Odi profanum vulgus et arceo

30/03/05

Ganda murcon


O Murcon agora tem contador de visitas. Pimba. Cai lá tudo: http://www.sitemeter.com/default.asp?action=stats&site=sm8JMachadoV&report=0.

Escutam-se os arrulhos nas imediações, mesmo do lado de fora da porta ou ao fundo da rua, vai por ali um coro de miadelas e ganidos, uma coisa de partir o coração. O blogbairro tem agora ao dispor seu psi, grátis e online, um sexólogo Moviflor, na cirúrgica, excelente, brilhante expressão da nossa vizinha Zazie.

Confesso que gostaria imenso de ter um dedo dos dois que o homem tem de testa mas, principalmente, não se me dava nada de conseguir ter apenas 10% daquela pinta de gajo porreiro. Só uma comissãozinha de porreirismo, e estaria eu muito bem na existência em geral, e de bem com a vida, em particular. A nosso JMV não faria a mais pequena diferença, porque iria conservar os restantes nove décimos de tipo baril, o que é barilismo até dizer chega. Não é o mesmo que doar um rim, e acarreta muito menos chatices do que doar sangue ou medula óssea. Bastaria, como método de transfusão, que o senhor me explicasse como diabo consegue ser tão irritantemente consensual, tão simpático e compostinho; como consegue passar toda a sua santa vida sem que nunca lhe aconteça a mínima merda; como consegue que nunca ninguém o insulte, ou sequer embirre consigo; morro de curiosidade de saber qual é a marca da laca mental que utiliza no quotidiano, que lhe dá esse aspecto sempre limpo e asseado, acima de qualquer suspeita ou simples inconveniente.

Ao fim e ao cabo, acho tremendamente egoista que alguém - tendo descoberto o segredo da existência - não partilhe os seus conhecimentos com os demais. Einstein, que também era considerado um pouco burro, nos tempos de escola, doou ao resto da humanidade aquilo que sabia sobre a relatividade. Que diabo, até o próprio Cavaco Silva faz questão de, quando em vez, destapar algumas das coisas que pensa sobre o futuro de Portugal, por exemplo. Não é normal que a um gajo apenas aconteçam coisas fixes, que ande sempre satisfeitinho da vida, que nunca tenha nem partido uma perna, nem sido encornado, não tenha nunca amaldiçoado a vida, a porca da política, ou, ao menos, a vaca da sogra, a porra do fecho que não abre, o sacana do puto que não se cala, o cabrão que acabou de ultrapassar pela direita.

É extremamente raro que a um ser-humano absolutamente nada incomode; quer-me parecer que este Vaz é bem capaz de ser exemplar único, o verdadeiro campeão da bonomia, bonacheirão dos quatro canais generalistas. Se um fulaninho qualquer, assim como eu, diz ou escreve coisas tão simples e vulgares como "caralho", e "cona", e "foda-se", não apenas é olimpicamente ignorado pela maioria como - esparsa e monotonamente - lhe desaba na cabeça um coro de protestos de cariz WASP, de porco, suíno e badalhoco para cima; JMV pronuncia rigorosamente as mesmas coisas e imediatamente um coro de aplausos se levanta, e ah, e oh, que admirável loquacidade, eis a verdade, meus amigos, caralho passa a ser fino, cona fina também, foda-se elegante - e tudo sem aspas, agora elevadas essas palavras à categoria de termo técnico, de análise profunda, já que foram pronunciados pelo eminente sexólogo, psicólogo, professor e doutor e tudo. O que o vulgo diz, assim como eu digo, é vulgaridade; o que aquela carola diz, mesmo sendo parecidíssimo, ou rigorosamente igual, é excelência, é sumidade, é alguma porra que a mim me escapa, e acabou-se.

Se isto não é inveja, não sei o que seja. Mas lá que parece, parece; tresanda. Mas enfim, existe uma atenuante fundamental para tão incómoda sensação: é que muita coisa se perde, muita coisa não se cria, muita coisa não se transforma, quando alguém faz caixinha. Se JMV tem os planos da pólvora para acabar com as guerras, as pessoais e as nacionais, se sabe como resolver todos os problemas da humanidade, o que é atestado pelo facto de ele próprio nunca ter tido nem uma nem outros, então, que diabo, explique lá isso à malta. Como se faz essa coisa de "ser feliz"? O que é necessário para estar sempre tudo jóa, nos trinques, entre todos? Afinal, qual é o segredo da existência? Para onde vamos? O que fazemos aqui?

Etc. Chateia-me, em resumo, que tão ilustre personagem faça como o cozinheiro sueco dos marretas. Fala bem ("rum, madum-madum, tuichcadum, tura tadum tachadum, muc muc muc"), mas nunca diz afinal qual é a receita para cozinhar uma galinha inteira, crua e de plástico.

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29/03/05

GGrungy
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--Dopeler effect (n): The tendency of stupid ideas to seem smarter when they come at you rapidly.

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26/03/05

As gordas


Ler as gordas é uma expressão idiomática do Português, absolutamente intraduzível, como tantas outras. Contrariando as aparências linguísticas, não se trata exactamente de tentar decifrar o significado intrínseco do conjunto de mulheres "cheiinhas" que por aí andam rebolando as carnes; ler as gordas não tem nada a ver com interpretação de dizeres em "t-shirts" envergadas por senhoras de porte avantajado; qualquer engatatão que saiba de ginjeira aquilo que as gordas pretendem não é grande coisa, ainda assim, no que diz respeito a ler as gordas.

Enfim, não prolonguemos desnecessariamente o suspense tergiversado. Ler as gordas aplica-se a toda a imprensa escrita (jornais, revistas e blogs) e ao público leitor em geral, a imensa maioria, que apenas passa os olhos pelos títulos e espreita de relance fotografias e outros materiais de mais fácil e rápida consulta. Diz-se "empresta-me aí isso, só para ler as gordas" ou "vou só à net ler as gordas", e nisso consiste o grosso da coluna informativa actual.

De acordo, aliás, com a velocidade normal da vida moderna; não são apenas as deslocações e as comunicações que atingiram velocidades alucinantes; outro tanto sucedeu, e na mesma proporção, com a informação - em sentido lato, e englobando esta qualquer produção escrita, da simples notícia "local" à peça literária mais profunda. No conjunto da informação escrita, o processo é horizontal e absolutamente cego, espécie de rolo compressor que amassa e repassa tudo por igual. Velocidade implica pressa, em progressão geométrica, por um lado, e quantidade implica - por paradoxo - não diversidade mas uniformidade; exemplo deste axioma, aplicado às leituras, é o fenómeno da "condensação" literária, ou seja, a técnica iniciada pela americana "Reader's Digest", que se dedica a "condensar" e a "resumir" livros inteiros em poucas páginas ou em apenas alguns parágrafos; isto permite que, por exemplo, qualquer absoluto burgesso possa citar Heidegger, ou Kant, ou mesmo S. Tomás de Aquino, e brilhar em qualquer tertúlia de café sem nunca ter lido uma única das obras que cita. É a cultura de algibeira em toda a sua pujança. O mais conhecido caso mediático desta espécie de vórtice referencial (e reverencial), de voragem livresca e de terraplanagem cultural, é o conhecidíssimo Doutor Cantigas (Marcelo Rebelo de Sousa), recordista europeu e mundial de leituras pela rama. Com exemplos destes, com gente capaz de ler cinco romances e três ensaios por dia, mais quatro enciclopédias e duas ou três colectâneas de poesia em cada noite, é natural que o chamado "homem da rua" se considere, cada vez mais e com toda a propriedade, pessoa de ler e saber, gente de algo na cabeça, pois que até leu a capa do "Código" (Da Vinci), a contracapa do David Crockett (a porcaria do Sousa Tavares filho, não a obra de Abbot), mais as críticas literárias do Expresso, todos os sábados, e ainda uns quantos resumos nas "Selecções", nada mais, ora toma.

