor e obscuro adjectivo "kafkiano". E se esse simplismo já é um pouco estranho, por outro lado há coisas realmente kafkianas - no sentido restrito de que estão claramente expressas nas obras daquele autor - que não são nunca tidas por "kafkianas". É o caso da chamada "tolerância zero", um conceito geralmente aplicado localmente (no Algarve) e pontualmente (no Verão), e de forma hipocritamente restrita (trânsito automóvel). No entanto, a ideia terminológica original é do próprio Franz Kafka, pelo que se vê, mas existe sempre alguém que se ufana da autoria de tal conceito - tipicamente, um governante ou um quadro das forças policiais.

Ora, como diz o verdadeiro pai da ideia, "mas tolerância zero porquê? Que história vem a ser essa?"

É realmente, por excepção, algo de kafkiano: tolerância zero é uma expressão totalmente vazia de significado, alardeada pelas chamadas entidades oficiais com o objectivo único de explorar os automobilistas incautos, através de multas, coimas e arrestos; os condutores, por sua vez, bem como a população em geral, aceitam a imposição dessa espécie de estado-de-sítio automobilístico como algo de positivo, ou efectivo ou mesmo necessário. Tolerância zero num determinado troço de estrada ou em certa época do ano é algo de tremendamente hipócrita, injusto, imbecil, para não dizer desonesto ou mesmo criminoso; tolerância zero na EN125 ou no IP1, por exemplo, apenas nos meses de Julho e Agosto, acaba por passar a mensagem subliminar de que, fora daquelas rodovias e no resto do ano, existe tolerância total às manobras perigosas, ao excesso de velocidade e a todas e quaisquer outras infracções de trânsito. Isto porque, evidentemente, a mecânica mental da população - extremamente primária, absolutamente pavloviana - fabrica de imediato a seguinte conclusão: se agora e aqui é "tolerância zero", mais adiante e mais tarde a coisa passará a ser tolerância 1, ou tolerância 2, ou tolerância 3, ou seja, a tolerância toda. A balda total, algo de extremamente reconfortante para os hábitos nacionais.

E isso mesmo, a balda total, suprema aspiração da besta automobilizada, isso é o cúmulo, o superlativo do adjectivo. O trânsito em Portugal é absolutamente kafkiano: atmosfera de pesadelo, de absurdo, algo que escapa a qualquer lógica ou racionalidade. E não necessariamente em "contexto burocrático". É nas estradas e ruas do nosso país, mesmo.

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14/11/05

O silêncio dos culpados



fogo. Presidente da Câmara de Carpentras, Jean-Claude
Andrieu, olha as paredes calcinadas de um infantário,
incendiado durante a última noite

Diário de Notícias, 14.11.05

Neste infantário, costumavam reunir-se tenebrosos fascistas, capitalistas e exploradores, sinistros conspiradores de 3, e 4, e 5 anos; na mesa que ali se vê, aqueles energúmenos passavam o dia, desde manhã muito cedo, planeando as suas criminosas manobras policiais de cerco e assalto, discutindo horripilantes métodos de extermínio, distribuindo tarefas e cargos de repressão entre todos; sabe-se lá, ao certo, quantas armas (e mesmo que armamento pesado) terão passado uns aos outros, por debaixo dos bibes. Aquelas cadeirinhas coloridas não enganam ninguém, se era essa a intenção: nota-se perfeitamente que se trata de material fabricado pela CIA, com óbvias intenções hostis, facto que é aliás denunciado pelos mapas militares afixados nas paredes, e que escaparam, infelizmente, ao fogo purificador.

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Cara (e já veterana) vizinha Riacho,
 
Reli várias vezes a tua mensagem. Juro que não entendi grande coisa. Devo estar (ou ser realmente) muito lerdo. É que a terceiranista é aquela tal do "manteu", não é (nunca por nunca) a minha amiga do Canadá - que tão bem escreve, autora do meu "alfa & omega" favorito, além de blog idem!
 
Simplesmente, não fiz "link" a esse blog da futura Educadora de Infância (também és isso?, mas que grande coincidência, bálhamedeus!), porque achei desnecessário e arrogante; se fosse alguma figura conhecida, ou uma qualquer figurinha do blogbairro, como já aconteceu, ah, bem, então lá seguiriam as orelhas de burro com destinatário certo. Assim, nem eu próprio sei agora qual é o endereço onde pesquei semelhante pérola; mas a coisa era apenas em jeito de (péssimo) exemplo.
 
