Odi profanum vulgus et arceo

30/09/05

Partido Pimba


Dantes, chamava-se CDS: Centro Democrático Social. A designação tinha um certo odor a qualquer coisinha democrática... mas em ambiente asséptico, clínico, por assim dizer, algo entre um Centro de Saúde e uma Casa do Povo do antigamente. Não se percebia bem. Talvez por via dessa hesitação de sentido político, acho que foi nosso Paulinho das Feiras quem acrescentou as suas próprias iniciais ao nome do Partido: Partido Popular, glosa de Paulo Portas, gozação de Puta que Pariu.

Foi para mim uma tremenda decepção, quando isto aconteceu, devo confessar. Aquele CDS, que já na altura aglutinava não despicienda soma de trogloditas, burgessos e caceteiros, a massa de "populares" que apoiava fanaticamente quem os odiava, transformava-se assim, por via da nomenclatura, em algo que tinha a ver por força com o chamado "povo" - a massa ignara que representa o que de pior existe na espécie humana. Foi uma pequena tragédia, este artifício, aqueles caralhos do CDS passarem a intitular-se de "populares". Que os pariu, por conseguinte.

Por mim, quero bem que o "povo" se foda. Do "povo", o que pretendo é só distância, toda a distância e nada mais do que distância. Aliás, a minha posição política é muito simples e surge como consequência natural do nojo que me suscita a hipocrisia - seja ela política ou de qualquer outra natureza: varrer, excomungar, excluir da minha vida tudo aquilo que sequer cheire a povo, ou que tenha alguma coisa a ver, por mais remotamente que seja, com essa nojenta, insuportável, asquerosa subespécie humana. O próprio conceito, a noção de "povo" (fedor, porcaria, sujidade, grosseria, trogloditismo, brutalidade), é mais do que suficiente para sustentar qualquer tese antropologicamente racista subjacente. O "povo" é um objectivo a atingir, no sentido de liquidar, do ponto de vista da conservação da espécie humana: é necessário a extinção do povo ou, no mínimo, a limitação drástica dos seus direitos políticos, para que a espécie sobreviva. Caso contrário, se elevarmos à qualidade de valores o que os arautos (burgueses notórios e empedernidos) da chamada "cultura popular" consideram como algo de "bom" e de "belo", o futuro da espécie resumir-se-á ao genocídio cultural; ou seja, assumindo como sendo algo de positivo (seja o que for que tenha a ver com) a chamada cultura popular, tudo o mais desaparecerá num vórtice de estupidez, de mediocridade, de maldade e de violência.

Ao chamado Povo apenas interessa deixar de o ser. O que o "povo" finge combater é, apenas, aquilo que gostaria de ser: rico. A entidade abstracta que se prefigura, nas cabecinhas diminutas tão características das classes populares, como sendo o "gajo rico", o "capitalista", são a única ideia fixa e o único objectivo que são capazes de (vagamente, mas persistentemente) articular.

A pior, a mais gratuita e imbecilmente violenta raça de capitalistas é constituída, precisamente, por pessoas provenientes das classes populares. Qualquer operário ou trabalhador indiferenciado sabe perfeitamente que a pior espécie de patrão que lhe pode tocar em sorte é o chamado "self made man"; ou seja, o gajo que "subiu a pulso" (roubou, explorou, traficou) e mudou rapidamente para o campo do "adversário", passando - à custa de golpadas várias - em pouco tempo de operário a patrão. São fodidíssimos, estes filhos-da-puta. Esmifram tudo aquilo de que forem capazes, no menor prazo possível, e cagam-se positivamente em coisas como os direitos dos trabalhadores, o Direito propriamente dito ou sequer a mais ínfima das noções de decência ou humanidade. Vai tudo raso. "Pequenino" que chegue a "grande" é fodido: vinga-se à força toda. O que antes dizia ser um "direito" fica ali, por ele mesmo imediatamente abolido. O que antes eram "injustiças" do patronato, por artes mágicas se transformam em "leis de mercado", em "competitividade" ou, mais prosaicamente, na lei popular universal: "fazer pela vida", ou seja, "desenrasquem-se, foda-se, caguei para isso". Para o "popular" que roubou o suficiente para deixar de ser "popular", tudo se justifica, está tudo explicado com a seguinte máxima: "é a vida!"

A Polícia de choque, as diversas polícias políticas por esse mundo fora, os algozes, os torturadores, toda essa gente é recrutada de entre as massas populares; não consta que um único "capitalista" se dedique a tão energéticas actividades. Porém, para os maníacos apreciadores dos "pequeninos", isso não é um facto e muito menos indicia a prototipia execrável da própria condição "popular".