Em tempos, conheci o maior vendedor de uma coisa que se chamava "Amigos do Livro" (*), verdadeiro ícone da cultura a metro, pessoa de fino trato e truques excelentes. Tinha por método a maior lábia que imaginar se possa, e por instrumento de trabalho uma corda; uma simples corda, além de gravata, fatinho e muito, muito paleio. Todas as zonas rurais em volta de Lisboa, e mesmo no "Portugal profundo" (Alguidares de Cima e ainda mais longe), eram a sua zona de caça exclusiva; especializou-se em pastores, se bem que não desprezasse qualquer jornaleira desgarrada, por detrás de montes e vales. Lá ia ele, com a sua corda, e conseguia convencer os inocentes de que uma colecçãozinha "é que ficava a matar ali naquela parede". Dava um nó na ponta da corda.

_ Olhe, segure aqui nesta ponta.

Esticava a corda até ao canto oposto. Dava outro nó na medida.

_ Pronto, amigo. Daqui a uns dias já cá tem os livros. A estante ofereço-lhe eu.

Infalível. A gente babava-se com as comissões que o fulano recebia. E ele ria-se das nossas batidas em bairros periféricos, durante as quais tentávamos convencer os moradores (geralmente, através de ralos ou de portas fechadas) das virtualidades artísticas e da enorme categoria das nossas colecções de grandes "clássicos".

_ Camaradinhas, dizia ele, o que interessa nos livros não é o que lá está dentro; é a lombada. Eu vendo livros a quem não sabe ler nem escrever, como objecto de decoração.

Esta figura e este episódio ilustram algo que está para além de simplesmente ler as gordas, mas o espírito é rigorosamente o mesmo. Mudaram os tempos e os meios, mas a lógica é idêntica. O que interessa continua a ser a lombada, o título e o autor. La Palisse nunca escreveu uma única palavra e toda a gente continua a citar argumentos "lapalissianos", apenas para dar um exemplo. A citação é hoje a mais letal das armas de arremesso intelectual; cita-se para esmagar "adversários", correligionários, amigos e "inimigos"; a "pinta" (literária, cultural, ou apenas pinta) mede-se pela quantidade de referências, pelo número de citações, pela opacidade e pela concentração de autores muito "lá de casa". Quanto mais esotérico o arrazoado citacional, mais escorado está o escrevinhador, a salvo de qualquer objecção - porque, se ele mesmo não leu nunca aquilo de que fala, quem se atrever a criticar vai ter de provar que ele não leu ou, pior ainda, vai ter de ler (ele próprio e não outro) aquela merda toda, que bem se lixa.

Flagrante demonstração desta nova (e também velha) e triste realidade é o que se passa por aqui, no blogbairro. Toda a gente lê "as gordas" e apenas estas. Aqui, lê-se as gordas à força toda. A pressa em ler é directamente proporcional à quantidade de leitura disponível, e isso verifica-se cada vez mais nos blogs. Todos os dias surgem e desaparecem dezenas de endereços. Nenhum de nós é o Marcelo, temos o péssimo hábito de dormir, de vez em quando, ou de comer, por exemplo, e uma ínfima minoria vai fazendo alguma coisinha pela vida. Ninguém tem tempo para ler tudo, quanto mais muito, quanto mais bem. No máximo, procura-se algo que nos diga respeito, ligações aos nossos próprios escritos. Citações, comentários, respostas a comentários. Procuram-se reflexos.

Esperamos que o lago nos devolva uma imagem perfeita de nós mesmos. Afinal, nós é que somos as gordas.





(*) Sim, já vendi livros de porta a porta, cheguei a ser corrido por um talhante de machadinha em punho; suponho até que este episódio e aquela actividade me confiram a qualidade de mártir da literatura ou de herói das lides culturais. Pelo menos.

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24/03/05

Consultório sentimental (1)


A nossa leitora Tina X (pseudónimo, certamente) coloca-nos uma questão muito sensível:


"... o meu marido, que insiste em que pratiquemos sexo anal. Por mais que eu me negue, ele teima, teima, e teima outra vez. Diz que tem todo o direito, que é perfeitamente normal, mas eu acho que é uma aberração, não é natural, e, enfim, não me fui casar para agora me pôr a fazer coisas que me parecem nojentas e contranatura. O problema é que ele fica muito mal disposto com a minha recusa, já nos zangámos uma série de vezes por causa disso e, sinceramente, não sei o que fazer ou dizer mais para evitar. Como hei-de convencê-lo de que não me agrada nada aquele tipo de porcarias? Eu gosto muito dele, mas este pormenor, para minha grande surpresa, parece estar a estragar as coisas. É desagradável, eu bem vejo como ele fica aborrecido, mas também, que diabo, não estarei eu no meu direito de me negar a fazer coisas que vão contra a minha consciência? E, de resto, fico na dúvida: esta obsessão do meu marido não será indício de alguma tendência homossexual?"
(...)


Ora, minha cara amiga, então temos o seguinte. O sexo anal é uma variante ancestral e até, de certa forma, consensual, em termos de relações conjugais. Na nossa opinião, se é essa a vontade do seu marido, a caríssima Tina não terá muito como se furtar ao seu dever. É dos livros, e do mais elementar senso comum, que uma esposa cumpra os desejos de seu marido e, por maioria de razões, em se tratando estes de coisas relacionadas com a alcova, como se dizia antigamente, ou com cama, como se diz mais pressurosamente hoje.

Talvez seja surpreendente para si, a julgar pela perplexidade que manifesta, mas as relações anais são perfeitamente normais entre homem e mulher, e de mais a mais entre casais, desde o princípio dos tempos. Existe um tremendo e extenso acervo testemunhal, talvez não muito evidente mas extremamente perceptível nas entrelinhas, não apenas a nível de tradição oral (sem quaisquer conotações ou jogos de palavras) mas também na própria literatura universal, clássica e não clássica. Toda a gente sabe que Júlio César, por exemplo, não era apenas por causa do nariz que adorava Cleópatra, nas remotas eras dos Impérios romano e egípcio. Mais recentemente, e apenas para citar outro caso histórico, não é difícil adivinhar aquilo que prendeu a atenção de Adolf Hitler em relação a Eva Braun; todo o estado-maior do Führer sabia perfeitamente que a mulher era um bocado para o coiro, mas lá que tinha um belo cu, ai isso tinha, o velho Adolfo era viciado naquilo e por isso casou com o estafermo em tão difíceis circunstâncias. Já vê, ali com um séquito enorme à mão, a começar pela espantosa Leni Riefenstahl, e o gajo logo foi embeiçar-se pela Eva. E porquê? Ora, o cu, o cu da Eva, pois então o que haveria de ser?