Repara na conjugação googliana:
(nós mantemos "não vale")
(vós mantestes não existe)
 
A julgar pelos números, pela profusão de bacoradas, afinal a coisa até não é nada invulgar.

É muito provável que, dentro de um mês, a tal pérola já tenha sido pescada pela própria Google. Então saberemos exactamente onde estava ela, se tal for necessário - o que não me parece.
 
Com as minhas desculpas, ainda assim, caso tenha subsistido algum equívoco por causa daquele meu "post" irritantemente mal escrito, um abraço do tamanho do Atlântico.

D


P.S.: posso transcrever aqui o teu email?

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13/11/05

Portugal: inventário de Capitais

(em constante actualização)

Lisboa: Capital de Portugal
Paços de Ferreira: Capital do móvel
Porto: Capital Europeia da Cultura (2001)
Porto: Capital do Norte
Mirandela: Capital da alheira
Estremoz: Capital dos tapetes de Estremoz
Cascais: Capital do capital
Golegã: Capital do cavalo
Santarém: Capital do Distrito de Santarém
Coimbra: Capital Nacional da Cultura (2003)
Avintes: Capital da broa d'Avintes
Funchal: Capital do arquipélago da Madeira
Faro: Capital da província do Algarve
Estoril: Capital do jogo
Guimarães: Capital do Condado Portucalense
Almeirim: Capital das caralhotas
Bilros: Capital das rendas de Bilros
Gaia: Capital do vinho do Porto
Lagos: Capital do Reino dos Algarves
Braga: Capital do caminho português de Santiago
Braga: Capital do software
Braga: Capital dos arcebispos
Beja: Capital do chouriço alentejano
Belém: Capital dos pastéis de Belém
Nisa: Capital do queijo de Nisa
Benfica: Capital da Nação Benfiquista
Viana-do-Castelo: Capital do Alto-Minho
Braga: Capital do Minho
Santa Goma Dão: Capital das Berlengas
Barcelos: Capital do galo-de-Barcelos
Tentúgal: capital dos pastéis de Tentúgal
Mealhada: Capital do leitão à Bairrada
Negrais: Capital do leitão de Negrais
Santo Tirso: Capital dos jesuítas
Vila Nova de Ourém: Capital do Concelho de Ourém
Faro: Capital Nacional da cultura (2005)
Lisboa: Capital da Nova Evangelização
Trofa: Capital da literatura infantil da lusofonia
Trofa: Capital da gastronomia e do artesanato de todo o país
Aveiro: Capital da música (de 1.10 a 5.11)
S. João da Madeira: Capital do calçado
Santarém: Capital do estilo gótico
Valpaços: Capital do folar
Lisboa: Capital do nada (2001)
Vinhais: Capital do fumeiro
Albufeira: Capital do turismo português
Góis: Capital do Ceira
Praia Grande: Capital do windsurf e do bodyboard
Porto: Capital do trabalho
Porto: Capital do desemprego
Porto: Capital do ridículo
Díli (Timor-Leste): Capital do livro "lusófano"
Portimão: Capital do barlavento algarvio
Évora: Capital do Alto-Alentejo
Évora: Capital do património mundial
Óbidos: Capital do chocolate
Lousã: Capital do papel e do livro
Alvaiázere: Capital do chícharo
Bragança: Capital do Distrito de Bragança
Maçainhas: Capital do «Cobertor da Papa»
Coimbra: Capital do saber português
Coimbra: Capital do rock'n roll nacional
Mem Martins: Capital do Magic nacional

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Cavaco, A Esfinge

do alto desta esfinge, 4.000 toneladas de escória vos contemplam





(a imagem da paisagem egípcia foi pirateada de um site que pirateou a imagem; as nossas desculpas ao primeiro pirateado, e cem anos de perdão, fáxavor; a imagem do esfíngico presidenciável varreu-se-me de onde veio; outros cem anos)

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"Tavassó" e "Sótava"; subsídios para uma análise semântica diferenciada


É completamente diferente.

A construção morfológica "Sótava" utiliza-se para designar situações de baixa ou nula gravidade, enquanto que "Tavassó" - se bem que entroncando na mesma raíz etimológica - apresenta, dada a inversão sintagmática de V, um carácter e uma eficácia comunicativa muito superiores.

