Odi profanum vulgus et arceo

27/08/03

Aviso à navegação


O meu carro é um Opel Corsa, série A, modelo 2, de 1991.
Não tenho pinta nenhuma, por conseguinte. Ao que sei, tendo este facto - indesmentível e ligeiramente enferrujado - presente, o autor deste blog não pode passar de um falhado, idiota, cretino, um teso, pelintra, pé-rapado à brasileira, etc.; será sempre e compulsivamente suspeito de qualquer malfeitoria ou coisa pior ainda, ganda mau aspecto, hmmm, não me cheira, ali anda coisa, não sei o que é mas coisa boa não é de certeza.
A julgar pela imediata e brusca mudança de atitude de 99,9% dos portugueses, assim que me topam ao volante, suponho nem sequer merecer o estatuto de "cidadão nacional", o meu B.I. devia ser-me imediatamente cassado, eu próprio devia ser caçado e metido numa enxovia, algures no Alto Volta (Burkina Faso, ou lá o que é agora). Estarei por certo, ao conduzir tão perigosa e desprestigiante viatura, abusando da sorte e da bondade dos meus semelhantes, e abusando também pelo simples facto de estar vivo; coisa de que muito me penalizo, sinceramente.
Mnemónica: Corsa, A, 91.
Está o aviso feito. Depois não se queixem.

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Requiescat in pace






Terça-feira, Agosto 26, 2003

Nota: Marcamos hoje, 26 de Agosto, o quinto mês de actividade do Posto de Escuta. É essa uma das razões pelas quais não podíamos estar mais revoltados por hoje termos conhecimento de uma tentativa de plágio da nossa página. A página em questão ultrapassa o uso normal (ex. Metablogue) do conceito por trás do 'Posto de Escuta' e faz uso ilegítimo não só da descrição da nossa página (criada por nós a 26 de Abril de 2003) como também de algumas das citações que diariamente seleccionamos. O próprio título e endereço dessa página são elucidativos da óbvia tentativa de associação e identificação com o Posto de Escuta.

Decidimos publicar esta mensagem aqui pois na altura em que o fazemos não existe em nenhum local da página qualquer referência ao(s) seu(s) autor(es) e/ou forma de entrar em contacto com este(s).
O plágio é algo de que, cremos nós, ninguém gosta de ser alvo. É por esse motivo, e para evitar a confusão de alguns visitantes, que achámos necessário este esclarecimento.

