Odi profanum vulgus et arceo

31/03/04

A contabilidade afectiva é o mais triste e o mais redutor dos sinais da efectiva dimensão do que une duas pessoas.(#)

Pérolas, verdadeiras e de cultura, em Galatea. Sem contador. E, por fim, uma página graficamente perfeita, belíssima.

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quem foi pra portugal perdeu lugar


É o título de um blog brasileiro.
Candidato único a grande ideia do século (XXI), melhor frase do ano, mais profundo mistério da lusofonia e Óscar da blogofonia.
Já ganhou todos esses prémios, caro Mambo.
Parabéns.

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30/03/04

Shukov adormeceu completamente satisfeito, feliz. Fora bafejado por vários golpes de sorte durante aquele dia: não o tinham posto no xadrez; não tinham mandado a brigada para o Centro; tinha surripiado uma tigela de kasha ao almoço; o chefe de brigada fixara bem as rações; tinha construído uma parede e tirara prazer do seu trabalho; arranjara aquele pedaço de metal e tinha conseguido passá-lo; recebera qualquer coisa de Tsezar, à noite; tinha comprado o tabaco. E não caíra doente.
Um dia sem uma nuvem carregada, sombria. Quase um dia feliz.

Contava já no seu activo três mil seiscentos e cinquenta e três dias como este. Desde o primeiro até ao último toque na barra de carril.
Os três dias suplementares pertenciam a anos bissextos.


É assim que termina Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, de Aleksandr I. Solzhenitsyn (prémio Nobel 1970)

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Ensaio sobre a estupidez


Já naquele sobre a cegueira fiquei a meio, salvo seja. Não entendi patavina, devo confessar, mas imagino que seja alguma lacuna minha. Ler este novo e putativo "best-seller" está, obviamente, fora de causa. O autor é um bom autor, como diria nosso Diácono, mas seria talvez elegante não abusar da nossa paciência, cruzes, credo, o homem passou-se de vez, as editoras também, quanto não vale, enfim, ter nome feito nos escaparates e assim escapar a qualquer juízo, qualquer crítica, nem uma vírgula, nada.
Posto no altar editorial, à direita de seu Lenine e à esquerda do bom ladrão, Saramago é hoje aquilo que diz sempre ter combatido: sagrado, abençoado, idolatrado, intocável. A vaca sagrada das letras, absolutamente inimputável, sem réstia de responsabilidade; diz o que lhe apetece, quando lhe dá na real gana; debita vulgaridades como quem perora salmos e verdades inspiradas pelo além; diz coisas que a História há muito se encarregou de absolutamente destruir, coisas que apenas existiram na cabeça de meia-dúzia de facínoras, alguns bem intencionados mas ainda assim facínoras, patranhas que levaram ao extermínio de milhões de seres-humanos. Sem depois disso haver uma Nuremberga para os responsáveis ainda vivos; sem que houvesse vingança ou retaliação por parte do inimigo capitalista; sem que os sobreviventes dos povos escravizados e exterminados, ao longo de 72 anos, pendurassem esses criminosos pelos pés, os esfolassem e esquartejassem na praça pública.
Toda a gente sabe hoje que os amanhãs afinal não cantavam coisa nenhuma, a não ser marchas fúnebres, ou nem isso, que os amanhãs que cantavam afinal são hoje, e que hoje não resta nada para além do dinheiro, esse demo do bel-pensamento marxista.
O Muro caiu em 1989, todas as "pátrias socialistas" desapareceram, a começar pelo centro do Império, a pátria do "paizinho dos povos", esse notável benemérito, e não resta hoje rigorosamente nada dessas paradisíacas "sociedades sem classes"; os explorados e os exploradores são cada vez mais, e os primeiros apenas desejam passar à categoria dos segundos. Não sobra já um único laivo de "solidariedade social", de "liberdade, igualdade e fraternidade", ou de qualquer outro "valor" ressumado da revolução francesa. O indivíduo triunfou em toda a linha sobre o colectivo que nunca existiu. As utopias esfumaram-se todas, de Wall Street a Singapura, agora é outra vez cada um por si, e sem um mínimo de pudor.
Seria talvez natural que não restasse agora um único desses iluminados que prometeram o Eden terráqueo e produziram apenas o inferno em vida. Mas não, é realmente verdade que não se pode obrigar ninguém a ver, quando a cegueira é voluntária ou, pior, quando não ver é um acto voluntarioso, e assim cada vez há mais, parece que se levantam do chão e que estão em plena pujança renascentista, estes arautos da sociedade perfeita, estes camaradas d'O Partido. Após um período de muito provável e prudentíssima reflexão, hei-los que regressam, com o discurso igualitário igualzinho, com a mesma admiração pelas coisas do "povo" e com a mesma preocupação fundamental pelos interesses desse tal povo, ao que dizem.
Depois do memorial ou, não exageremos, de todos os números, Saramago deveria ter recolhido a Lanzarote com a esposa. Ficaria certamente, e por algum direito próprio, na galeria restrita dos autores universais.
Mas qual quê, lá vem ele despejando mais e mais da sua propaganda comunista, e é entrevista à esquerda e discurso à direita, e conferências sobre o novo livrinho, e análises meticulosas dos "críticos" literários (aos quais não convém nada criticar os consagrados sagrados, para não deixarem de ser "críticos" literários). O diabo a quatro e nada de obra, já não precisa, agora é fazer render o peixe, basta assinar por baixo qualquer rabisco num guardanapo de papel para esse guardanapo ser colocado à venda nas livrarias.
O homem há-de morrer agarrado às suas convicções e nem no dia do juízo final admitirá que essas mesmas convicções constituíram o mais hediondo embuste de toda a História. E muito menos reconhecerá que é tão responsável pelas "ideias" que veicula como pelas consequências que delas advieram, advêm e advirão. Naturalmente, como é costume com os entronizados, esta cegueira acabará por ser elogiada, à conta de "coerência", a obtusidade será revista como "coragem", a estupidez recordada como lucidez.
Não, definitivamente não vou ler. Ou, por outra, vou sim.