Analisemos as diferenças entre os termos de um ponto de vista mais pragmático e menos teórico, através de alguns exemplos de aplicação prática.

Quando alguém é apanhado pela polícia a falar ao telemóvel, enquanto conduz, por regra e definição socorre-se de "Sótava":

_ Mas, ó xôr agente, eu sótava a ligar para o 112, porque a minha avó está muito mal e é preciso uma ambulância para a ir buscar lá a casa.

"Sótava", nesta conformidade, destina-se a esbater um pouco a culpabilidade do autor e a verificar a possibilidade remota de que o agente da autoridade deixe passar a infracção. Em se tratando de pessoa de menos posses, ou quando situação semelhante ocorra próximo do fim do mês, é bem provável que se utilize a forma reforçada "Tavassó":

_ Mas, ó xôr agente, eu távassó a ver se o telemóvel tava ligado, acredite, nem sequer tava a falar nem nada.

Neste caso, "Távassó" acaba por se transformar em excelente ferramenta de persuasão, muito mais intensa do que a outra. Aliás, aquela é uma fórmula bastante mais corrente do que o relativamente modesto "Sótava", e que serve perfeitamente para qualquer situação de maior aperto, como quando se deixa o automóvel estacionado em 2ª (ou em 3ª) fila, com os quatro piscas ligados:

_ Mas, ó xôr agente, eu fui ali ao banco e tavassó a fazer um depósito, coisa de uns dez minutinhos, que é isso, vá lá, e até deixei os quatro piscas ligados e tudo.

Nos casos de estacionamento em 2ª (ou em 3ª) fila com os quatro piscas ligados, sinal de trânsito exclusivamente português que significa "fui ali e já volto", deve ser sempre utilizada a fórmula "Tavassó" em detrimento de "Sótava". A pessoa tavassó a fazer umas comprinhas, ali no centro comercial, enquanto deixou o carro mal estacionado (não esquecer os quatro piscas), ou tavassó a levantar dinheiro no multibanco, ou tavassó a conversar com uma amiga, um assunto muito urgente, claro, ou ainda, sempre por exemplo, tavassó a tomar uma bica no café da esquina. Para outras situações em que a imaginação não ocorra, assim de repente, não é conveniente que se abuse do "Tavassó"; portanto, em alternativa, usar "Sótava", que é muito menos eficaz mas também muito mais neutro, e poderá funcionar na mesma; depende do efeito pretendido e da categoria social do interlocutor - que é, de resto, um outro nível de análise.

Assim, resulta óbvio que "Sótava" se insere num nível mais informal da linguagem, uma espécie de gíria reservada a pessoas de não tão alto gabarito quanto isso. Continuando na base alegórica automobilística, vamos supor que uma pessoa, que pode bem ser a sua pessoa, bate na traseira de um automóvel, por simples descuido mas com bastante força; bom, aí depende da classe do veículo que ficou amolgado e também do condutor que sair de lá de dentro; por exemplo, se for Mercedes SLK e cigano com ar de traficante, respectivamente, não se deve utilizar nenhuma das expressões; é passar um cheque e andar, sem nada de "Tavassó" nem "Sótava". Já no caso de Fiat Uno com dez anos e caramelo de bigode, também respectivamente, será talvez prudente avançar com "Tavassó", como em "ó amigo, eu tavassó a retocar a pintura ao espelho, não reparei que o senhor tinha parado, desculpe lá isso". Por outro lado, em sucedendo o caso com viatura e pessoa de gama média ou média-alta (tipo Citroen Xsara, gajo de fatinho), poderá ser necessário recorrer a ambas, como no exemplo: "o senhor desculpe, mas eu tavassó a ver se os saldos já começaram, e só tava a olhar para a montra daquela loja ali, olhe, tá a vêre?".

Os exemplos seriam inúmeros e as ilustrações imensas, mas parece agora claro, após este estudo não exaustivo, que ambas as expressões (termos recentes, logo neologismos) assumem um certo paralelismo mas também identidade e aplicação próprias, distintas, por assim dizer: "Sótava" é uma espécie de parente pobre de "Tavassó", ou como que simbolizando uma relação linguística de irmão mais velho para irmão mais novo. Digamos que eu sótava a tentar explicar a diferença, mas que, no fundo, no fundo, tavassó a tergiversar... porque não entendo sinceramente nem uma nem outra. Quem disse que tavassó a fazer não sei o quê, sótava a mentir. Ora foda-se, se me é permitida a expressão. Tavassó ou sótava mas é o caralho, ó portuguesitos de merda.