A Equipa do Posto de Escuta
postodeescuta@hotmail.com


Terça-feira, Agosto 26, 2003
Vem o Ecos desta forma responder ao Posto de Escuta, pois julgamos ser a nós que se referem (isto depois de termos reparado na vossa descrição). De facto a descrição é a mesma e pelo facto pedimos as nossas desculpas pois confessamos que não tínhamos reparado na vossa. A ideia do Ecos surgiu para guardarmos para nós aquelas citações que mais gostamos dos blogs que mais visitamos e daqueles que vemos esporadicamente. Não temos outro tipo de blog porque achamos que tudo o resto já está escrito e bem escrito. Já que o fazíamos também o podíamos divulgar. Julgamos que citações sempre existiram ao logo dos tempos. Até se vendem livros de citações. Não pretendemos copiar o posto e só o visitamos depois de colocarmos as nossas mensagens. Acusam-nos de colocar citações seleccionadas por vós. Procurámos para ver se tal tinha acontecido porque o que seleccionamos é feito por nós, e encontrámos uma que realmente colocámos depois de vós, tal como encontrámos uma que nós tínhamos colocado primeiro. Julgamos ser natural que dois blogs com o mesmo espírito acabem por ter coisas iguais. Isso acontece em blogs de política, de humor e de tudo o resto. Quantos foram os blogs que falaram da entrevista da Paula Bobone ao DN? quantos a transcreveram na íntegra? algum acusou o outro de se andarem a copiar por causa disso? Tanto o Ecos como o Posto de Escuta sobrevivem à custa de "copiar" palavras escritas por outras pessoas. Não vemos nada de errado em existirem vários blogs assim. Como dissemos o Ecos pretende divulgar blogs, ou apenas frases, que considera interessantes. Achamos natural que, por vezes essas frases coincidam com as escolhas do Posto de Escuta ou de qualquer outro blog de citações. Isso já aconteceu, como dissemos, ao contrário (o Posto de Escuta colocar mensagens anteriormente colocadas pelo Ecos e até achámos graça à coincidência, porque não passa disso mesmo, uma coincidência). Quanto à descrição, uma vez mais pedimos as nossas desculpas. Foi de facto sem intenção que colocámos uma igual. Talvez essa descrição tivesse ficado inconscientemente na cabeça daquele de nós que a sugeriu e os outros não se lembraram que já existia. Apenas achámos que tinha tudo a ver com o nome do Blog. De qualquer maneira até nem nos parece algo muito grave. Se duas mulheres forem loiras de olhos azuis, só porque uma nasceu depois não se vai dizer que ela é morena de olhos verdes. Afinal somos mesmo Ecos da Blogosfera. Mas, como não queremos ferir susceptibilidades (nem nunca nos passou pela cabeça que o Posto de Escuta quisesse o universo de citações só para si, ou teríamos pensado duas vezes antes de enveredarmos por um caminho que ia ofender outros), mudaremos a descrição. Por enquanto, e enquanto não conseguirmos chegar a um consenso sobre aquela a ser colocada, ficaremos sem nenhuma. Aos nossos leitores pedimos desculpas por toda esta confusão e, caso tenham sugestões para uma nova descrição, podem contactar-nos para o email: blogoecos@hotmail.com 8:58 PM

Blogoecos


Quarta-feira, Agosto 27, 2003

Por tudo. Por nada. Descontinuamos o Posto de Escuta.

Desistimos não porque alguém nos acusa de querer ficar com o 'universo das citações' por afirmarmos de que fomos alvo de plágio. Desistimos não porque alguém diz que copiar a nossa descrição (ecos da blogosfera), dar o nome de 'Ecos' a uma página, ter o endereço 'blogoecos' e um mapa-mundo como imagem foi feito sem 'reparar'. Desistimos não porque 'amuámos', porque sim amuámos. Desistimos não porque alguém criou uma página com o mesmo conceito que o Posto de Escuta, algo legítimo e normal. Desistimos porque ao trazer tudo isto para a nossa página acabámos por, nossa culpa, macular algo que durante 4 meses deu-nos imenso trabalho e prazer fazer. De resto, o 'universo das citações' é algo que nunca nos motivou nem nos interessa. Mas sabemos que depois disto o Posto de Escuta já não seria a mesma coisa para quem o lê e faz. O Posto de Escuta nunca foi sobre quem o fez, mas ontem ultrapassámos esse ponto, sem regresso.

Obrigado.

Posto de Escuta




Posso mandar palpites?


Ora portantos. Prontos. O Posto de Escuta finou-se, inda agora inda agorinha. Já antes tinham "descontinuado" o servicinho que dava um trabalho dos diabos, e que era arrumar os blogs portugueses por categorias; estas eram absolutamente arbitrárias, e foi com uma sensação de alívio geral que aquilo desapareceu; classificar o Blog de Esquerda ou o Cruzes Canhoto, por exemplo, como "serviço público", não lembrava ao careca. E nem sequer denuncia nada, nem tendência política nem coisa nenhuma, nada, nadinha, era uma coisa muito bem feita.

Agora, quanto ao que restava do Blogo, e que era precisamente este "posto de escuta", chapéu, acabou-se também. Diz que ele há por aí um malandro que lhes copiou a ideia, e tal, e tal. Os gajos que, de facto, copiaram a ideia, a papel de esquisso virtual, dizem que não senhor, que a net é livre, que não tinham reparado (!), e mais umas coisas assim; ler os "posts" completos é muito mais giro do que estar aqui a condensar. Seria boa ideia, talvez, se não pretendem apagar o sáite, era mudar o título das páginas: para o Blogo, passaria a ser "blogo, logo não existo" e o posto de escuta devia passar a "posto de escuta surdo e mudo".