Acredite, cara amiga. A coisa é vulgaríssima, trivialíssima: não há gajo nenhum que nunca tenha desejado a peidola da legítima. Essa é que é essa. Que ponha o dedo no ar o primeiro panhonha que nunca ao menos passou a mão num belo cu de mulher. E depois, compreende, no casamento então a coisa ainda é mais premente, por assim dizer; é a velha história do bacalhau com batatas e das batatas com bacalhau, dia sim dia sim, ao menos enquanto a coisa dura e há batatas e bacalhau num casamento. O casamento, como a Tina já saberá por experiência própria, é a morte do desejo, no fim, é o amolecimento da tesão, no meio, e um tremendo pontapé nas partes pudendas, logo ao princípio.

Portanto, é natural, é normal, deveria mesmo ser obrigatório, que homem e mulher procurem variantes que permitam prolongar, o mais possível, um mínimo de paixão, um módico de prazer, um método qualquer de prorrogação do respectivo prazo de validade: é legítimo, e uma tremenda sorte, que o esposo tente o cu da esposa antes de se dedicar em exclusivo ao putedo, o que fatalmente ocorrerá, mais tarde ou mais cedo; como é legítimo e normal que a esposa se especialize em masturbação, antes de arranjar o primeiro amante, idem aspas. Coisas como alugar filmes porno, ou assinar o canal 18, por exemplo, podem ser uma ajudinha, mas só nos primeiros meses do primeiro ano; depois disso, há que puxar pela imaginação, cada vez mais e mais desesperadamente, até chegar à badalhoquice total - o verdadeiro nirvana do casamento indissolúvel ou com um mínimo de viabilidade. Sexo "limpo", nesta acepção, não faz qualquer sentido. E isto, a variante conjugal da enrabadela, não tendo qualquer importância, não tem absolutamente nada a ver com problemas de "consciência"; se tivesse, não poderia existir nenhuma actividade sexual, pura e simplesmente, porque é tudo uma questão de grau e uns três ou quatro centímetros de diferença, quando muito.

Não tem portanto com que se preocupar, Tina. Nem com o facto de o seu marido querer explorar todos os orifícios e todas as possibilidades que a Tina lhe pode oferecer nem com a possibilidade de esse apetite poder ter alguma coisa a ver com paneleirices. Não é o buraco onde o seu marido quer acertar, exclusivamente, o que está em causa. Ou é? Bom, sobre isso apenas a própria Tina se poderá pronunciar! Mas note que, por exclusão de partes, se ao gajo que vai ao cu tanto se lhe desse que fosse o de mulher ou o de homem, estávamos todos bem fodidos e não era possível andar na rua em paz e sossego. Foda-se! Com tanto paneleiro que para aí anda, um gajo ainda tinha que levar com as pichas assediantes dos hetero? Esta merda ainda não é a da Joana. Gajo que é gajo gosta de comer sua peidinha, mas de gaja! Faz o favor! Redondinha, e tal, bem cheirosa e sem pelos. E, principalmente, uma peida tipo ilha, rodeada de mamas e de curvas por todos os lados. Um cu perfeitamente coerente, num corpo bonito, mulher dos pés à cabeça. Cu de mulher é cu de mulher, não é um cu qualquer. Paneleiro tem cu, mas não é mulher. Que se foda o paneleiro. Não tem nada a ver.

Já agora, ó Tina, ora porra, isto tem de ser dito. Não a conhecendo de lado nenhum, deixe-me que lhe diga que o seu marido até deve ser tipo de bom gosto. Hem? Você deve ter um cuzinho mimoso, ora não?

Mande sempre.

D



(*) - redacção ligeiramente corrigida, para efeitos de legibilidade

consultório sentimental (2)

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22/03/05

chefinho, você escreve pra caralho

Já tinha dito, mas repito: o Dragoscópio é o melhor blog português de todos os tempos. E não vale estar agora com merdas relativistas, do género "todos os tempos, para um blog, é pouco tempo". Não interessa. O caramelo sabe escrever, prontosmente. Aquilo é abrir o blog dele e escolher o "post" ao acaso, tanto dá. Qualquer daquelas porras está excelente. Texto escorreito. Português correcto. Legível até à quinta casa. Irra. Mais um bocadinho e era enervante.

Supimpa. Sem menosprezo pelo adjectivo morcão. Não é possível que o "Dragão" não seja primo, ou tio, ou sobrinho do... enfim, algo terá a ver com o mestre José Vilhena; não me admirava nada que fosse o próprio. Tem laivos do "misterioso" autor que, em bons e pretéritos tempos, escreveu o saudoso "pipi". Aquilo é que era, caralhada fina, elegante, apesar da tendência para o deboche em exagero, meio industrializado. Se não é o mesmo, o estilo é: límpido, sem caganças, transparente.

Anda tudo de calças na mão, ó tio - ó tio, bálhamedeus, ele é o Pacheco e mai-lo Aviz, e outras figurinhas da corda(*), ou o raio. Uns merdas, por atacado. Não comparemos caganitas com nêsperas. Nosso dragoscópio é, de facto, o maior.

Assevero ter reflectido maduramente, e ter adiado indefinidamente esta diatribe ao contrário, antes de propalar com tal descaramento a minha admiração por tão ilustre vizinho. Estas coisas, em Portugal, até pela raridade, podem ser e são geralmente levadas à conta de bajulação(**), ou mariquice(***), ou coisa que o valha. O que está a dar é amesquinhar. Elogiar é, por definição, nos tempos que correm, algo de suspeito e - por conseguinte - negativo. Quero bem que isso se foda. No blog Dragoscópio há o que de melhor existe em todos os meios de comunicação social portugueses. Na minha opinião, claro, sendo que esta vale tanto como qualquer outra.

Desculpe lá isto, ó Dragão. É que estou também um bocado farto de ler coisas vampirescas, por esse blogbairro fora. Uma coisa é desancar (em) medíocres, seja a bomboca seja o brupto, outra bem diferente é destilar fel e ter o fígado transmutado em depurador de frustrações.

Mas também a coisa vale o que vale, ou seja nada, pode você ficar à vontade: ninguém vai ler isto. Sossegue, portanto.

De facto, dar com a democratabilíssima cadeira nos cornos do respectivo deputado é um desejo comum à generalidade dos cidadãos minimamente esclarecidos.

ihihihihihihi (este homem mata-me)




(*) sem ofensa para o FJV, que não faz mal a uma mosca
(**) cf. comentários no Murcon, por exemplo
(***) bué, por aí, basta ligar o paneleirómetro (F13)

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Helena

Não. Porque perguntas isso?
Bem sabes tu a resposta, porque perguntas?
Não. Não te amo.
Sabes perfeitamente que não te amo.
Detesto essa coisa do amor, sabes perfeitamente.
O meu mundo resume-se a este enxame de alforrecas,
cada uma com a sua cruz às costas
e eu a vê-las passar, indiferentes e esponjosas.
Lembro-me sempre de ti a desfilar, nessa passerelle,
a tua vida enxuta de quaisquer dúvidas,
irreal, sem nenhum termo de comparação,
de analogia ou semelhança, essa tua crueldade racional,
os teus argumentos indestrutíveis, a tua lingerie sólida
sempre buscando justificações para o inexplicável,
sempre fria e crua, um sashimi de razão.
E torturas-me com essas perguntas idiotas,
não quero saber, não quero.
Eu sou homem, tu és mulher.
Não quero saber, como tu sabes tão bem,
isto não é amor, é desespero,
é o que acontece a um homem que não chora
mesmo que se lhe desfaça a alma em pedaços
e mesmo que lhe tentes arrancar, ainda assim, uma resposta.
Esta mesma que aqui tens, aquela que te não dou.
Não quero. Não quero.