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Deixai vir a mim as criancinhas, deixai...


Este blog manteu acesa, durante muito tempo uma paixão que estava a morrer quando o criei.

Citação de provável (tenhamos fé) último "post" em certo blog, escrito por relativamente anónima terceiranista do curso de Educação de Infância. Parece que se segue, no certamente brilhante futuro desta jovem, uma provação designada por "Prática Pedagógica" ("a.k.a. Estágio"). Provação para as criancinhas, presume-se, coitadinhas:

_ Ó Bruno Diogo, filho, onde é que metestes o caderno? Adonde pusestes-zi-o? Ah, não sabes. Bem, antão lá teremos de descobrir uma altrenativa pedagógica. Olha! Já sei! Vamos brincar às escondidas, queres? , que fixe! Mas... ó Bruno Diogo, filho, deslarga as minhas saias! Aiaiai. Que chatisse. Estes miúdos só me dão relações, aiai. Vá lá, possa!

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12/11/05

Consultório sentimental VIII

A violência da doméstica
Sónia Morais Santos, uma das pessoas que melhor escrevem em jornais, de momento, em Portugal, ou, melhor dizendo, uma das pessoas que melhor escrevem em Portugal, de momento, refere-se no DNA de hoje (11) à "problemática" da violência doméstica ao contrário, ou seja, aquela que é exercida pela mulher em relação ao homem. A moça, a Sónia, escreve sua belíssima e fundamentadíssima crónica de 5 páginas com as verve e olho clínico do costume, relatando as experiências - dolorosas, em sentido literal - de dois maridos putativamente "abusados" pelas respectivas esposas.

Com a candura habitual nas mulheres, que não acreditam nunca na própria morbidez atávica, nossa amiga Sónia tece uma teia, vagamente suspeitosa mas nunca realmente assumida, sobre aquilo que se presume ser a violência doméstica encapotada e nunca publicamente revelada; ou seja, trocando em miúdos, aquilo em que consiste a porrada que determinadas mulheres dão nos respectivos - homem, marido, namorado. Relata dois casos que se presume serem paradigmáticos desta subtil, sub-reptícia, subterrânea, sacaníssima coisa. Onde já se viu, uma gaja a dar porrada no marido, é, em suma, a tese da autora. Que não pode ser. Que "um gajo não chora", e coisas assim, dois casos pungentes, de ir realmente às lágrimas, por mais de ferro ou mais macho que seja a gente. Como quem diz: foda-se! Mas que merda é esta? Então ele há gajas que batem em gajos? Há. Mas como assim? Porrada nos cornos e tudo, pimba, tunga, toma lá? Sim, disso. Porra, porra, porra. Mas assim, sem mais nada, o mulherio agora desata a bater nos respectivos? Desata. Cu! Nunca tal houvera visto, ou ouvisto!

Pois é. Mas é. Tem nossa Sónia carradas de razão. O que há mais é gajas a bater em gajos, por aí. É assim, ó, assim, uma farturinha.

Claro que toda a gente finge o oposto, porque - convenhamos - o mundo às avessas assusta, hoje como ontem, não se pode tolerar a perversão, a inversão, a adulteração total das coisas, a desordenação, a balda geral, esquisitices como um branco de carapinha ou um negro de cabeleira loira. Pero que las hay, las hay. Hay mesmo, gajas que batem em gajos, gajos que levam na tromba e que se ficam.

Prizemplos. Diz a Sónia em seu artigo, demonstrando ilustrativa e corrosiva lógica feminina, existirem maridos que preferem comer e calar do que ficar privados da sua mais-que-tudo; que gajo que é gajo tem vergonha de dizer que levou no trombil, que aquele sobrolho rebentado, aquele tampão no nariz, é porque sua delicada esposa lhe atirou com um cinzeiro à cara, ou, pior ainda, lhe espetou com valente murraça em plenas fuças. É que ele há disso, realmente. E pior. Upa, upa.