Que patuscos, les uns et les autres. Oh, que grande tristeza! Então agora já acham que serem copiados é mau, ó do ex-Blogo? Hem? E vocês outros, os dos blogotraques, sentem-se muito espertinhos, hem, com as vossas comparações e analogiazinhas descabeladas, hem?

O Blogo contém material copiado, no conceito, no método e no processo. Já se esqueceram, ou só é plágio quando são os outros a copiar?

O "ecos" plagiou, sim, literalmente. Ponto. Não adianta nada estar agora com subtilezas comparativas ou usar variantes dialéticas, a ver se cola; o que alegam não passa de um chorrilho de desculpas atrapalhadas, de retórica mal enjorcada, de citações mal feitas de um qualquer alucinado.

Em resumo: estão bem um para o outro, estes dois. Não produzem, apenas reproduzem; e, mesmo só colagens, fazem mal, fazem a trouxe-mouxe, sem quaisquer critérios perceptíveis. E têm ambos a suprema lata de achar que "fazer" aquilo dá imenso trabalho. Bem, ao menos aos do Blogo também "dava prazer"; para os dos "ecos", o que deve dar grande prazer é terem conseguido criar toda esta confusão. Parabéns!

Espero agora que os novos "donos" das citações não se "zanguem" por causa das colagens lá em cima. Quando leio alguma coisa que, na minha opinião, vale a pena reproduzir - como quem guarda um bilhete - também aqui no Godot se faz algum webclipping; até existem serviços especializados nisso, sabiam? E programas específicos, sabiam também? Pois, calculo que soubessem, afinal é essa a vossa especialidade.

Por definição, plágio é a apropriação do trabalho alheio, literário ou artístico, em proveito próprio. Na Internet, sociedade virtualmente anárquica, este conceito deve ser alargado... por paradoxal que isso pareça; o manancial de conteúdos virtuais circula livremente onde não existem nem Estados, nem leis, nem poderes, nem estrutura, nem instituições; o que resta para que a "web" se não transforme numa anarquia absoluta é o mais elementar sentido de justiça humana: se já existe um processo, se já alguém descobriu uma forma de alcançar um resultado, se já existe um serviço, uma ideia que funciona, reproduzi-la é plágio puro e duro; se omitir as fontes é, no mínimo, deselegante (e plágio), fazer exactamente o mesmo que outrem já produzia é desonesto (e é plágio). Ou nos regulamos por leis tácitas, baseadas na mais simples decência, ou isto não tem de facto futuro algum.

Ou então, e isso é o mais certo, também a "net" será no futuro o reino dos parasitas.

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25/08/03

MR. VON HEINZ
Valiant Privatbank AG
Postfach 3001 Bern,
Switzerland


Sir;

PRIVATE AND URGENT.

I am contacting you on business transfer of a hugh sum of money from a deceased account. Though I know that a transaction of this magnitude will make any one apprehensive and worried, but I am assuring you that all will be well at the end of the day. We decided to contact you due to the urgency of this transaction.

PROPOSITION;

We discovered an abandoned sum of US$5,500,000.00 (Five million five hundred thousand united states dollars) in an account that belongs to one of our foreign customers who died along with his entire family. Since his death, none of his next-of-kin or relations has come forward to lay claims for this money as the heir. We cannot release the fund from his account unless someone applies for claim as the next-of-kin to the deceased as indicated in our banking guidelines. Upon this discovery, we now seek your permission to have you stand as a next of kin to the deceased as all documentations will be carefully worked out by us for the funds (US$5,500,000.00) to be released in your favour as the beneficiary's next of kin. It may interest you to know that we have secured from
the probate an order of madamus to locate any of deceased beneficiaries.