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18/03/04

Certo


O Presidente da República é uma figura política meramente decorativa, certo?
Votar ou não votar nesta coisada presidencial é rigorosamente indiferente, certo?
Seja qual for o inquilino do palácio de Belém, com aluguer por quatro (ou cinco?) anos, é totalmente igual ao litro, certo?

Mas enfim, a coisa é séria. Parece que o Cavaco pretende candidatar-se à casa agora com escritos, lá em Belém. Ora, isto é grave. Tudo menos Cavaco. Seja o que for, mas Cavaco nunca. Snoopy à Presidência, digamos, ora aí está uma alternativa credível. Todos os portugueses devem estar conscientes do perigo que se avizinha: Cavaco Silva é um labrego execrável, um ser-humano sem maneiras, um burgesso, cretino, boçal, idiota, oco, mesmo para Presidente. Pouco recomendável, em suma, para representar o papel de figurante inerente à função. A única coisa para que serve um Presidente da República Portuguesa é para não parecer mal, é não dar bandeira, como dizem os brasileiros, é saber posar para a fotografia e comportar-se como um cavalheiro nas cerimónias e no salão.

Cavaco Silva é a alma gémea de Luís Pereira de Sousa, é Júlio Isidro na mais alta magistratura, é a Manuela Moura Guedes em figura pública ou, horror dos horrores, perdoe-se-me a deprimente comparação, Cavaco é um Gabriel Alves mediático. Iachh! Ptuimmm! Que nojo.