Daí, por exemplo, o carácter absolutamente nojento e doentiamente paradoxal da chamada "direita" nacional. Tentam colar-se ou, de alguma forma, absorver um cariz politicamente "popular". É este o maior e mais espantoso contra-senso dos tempos modernos: as forças da chamada "direita" tentando captar para as suas fileiras aquilo e aqueles que supostamente deveriam combater. Quando, pela ordem natural das coisas, o papel da direita política deveria ser o de combate à uniformização, à massificação, à estupidificação e ao embrutecimento. Em resumo, a Direita deveria combater o trogloditismo. Ou, numa palavra ainda mais simples, combater... o Povo.

É necessário estabelecer distâncias. O meu voto (se eu porventura votasse) não pode valer o mesmo que o voto de qualquer labrego que não sabe ler nem escrever, ou qualquer criminoso, marginal, bandido, atrasado mental, idiota chapado. Como não pretendo impor os meus valores, ou gostos, ou hábitos a ninguém, gostaria de ter o direito de que ninguém me impusesse os seus (ruídos), ou aquilo que vagamente julga serem os seus (direitos).

É necessário combater o povo. Lutar contra o povo. Exclui-lo. Limitá-lo. Em última análise, é necessário exterminar o povo, levá-lo à extinção. Não há nada a perder porque, assim que isso acontecer, não se perdeu nada. O povo que o diga.

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Dodo, o caça-talentos


Começou no dia 6 deste mês e dedica-se principalmente à música, mas também a mundanidades e outras aparentes trivialidades. Muitíssimo bem escrito, sem qualquer espécie de ruído linguístico.

Ou, bem, como ele mesmo remata todos os "posts": Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

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29/09/05

A dieta 001


Um dos maiores problemas com os quais a humanidade se confronta actualmente é o da aparência pessoal e, dentro deste vastíssimo assunto, em especial no que diz respeito ao excesso de gordura corporal . Ora nós, aqui no Godot, sempre interessados em aviar receitas para a cura de todos os males da humanidade, vamos avançar desde já com a respectiva solução. O que se segue é nada mais nada menos do que o método de eliminação das anafações, principalmente para os casos em que esta se encontre em excesso, mas também pela inversa, isto é, a coisa serve não apenas para a maioria que pretende emagrecer mas também para quem procura, pelo contrário, engordar uns quilos que se vejam.

Este método de emagrecimento ou de engorda elimina de uma vez por todas o maior inconveniente de todas as dietas: a fome. Isto é, quem seguir a dieta 001 tem duas coisas asseguradas à partida: a primeira é que vai garantidamente emagrecer ou engordar, conforme o que mais lhe convém, e a segunda é que não vai passar fome durante o processo; pelo contrário, poderá em qualquer dos casos encher a mula até lhe chegar com o dedo, todos os dias, várias vezes por dia.

Modéstia à parte, a ideia é genial. Baseia-se num conceito que decorre da nossa experiência profissional e que tem tudo a ver com rações para animais. Curiosamente, a propósito e nem de propósito, a indústria dietética nunca aproveitou nada das técnicas utilizadas na congénere indústria da alimentação animal; o que não deixa de ser estúpido e contraproducente, já que não existe - e não apenas do ponto de vista da nutrição - a mais ínfima diferença entre as espécies animais humana e bovina ou porcina, por exemplo. Na indústria das rações para animais, existem fórmulas predeterminadas para cada espécie, em função do tempo de vida previsto e da progressão pretendida para a engorda; as percentagens de cada ingrediente nas rações são calculadas de forma extremamente linear, que poderíamos simplificar através de uma fórmula básica:

Pf=Pi+(R(C+A)xT)
.........O

Traduzindo: o Peso final de cada animal é igual a Peso inicial mais a Ração (mistura de Componentes mais a Água) vezes o Tempo, a dividir pelo Objectivo, sendo este a tonelagem de carne para abate. Por conseguinte, quanto mais condensada for a mistura de componentes e quanto mais água for absorvida, em menos tempo, mais rápida será a engorda. O "segredo" para um processo de engorda eficaz estará, assim sendo, na mistura de componentes, e esta obedece a um único e muito básico princípio: a metabolização dos nutrientes e a sua transformação em gordura variam, não em função das quantidades absorvidas, mas em função das substâncias combinadas e destas com a água; existe maior engorda em menos tempo quanto maior equilíbrio existir entre ácidos e bases, na mistura de componentes da ração; e quem diz substâncias ácidas e básicas, diz doces e salgados, ou féculas e fibras (por um lado) e substâncias proteicas (por outro). Por exemplo, farinha de soja e carolo de milho engordam quando misturados a 50%, mas não engordam quando absorvidos isoladamente; existem componentes resultantes da interacção dos dois que são absorvidos e metabolizados, o que não acontece no processo de digestão de qualquer deles, quando não em presença do outro.