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19/03/05

anedota da semana


Ora cá está alguém que percebe o bomba inteligente, que o leu de trás para a frente, que ousou mergulhar na piscina dos seus arquivos.

bomboca esperta

A revolução deve ousar mergulhar na piscina dos coisos e ler de trás para a frente! Avante, camaradas!

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17/03/05

KB17645-PTB.EXE

Barrete Hoax Tanga Treta VÍRUS

Outro email por aí a circular, "assinado" pela ©2005 Microsoft Corporation. Claro que é barrete.

É UM VÍRUS. APAGAR IMEDIATAMENTE.

Google

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Há falta de melhor *

do que o Gama
do que o Freitas
do que o Vitorino
do que os Josés
em quem votar
por isso ganha o Benfica
por isso o PS ganha
tempo


À falta de melhor


vota-se PS
bota-se PSD
deita-se CDS
vota-se no MRPP
não se vota
engana-se a ilegítima
come-se a legítima
vai-se ao cinema
arrota-se a postas de pescada
vinho, bebe-se JP
cerveja, emborca-se uma imperial
não se bebe
sai-se de cima


* (Google, 91 - Yahoo, 132)

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16/03/05


isto devia ter sido a ilustração do piqueno ensaio sobre a fedúncia 

Posted by Hello

imagem "scaneada" de Tintin no Tibete, de Hergé, ed. Público

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O Latim morreu, o Português também, eu próprio já não me sinto lá muito bem

eu to com sordadi de voxe jhones...

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Monólogo Norte/Sul


Sintoma ou mania: um blog com o título Diário de um tripeiro em Timor Lorosae. Meu caro, não seria melhor que o seu diário fosse o de um Português em Timor-Lorosae? É que, bem vê, isso aí é "lá fora", é no estrangeiro e, por sinal, num certo sítio "estrangeiro" muito especial; "lá fora", são poucos aqueles que sabem exactamente onde fica Portugal ou, mais displicentemente, onde fica "isso" ao certo, Portugal-ou-lá-o-que-é; logo, um português soará vagamente a árabe, ou cigano, quanto mais um tripeiro! Imagino, com todo o rigor do mais elementar senso comum, que não deve existir um único "estrangeiro" que saiba o que raio vem a ser um "tripeiro".

Sintoma ou mania: a cidade de Lisboa, que se situa no centro geométrico do território nacional, é geralmente considerada - pela gente que vive na micro-república do "norte" - como estando situada no Sul da Península Ibérica. Ora isto é uma tremenda falta de rigor geográfico, certamente inspirada pelo putativo presidente dessa república virtual nortenha, o inefável, insubstituível, cómico, imbecil, perigoso Jorge Nuno Pinto da Costa. Malhando de novo em ferro frio, ou voltando à vaca fria, pouca gente no mundo inteiro sabe o que é e onde fica Portugal (oh, yes, capital Barcelona!), quanto mais essa patacoada do "Norte". Norte de quê, caneco? A fronteira é onde, no IP4 (ou IP5, não sei bem), na via rápida Aveiro-Vilar Formoso? Então Coimbra é o Sul do Norte? E Santarém, é o Norte do Sul? E Caminha é o Norte do Norte ou o novo ponto cardeal Extremo-Norte? E, já agora, se existe essa novel entidade geopolítica, porque não re-inventar o "Portugal-Leste", por exemplo? Capital na Guarda e presidente o Botas, porque não?

Sintoma ou mania: costuma dizer o "pobo" do norte (que se julga, entre outras coisas, como "mais forte") que, de Leiria para baixo, é "mourama". Não é, caros amigos. Lisboa, por exemplo, é constituída por quatro quintos de pessoas que nasceram fora de Lisboa e, destas, dois terços emigraram de riba-tejo - o que não é exactamente o mesmo que provirem do Ribatejo. Os alfacinhas vão, pelo Natal e no Verão, "à terra" - e "a terra" é localidades como Ponte-de-Lima, Gonça, Estarreja e Outras Coisas Assim. O sul de Portugal é quase integralmente constituído por pessoas "do norte". Eu, por exemplo, nasci 420 km para cima e vim para baixo aos doze anos de idade. De vez em quando, volto para cima e gosto da bela francesinha, por exemplo. Não sou mouro. A minha costela bronca impele-me, lamentavelmente, a não gostar de coisas arábicas ou demasiado teológicas. Mas acho que o "norte" de Lisboa é tão irrelevante (e tão importante) como o Sul. São pontos na rosa-dos-ventos, como lhes compete, e chega.

Sintoma ou mania: presumo que por reflexo de defesa, o vulgo lisboeta (e "sulista" em geral) já vai adoptando a mesma linguagem belicista, independentista, cretinista. Isso vê-se bem nas "claques" da bola. Grupos de energúmenos consideram os "nortenhos" (repare-se na subtileza da designação) como perfeitos imbecis, inimigos a abater e coisas ainda mais territoriais. Mijadelas de demarcação. E, de facto, já se vai notando uma certa sobranceria, uma soberba esquisita, que antes não existia, das "gentes" da Capital e arredores em relação à "maltosa" das berças. As tias da Linha estão agora, por fim, activas e militantes na defesa de seu chá das cinco e de suas coisas supostamente finas, desmarcando escandalosa e ostensivamente as tias da Foz e outras parentes. Existe de facto uma fractura de pendor quase racista, de parte a parte, e isso é grave.

Não é sintoma nem é mania: Portugal é, no concerto das nações, uma merdola insignificante. Sempre foi e sempre será. Estrebuchar é o nosso desígnio, mendigar a nossa especialidade e arrepelar os cabelos a nossa mais notória capacidade - sem falar da versalhada, a mais volumosa das produções nacionais. Somos um país de medíocres e o culto da mediocridade é o nosso único trunfo. Qualquer tentativa de autofagia ou de automutilação resultará inevitavelmente em fracasso - mais um, apenas mais um. Por conseguinte, e por mais que tentem os secessionistas de ambos os lados, não é possível dividir ou cortar em partes um corpo uno e indivisível como o nosso. Qualquer idiota de Freixo-de-Espada-à-Cinta é tão Português como um patriota da Amadora, um agiota de Benfica ou um poliglota de Torre Dona Chama. Nós somos assim mesmo, vermelhos e verdes, amarelos e azuis, brancos e pretos: odiamos simpaticamente, por brincadeira e sem ofensa. Um bocadinho marados dos cornos, tous, les lusitaniens.

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15/03/05

Holding, holding, holding

That's all I have today
It's all I have to say

Simply Red

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Nice


Descontando os erros de Português, à matroca, a ideia é gira.

Es a vergonha do povo portugues. Nao te interessa a cultura portuguesa e nem segues as tradicoes e costumes do teu pais. Por causa de gente como tu o povo esta a perder a sua genuinidade.
Vamos la a deixar crescer o bigodinho (sejas homem ou mulher) e passar a representar os tugas fidedignamente.
Ah, e nada de cortar a unha do dedo mindinho, ex-libris do tuga!

Quao Portugues es?
brought to you by Quizilla


via Pois... não sei!

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Gotan Project


Finalmente. Eureka. Achei. Ou, melhor, achei um blog que achou.
O link para a "faixa" Epoca está no Muitas Coisas. A ver se encontro as outras (verdadeiras faixas de rodagem musical), algures por aí.

http://muitas-coisas.blogspot.com/2005/03/coisas-da-msica-gotan-project.html#comments

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12/03/05

Achtung! Cratilismus...