Imaginemos nosso primeiro senhor em pleno palácio de Buckingham, por exemplo. É fatal que isso aconteça a qualquer Presidente, mais tarde ou mais cedo lá terá de ir sorver o seu cházinho ao pé da Tia Isabel. Agora imagine-se que a coisa não é em privado, como de resto manda o protocolo, e temos, sei lá, banquete de Estado, com a Rainha brit e mais umas centenas de ilustres conviados. Cavaco ao lado de Mandela, por exemplo, com o Presidente do Uzbequistão à esquerda. Imaginemos a hora de ser servido o "consommé". Os sorvos presidenciais devem ser audíveis no extremo oposto da mesa real, ou, sem grande esforço, para além das vetustas paredes basálticas do honorável palácio. Os aristocráticos pavões e garças reais fugirão, pela certa, espavoridos, com o tremendo cagaçal que S. Exa. produz no acto da deglutição. Cavaco não come, alarva; Cavaco não bebe, emborca. Cavaco é um suíno de alta escola, treinado para refocilar na gamela, mestre na arte de enojar os circunstantes. Um reco bípede, circunstancial e confusamente candidato ao mais alto e irrelevante cargo da nação.

Não hás-de ter o meu voto, camaradinha, te garanto. Prefiro o Santana, de longe, prefiro a vacuidade elegante, prefiro até o Guterres, prefiro, é incomparavelmente melhor um Presidente cobarde do que um Presidente sem olhos e sem carácter e sem educação.

É natural, de resto, que a esmagadora maioria dos portugueses não se aperceba dos vexames que tal figura pode acarretar; essa maioria esmagadora come e fala da mesma forma, escarra com a mesma virilidade para o chão, arrota profundamente e alivia os intestinos com parcimónia, mastiga como um varrasco esfomeado, assoa-se ruidosamente e investiga o resultado no lenço, examina criteriosamente os vestígios no papel higiénico, atira as cascas de pevides para o chão e "sandes" meio comidas pela janela da viatura; Cavaco é o paradigma português da música aos berros, dos meus direitos exclusivos, do vira virou; é chunga, é pimba, é o Mánuéu dos brasileiros, padeiro e vigarista, burro como um cepo; Cavaco é a Maria de bigode que abre as pernas em plena rua para mijar no chão. Cavaco é o estigma nacional da mediocridade triunfante, da estupidez promovida, da ignorância como valor fundamental e razão única de vida.

Eis mais uma ilustração daquilo que é a chamada democracia: uma maioria de matarroanos vai eleger um dos seus para nos representar a todos. Portanto, o meu voto contra não vai servir de nada. Logo, esse malcriado vai passar quatro (ou cinco) anos a envergonhar-me. Coisa que o nosso actual, Sampaio, nunca fez. Honra lhe seja feita.

A mulher de George Bush pai, Barbara, labrega assumida, beijou a mão ao marido da Rainha de Inglaterra, pondo o joelho em terra. Isto teve mais consequências políticas do que a ofensiva do Tet, umas décadas antes.

Cavaco Silva há-de um dia alarvar umas fatias de bolo-rei, outra vez, e em público. Isso vai ser absolutamente demolidor para a auto-estima nacional. A Pátria está em perigo, por causa das migalhas espalhadas e dos roncos pelas narinas. Tomem nota.

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Technorati, technorati meu. Existe alguém mais visitado do que eu?

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17/03/04

Um livro sobre blogues teria de apresentar necessariamente uma lista dos
melhores. Incluímos um guia onde optámos por incluir alguns dos blogs
representativos de cada categoria – assumindo a responsabilidade tanto
na escolha das categorias como na selecção dos blogues. Sabemos que
nos espera a crítica inflamada - característica da própria blogosfera – mas
desde já prevenimos que a lista não é definitiva nem sequer importante:
afinal basta mergulhar num dos endereços apresentados para poder dar a
volta a todos os blogues portugueses, e não só.
Este livro é também o encontro de dois amigos tornados blogueiros, e
foi escrito a dois teclados. Aqui e ali, apesar de se ter tentado a unidade,
as diferenças entre os autores surgem, mais de estilos do que opiniões,
mas estamos certos que isso enriqueceu o livro de forma significativa.


Este naco de prosa é do livrinho Blogs, de Paulo Querido e Luís Ene, recentemente vindo a lume.