Em tudo isto, o factor determinante é o da disponibilidade do elemento mais barato na alimentação animal: a água. Numa vacaria com trinta animais, por exemplo, é indispensável que existam pelo menos 15 bebedouros (de água corrente e limpa), um por cada par de baias colocadas frente a frente. De forma a aumentar a sede nos animais, incrementa-se a percentagem de sal na ração, por exemplo através de derivados de soja, a qual funcionará também como retentor de líquidos. É por isto que o chamado bife de vaca pesa 250 gramas quando é metido na frigideira, e sai para o prato com quase metade; o "fumo" que se desprende durante a fritura é água, paga pelo consumidor a 15€ o litro, no mínimo.

Portanto, se está mais ou menos explicado como se engorda qualquer rês para consumo, vaca, porco, frango, ou mesmo as espécies piscícolas de aquacultura, é fácil concluir que o processo inverso funcionará para emagrecer. Para emagrecer qualquer animal, mulheres e homens incluídos.

A lógica da dieta 001 assenta num facto muito simples: sessenta por cento (60%) do peso corporal é água, sendo este o elemento químico de maior influência nos processos metabólicos. Eis, portanto, a receita, as três regras para emagrecer em pouco tempo:

1. Comer tudo aquilo que se quiser, em qualquer quantidade, mas apenas uma coisa de cada vez, sem misturas ou acompanhamentos.
2. Reduzir drasticamente, ou abolir da dieta, o sal, os alimentos salgados (soja, tomate, etc.), os condimentos e os molhos.
3. Beber apenas água (a suficiente), somente no intervalo das refeições (cerca de quatro horas depois e quatro horas antes).

Isto implica, obviamente, que ficam excluídos da dieta quaisquer alimentos das chamadas "fast-food" (McDonald's, KFC, etc.) ou "junk-food" (batatas fritas, conservas, etc.). Implica também que é necessário, se uma pessoa quer mesmo emagrecer, acabar com o hábito de "petiscar": não há mais bolachinhas, ou salgadinhos, ou rebuçados "só para enganar o estômago"; se tem fome, espera pela hora da refeição seguinte (podem ser três por dia), e então come até fartar, o que mais lhe apetecer.

Apetece um franguinho? Pode comer até dois ou três, os que aguentar, desde que seja só o frango, sem batatas, nem salada, nem sopa, nem pão. Um frango inteiro e mais nada, sem beber coisa nenhuma, e sem molhos ou grandes temperos, com apenas o sal suficiente. Apetece fruta? Janta um ou dois quilos de uvas, ou de pêssegos, ou um melão inteiro, por exemplo. Ora aí está uma boa maneira de beber água sem beber água. Apetece o belo peixinho? Vá, pode ser. Um pargo inteiro, se for capaz (em dois sentidos), ou uma pratada de robalos, ou uma travessa cheia de "jaquinzinhos".

Pela inversa, é claro, também existem pessoas que sofrem por se acharem demasiadamente magras. É natural também que, do mesmo modo, a estas (principalmente damas, como se sabe) nunca tenha ocorrido a lógica das rações para animais. Se pretendem engordar, caras senhoras, é muito fácil: não precisam de comer mais ou mais vezes, apenas terão de misturar o mais possível todos os alimentos de que gostam; e, principalmente, aumentar o sal - e, por consequência, a ingestão de líquidos e a sua retenção; se não bebem álcool, devem passar a apanhar seu pifozito, de vez em quando; é perfeitamente possível engordar, e bastante, quase sem comer, apenas à base de cerveja; não comam batatas fritas simples, mas batatas fritas com maionese, ou com manteiga, e com um bifinho a acompanhar as batatas, com ovo a cavalo, e com pão para ensopar no molho, e sempre, sempre, uma sobremesa no fim. Tudo com molho, tudo o que se diz ser péssimo para a saúde, tudo salgado, apurado, condimentado. Vereis o secão que isso dá, a sede tremenda. É infalível.