Please acknowledge receipt of this message in acceptance of our mutual business endeavour by furnishing me with the following;

1. Beneficiary name and address

2. Direct Telephone and fax numbers

These requirements will enable us file letter of claim to the appropriate departments for necessary approvals in your favour before the transfer can be made. We shall be compensating you with a million dollars on final conclusion of this project, while the rest shall be for us. Your share stays while the rest shall be for us for investment purposes. If this proposal is acceptable by you, do not take undue advantage of the trust we have bestowed in you, I await your urgent mail.

Regards,

Mr. Von Heinz.

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PUBLIC AND NOT THAT URGENT
TAKE YOUR TIME


Dear Sir,

Please go fuck yourself. Put your 5,5000,000.00 dollars where the sun never shines.

Regards,

Mr. 001

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micro-Blogssário


Blog: s.m., diário virtual; o m.q. weblog
blogue: aportuguesamento bacoco do termo original Inglês "blog"; curiosamente, não existe "uébelogue"
blogger: autor de blog
blogosfera: o universo dos blogs, mas presume-se que este universo seja restrito. Enfim, o universozinho dos blogs portugueses, onde se criam e cimentam belas inimizades.

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22/08/03

Novilíngua


Há palavras, nomeadamente as mais recentemente atestadas, que denunciam perfeitamente intenções, posições políticas, maneiras de ser, não apenas de quem as criou - ou atestou, o que vem a dar no mesmo - como de quem utiliza essas em detrimento de outras; existem sempre termos equivalentes em significado, palavras mais antigas e com uma raiz etimológica vetusta, perfeitamente identificável e, portanto, com muito superior eficácia linguística, ou seja, eficiência comunicativa.

Por exemplo, o termo "gay", anglicismo geralmente aceite com o significado de "homossexual"; a raiz etimológica deste barbarismo estará algures nas ruas de Nova-Iorque e não em qualquer evolução gramaticalmente analisável; "gay" (alegre), pressupõe, implica, insinua, quer dizer que o seu oposto (os heterossexuais) são, por conseguinte, "tristes" (sad). A designação não é nem arbitrária, nem casual, nem sequer inocente.

"Conservador". Designar desta forma posições políticas ditas "de Direita" não é absolutamente (de forma alguma) arbitrária ou fruto do acaso e não tem qualquer sustentação pragmática, ou sequer factual, ou mesmo política - se for uma pessoa de Direita a argumentar sobre o assunto. "Conservador implica que o seu inverso é "progressista", isto é, que estes desejam o progresso, a melhoria das coisas, e, portanto, o bem; e que os "outros", os "conservadores", pelo contrário, são um grupelho de facínoras que apenas pretende que tudo fique cada vez mais na mesma, ou que, de preferência, ande para trás até aos bons tempos das cavernas. Não é inocente. Progressista é bom, conservador é mau; se uma coisa é positiva, a outra apenas pode ser negativa, é essa a ideia.

Hoje em dia, há coisas que "não se podem dizer". Na União Europeia, é proibido falar de "deficientes"; não existem deficientes; não há disso, na Europa; o que há é "pessoas portadoras de deficiência".

Há uns anos, durante a primeira cruzada politicamente correcta (anos 60, 70 e 80 do século XX), rapidamente se instituiu que não se devia dizer "pobres" mas "desfavorecidos" (portanto, os outros eram "favorecidos"), em vez de "criados" devia ser "empregados", "invisuais" em vez de "cegos", "terceira idade" em vez de "velhos", etc. Portanto, hoje em dia uma criança ("jovem") não deve perguntar a sua mãe que o leva respeitosamente - e um pouco amedrontada - pela mão:

_ Ó Mãe, olhe ali um cego!

Deve proferir uma sentença do género

_ Pá, olha ali uma pessoa portadora de deficiência. Yá, que cena! É invisual, não é? Quero um gelado.