A propósito, nunca tinha entendido a expressão ("vir a lume", entenda-se), mas agora a coisa é clara. Quando acontece isto a um livro, é porque o dito está prestes a ser queimado. Tenho cá para mim, que apenas tive acesso ao caridoso "excerto gratuito em PDF", a bizarra ideia de investir nele uma c'roas apenas pelo prazer de lhe chegar eu o fogo pessoalmente.

A julgar pela gratuitidade do excerto, e pela pinta do Português, deve dar uma bela chama, sim senhor. Não é fácil encontrar um arrazoado com tal concentração de asneiras e de erros gramaticais, sendo que, todos o sabemos, a primeira é altamente inflamável e a segunda muitíssimo combustível.

Mistérios linguísticos insondáveis, como o aportuguesamento saloio do termo básico em Inglês, ou rebuscamentos de redacção colegial, como "teria de apresentar necessariamente", seriam por si só motivo para auto-de-fé, em pleno Rossio ou na lareira de cada um. Se isto é assim pela amostra, teme-se o pior, imagine-se o paleio completo. Estes "dois amigos tornados blogueiros" terão por certo produzido obra pirotécnica asseada, suculenta, a calhar para a purificação, para a catarse da escrita, enfim, que digo eu, para a incineração. O voluntarismo que denotam e o tremendo "esforço" a que se dedicaram (imagina-se perfeitamente os rapazes a suar, mordendo o beiço, cheios de concentração) são, por conseguinte, motivo mais do que suficiente para que o homem da rua puxe os cordões à bolsa e contribua para a causa deles, que também são filhos de Deus, reservando para si o prazer da cerimónia.

Se, depois, não se sentir com coragem para acender o fósforo, ou se não tiver fósforos, por exemplo, deixe comigo. De nada, ora essa, eu é que agradeço.



O logo é giro.

Incluímos um guia onde optámos por incluir
mas desde já prevenimos
todos os blogues portugueses, e não só
Este livro foi escrito a dois teclados

Que rico. Que pariu.

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16/03/04

Com a devida vénia, mas também com muito cuidado


Segunda-feira, Março 15, 2004
Post engana-tolos


Eu podia ser bruxo! Disse eu no meu último post: sim também já sei que agora que falo nisto o mais provavel é que caia para 26º na próxima actualização. Estava a falar do Top 25 da Weblog, e adivinhei o que veio a acontecer logo a seguir! Mas não me conformo, e vou fazer uma batotinha, ou a por mim chamada: estratégia engana-tolos. Roubei a ideia ao Chris Geary, e esta não é mais que inserir no fundo do blogue (no meu caso do post) todas aquelas palavrinhas com mais procura nos motores de busca, escusado será dizer que têm todas a ver com sexo! Vou inseri-las em inglês e tudo, é mesmo para enganar tolos, e assim que o Google actualize o registo do renas caem aqui que nem tordos! straight boys pay for sex pay to strip naked being queca paid to strip off show your parts free access photography lick feel up felt play dick student students muscles fodas foder pritty sexy sex drop vagina the soap piça boyspycam boyspy spycam america west coast east coast wrestling wrestle speedos speedo spandex lycra bulge soap carallo up bend joder joder over bendover crack sweat wash dip sport dark room pila caralho caralhão darkroom orgy black white chineze sexo desenfreado asian jocks studs garanhão garanhões football tennis player polla sleep sleeping unawear unawere awear unawear cueca húmida doctor medical full body medical coño nurse www.sex.com gaydar testicals facgial cum shot shave seduced passarinha aberta straight boys broche mamada jocks men guys wank jack off jack-off cum spunk porno video photography photos secret spy fodilhão fodilhona suada camera hidden camera hidden barbie mil broches langonha meita fodido esperma video recorder pissa bedroom sofa couch putas puta mamas mama cona peida peido raboseatee bed voyager bed-room inspection live web cam group grope bulge speedo seduced boys guys gay locker pachacha room voyager gozar meninas tailandesas massagistas e sedentas por sexo violento spy camera punheta punhetas gay male cu cus quilhões tomates espanholada mamada changing room comunal communal showers shared showers public changing rooms public locker room public toliets private lockerooms collective joint change undress underwear boys men naked voyager camera spy on you aspen gay ski week altitude out on the slopes circuit partys circuit party list boyspycam.com bath ponies pony horses Seleccione o texto anterior com o rato por sua própria conta e risco. Só palavrões por lá, fica já avisado... Há mesmo gente capaz de tudo para subir nos tops. Oh mundo miserável este da blogosfera, irra!