E pronto. Agora é agarrar a oportunidade. A dieta 001, a verdadeira, não tem chazinhos ou mezinhas, não dá chatices e é completamente grátis, uma coisa que se faz com o que existe lá em casa. E não mete gajos que dão porrada na mulher, nem sequer espanhóis ou outros artistas. Não há cá cintas nem regimes de fome canina, muito menos bandas gástricas ou vomitório compulsivo.

Minhas senhoras, libertem-se das banhas que vos incomodam; ou arranjem, se for o caso contrário, aquelas gordurinhas que tanto desejam. Sem sacrifícios estúpidos. Isto é que é serviço público, bálhamedeus. Qualquer contribuiçãozinha para a "causa", sintam-se em casa.



Nota: na dieta de emagrecimento 001 (a verdadeira, não sei se já tinha dito), não podem entrar quaisquer produtos de origem animal não natural; isto é, nem frangos de aviário, nem bifes de aviário, nem robalos de aviário. É que todas essas porcarias contêm rações para animais, uma mistura inteligente de pólvora gordurosa e de água com sal. Absorver tais nutrientes, por esta via, é liquidar à partida qualquer hipótese de emagrecimento. Para os e as espirra-canivetes que desejam inchar um pouco, recomenda-se tudo disto e mais alguma coisa (transgénicos, por exemplo).

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28/09/05

Rrosei Moriño original


O tradutor-intérprete José Mourinho deu uma (entrevista) a um site chinês que, pela ingência, para que não perca o leitor pitada, se transcreve no original.


LONDON, Sept. 16 (Xinhuanet) -- Chelsea manager Jose Mourinho on Friday dismissed reports that Joe Cole wants to leave Chelsea, after conceding the midfielder spent much of last season mulling why he was not in the starting eleven.

A source purportedly close to Cole was quoted as saying the England international was desperate to quit the Premiership champions in search of more regular first team football.

Cole has been on the substitutes' bench for the past two games and spent the bulk of last season out of the starting line-up.

But Blues boss Mourinho is refusing to give the stories any credence and feels he does not even need to speak to Cole about the matter.

Mourinho admits it was a bone of contention for Cole last season and has suggested the former West Ham starlet would talk tohim if he was currently unhappy.

"Fór mi, ites rábish jurnalisme becóse, uéne iu du a béque peige uide aninterviu fróme noubódi, ái dounte andarxténde déte," stormed Mourinho."

"U ish de gái ine de interviu? A sórce ófe a frénde ófe a frénde ófe a frénde. Ai tinque ites anbalivabóle."

"Ai éve névere cine disse bifóre ine mái láife. A frénde óre sórce clouse tu a frénde ófe a pleiér meiques de béque peige - ites ameizingue."

"Ai quénóte cepique tu de pleiér abáute disse, ites impóssible."

"O Coule uós véri ópéne tu mi. I uós ine mái ófice láste sisóne 10 táimes, nóquing óne mái dór sei-ing "pelise quén ái cepique uide iú, pelise uái éme ái nóte plei-ing, uáte quene ái du tu impruve?" I ish ólueis sou oupéne tu mi déte ái quénóte comente."

"Ai file itsh ridiculus."

Mourinho was also quick to pour scorn on suggestions that thereis no smoke without fire regarding Cole's purported frustration atnot being a fixture in the Chelsea side.

He added: "Ife dére ish a fáire, itz a stupide fáire bicóse itsh a fáire déte éz tu barne fóre tri mantes énde, uide de reine ine Inguelande, fri mansses! Pchhhhh."

"Fóre mi ites anebelivabóle. Iú chude cepique uóne mounse bicóse de márquete ish náu clósede."

"Ife i uántes tu live i és tu ueite antile de ende ófe de iar fóre de márquete ine Januari ende éveri pleier és a praice sou dei jaste quénóte sei ai uánte tu live."

"Iú uánte tu live bate iú éve a práice
," he added.

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Nova lista de favoritos


1. Mr. Steed
2.
3.
4.
5.
etc.

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Esperando o tal Godot, ou isso


Woogle: words in pictures

(via http://blogotinha.blogspot.com/, via http://presurfer.meepzorp.com/)

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26/09/05

As pombinhas do Katrina: copy? Right... or not


No passado dia 10, publiquei aqui um post com o chiquérrimo título de "As pombinhas do Katrina". Pois bem. Qual não é a minha surpresa quando vejo (leio) um tal Rodrigo Adão da Fonseca, do blog Blasfémias, a mandar-se ao ar porque certo AG, do blog Causa Nossa, usou o mesmo títalo sem referir a "fonte", a saber, Domingos Amaral, do Diário Económico, em 07.10.05. Ai, ai, ó AG, seu malandro (não estou a brincar).