No diálogo Crátilo, Platão discute a natureza dos nomes, que se assume não ser de ordem convencional, mas de acordo com a existência das coisas em si. No texto platónico, parodia-se o método etimológico de Crátilo, pensador de inspiração heraclitiana, que afirma que "cada coisa tem por natureza um nome apropriado, e que não se trata da denominação que alguns homens convencionaram dar-lhes" (Crátilo., 383a), o que concorda na teoria naturalista dos nomes, segundo a qual as palavras têm um sentido certo e sempre o mesmo.

in Nome de Guerra e Ulysses, por Carlos Ceia


É muito engraçada a expressão que faz qualquer linguista, ou qualquer outro profissional das letras, quando ouve referências a Crátilo ou neologismos conexos, como cratilizar, cratilismo, cratilista. Fica bem, pelos vistos, ao quejando profissional, cavar imediatamente profundas rugas na testa, sentindo-se provocado, dar mostras posturais de indignação ou, pode calhar, debitando uns quantos impropérios pela blasfémia proferida.

Tomei conhecimento, através do Arcabuz, de que existe polémicazita no Abrupto; diz que o inefável Eduardo Prado Coelho se atreveu a dizer que a Língua Alemã é uma coisa militarista, que soa a Panzers e a passo de ganso, e outras diatribes.

De facto, a postura "oficial" e geralmente aceite sobre o assunto é a da total arbitrariedade do signo linguístico - eliminando a priori qualquer relação (de causa e efeito ou outra) entre significante e significado; ou seja, parece que é obrigatório que se considere não existir nexo ou relação entre a palavra e aquilo que ela representa. Portanto, se tomarmos um exemplo ao acaso, seja a ideia daquela coisa que geralmente nasce da terra, tem um tronco e ramos e folhas e frutos (ou não tem frutos), teremos representações como, por exemplo, árvore, tree, arbre, árbol, Baum, àlbero. O linguisticamente correcto manda que se considere todas aquelas representações (em conjunto com as equivalentes nas restantes Línguas) como sendo absolutamente arbitrárias, tanto na forma primordial oral como na subsequente forma escrita - considerando esta como simples representação, ou codificação, da oralidade. Nesta acepção geralmente aceite, a escrita não passa de um código para representar outro código, e este é totalmente casuístico na sua génese: uma palavra surge, em qualquer Língua, de forma arbitrária, evoluindo de formas diferentes a partir de, presume-se, um grunhido indistinto inicial, e transmite-se por interacção social através de mecanismos de imitação.

Ao contrário da opinião, certamente fundada em profundas investigação e reflexão, geralmente aceite como correcta, o tema não é nem superficial nem irrelevante. Pelo contrário, existe tão pouco material de análise e, ao invés, tantas certezas sobre o ridículo da tese, é uma coisa tão evidentemente estúpida (atribuir motivação ao significante, em suma) que se torna um bocado suspeita, por assim dizer. E não será por certo algo sobre que se passe ao de leve, em simples voo de pássaro; talvez um estudo mais aprofundado viesse a revelar algumas surpresas. Se é de aceitar a origem da linguagem, até por falta de termos de comparação, talvez fosse de investigar, comparativamente e a sério, a evolução de cada Língua. A etimologia não será um pouco mais do que a simples análise estática da forma como as palavras evoluíram? Não existe de facto nenhuma motivação, ao menos estética, ou cultural, ou social, nesta evolução, para além da mais elementar "lei do menor esforço"? Se existem factores que modificam e condicionam a evolução fisiológica dos grupos sociais (tipos, altura, sexo, raça), e sendo a Língua o primeiro factor de identidade nesses grupos, não haverá afinal algo de igualmente motivado em cada uma das Línguas?

Como ilustração, tomemos uma hipótese académica: se fosse possível medir a resposta emocional (ritmo cardíaco, sudação, zonas cerebrais irrigadas, etc.) de um ser-humano que nunca tivesse estado em contacto com a chamada "civilização", e se lhe fossem passadas gravações da palavra "árvore" em várias Línguas, será que ele reagiria exactamente da mesma forma a todas elas? Como reagimos nós mesmos, que respostas subtis damos nós em função do "incentivo" linguístico? Não temos todos nós preferências, a esse nível como em qualquer outro?

Será que, por exemplo, associaríamos à expressão "música pimba" o mesmo significado se, em vez de pimba, se dissesse "pomba", ou "rimpa", ou "sabonete" ou outra coisa qualquer? E teve alguma evolução, essa palavra? A sua raiz etimológica, à semelhança de tantos outros casos, em Português, em Inglês ou em Chinês, não é, evidentemente, o Latim ou o Francês ou o Romeno; a palavra "pimba" surgiu como que do nada, mas de forma absolutamente motivada. Como não será por acaso existirem Línguas próprias para determinadas coisas, factos, actos, profissões, actividades: não é possível, sem cair no ridículo, falar de tauromaquia sem utilizar o Castelhano, ou de "grand cuisine" sem o Francês, ou de fado sem o Português.

Existe um óbvio risco de se cair na tentação cabotina de simplificar em extremo um assunto que é tudo menos simples, e que exige (exigiria) um altíssimo grau de especialização. É precisamente por isso que acho graça, voltando ao princípio, à irritação que isto provoca nos puristas, academicistas e censores da linguística. Atenção, é agradável; atención, tem salero; a mesma coisa em Inglês é elegante e em Francês é fino; já achtung faz lembrar o tal passo de ganso, ou algo de igualmente marcial. Um folheto de medicamento, traduzido para Alemão e lido em voz alta, parece uma declaração de guerra ou um chorrilho de insultos. Há diferenças entre as Línguas, sim. E isso que tem? Com as cores (colors, colours, farben, colori) acontece o mesmo e ninguém se rala, com a agravante de que existem apenas sete nuances básicas para preferir.

Por uma vez (sem exemplo), estou de acordo com o maciço EPC. Há Línguas temperadas com sal, outras com açúcar, outras totalmente insípidas, ou azedas, desagradáveis, agressivas. Isso nem diminui nem engrandece nenhuma delas, mas tem absolutamente tudo a ver com o povo que as gerou e criou. Perfume francês, sushi japonês, ou paciência de chinês, alguma coisa de intrínseco e de fundamental existe, no signo mas também - e por causa - na sua forma. Não se me dá nenhum abalo ao pífaro que assim seja.