renas e veados

As palavrinhas para buscar na Google estão, no post original, pudicamente formatadas a branco, por forma a não serem directamente legíveis. Não percebi. Bem sei que um blog é uma casa de respeito mas, ainda assim, caramba, bolas, etc., que coisa.
Quem escreveu isto, que nem está nada mal visto, esqueceu-se de completar a receita para o pleno acesso, salvo seja: muita carga de "refresh" e, especialmente, o linkezinho da ordem ao Abrupto. Uma dúvida, porém: what a fuck is "grope bulge"?

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15/03/04



O dom da vida


A vida é uma oportunidade
Aproveita-a.
A vida é uma beleza
Admira-a.
A vida é um dom
Aprecia-o.
A vida é um sonho
Realiza-o.
A vida é um desafio
Aceita-o.
A vida é um dever
Assume-o.
A vida é um jogo
Joga-o.
A vida é cara
Preserva-a.
A vida é um tesouro
Conserva-o.
A vida é um Amor
Saboreia-o.
A vida é um mistério
Aprofunda-o.
A vida é uma promessa
Cumpre-a.
A vida é uma tristeza
Ultrapassa-a.
A vida é uma luta
Trava-a.
A vida é forte
Merece-a.
A vida é preciosa
Não a destruas.
A vida é vida
Luta por ela!

A.J, nº 8 - 12º J
10.03.97





Eu, A. S. J., aluna da Escola Secundária ********* ****** *******, nº 8 da turma J - 12º ano, declaro serem de minha autoria os trabalhos entregues para publicação, no âmbito da disciplina de "********* ** ************* ** *************".
(assinatura ilegível)



O poema é da autoria de Inês Gonxha Bojaxhiu, mais conhecida por Madre Teresa de Calcutá.
O livro foi publicado. Uns anos depois, numa sala de espera, li estas palavras, extraordinárias e conhecidas, num cartaz colado na parede.
Foi então que jurei nunca mais ensinar.

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09/03/04



Dear user, the management of Netcabo.pt mailing system wants to let you know that,

Our main mailing server will be temporary unavaible for next two days,
to continue receiving mail in these days you have to configure our free
auto-forwarding service.

For details see the attach.

For security reasons attached file is password protected. The password is "41201".

Sincerely,
...The Netcabo.pt team................................http://www.netcabo.pt



O agente 001, sempre na vanguarda e sem deixar passar nada, avisa os senhores navegantes de que esta mensagem é falsa e contém um vírus (W32.Beagle.J@mm). Apagar imediatamente.

É claro, o email não é enviado pela Netcabo coisa nenhuma. Acontece que esta mastodôntica empresa ainda não se lembrou de colocar o mais diminuto dos alertas, lá na chafarica deles, nem de escrever um mailzito aos clientes. Tinha de ser eu, 001, executivo ao dispor de vocências.

Ora aqui está uma boa definição de "iniciativa privada".

Tócóhino!

(para os milhares de visitantes brasileiros: é favor não confundir iniciativa privada com iniciativa na privada)