Agora, a googlação do mesmo títalo já dá um porradal de entradas, o que é não pequena chatice. Eu cá (acho que) nunca li o Diário Económico Oláokiei, e tampouco sei se este Domingos Amaral é o mesmo que escreve não sei onde (DN? Maxim?) e do qual já li, de facto, umas coisas. Mas este artigo das pombinhas, juro, nunca tinha visto até hoje, inda há pouco, há poucochinho. Eu seja ceguinho, pela minha rica saúde, que me caia já aqui um raio em cima se não estou a dizer a verdade. Canudo.

Ele há destas coisas. Pensava eu que o títalo pois que até era jeitosinho, e tal, e vai-se a ver, pimba, era de outro. Ora abóbora, como diria nosso Eça.

Mas enfim. Não sejamos abutres, como as tais pombinhas de que se falou. O que interessa é o assunto, a tragédia do Katrina. Não desviemos as atenções do essencial.

Mas aqui fica a notazinha: eu, abaixo assinado, não tinha conhecimento de que aquele título (baseado numa conhecida lenga-lenga infantil, dos anos 60) já tinha sido publicado por outra pessoa.

Dodo

Adenda, em 27.09.05 - 17:12 h
Pelos vistos, quem verdadeiramente pariu a expressão (pela primeira vez, até ver) foi o autor do blog Nova Frente, no dia 30 de Agosto. Fica a correcção. E o comentário: afinal, quem copiou quem, se é que alguém copiou de facto?

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A Sociedade das Noções


A ignorância é uma espécie de sarro, tanto mais difícil de tirar quanto mais tempo de incrustação tiver. Por mais que se tente raspá-lo, com argumentação intelectualmente enérgica, ou dilui-lo, à força de elementos químicos do conhecimento, a tarefa, a barrela, afigura-se quase sempre como algo de desarmantemente impossível. O sarro da ignorância não larga a superfície à qual se agarra, penetra em camadas cada vez mais profundas, acaba por se apossar do corpo ao qual se colou e termina, fatalmente, por decompor as substâncias originais envolventes. Isto vale de igual forma para qualquer espécie de sarro, seja mental ou seja sanitário, e o processo verifica-se de forma idêntica tanto no esmalte de um bidé ou de um lavatório como nas meninges e mesmo nas circunvoluções do cérebro humano.

Sendo, por conseguinte, impossível devolver a uma sanita com sarro o seu brilho original ou a um cérebro ignorante o seu funcionamento normal, aos seres humanos que deles dispõem acaba por não restar alternativa senão juntar-se em grupos, de acordo com o teor e o grau de sujidade de que são portadores. Exemplos paradigmáticos deste instinto gregário defensivo são os clubes desportivos e os partidos políticos; ser "adepto" do SLB, do SCP ou do FCP, ou ser "simpatizante" do PS, do PSD, do PCP ou do BE, é não apenas rigorosamente igual, em termos de escolha inteligente ou de validação intelectual, como demonstra o carácter absolutamente acéfalo da atitude; não existe a mais ínfima das diferenças entre "ser" do Benfica ou "ser" do Sporting, como não existe entre votar comunista ou votar social-democrata. De resto, tratando-se esta necessidade de pertença ao grupo de um impulso absolutamente básico, sendo de carácter "instintivo", ou seja, de pura conservação e defesa, ficam à partida excluídas quaisquer interpretações de tipo lógico ou, muito menos, filosófico. Não têm nada a ver com o saber, em suma.

A adesão ao grupo processa-se de forma totalmente inconsciente, baseada em premissas daquilo a que geralmente se chama "gosto" ou "preferências": no caso dos clubes de futebol, o que atrai uns e afasta outros são coisas tão aparentemente insignificantes como as cores, os rituais, os líderes e, por fim, as afinidades ou os interesses; já quanto aos partidos políticos, o processo é rigorosamente inverso, ou seja, aquilo que nestes atrai as pessoas são os interesses ou as afinidades, os líderes, os rituais e, por fim, as cores. Num caso como no noutro, se ao elemento interessa a pertença ao grupo, a este interessa contar cada vez com mais elementos. Não há em todo o processo de identificação o mais leve indício de filtragem e, portanto, de actividade inteligente, nem a montante nem a jusante; um benfiquista é benfiquista "porque sim", do mesmo modo que um comunista é comunista "porque sim". Do mesmo passo que é impossível "convencer" um benfiquista a deixar de o ser e a passar-se, por exemplo, para a claque do Vitória de Guimarães, não passará pela cabeça de ninguém que tenha a mínima viabilidade tentar convencer um comunista de que a sua "opinião" política foi exaustivamente comprovada pela História como sendo um erro terrível, e nada mais do que um erro.