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Planície

O bando debandou
subindo do arvoredo
do vácuo que ficou
no fim do seu degredo
as asas abrem chagas
no acinzar do entardecer
e amansam a agonia
do dia a escurecer

ensombram a ribeira
e o verde da seara
e passam pela eira
em que o sol se pousara
nas gotas do orvalho
luarento e vacilante
refrescam o cansaço
e dormem um instante

Pássaros do sul
bando de asas soltas
trazem melodias
p'ra cantar às moças
em noites de romaria
em noites de romaria

no adejo da alvorada
oscila a minha mágoa
o céu à desgarrada
irrompe azul na água
e a passarada acorda
no sonhar de um camponês
e entrega-se no sul
do frio que à noite fez

é tempo da partida
e a cor no horizonte
adensa a despedida
e o borbotar da fonte
as asas abrem chagas
na poeira o sol acalma
num agitar inquieto
que me refresca a alma

pássaros do sul
bando de asas soltas
trazem melodias
pra cantar às moças
em noites de romaria
em noites de romaria


Mafalda Veiga


Que bonito, caramba! (digo eu...)



esta "letra" em http://paginas.fe.up.pt/~fsilva/mafalda/letras/Planicie.htm
mais coisas na página de Filipe Silva

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10/03/05

Neste cristal que me ofereceste, vejo
hmmm
vejo um raio colorido, não, dois,
não, muitos raios coloridos.
Vejo aquela casa e as outras todas,
mas muitas vezes, olha que bonito,
parece uma cascata, um presépio.
Vejo luzes e cores e muitas outras coisas
hmmm
um rio ao fundo, e estrelas
muitas estrelas, é um caleidoscópio.
Vejo-te a ti dizendo adeus,
vejo até (serei capaz?)
os teus fantasmas
as tuas sombras a preto e branco
vejo a tua angústia
o teu sofrimento
a tua dor
multiplicada.
Vejo
hmmm
que o cristal que me ofereceste
é afinal um diamante.

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nota prévia: este "post" tem bolinha vermelha no canto superior esquerdo; virtualmente, mas está lá. Não é aconselhável a leitura a menores de 45 anos ou às pessoas mais impressionáveis em geral

Piqueno Ensaio sobre a fedúncia

léxico com bolinha

Fedúncia
o m. q. fedúcia; s.f., pessoa pretensiosa, que de tudo desdenha, a quem tudo aborrece; pessoa niquenta a quem tudo incomoda ou que tem nojo de tudo.

Espantoso. Inédito. Pensava que estava farto de escrever sobre fedúncia mas, pelos vistos, ou não foi aqui ou foi só na minha cabeça. E mais curioso ainda é que o assunto aparece muito pouco por aí, na Google (nenhuma referência) ou na Yahoo (294).

Exemplos de fedúncia; o que vem a ser isso, ao certo? Quando se verifica esta coisa (síndroma? estado? hábito? pancada)?
Pois bem, esclareçamos com alguns exemplos: é quando um gajo fica absolutamente possesso sempre que:

- num restaurante ou café, o filho da puta da mesa em frente está a comer de boca escancarada, alarvemente, como o porco nojento que é. Quem fica possesso com a badalhoquice é que é fedúncico, não o badalhoco.
- num café ou restaurante, ou em qualquer outro espaço público, há um cabrão que puxa sistematicamente o ar através dos espaços asquerosos que tem entre os dentes; é o chamado "palito electrónico" à portuguesa, uma actividade abjecta à qual se dedica mais de um terço da população portuguesa. Não há maneira de tentar reproduzir onomatopaicamente o som; é uma espécie asquerosa de chuic, schlack; a reacção típica é a mais avassaladora das vontades de mandar o animal levar no cu, ou para a cona da mãe street.
- em espaços fechados e em espaços abertos (por exemplo, em plena rua), o grandessíssimo animal à nossa frente vai a escarrar para o chão de dois em dois minutos, fazendo preceder essa habilidade com o mais hediondo dos sons tipicamente portugueses, que é "puxar a bisca" lá dos confins viscerais, com um som típico (Lord Byron referiu-se-lhe), graficamente não reproduzível; a onomatopeia mais aproximada será qualquer coisa RRRRUUUACH-PTUMMM!!!, sendo que a parte ruachada é produzida na garganta, enquanto a besta faz subir a massa escárrica pela garganta acima, e representando o ptum final a forma como a dita besta atira com a massa esponjosa de cuspo e secreções nasais para a via pública; nos casos de tipinhos mais virtuosos, nesta modalidade popular, há quem intervale os dois sons com um outro (nham nham nham), enquanto rola a massa com a língua e os beiços, antes de expelir.
- nos toca o perfeito animal que bate desesperadamente, cerca de cinquenta vezes, nos fundilhos do maço de cigarros que acabou de comprar. PAC PAC PAC PAC, lá está ele a bater cinquenta vezes o maço de tabaco, o fundo contra a mão em semi-concha. O filho de uma ganda puta. Mas para que caralho será aquilo? Reparem no arzinho de finório, de "connaisseur", que o gajo faz enquanto bate os cigarritos. Conaisseur mas é o caralho, seu paneleiro de merda, bater os cigarros faz tanto efeito como bater uma ao lado da Cláudia Raia, ouviste, ó panasca do caralho?
- por azar calha o gajo dos tiques nas pernas: bate a perninha, depressinha, pimba pimba pimba, rápida e infindavelmente, de preferência fazendo abanar a mesa mais próxima, a cadeira ao lado, o balcão, tunc tunc tunc tunc tunc, ad infinitum
- sai na rifa o gajo dos tiques na esferográfica: filho de uma ganda puta, morcão da ganda puta que o pariu, tic tic tic tic tic, carrega milhares de vezes no botãozinho, activa e desactiva a esferográfica, babando-se de gozo com aquele irritante, insuportável tic tic de um ganda caralho que o foda.
- calhou ser o dia do gajo dos tiques com moedas ou com outra merda qualquer que estiver à mão: é o paneleirote com problemas de afirmação que fica horas a bater com uma porra qualquer no tampo ou na esquina mais próxima, uma nota no balcão, o jornal na cadeira, ou assim; imaginação não falta a esses cabrões desses viciados em ruído.
- aparece o tipinho da tamborilação, um dos mais comuns matraqueadores: esteja onde estiver, esse tipo de besta-quadrada, julgando-se percussionista do melhorio, passa o tempo todo a tamborilar com os dedos nos sítios mais improváveis, em tudo e mais alguma coisa, no carro, na rua, no caralho que os foda; esses cabrões até devem tamborilar enquanto cumprem o seu dever conjugal, provavelmente na carola da legítima.
- o gajo que tem um Zippo, ou o caralho mais velho: clac clac clac clac, abre e fecha, abre e fecha, sempre a abrir e fechar a tampa do Zippo, a puta da tampa daquela merda do Zippo. Caralhos ma fodam, é mesmo de ficar fodidíssimo, pára lá com essa porra, ó imbecil do caralho, vê lá se te espeto com uma marreta nos cornos, ouviste, ó pintarroxo de um cabrão, pára com isso, caralho, que ainda faço aqui um escarcéu do caralho, fodo-te a pinha com essa merda e depois enfio-te a merda desse Zippo pela boca abaixo, foda-se!

Pronto. Fedúncia é isto, mais coisa menos coisa. Não tem nem cura nem tratamento. O único paliativo, alternativa séria ao assassinato em série, é desopilar o fígado e aliviar o stress através de séries de caralhadas e insultos do mais fino recorte.

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09/03/05

nétchionel giugréfic tchénél


***** 5 estrelas *****
Odisseia
História
TV2

**** 4 estrelas ****
Biography
AXN
RTP1
Sic Notícias
CNN

*** 3 estrelas ***
RTPN
Sic Mulher
RTP Memória
People&Arts
Discovery
Sky News

** 2 estrelas **
National Geographic (a)
Panda
Hollywood
MTV
Cartoon Network
BBC Prime
tele-vendas (b)

* 1 estrela *
TV Galicia
MCM
VHT
Euronews
Sic Radical
Sic Comédia
RTL


pensões manhosas
TVI (c)
Bloomberg
Viver
canal brasileiro (d)
TV5
SMS TV


(a) duas estrelinhas apenas, porque o locutor de continuidade é absolutamente insuportável quando tenta pronunciar o nome do canal em servo-croata e porque só têm primos, sobrinhos e amiguinhos na locução e na tradução
(b) divertido, fascinante; o canal dos verdadeiros Mike&Melga
(c) este canal devia ser proibido fora de qualquer honesto campo de concentração
(d) mas como raio se chama esta porcaria?