Acabaram-se os "contínuos" nas escolas; agora temos técnicos auxiliares de educação; por causa disso ou talvez não, naqueles tempos da "longa noite" os contínuos trabalhavam alguma coisa e agora, com aquela designação complicadíssima, não fazem nada de nada. Quem agora lava arrastadeiras nos hospitais já não são as "serventes", são as técnicas auxiliares de saúde e higiene; por esse motivo, ou talvez não, agora as arrastadeiras são lavadas por máquinas e aquele pessoal de alto coturno dá azo à sua óbvia inteligência, em conversas intermináveis, de preferência em altos brados. Qualquer badameco tem, hoje em dia, não uma profissão mas a respectiva designação superprestigiante, faça muito, pouco, ou nada, seja bom, medíocre ou execrável naquilo que era suposto executar.

Um preso é "detido", ou "recluso, mais exactamente. Pancadaria da grossa é "desaguisado", "altercação acalorada", "distúrbio da ordem pública". Não há pirómanos; o que há é "alegados autores de fogo-posto". Um assassino é obrigatoriamente uma pessoa perturbada que terá, alegadamente, molestado fisicamente um transeunte, factos de que - alegadamente - terá resultado a morte deste.

O bordel era uma instituição completamente fascista que foi substituída pelas palavras bar de alterne, bar de "charme", clube de "strip", "casa de meninas" e outras coisas assim. Nestes prestigiados locais de diversão trabalham profissionais de entretenimento, verdadeiras técnicas superiores de assistência social, formadas na arte de receber.

Roubar não é roubar, é furtar; alegadamente, claro. Fugir à polícia é evitar a detenção. Mandar uma pessoa à merda é promover a discórdia.

Inadmissível hoje em dia, por exemplo, é um professor "castigar" (repreender) um aluno se este, por mero acaso e sempre alegadamente, promover a discórdia incluindo no seu discurso um dos progenitores do dito professor (vai à merda, ó filho-da puta).

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Olha! Bom Português!


COIMBRA É UMA LIÇÃO
O Abrupto inseriu anteontem um post notável sobre a "desresponsabilização e a boçalidade" associadas a um Telejornal da RTP. Entre outras peças grotescas a que assistiu, o autor do texto evoca uma em que um grupo de estudantes da Universidade de Coimbra, de capa e batina negras, canta alegremente «é o branco, é o tinto que me faz levantar de manhã».
A estudantes de Coimbra, já eu ouvi muitas histórias. Curiosamente, em nenhuma delas se abordava o mérito científico ou pedagógico dos catedráticos, ou as horas de estudo árduo, ou outras futilidades quejandas. Não. O teor das histórias costuma ser mais elevado. Elogiam-se as proezas sexuais dos académicos, enumeram-se os bons jogadores de bilhar, contam-se as façanhas dos bebedores de gin mais apurados.
É mesmo assim. Sem tirar nem pôr. Se um estudante palavroso, satírico, desleixado em sua compostura, ébrio, insultador de docentes, não consegue a estimação pública, é pelo menos certo grangear fama de talento e um desgraçado prestígio entre os colegas mais convizinhos dos seus vícios.
A vinolência, entre os académicos, é distinção invejável: quem beber duas valentes litradas e digerir de pé o seu álcool atinge o acume da celebridade. E não é de agora. A velha cidade sempre distinguiu penosamente entre os que se literatavam e os que se litravam...

Nova Frente

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21/08/03

Mote
Primeiro levaram os comunistas,
mas eu não me importei
porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
mas a mim não me afectou
porque não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
mas eu não me incomodei
porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres, mas como
não sou religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
e quando percebi,
já era tarde.

Bertolt Brecht



Glosa
Primeiro combati os fascistas
porque eram eles o inimigo
e o combate era comigo.

Em seguida combati os socialistas
porque eles eram também da reacção
e eu só quero a liberdade.

Depois liquidei uns camaradas do Partido
essa corja de traidores e revisionistas
porque nós só queremos a verdade.

Logo a seguir combati os outros todos
à direita, ao centro, à esquerda
e ficou no mundo apenas um.

Agora sei que tinha razão
e com toda a justiça dialética
fiquei sozinho no paraíso.