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05/03/04

Aqui bóbi


Acabo de me emocionar e, devo confessar, quase até às lágrimas.
Noticia o Telejornal da RTP1 que certa senhora faleceu, deixando uma caterva de cães ao abandono. Parece que a casa vai ter de ser devolvida ao senhorio e, por conseguinte, os canídeos não terão onde ficar, o que é absolutamente inadmissível nos tempos que vão correndo. Os animais têm sobrevivido graças à caridade da vizinhança, umas três ou quatro senhoras que ali vão todos os dias fazer as honras: levam "whiskas" coloridas, arrozinho cozido, carne cortada em carinhosos pedacinhos, frango assado e outras vitualhas apropriadas àqueles estômagos sensíveis.
Uma daquelas boas almas foi gravada enquanto segurava o telemóvel e, entre soluços, largava impropérios contra a "situação", que parece sofrer um dos cães de qualquer problema oftalmológico, e que outro necessita de "tratamento médico" urgente, e que a situação "é desesperada".
Talvez inspirado pelo hino nacional, que neste momento escuto na mesmíssima RTP, sinto saltar-me o coração para fora do peito. É da emoção, como diz Naide Gomes, nossa mais recente laureada e que andará pelas estranjas completamente a Leste dos negócios pátrios, presume-se.
Isto dos cães e da solidariedade, ao som do hino, faz-me recordar outros momentos de relevo na nossa história, as vitórias do Carlos Lopes e da Fernanda Ribeiro, as sagas do Gama ou do Mendes Pinto, nossos Eusébio e Saramago, nossas Amália e Agustina, enfim, que sei eu, a gente às vezes enche-se de orgulho, é o que é.
Diz que a tal senhora donas dos cachorros "morreu como viveu, ou seja, pobre" (lapidar, excelente frase) e que dava "tudo o que tinha aos animais". As bezinhas não contêm, por um lado, a indignação e, por outro lado, a emoção e a vontade de bem fazer.
Ora, de facto, realmente, sejamos sérios. Isto é inadmissível mesmo. Não há direito de desalojar assim aqueles filhos de Deus da sua casinha; mas onde já chegámos? Para mais, um deles carece de tratamento médico!
Faz perfeitamente a senhora que soluçava ao telemóvel; eu cá a mim ía-me dando uma coisa, só de ver, e, posteriormente, imaginar, o sofrimento que para ali vai.
Haja respeito e decoro.

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03/03/04

Isto pega-se...


... sabias?
Já não és só tu a monologar comigo. Só para te dizer que, ou muito te enganas, ou o Lobo Antunes não escreve exactamente como dizes. Isso é mais Redacções Luís Guidinha Stau Monteiro o tal e a tal das trancinhas que não usava nunca pontuação e agora até já se me varreu se o homem tinha um T ou dois tês lá no apelido mas isso agora não interessa nem à vizinha do terceiro esquerdo essa coscuvilheira que vive com um careca e um papagaio que chama ó da guarda todo o santo dia e não querem lá saber aqui há dias foi uma confusão por causa disso a polícia veio mesmo deve ter sido a bruxa da porteira quem chamou e quem quiser que os entenda eu não os entendo.

Ora, dizia que? Ah, sim, ou muito te enganas ou o futuro laureado não escreve assim. O futuro laureado escreve
assim
faz uns parágrafos estranhos, mas com
vírgulas e tudo e
o resto da artilharia pontual, mas sempre, sempre, sempre, com uma insuportável aura
de
génio
ou o diabo que o carregue.
Principalmente, treco lareco, ia o herói da história, a páginas 34, fumando seu cigarro pela noite fora
e tal e tal e tal
e de repente saltemos umas
páginazitas
e na 42, oito depois, portanto, o mesmo homenzinho apaga o cachimbo na sola do sapato
e já era
hora de almoço.
Coisas assim. Que maravilha. Que brilhantismo.
Hmm? Ah, pois. Foda-se, caralho, porra.
Faltava a pincelada naturalista pós-moderna.

No que foste tu falar, este meu ódio de estimação é meu, todo meu, fazes o favor de ir malhar noutro imbecil qualquer, a este só eu chego, salvo seja; devo ter sido a primeiro utilizador de livros deste país a ler toda a cangalhada que o senhor escreveu, de fio a pavio, babando de gozo masoquista, tal era o sofrimento que me infligia aquela verborreia paragráfica. Ao celebérimo Lobo Antunes devo, quase por inteiro, toda a minha aprendizagem sobre a escrita latrinária, como dizia o velho Alencar.