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08/03/05

8 de Março

Dia Internacional da Mulher


Posted by Hello
homenagem singela(*) às mulheres em geral, esta fotozinha em particular




(*) ou vice-versa
foto © met-art.com (& tira-art.pt)
imagem de innocentdream
sequência completa (seus gulosos) em http://www.innocentdream.com/galleries_met/fairy/
nota: esta mecinha é maior de 18; se não fosse, seria ilegal

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Cornélia revisitada


Treze entradas a partir de http://www.blogger.com/profile/456591? Mas o que é isto?

Ah, pois. A coisa é séria. Parece que certa vizinha, aqui do blogbairro, se escamou com um dos meus inúmeros atrevimentos. Não gramou que lhe tivesse corrigido o Português, calculo. Vai daí, achou por bem alardear a sua mais fina ironia, fingindo penalizar-se pelas bacoradas cometidas (deixe lá, só duas em 14 palavras, não é grave) e revelando ainda alguma preocupação com a minha irrelevante masculinidade (eis a ironiazinha), ou lá o que ela pretendia dizer.

Mas que se há-de fazer, cara Rititi? Eu cá sou assim, um chato do piorio, uma ave de grande bico e com asas mirradas, incapaz de voar e ademais extinta. Um caso perdido, em suma. Reconheço as minhas limitações; além de voar baixinho, digamos rente ao chão, ou talvez por isso mesmo, sou absolutamente incapaz de continuar a ler seja o que for quando topo com dois pedregulhos linguísticos seguidos. Um, vá lá, é coçar e andar, mas aos dois pára. Muito me penaliza esta dificuldade, até porque essa impossibilidade técnica me inviabiliza, estou certo, muitas vezes, a possibilidade de fruir de conteúdos certamente geniais e suculentos - que estariam para além dos obstáculos, no restante arrazoado. Reconheço do mesmo modo que, de facto, não conseguir continuar a ler a partir do segundo erro na mesma frase é uma cabotinice desgraçada, já tentei por diversas vezes continuar por ali fora, e tal e tal, mas não sou capaz; é uma maçada; as topadas impedem-me de raciocinar ou de sequer apreender um módico do palavreado que se segue.

No fundo, no fundo, a intenção não é nenhuma e a motivação será até um pouco filantrópica. Quem me dera a mim houvesse uma alma caridosa que me revisse os texticulos! Não misturando alhos com bugalhos, evidentemente, que estamos aqui a falar de coisas e dimensões diferentes, em absoluto, nada de comparações parvas entre a minha verbosidade inócua - e anónima - com os seus certamente brilhantes escritos; ao que "me" consta, alguns deles até são publicados na imprensa escrita - coisa admirável, da qual nem me imagino a almejar.

E então já vê, não foi por mal; pelo contrário, nunca me passou pela cabeça que um simples reparo meu (reparo, de reparar, não do outro reparar) a fosse atazanar a si e que, por fim, fizesse saltar os seus amigos da cadeira, movidos de certamente justa indignação, desancando aqui no rapaz, dando-lhe roda de desprezível e outras coisas igualmente do coração . Que bom deve ser ter amigos assim, capazes de imediatamente sair em sua defesa, e em defesa dos seus erros ortográficos, como cavaleiros protegendo a sua dama (em sendo cavalheiros) ou como amazonas acudindo a uma camarada (em sendo damas). Ficou-me esta angustiante sensação de ter gravemente ofendido uma virgem, ou ter dado um chuto numa vaca, em plena Delhi. Ou coisa que o valha.

Deus me livre! Nã nã nã. Eu cá, nunca. Macacos me mordam se encima (forma do verbo encimar) e cocho (porco, logo cochinho é porquinho) não existem na Língua Portuguesa; existem, se-senhor! Assino por baixo, palavra de Dodo, etc.

Fará certamente o favor de, na remota hipótese de alguma vez por aqui passar e ler isto, olimpicamente ignorar ambas as coisas, isto e o resto. Aliás, nem de propósito, este blog é membro fundador do movimento Blogs Olimpicamente Ignorados (BOI), o que comprova à saciedade o preceito axiomático do nosso lema: tratamos de coisas gramaticalmente vis, mas é melhor para toda a gente que a malta ignore. Como deveria ter feito em primeiríssima mão, desculpe que lhe diga, eliminando à cabeça uma coisa sem a mínima importância.

Assim, e por causa dos comentários ao meu comentário, senti-me compelido e obrigado a responder - além de atento e venerador. Mas já passou. Cumprimentos.




imagem da vaca sagrada: http://sepiensa.org.mx/contenidos/s_vacas/vacas1.htm

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07/03/05

111.023.266.761.438.298


Cento e onze mil e vinte e três biliões, duzentos e sessenta e seis mil setecentos e sessenta e um milhões, quatrocentos e trinta e oito mil, duzentos e noventa e oito.

É o número do meu "post" anterior, na Blogger.com.

Impressionante. 111.023 biliões ("milhões de milhões"). A população mundial anda actualmente pelos 6,5 mil milhões (6.500.000.000, não são biliões, como se lê por aí).

Mesmo dando de barato, salvo seja, que há muitos erros no processo, é uma cifra esmagadora, esta dos blogs. E isto apenas na Blogger, claro; com os números dos outros "hospedeiros" de blogs, é espantoso. Confesso que tive de desmontar várias vezes o número para acreditar. Colossozito valente.

Mas enfim, a Matemática não é a minha guerra; deve ser engano meu. Cento e onze mil biliões e uns pozinhos? Pode lá ser. 266 mil milhões é trocos?

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to make a point

The Biology of Love
In this program, Desmond Morris analyzes the biological nature of love, with its attendant patterns of behaviour and signals of health and fertility that have evolved to ensure pair-bonding and genetic survival. The pre- and post-pubescent periods of sexual maturation, the stages of courtship, and the aesthetics of physical beauty are studied, along with the anatomical mechanics of sexual arousal and copulation. In addition, the stresses placed on couples by life in an urbanized, crowded world are explored.
http://www.bbcfactual.co.uk/human_animal.htm

A tese de Desmond Morris, neste particular, talvez se possa condensar numa única frase: o amor é um fenómeno biológico, implicando mecanismos mentais, que tem por objectivo assegurar o prolongamento da ligação futura entre macho e fêmea, por forma a que estes se ocupem ambos de assegurar a viabilidade da prole que irão gerar. Mais concreta e sinteticamente, o amor funciona como preventivo biológico do fenómeno de rejeição (física e mental) que inevitável, pressuposta e fatalmente ocorre numa "ligação" em que este não esteja presente, ou quando este tenha acabado por se diluir.

É, por conseguinte, um simples mecanismo de defesa e prolongamento da espécie; sem subtileza de género algum, na sua base, mas com uma imensa capa (ou camadas) de conceitos integralmente verbalizados e meramente simbólicos. Sendo que estes, integrando todo o acervo da "moral" vigente, são parte integrante do processo, e contribuem mesmo para o tornar mais subtil e, portanto, mais facilmente aceite, já que fornecem uma indispensável protecção mística ao mais básico e primitivo dos instintos, comum a qualquer outra espécie animal(*).