Dodo

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17/08/03

Procura marido? Mas porquê, coitadinha? Ké kasá? Mas, mas, mas, mas...


Deve ser um dos casos de maior "sucesso"(*) da blogosfera e já há muito que tinha a pergunta entalada, salvo seja: mas que raio de ideia é essa de "procurar" marido? Também espera levar uma martelada na cabeça? Gostaria que lhe caisse um autocarro em cima? Tem esperança de que um dia a sorte lhe sorria e lhe nasça um belo tumor no cérebro? Adora quando lhe fazem colonoscopia? E riscos na viatura, dá-lhe gozo?

Ainda por cima, não é caso único, o desta senhora mai-la sua ideia peregrina; veja-se a maluqueira, canudo, também há o desejo casar, com não apenas um bloguista solitário, mas uma molhada deles, uns dez, e com uma rapariga pelo meio. Nem assim. Que horror. Casar? Casar? Repito: casar???

Bom, pensando melhor, compreende-se o "sucesso"(*): são uns brincalhões mas sabem-na toda, estes que se dizem "abertos" a casar, ora pois, entendi-te, claro, vejam bem, é uma coisa tão estranha que vai lá tudo ver. É isso, não é? Só pode. Truquezinho de psicologia de massas, é o que é.

Pois. Uma pessoa pode abordar um perfeito desconhecido, no meio da rua, e dizer "olhe, desculpe, o senhor dá-me lume", mas já não é lá muito normal a gente chegar-se a qualquer um e pedir convictamente "olhe, desculpe, o senhor não se importa de me dar um murro no focinho, fáxavor".

Portanto, se bem que não seja grande novidade, aqui fica a receita infalível para blogs de "sucesso": a coisa está toda no título, que deve ser "simple, blunt, striking" (SBS). O conteúdo é o que menos importa desde que se tenha um bom título; por exemplo "adoro Masoch", ora aí está um giro; ou "Coprofilia", dentro do género; "Heil Hitler"? Hmmm, que tal?

Por alguma razão os blogs portugueses de melhor conteúdo têm nomes sem grande significado (o Aviz, por exemplo).


(*) - blog de sucesso: milhares de visitantes, citações na imprensa, lista de links bem comprida, alta cotação na blogshares, centenas de comentários a cada "post"

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12/08/03

Roçar mato


Meus caros (3) leitores, como toda a gente vai debitando seus avisados palpites sobre o assunto, pois eu também quero. Lá vai palpite sobre o fogo, os fogos, Portugal a arder, etc.

Aquilo que me encanita e me apresso portanto a comunicar-vos, a todos os três, é a respeito de uma das causas mais referidas como explicação, ou causa, dos incêndios florestais: a "limpeza" das matas. Todo o bicho careta, desde o simples "popular" entrevistado pelo repórter no local ao ministro mais pintado, em ilustre mesa-redonda, toda a gente enfim "acha" que o problema é que os bosques e pinhais não ardiam se estivessem "limpos", isto é, sem "mato"; se bem entendi, tratar-se-ia então de pôr uma quantas pessoas a roçar mato, de Outubro a Maio, por forma a que, no Verão, o fogo não, digamos, hmmm, portanto, a bem dizer, ardesse; recompondo a frase, a ver se a gente se entende: a mata sem mato não arde. Espantoso. Estou varado, por assim dizer.

Portugal tem (tinha, até há uns dias) uma das maiores áreas de floresta, em percentagem, de toda a Europa: 8,9 milhões de hectares de terrenos vocacionados, dos quais 3,3 estão (estavam) efectivamente florestados.