Sou testemunha privilegiada, gajo de tarimba nessa merda. Com a minha primeira mulher, da qual guardo imensas recordações e algumas cicatrizes, tive eu vários e divertidíssimos combates corpo-a-corpo, murraça e pontapé, porrada a valer. Aquilo era um fartote, volta e meia. Quando lhe dava para a histeria, o que era mais ou menos dia sim, dia não, aquela mulher conseguia provocar-me de tal forma e chegava a agredir-me com tais intensidade e violência que não me deixava alternativa senão responder na mesma moeda, mesmo com o desconto devido ao facto de ela ser mulher e eu homem; por regra, só lhe espetava o primeiro murro quando, muito cavalheirescamente, já tinha contabilizado mais de dez dos dela, pumba, pumba, nas minhas trombas; nunca pontapeei muito repetidamente a minha ex, juro, e devo asseverar que nunca o fiz com muita força, antes de ter eu próprio levado diversos pontapés e, nunca por nunca, antes de ela me atingir nas chamadas partes baixas; aí, quando isso acontecia, ou pelo menos quando recuperava o fôlego, ah, bem, era pontapé de três em pipa - mas sempre, lembro-me perfeitamente, tentando encolher a ponta do pé, para não magoar excessivamente. A minha preocupação era tal que, por exemplo, para lhe espetar com um estalo em cheio, tentava sempre esticar a ponta dos dedos e bater preferencialmente com a concha da mão; é que, pressupõe-se, supõe-se, assim dói menos e faz muito mais barulho... que é aquilo que interessa quando um gajo anda à porrada com uma gaja; mano-a-mano é diferente, de homem para homem o que importa é derrubar o adversário, pô-lo "ko" o mais depressa possível, fodê-lo todo no mais curto espaço de tempo possível; com uma mulher (com a nossa mulher, note-se), a coisa é diferente: trata-se de intimidá-la, assustá-la, fazê-la parar. Bater numa mulher pode ser uma medida profilática e ter a finalidade clínica e benemérita de a acalmar. Por vezes, um simples par de estalos é suficiente, mas nem sempre; há fulanas que andam à porrada com o mesmo à-vontade de qualquer homem, e algumas com uma destreza e elegância excepcionais.

De resto, para um homem a coisa não pode dar gozo nenhum. Bem sei que, talvez por instinto ou por trejeito habitual, nessas ocasiões qualquer gajo trinca a língua entre os lábios, enquanto desfere suas mocadas na consorte, talqualmente acontece em qualquer cena de pancadaria a sério, mas ainda assim é diferente, não tem nada a ver. Porrada é porrada, luta física no casal é outra música. E sobre isso, em concreto, nossa Sónia não faz mais pequena ideia daquilo de que está a falar. Abençoada, que é jovem e ingénua.

Apenas como ilustração dessas ingenuidade e juventude, a nossa amiga relata em seu artigo que um tal Daniel Cotrim, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, atira com uma percentagem curiosa sobre o rácio de violência doméstica distribuído por sexos: por grosso, salvo seja, a coisa vem a dar em 99% de queixas de mulheres e apenas de 1% de homens; 1,5%, no máximo. Ridículo, evidentemente. Claro que não deve ser fácil um homem ir queixar-se de que a mulher lhe vai ao focinho com regularidade; por outro lado, é facílimo, presume-se, toda a gente espera que isso mesmo aconteça, uma mulher queixar-se de que o marido a agride; a APAV existe para que mulheres se queixem, não homens, é claro. A questão, que tem muito a ver com manipulação, é que grande parte dos 99% de queixas se refere a interesses inconfessáveis, politicamente incorrectos: mulheres que pretendem ganhar uma reforma dourada ou uma situação social privilegiada, através do divórcio - e o divórcio litigioso por "alegada" violência (de qualquer tipo) é a coisa mais garantida e rentável que existe, para o efeito. Grande parte das queixas por "agressão" omite o motivo dessa "agressão": nenhuma mulher irá confessar, quando apresenta queixa, que agrediu primeiro, que a outra parte se limitou a responder ou a simplesmente defender-se; por outro lado, a pressão social que as mulheres tanto dizem abominar, obriga a que praticamente nenhum homem se queixe de ter sido agredido, perseguido, aterrorizado pela respectiva. Nesta conformidade, dá imenso jeito às mulheres o seu intrínseco estatuto de menoridade, o seu papel inferior e subjugado. Presume-se, por sistema, que não apenas houve agressão como que o culpado é, óbvia e compulsoriamente, o elemento masculino.