De facto, o fenómeno biológico "amor" funciona em três níveis, patamares ou degraus consecutivos, com outras tantas finalidades objectivas, decorrendo estas de uma só motivação (a preservação da espécie): numa primeira fase, o amor serve para aproximar o macho da fêmea e/ou vice-versa, com o objectivo imediato de propiciar a relação sexual e, consequentemente, a fecundação; na segunda fase, tão importante como a primeira, aquilo que aproximou as duas pessoas funcionará como uma espécie de cola, em sentido figurado mas também em sentido literal, por forma a que o par se não desfaça, e que sejam dois e não apenas um(a) a suportar a gravidez; a fêmea grávida necessita basicamente, hoje como sempre, na nossa como nas outras espécies(*), de auxílio (caça ou outro alimento ou dinheiro, vem a dar no mesmo) e de protecção enquanto dura a gestação; por fim, na terceira fase, aquela que se segue ao parto, é também o amor que possibilita a continuação da ligação entre os pais, não apenas com o objectivo de providenciar meios para que a criança vingue, como ainda, a posteriori, para que o par venha a gerar mais filhos.

Nesta lógica trifaseada, poder-se-ia presumir que o impulso de emparelhamento, a que geralmente se chama amor, deixaria de fazer qualquer sentido assim que a prole estivesse criada ou, em última análise, que fêmea ou macho perdessem as suas capacidades reprodutivas. Bom, realmente, salvo raríssimas e facilmente explicáveis excepções, é o que acontece por regra e por definição; uma grande parte das "separações", se não a grande maioria, ocorre "quando os filhos estão criados" ou, mais concretamente, quando a curva de fertilidade na mulher (e do homem, se bem que em perspectivas diferentes) entra em declínio. É entre os 35 e os 45 anos, nas sociedades modernas, que ocorre por regra a um ou a ambos os elementos do casal a necessidade absoluta da "separação"; de repente, o quarentão (homem ou mulher, ou ambos em sintonia) apercebe-se de que já não existe a tal "cola" no casamento e apanha em cheio com os efeitos perversos do amor, quando este se esvazia. Chamemos "desamor" a este episódio de falecimento da atracção, com tudo o que esta implicou. E, na mesma lógica verbalizante, utilizemos o verbo "desamar" para descrever o processo de destruição do amor.

Essa destruição poderá ocorrer de múltiplas formas, quase tantas como o número de seres-humanos envolvidos, mas os motivos serão sempre os mesmos. Se tomarmos como boa a teoria da mecânica do amor, quais as suas origens e quais as suas finalidades, e se, por fim, analisarmos o que acontece quando essa mecânica emperra (ou quando pára, de vez), verificaremos que existe uma relação diametral entre uma coisa e outra: por exemplo, que a violência do rompimento é directamente proporcional à intensidade que teve o encantamento; ou que a separação é tanto mais penosa quanto mais forte e (por consequência) prolongada tiver sido a ligação. Do que se poderá talvez concluir que existem, de facto, diversos graus de intensidade amorosa. Por definição, esta e aqueles variam na razão inversa das dificuldades postas ao seu desenvolvimento; ou seja, quanto mais, maiores e mais penosos os obstáculos à consumação da atracção, mais forte e duradoira ela será; e vice-versa, bem entendido.

Factores vários e premissas diversas, não tão aleatórios nem arbitrárias quanto isso, fazem variar sensivelmente esta quase equação algébrica; uns de ordem subjectiva, como o tipo de inserção social (níveis de vida, condições sócio-culturais); outros de carácter mais objectivo, ou intrínseco, sejam as determinantes físicas (saúde, idade) ou as ambientais (meio físico, recursos); outros ainda, por fim, dependentes dos dois primeiros, aos quais poderíamos chamar, por exemplo, "pessoais", e que constituem o conjunto de circunstâncias (únicas, do ponto de vista dos intervenientes) que enformam todo o processo para cada um dos elementos do par. É sobre estas últimas circunstâncias, e nunca ou muito raramente sobre as duas primeiras, que geralmente se fala quando se fala de amor.

Daí, porque "pegando" no assunto apenas por uma das pontas e não por todas elas, surge a confusão e a perplexidade: o que é o amor, afinal? Como se define? Porque amo eu aquela pessoa, que "não me convém nada" e detesto aquela outra, que "gosta tanto de mim"? "Mas o que é que tu viste nele" (ou nela)? E da confusão surgem as especulações: que deve ser "química", ou que é do cheiro, ou "dos olhos", coisas assim, terminando geralmente na muito satisfatória conclusão de que "o amor não se explica" ou em frases lapidares como "o amor é louco, não façam pouco". Na realidade, é mesmo louco, o amor, se considerarmos a loucura como a ausência ou incapacidade de pensamento coerente; não é sequer de pensamento que se trata, quando se trata de amor, e para este o pensamento é até aquilo que menos convém; por paradoxal que pareça, uma coisa exclui a outra(**).

E é também química, realmente, como tudo ou quase tudo é química; e em especial através do olfacto, sim. E tem a ver com "os olhos", pois claro (tem tudo a ver com os olhos, de resto, porque ver é a mais subjectiva e criativa das actividades humanas).

Depende da forma como interpretamos, em modulação e em frequência, a voz do outro. Coisas tão complexas como "o feitio" ou "os gostos" de cada um têm as suas formas e fórmulas de combinação. São estas formas e fórmulas de combinação, em números factoriais e em função de tempo e espaço, aquilo que, em conjunto, nos transforma em permanentes sujeito e objecto de amores e de desamores.

A própria repetição do fenómeno, a sua recorrência cíclica e o seu carácter aparentemente imprevisível mas absolutamente perene, indiciam e denunciam uma base fisiológica, sustentam uma explicação biológica e comprovam uma simples variação zoológica.


(*) - primatas e a maior parte dos mamíferos; evidentemente, não se fala aqui de peixes, répteis, etc.
(**) - diz o Povo, que raramente acerta: quem pensa, não casa; quem casa, não pensa

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05/03/05



bons tempos! Posted by Hello

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04/03/05

Pantagruel extinto I


Sopa d'unto, três tijelas*

Ingredientes (pª 4 pessoas):

1 tacho para sopa, em ferro
cerca de 1,5 l de água
1 ovo
1 cebola média
sal grosso
1 caldo de carne
200 gramas de toucinho
salsa
coentros
hortelã
cominhos
meio copo de (bom) vinho branco

Enquanto a água aquece, descascar a cebola e cortar em meias lâminas, muito finas. Quando estiver a ferver, juntar o toucinho (cortado em fatias grosseiras ou inteiro). Deixar cozer cerca de 10 m. Juntar o caldo de carne, sal e cominhos a gosto. Mais 5 minutos de cozedura. Picar grosseiramente salsa, coentros e 1 folha de hortelã, e mexer com o ovo, numa tijela. Juntar à sopa, mexendo com um garfo. Juntar o vinho. Deixar ferver mais 2 minutos. Servir em tijelas.

variantes:
- servido com pequenos cubos de pão torrado
- servido com presunto em fiapos
- com duas gemas em vez do ovo inteiro
- servido com ovo escalfado em fatia de pão torrado (em prato)
- com lastro de lentilhas, arroz, massa de letras ou "estrelinha"
- servido polvilhado com as ervas aromáticas


(se fosse em França, esta sopinha excelente seria conhecida como "Consommé Saindoux")

* - antigo dito popular

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