Façamos umas continhas de cabeça, começando pelos números básicos: hectare é o mesmo que 10.000 metros quadrados, ou um quadrado com 100 metros de lado; para facilitar, e como se costuma dizer, é sensivelmente equivalente ao relvado de um campo de futebol (120X80); portanto, a área florestal a "limpar", segundo os iluminados ministros e populares, seria qualquer coisa como 3,3 milhões de campos de futebol. Escusado será dizer que a floresta não é plana e lisa como os relvados da Luz ou de Alvalade; mas isto é detalhe. Temos, portanto, 3,3 milhões de hectares (que poderão ir a 8,9) para "limpar", todos os anos, durante 240 dias - evidentemente, incluindo Sábados, Domingos, dias feriados, "pontes" e outras artistices nacionais. Ora, isto dá 13.750 hectares (campos de futebol) por dia; a oito horas de trabalho por dia, isso é que era bom, mas enfim, teríamos então 1.718 campos por hora. Quantos metros quadrados de mato consegue um ser-humano roçar, por hora? 50? 100? Vale a pena continuar?

Não, não vale, até porque isto é uma falsa questão. Que se faça isso nas imediações das habitações, nas bermas das estradas, etc., claro, encantados; muitas vezes, o fogo chega a edifícios e infraestruturas precisamente porque as imediações estão, aí sim, "sujas". Mas esta "sujidade" é diferente, os motivos são diferentes, e diferentes são os meios necessários para a "limpeza". Na floresta, o mato faz parte do ecossistema: restolho, caruma, rebentos, caniços, flores, frutos, árvores mortas, galhos caídos, tudo é ou virá a ser matéria em decomposição que irá alimentar a própria floresta; caso se removesse toda essa matéria orgânica, como poderia a floresta sobreviver?

A Amazónia, por exemplo, foi alguma vez "limpa"? Alguém até hoje se lembrou de roçar todo o mato de qualquer floresta, seja ela "virgem", natural, ou de plantação humana, mesmo as de exploração industrial?

O argumento de que o fogo se propaga através do mato rasteiro, o que é rigorosamente verdade mas apenas meia-verdade, não vinga, pura e simplesmente; mesmo sabendo que existem diversos tipos de exploração florestal, é óbvio que os grandes incêndios florestais se propagam também de árvore para árvore, seja pelas copas seja pelo simples aumento da temperatura nas imediações do foco; o vento encarrega-se de propagar o fogo a grande velocidade, com mato ou sem mato.

Os húngaros, que também têm árvores lá no país deles, inventaram uma máquina de extinção de incêndios muito engenhosa: tiraram a torre a velhos tanques de guerra e montaram-lhes em cima uma turbina de avião a jacto; esta espécie de tanque a jacto, telecomandado, aproxima-se da frente do fogo e, ligando o jacto na potência máxima, apaga-o com o sopro fabuloso. Mistura de T34 e Mig19, esta máquina de paz feita de despojos de guerra já deu provas mais do que suficientes: funciona, que é o que interessa. E, além disso, recicla material de sucata.

Já os americanos e canadianos, por exemplo, adoptam diversas estratégias, em função de cada tipo de incêndio. No caso dos grandes fogos florestais, juntam diversos especialistas, de múltiplos ramos e, com a ajuda de instrumentos, calculam onde devem começar a cavar; usam retroescavadoras e arrasam tudo no perímetro calculado, isolando o fogo; fazem um anel de vazio, espécie de terra-de-ninguém a toda a volta, e dali o fogo não passa.

Em Portugal, dá-se mangueirada nas labaredas e atiram-se uns baldes de água para cima do fogo. Calda retardante, pelos vistos, não temos. Os aviões e helicópteros despejam uns litros, mais ou menos no sítio que está a arder, e vão dali reabastecer a 300 km.

Em Portugal, a boa vontade e o esforço dos bombeiros não chegam para muita coisa. Em Espanha, que ainda é aqui ao lado, arderam 10% da nossa área queimada; num país que, mesmo não sendo tão relativamente florestado, é absolutamente 546% maior.

Em Portugal, estão mais de 20.000 soldados nos quartéis, atentos à muito provável invasão de melgas e mosquitos.

Pronto. Era isto. Obrigado pela paciência, amiguinhos.