Ao grupo, à sua formação e à sua consolidação, aquilo que menos interessa é o entendimento, a consciência, a decisão e o livre arbítrio do elemento. O que, precisamente, sustém e sustenta a coesão do grupo é a sua capacidade de esmagamento do indivíduo, pelo sobrepujamento do número; interessa não o pensamento individual mas o embrutecimento colectivo; convém não o carácter mas a uniformização, não a excepção mas a regra, não o pensamento mas o sentimento. Não a compreensão mas a (vaga) noção. A ignorância, portanto. O sarro.

O mesmo princípio se aplica à constituição de qualquer dos outros grupos humanos, como os que respeitam a entidades geográficas (nação, região, vizinhança), e mesmo nos mais subtis e menos organizados, como os de cariz comportamental, por assim dizer: profissional, sexual, cultural, etc. Dando de barato o somatório de acasos que determinam o futuro de cada qual, ninguém escolhe a família ou o local onde vai nascer, da mesma forma que ninguém opta deliberadamente por esta ou aquela orientação sexual, este ou aquele vizinho, este ou aquele problema para resolver. Resta saber se existe realmente alguma coisa a respeito da qual seja possível tomar uma posição, algo que não seja simples, irritante, frustrante inevitabilidade. Há quem diga que é a isso que se chama "gosto", há também quem diga que o "gosto" é que é a chamada "cultura", mas há ainda mais quem diga que "gostos não se discutem". 
E nisso reside, de facto, o pomo da questão: o "gosto" ou, por conseguinte, a "cultura", dependem apenas do livre-arbítrio individual(*)? Ou são, como tudo o mais, consequência directa de factores envolventes e de condicionantes extrínsecas? Preferir José Saramago a Lobo Antunes é uma opção ou uma consequência? Será possível que algum matarroano de Brejenjas prefira Samuel Barber a Mónica Sintra? Se lhe derem a escolher, qualquer sopeira profissional prefere um quadro de Murillo ou um de Murdillo? Ou, em alternativa, que se lixe a pintura, pode ela escolher deixar de ser sopeira? E, em podendo, o que escolheria ela, se ignora completamente qualquer outro modo de vida, se apenas sabe limpar o sarro nas casas-de-banho dos outros?

São de resto elas, as sopeiras, as mulheres-a-dias, o paradigma da inteligência pura, da sabedoria extrema, as únicas pessoas capazes de convencer alguém ou, pelo menos, alguma coisa, lavatórios, ladrilhos, esmaltes brancos e estampados, a deixarem-se de merdas. E já agora, nem de propósito. Terei sido eu quem escreveu, de livre vontade, este monte de patacoadas, ou terei sido de alguma forma obrigado? Bom, é que já não me está a agradar lá muito a ideia. Já não estou nada de acordo comigo mesmo. Olha que porra! Então isto é o da Joana, ou quê? É tudo sarro e nada de brilhantina? Nem vou reler, que é para não me arrepender.




(*) A expressão "livre-arbítrio individual" é uma redundância; não existe tal coisa na forma colectiva. Trata-se aqui de reforçar uma ideia, em detrimento da correcção formal.

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21/09/05

Simon Wiesenthal (1908-2005)




Levantei-me do meu catre e saí da sala. Atrás do crematório, homens das SS abriam covas para os nossos 3000 camaradas que tinham morrido de fome e de exaustão após a chegada dos Americanos. Sentei-me, observando os homens das SS. Duas semanas antes, ter-me-iam espancado até à morte se ousasse olhar para eles. Agora, pareciam ter receio de passar por mim. Um SS pediu um cigarro a um soldado americano. O americano atirou-lhe o cigarro que estava a fumar. O SS inclinou-se, mas um camarada foi mais rápido e apoderou-se da "beata", e os dois começaram a esmurrar-se até o soldado lhes dizer para se afastarem.
(pág 52)

Os Assassinos Entre Nós (orig. The Murderers Among Us), S. Wiesenthal, col. Livros Unibolso, Editores Associados, trad. H. Silva Letra

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19/09/05

Educação bárbara


Actualmente, a coisa mais fina e bem educada que se deve dizer a quem não nos apetece cumprimentar, é a seguinte:
_ Ora, ora, vai mas é para o carrilho.

Em situação social, recepções, casamentos, jantares e assim:
_ Olha, filho, põe-te na bicha, ou o carrilho.