Tretas. Estas coisas são muito mais vulgares, triviais, rotineiras, do que aquilo que geralmente se pretende supor e fazer supor. As cenas de violência doméstica são absolutamente comuns. Se bem que não passem geralmente, de facto, de mera violência verbal, essa barreira é ultrapassada muito mais vezes, muito mais profundamente e muito mais intensamente do que permite a mundanidade e o sentido das conveniências. Não consta, a não ser talvez como anedota, que alguma mulher tenha sido condenada por ofensas físicas na pessoa do seu cônjuge. Mas isso existe, e é muito mais comum do que aquilo que o chamado pudor masculino permite que se declare ou confesse. Quando a um homem toca mulher que gosta de apanhar, como dizem os brasileiros, que se há-de fazer, é satisfazer-lhe os caprichos o melhor que for possível. Mas, e se afinal ela gosta é de malhar, em vez de apanhar? Um gajo fica-se, pura e simplesmente, pianinho, come e não bufa?

Que estatísticas existem quanto a esta não muito subtil variante de violência doméstica? Provavelmente, nenhuma, à excepção da já citada, que atira um número perfeitamente irrealista. Não considerando os casos - ainda assim em larga maioria - de verdadeira violência doméstica, do troglodita que bate na mulher apenas porque não passa de um desequilibrado, boa parte das queixas carece de fundamento real; à mulher, enquanto instituição pós-moderna, convém imensamente o estatuto de ser "mais fraco", de pessoa "indefesa" em relação ao homem - que se presume sempre nunca ter menos de um metro e oitenta de altura, noventa quilos de peso, além de ser congenitamente violento, maldoso, cinturão-negro em karaté e notório meliante. À mulher, faz imenso jeito esse estatuto de menoridade... mas apenas enquanto e na estrita medida em que isso serve os seus interesses. "Feminismo termina no pneu furado", é uma conhecida frase de camião brasileiro que resume bem esta lógica das igualdades e das paridades determinadas por decreto e em função das conveniências de momento.

Estabelecido inamovivelmente um statu quo de discriminação positiva em relação ao sexo feminino, considera-se geralmente a violência doméstica como um fenómeno social de sentido único, ou seja, sendo a mulher a vítima e o homem o culpado, porque evidentemente é ele e apenas ele o autor dessa violência, e com a agravante de o mesmo ser obrigatoriamente muito mais forte e espadaúdo do que a outra parte, sempre fraquinha e mal nutrida. É assim que a violência doméstica é encarada, e muito dela se fala, mas ninguém fala da violência da doméstica, ou da sua possibilidade, mesmo se ou principalmente se o cônjuge feminino trabalhar fora de casa.

De resto, e isso está claramente expresso no estudo de Sónia Morais Santos, a violência no casal pode manifestar-se de diversas formas, não apenas e necessariamente através da agressão física. A humilhação sistemática, a perseguição, o amesquinhamento, traduzidos em atitudes de menosprezo, desconsideração ou insulto, são armas (estas sim) ambivalentes, utilizadas por ambos os sexos conforme as relações de poder estabelecidas no casal; por seu turno, estas relações de poder dependem regra geral da capacidade económica de cada um deles; para um homem que subitamente se vê no desemprego ou que, pura e simplesmente, aufere um vencimento inferior ao da mulher, aumenta drasticamente a probabilidade de vir a ser agredido por ela, em qualquer das formas, implícita (insultos) ou explícita (bofetadas). Ora, a situação inversa não existe: toda a gente considera como absolutamente natural e aceitável que um marido sustente a esposa; nesse caso, já a esta não interessa para nada o estatuto de "igualdade" que antes provavelmente reivindicava.

"É um mundo obscuro, este. O dos homens que sofrem, na maior parte das vezes em silêncio, agressões por parte das mulheres com quem vivem. São homens que amargam duas vezes: por um lado, são atacados física e/ou verbalmente; por outro, suportam o preconceito cruel de serem ofendidos na sua virilidade. Que tipo de homem se deixa bater e ofender por uma mulher? Esta é a pergunta que fazem a si próprios todos os dias. Esta é a pergunta que lhes fazem, na hipótese remota de partilharem o segredo com alguém. Fomos conhecer homens que contrariam as estatísticas. Homens que se sentem menos homens que os demais. Homens que choram em silêncio."