E foste logo citar um escatologista militante, tu, que detestas o vernáculo, a conversa de tasca, e a badalhoquice em geral, por assim dizer. Nosso Antunes adora a bela bojarda, de puta que pariu para cima, e muita merda, e porra, e foda-se, seus cabrões, e etc., desculparás, mas isto é citação, e de suposto literato, consagrado autor, impoluta e artística, por conseguinte. No que foste tu falar, repito, e desculpa também a tatofonia, caramba, se me visses agora, aqui a espumar de raiva enquanto martelo no teclado, tuc, tuc, tuc, aquelas letras a passarem-me pela vista, os cus de judas, a explicação dos pássaros, a morte de Carlos Gardel, meu Deus, que ódio, perdoai-me por não saber perdoar a quem escreve como uma máquina de encher chouriços.

Sabes perfeitamente que adoro os livros, muito para além dos livros: o livro como objecto em si, o volume, o peso, a leveza, o cheiro, a capa, o toque. O livro é a alquimia suprema, a magia da criação máxima no espaço mínimo. Não me consigo imaginar a ler sem luvas mentais, com extremo cuidado, reverência, respeito. Pois bem, às publicações da criatura fiz coisas proibidas, inacreditáveis agora, risquei, anotei, insultei, dobrei e mesmo rasguei os cantos às folhas, marquei asteriscos nas incongruências mais evidentes, sublinhei as frases mais cretinas, risquei parágrafos inteiros, desenhei coisas semelhantes a manguitos nas margens, enfim, escavaquei aqueles volumes o mais que pude.

Os livrinhos de Lobo Antunes são manuais de mal escrever toda a sela, enciclopédias da mediocridade triunfante, breviários de literatice bacoca. Cadernos de papel pautado já usados.

Ainda há dias o vi na televisão, arrastando pelas patas a sua aura de tremendo frete em se contar no mundo dos vivos, com um arzinho tão, mas tão "blasé", mas tão maçado, que me imaginei a fazer duas coisas: uma era a ser eu o entrevistador e desmanchar-me a rir em plena tromba do senhor, sem conseguir articular palavra; outra era a atirar-lhe com uns ovos podres, ou com este cinzeiro de granito.

Enfim. Mas de que diabo te havias de lembrar, mulher.

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01/03/04

"A MINHA INDIGNIDADE NÃO É CONTRA O ÁRBITRO..."

... disse o inefável Adelino Ferreira Torres, ou lá como se chama. E isto apareceu(-me) citado numa paginazinha cá do blogbairro. Pois bem, o blogger que publicou a coisa não se apercebeu - como, certamente, 99% dos portugueses - da calinada tremenda que aquilo é. A frase lapidar chamou-me a atenção, confesso, e comecei a ler o postzito já de sorrisinho artilhado. Nada. Moita. E que o homem é assim e assado, e coisa e tal. Sobre a indignidade, népia, nem uma palavra.
Este deve ser professor, provavelmente de Português.
Ora, isto provoca ritação (evidentemente, se "i" é prefixo de negação, ritação é muito mais forte do que irritação) e acho desindecente (idem, idem) que se pita (aspas, aspas, para o prefixo "re") uma eivosia ("al" deve ser prefixo de alguma coisa, com certeza) passar assim impunida. No fundo, isto de prefixos e sufixos é uma grande trapalhada que não interessa nem ao careca. Sinhôzinho Malta é que a sabia toda, claro, com aquela verbalosidade tão característicada. Porque, no fundo, no fundo, essa malta das linguísticas o que quer é chatear, que raio, e paulada por riba dos lombos, pois, se nacionalidade está bem, também vale nação (qual é a tua nação?), probidade e proibição, para quê, ora bolas, então não é tudo a mesma coisa, claridade e acareação, infantilidade e criação, irra, que é tudo igual, não compliquemos.

A indignidade do senhor não tem nada a ver com o árbitro, não, nisso não mentiu; aliás, ele deve ter proferido estas plavras em completo estado de alteracização mental, sem grande comedição terminological. Eu cá, no lugar do Adelino, era bem capaz de me indignacionar também.
Já não se respeitaliza ninguém, neste país de retardamentos mentalicionais.

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