Partido Abstencionista
Por mais asterisco para todos
Manifesto eleitoral
Portugueses:
No próximo dia 20, Domingo, os Portugueses vão mais uma vez ser chamados às urnas para, através do seu voto, escolherem o novo Governo. Mais do mesmo, como todos sabemos, mas, ainda assim, tratando-se de um ritual absolutamente inócuo e de resultados completamente indiferentes, seria conveniente que, a bem da Nação, o Povo português e demais pessoas conhecessem aquilo que realmente está em causa. Desta como das outras vezes, e como será em futuras ocasiões - não duvidemos - apenas o nosso Partido sairá vencedor. É esse o facto político e a única, grande, transparente verdade que todos os outros Partidos tentam escamotear.
De facto, o Partido Abstencionista (P.A.) ganhou todas as eleições desde o 25 de Abril, por larguíssima e sempre crescente margem; isto, claro, descontando a primeira ida às urnas após a abrilada, para a debutante Assembléia Constituinte, nos idos de 75; naquela altura era novidade, e por isso não houve cão nem gato que não quisesse experimentar a coisa, a ver se funcionava. Não funcionou, escusado será dizer. Durou muito pouco tempo essa bela ilusão de que a Democracia funciona e, rapidamente, o nosso glorioso P.A. se transformou no maior Partido nacional, vencedor antecipado de qualquer sufrágio, não apenas em Portugal mas, de resto, convenhamos, em qualquer país minimamente civilizado.
As propostas do P.A. não mudaram nem mudarão nunca, e por isso sabemos que venceremos de novo. Queremos o mesmo de sempre, de uma forma liminar e simples, acessível a qualquer cidadão, por mais ignorante e mal formado que seja. A linha política do P.A. resume-se ao próprio "jingle" do Partido e consubstancia-se no nosso símbolo: queremos mais asterisco para todos, eis tudo.
O que significa, desenvolvendo um pouco essa linha geral:
- mais asterisco para o Povo e para as pessoas em geral
- asterisco na estrutura do Estado, com asterisco nas relações deste com os cidadãos
- sistemas de Ensino, judicial e de saúde com asterisco e mais asteristicamente articulados
- um Executivo controlado por mecanismos de asterisco eficazes
- redução progressiva de asterisco nas camadas mais asteriscas da população, e vice-versa
- distribuição equitativa do asterisco nacional, através de um sistema mais asterisco e asterístico
Meia-dúzia de linhas orientadoras da acção política, apenas 6, por conseguinte, mas que resumem tudo aquilo a que nós, os abstencionistas, aspiramos com todo o fervor. Quando não vamos às urnas e, assim, contribuímos para tornar o Partido cada vez maior, sabemos bem ao que não vamos. O abstencionista não quer saber para nada dos problemas intestinos dos outros Partidos, e muito pouco ou nada lhe importa que grupo vai mais uma vez fingir que ganhou, ou qual o fabiano que, em concreto, ocupará o mais alto tacho da nação.
Bem sabemos, nós outros, que o lema desta campanha e de todos os candidatos - agora como antes, repetido até à náusea - é o mais evidente fartar vilanagem. As eleições são meros concursos de acesso à função pública, decorrendo ao longo de 15 dias, com uma classificação final atribuída em função do número de mentiras propaladas, do número de quilómetros percorridos, do número de beijinhos em peixeiras, em criancinhas e em "populares", além de outros números.
O verdadeiro abstencionista, militante por inerência e por condição, marimba-se altamente para a fantochada eleitoral, vai à praia, ao cinema, ao café, ou simplesmente fica em casa, de chinelas. Deixa olimpicamente correr o marfim porque, em plena consciência, sabe que já ganhou por antecipação, mesmo quando as eleições são antecipadas - como é agora o caso. Nós não queremos puxar o lustro às cadeiras e às esquinas de S. Bento. Queremos que os mais asteriscos se vão mas é catar, a problemática do asterisco não nos interessa nem isto, o que é tanto como nos importa outra problemática qualquer e que, em suma, se lixe o asterisco mai-los seus problemas.
Conhecida e reconhecida como é a nossa capacidade de desmobilização, activamente inertes como só nós sabemos ser, não fica aqui apelo algum a coisíssima nenhuma. Estamos certos, íntima e explicitamente, de que ganharemos depois de amanhã, outra vez, por cabazada, é mais certo do que dois e dois serem quatro, até chateia, e continuaremos portanto a ser o maior Partido português. Não é por isso necessário apelar a que não votem em nós, porque, evidentemente, vocês não o vão fazer.
Exacto. Obrigado.
Chacun pour soi.
Nota: onde se lê "asteris*****", leia-se aquilo que se quiser