Neste texto introdutório, a amiga Sónia condensa de facto o essencial do tema, através de algumas palavras e expressões-chave importantes: "preconceito", "hipótese remota", "estatísticas", "menos homens que os demais". Exacto. Mas é apenas uma parte do problema. E aqueles que respondem à violência? E aqueles que não são (grande coisa como) homens mas também não são ratos? E aqueles que não choram? E aqueles que não ficam em silêncio?

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10/11/05

Manifesto anti-granado


Caro Toni Granado, filho. Ouvi-te há pouco, há poucochinho, na 2, sistematicamente perorando contra os blogs anónimos, em geral, e contra os sacanas dos anónimos autores de blogs, em particular. Pois bem, caro, deixa que te diga, filho: vai-te foder. Ouviste ó filho de uma puta? Vai para o caralho que te foda. Cabrão de merda. Energúmeno. Mentecapto. Imbecil.

Digo eu, um simples anónimo, autor de obscurantíssimo blog, e evidentemente sem querer ofender.

Portanto, se bem entendi, na tua lógica, ó evidente, patente, notório cabrãozito de merda, eu acabo de te não chamar nem filho-da-puta, nem cabrão, nem energúmeno, nem mentecapto. Tudo isto é uma ilusão, por conseguinte. Se digo que tu não passas de um grandessíssimo ignorante, por exemplo, entre outras e igualmente relevantes coisas, sendo eu um misérrimo anónimo, isso não conta e, portanto, tu, ó monte de banha, não és nada ignorante; parece que sabes muito, filhinho, afinal; só serias ignorante, e filho-da-puta, e etc., se eu me identificasse. Bem esgalhada, essa. Caralhosmafodam se não é.

Ainda assim, na qualidade de execrável anónimo, vou tentar explicar-te, filhinho, a razão pela qual me parece estares tu alucinando coisas. É que não é bem assim, sabias? Um anónimo não é um cobarde, pelo menos não tanto como tu és, por uma razão muito simplezinha: é que tu, ó filho-da-puta, ganhas com as patacoadas que dizes e com as alarvidades que escreves. E ganhas, não pouco, em função daquilo que escreves e que dizes, à linha, à palavra, a tanto a bacorada. Ou seja, és um filho-da-puta de um mercenário, um intelectualzito de meia-tijela sem qualquer espécie de credibilidade, intelectual, cultural ou outra. Não passas de um vendido, uma puta cultural, um brochista pago a tanto o broche, a cada minuto de mamada cultural, consoante o autor. És um imbecil que, não sabendo falar, não dispondo obviamente das ferramentas linguísticas básicas para poder articular uma frase inteligível, não poderás nunca alinhavar um único texto legível ou elaborar um único pensamento questionável, analisável, intrigante ou sequer inquietante. Em suma, és um merdas e sempre serás um merdas. Um merdas pago, mas ainda assim um merdas. O verdadeiro merdas identificado.

Para ti, filho, o meu voto de pesar. És um nojo com pernas, uma espécie de Dâmaso Salcede deslocado, sem ao menos alguma espécie de fascínio por "bric-a-brac" ou tendo um módico de bom gosto e, ainda por cima, cheio de ressaibo contra quem o tenha, mau ou bom. És um tosco. Identificado, ainda por cima, o que é bem pior do que se fosses tão anónimo quanto eu. É que, ó totó, o anonimato é uma das milhentas formas de identidade...

Passo a explicar, com muita paciência: o anonimato é uma espécie de alter-ego, de heterónimo, de máscara, de Carnaval, de espelho, de sonho, de alucinação. Blog anónimo não existe; a identidade do autor do blog é a identidade do blog; o blog tem vida própria, assinatura única. Um pardal é tão anónimo como um blog, e vice-versa. Blog identificado não é blog, é blogre. Ou blogro. Ou blógico. Não faz muito sentido, não serve para nada. Faz muito pouco.

No fundo, no fundo, anonimato e insignificância são uma e a mesma coisa. Tu acabaste de descobrir, de identificar, ó Granado, a pólvora da chamada "responsabilidade": és um anónimo identificado e um insignificante assinado. Parabéns, pázinho. Bem podes meter a descoberta na peida, mas parabéns na mesma.






(evidentemente, como o próprio declarou na tal entrevista, isto nunca será lido por ele mesmo; "anónimo não existe"; ora bem; ainda bem; fico sossegado)

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