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09/08/03

Ego.com


Se Groucho Marx estivesse entre nós, imagino que ele abriria uma excepção ao seu desprezo por clubes que lhe aceitassem como sócio. Groucho poderia ser sócio fundador do MSB, o Movimento dos Sem-Blog. O MSB ainda não foi fundado mas é apenas uma questão de tempo. Afinal, ainda há vida inteligente fora da blogosfera.

Na noite passada, comecei a fazer uma lista mental das experiências que não tive. Não li Ulisses. So li o primeiro canto dos Lusíadas na escola secundária e não sou mais capaz de ir além da Taprobana, se me pedirem para citar de cor. Não visitei as ruínas de Petra nem assisti a uma montagem da Flauta Mágica. Nunca aprendi a me equilibrar de rollerskate. Além disso, nunca nadei em pelo nas águas de Fernando de Noronha. E, o que é pior, ainda não fui tirada para dançar pelo professor da gafieira Estudantina, na Lapa.

Como se vê, a vida está a passar ao largo e, logo, não terei nem memória para me lembrar do que não fiz. A lista é interminável e pode me levar à melancolia crónica. E, enquanto tento me consolar com a brevidade da existência, sou objecto de uma ofensiva de alistamento para acessar web logs, ou blogs. O blog vai extinguir a profissão de psicoterapeuta. Onde mais pode-se deitar ruminações, associações livres, projectar neuroses, atacar inimigos, sem a menor censura? O blog eliminou o conflito edipiano, já que o blogger conseguiu assassinar o pai/editor e imagina que consumou sua relação com o leitor/ mãe inesgotável. Aliás, a frase anterior é digna das sandices que tenho encontrado em blogs. O blog tornou-se o trenzinho eléctrico do ego. É um brinquedo elaborado, auto-indulgente e interessa acima de tudo a quem aperta os botões ou batuca o teclado numa incontinência verbal sem precedente. Assim como os couch potatos obesos que povoam as salas de estar contemporâneas são consumidores vicários do narcisismo alheio pela TV, os blogaditos (dependentes de acessar blogs) contribuem para este estado lamentável das coisas. E não me acusem de retrógrada. Tenho argumentos.

Numa festa, um velho amigo queixou-se de que não temos tempo de nos encontrar. Concordei e combinámos, entusiasmados, em promover uma noite bi-polar (depressão seguida de euforia), já que estou de posse de cópias novas em DVD de Morangos Silvestres (Bergman) e Duck Soup (Irmãos Marx). O meu amigo é um raro crítico de arte e comentarista cultural publicado regularmente nos principais jornais americanos. Escrevi-lhe um e-mail para marcar o dia do programa porque gostaria de temperar o atum na véspera. Acabo de receber, não uma resposta, mas um e-mail colectivo, anunciando que a estreia do blog dele foi um sucesso, com não sei quantos hits e, por favor, não deixem de recomendar aos outros. Nenhuma menção ao atum ou à minha companhia. E, quando ele vier, porque os homens, mais do que os peixes, morrem pela boca, vai falar do blog sem notar que a gravura do Fairfield Porter ficou melhor na sala de jantar, ao lado da samambaia.

O blog sancionou a tentação confessional e promoveu uma estranha imodéstia entre pessoas inteligentes. Em meio a citações de Auden ou Kierkegaard, os bloggers servem-nos suas angústias e dores de cotovelo. As quatro paredes que protegiam a intimidade já haviam sido erodidas pelos talk shows e Big Brothers. Descubro que comentários meus foram atribuídos de maneira velada ou explícita em blogs. Será que vou ter que alertar amigos nas conversas de que o que eu faço ou digo é «off-blog»? No momento, além de promover o MSB, já criei o meu anti-blog. Quem acessar o lúciaguimarães.com não vai encontrar nada. Apenas o silêncio gráfico do protesto porque a vida é curta, o sublime é raro e os filés de atum não devem passar mais de três dias na geladeira.

Lúcia Guimarães, Diário de Notícias

mesmo assim, escrito em brasileirês, onde é que assino por baixo?

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