Em família, ou em outras situações mais informais:
_ Eu cá não conheço mal vestidos, ai o carrilho!

Ou ainda:
_ Mas o que me quer este carrilho?

No dia-a-dia, existem expressões que, de tão grosseiras, devem ser polida e imediatamente substituídas por:
_ Olha que carrilho!
_ Mas que grande carrilho!
_ Isto é que é um carrilho, hem?!
_ Ó seu malcriado, seu grandessíssimo cara de carrilho!

Em outro registo, mas na mesma linha de pensamento, consideremos algumas variantes de igual pinta educadíssima.

Diz nossa Bárbara, volta-e-meia, pela calada da noute, a seu consorte:
_ Ó Carrilho, filho, meteste-zi-o? Sério? Carambinhas, que não dei por nada. Mas onde está essa coisa, carrilho, que nem se vê?!

Qualquer senhora de porte que preserve, por um lado, o seu recato, e aprecie, pelo outro, o "picante" dos palavrões, quando estes se justificam, deverá largar de imediato as antigas expressões libidinosas e substituí-las por algo como:
_ Ai, carrilho, espeta-me essa coisa com força,oh, oh, ai, ai, adoro o teu carrlho, vai, vai, ah, mas que grande carrilho que tu tens, hmmm.

Etecetera.

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U ákôrrdu órrtôgráfiku dji doiss miu i seiss. Ki légáu, né?


Você é ássim
Um sonhu prá mim
I quandu eu nãum
Tchi vêju
Eu pensu em você
Desdji u amánhêcê
Áté quandu eu mi deitu
Eu gósstu dji você
I gósstu
Dji ficá kom você
Meu risu é tão filiss contchigu
U meu mêlhó ámigu é u meu ámô
I á gêtchi cantá
I á gêntchi dançá
I á gêntchi nãum
Si cansá
Dji sê criançá
Á gêntchi brincá
Ná nóssa vélhá infânciá
Seuz olhoz, meu clárão
Mi guiam
Dentru dá isscuridão
Seuss péiss mi ábrem u camin-u
Eu sigu i nuncá mi sintu só
Você é ássim
Um sonhu prá mim
Queru tchi enchê
Dji beijuiss
Eu pensu em você
Desdji u ámánhicê
Até quandu eu mi deitu
Eu gósstu dji você
I gósstu
Dji ficá kom você
Meu risu é tão filiss contchigúú
U meu milhó ámigu é u meu amô
I á gêntchi cantá
I á gêntchi dançá
I á gêntchi nãum
Si cánsá
Dji sê criançá
A gêntchi brincá
Ná nóssá vélhá infânciá
Seuz olhuiss, meu clárãum
Mi guiam
Dentru dá iscuridãum
Seuz péiss mi abrem u caminhu
Eu sigu i nuncá mi sintu só
Você é assim
Um sonhu prá mim
Você é ássim
Você é ássim
Um sonhu prá mim
Você é ássim
Você é ássim
Um sonhu prá mim
Você é ássim

Vélháinfânciá
Uss tribálisstáiss

vêrrsãum origináu pré hisstórika

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Pedrada no Charquinho

Um blogue é como um diário íntimo e o cadeado é a nossa identidade secreta.





(à cause des mouches...)

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Viciosa...


Aproxima-se dela rapidamente, com o ar despachado de quem está realmente em ânsias. Mete umas moedas na frincha e escolhe o que pretende.
De súbito, uma voz espantosamente feminina, belíssima, sussurra-lhe quase ao ouvido: Gostei muito de o servir. Obrigada!
Surpreendido, o homem baixa-se, recolhe o maço do tabuleiro. Roda nos calcanhares e afasta-se, mas ainda se volta para trás, espreita por cima do ombro, uma sobrancelha arqueada e um leve sorriso comprometido.
Ó amigo, atiro-lhe eu, você não ligue - que ela diz o mesmo a todos...

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18/09/05

31.05.86


A vida é um longo strip-tease em que nos vamos despindo, de tudo, até só restar o esqueleto.

(Pô. Fui eu quem escreveu isto, ou plagiei? Era jovem, não pensava. Ou pensava? Ou não era tão jovem quanto isso?)

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17/09/05

Ob Tia: novíssima Gramática do Português


Prémio fúria ao alvo
E Manuel Alegre lá ganhou a prova de tiro aos pratos. Quando a Comissão Nacional do PS, há duas semanas, aprovava o apoio à candidatura do arqui-rival Mário Soares, o poeta travava novos duelos na Taça de Portugal de Compak-Sporting, que decorreu no Sabugo. O candidato-que-sabe-que-nós-sabemos-que-ele-sabe-que-não-é-candidato bateu os adversários na categoria de veteranos. Cada tiro, cada prato. Naquele domingo, quando Soares obtia uma larga maioria rosa, o deputado levantava o troféu entregue por Fernando Seara. Em quem pensava?

Revista Grande Reportagem, 17.09.05, pág. 19




Por conseguinte, conjuguemos então o verbo obter no Pretérito Imperfeito (não há mais imperfeito do que isto):

eu obtia
tu obtias
ele obtia
nós obtiamos
vós obtieis
eles obtiam


E no Pretérito Perfeito:

eu obti
tu obteste
ele obteu
nós obtemos
vós obtestes
eles obteram


E ainda no Futuro do Conjuntivo:

eu obter
tu obteres
ele obter
nós obtermos
vós obteres
eles obterem

Adaptar em conformidade aos restantes tempos verbais. Este método da Tia serve também para os verbos reter, manter, entreter, conter, deter, etc., e ainda para o paizinho de todos eles, o verbo ter : eu tio, tu tias, ele tia, nós tiamos, vós tiais, eles tiam.
Lindo.

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15/09/05

Serviço público, inimigo público ou perigo público?


No site RadaresDotCom é facultada a qualquer pessoa a possibilidade de "avisar" os seus concidadãos dos locais onde se encontram radares de detecção de velocidade instalados pelas diversas forças policiais. Pretende-se com isto, segundo uma espécie de declaração de intenções daquele site, providenciar meios de defesa aos automobilistas portugueses contra a chamada "caça à multa", essa lúdica e divertida actividade à qual se dedica a maior parte dos escriturários armados vulgarmente conhecidos como "agentes da autoridade". Ou seja, em essência, sentindo-se alguns ameaçados e perseguidos, nomedamente pela Brigada de Trânsito da GNR, esta confraria de condutores utiliza uma arma virtual de contra-ataque, extremamente simples: denunciada a localização do radar policial (até já existem alguns montados dentro de caixotes do lixo!), torna-se fácil passar no local respectivo impunemente, pachorrentamente, ou apenas, para variar, calmamente.

Em princípio, nada contra. A iniciativa é natural, consequência directa da real, verdadeira, efectiva "caça à multa" com a qual o Estado português pretende realizar receitas extraordinárias. Da mesma forma que, por exemplo, o aumento dos impostos sobre o tabaco implica a imediata importação maciça de cigarros contrabandeados, também o aumento exponencial da perseguição ao automobilista leva a que este se tente defender, fugindo aos agentes, enganando a autoridade, fintando a legislação.

No entanto, se, por um lado, é compreensível que "iniciativas" deste género existam, por outro, a evidente ilegalidade das denúncias dá que pensar. Há nisto muito e suculento material para estudo e para reflexão sociológica. A redacção das "denúncias" é de tal forma grosseira que facilmente se conclui estarmos perante uma rede organizada, não de simples cidadãos auto-mobilizados que legitimamente se defendem de abusos, mas de pessoas de conduta altamente suspeita que resolveram declarar guerra a toda e qualquer espécie de legislação, autoridade ou mesmo responsabilidade.

Alguns exemplos deste carácter delatório, uns com tiques de marginalidade e outros com estranhíssimo humor negro, podem ser encontrados na página onde estão listados os locais de instalação de câmeras:

ViaSentidoLocalComentários
variante,Prado,Bragaambos os sentidos,móvelveicolo de presseguição, Seat leon,branco,ou BMW 330D preto.
Via da piçaantes da subida que descejá aliTres pilas disfarçadas de policias tentam fuder os mais desprevenidos! Aconselha-s eo uso de vaselina!
ip4Amarante-Vila RealArrabaeso radar esta sempre colocado na area de descanso de arrabaes e encontra-se dissimulado geralmente num nissan branco e atedendo ao facto de nesse preciso sitio o limite baixar para os 70km/h
avenida de chelasaeroporto/matinhadepois do 1º viadutoé custume estarem depois da 1ª ponte (viaduto)com um toyota azul com radar e mandão parar sensivelmente em frente da universidade
A 22Tavira - FaroDescida para o nó de faroEsta colocado 1 radar na junta d dilatação na descida para o nó de Faro, onde o pessoal atinge o haús das suas makinas, kem será k passará la com mais velocidade !! fazem-se apostas !!


É possível que algumas das falsas "denúncias" tenham sido propositadamente redigidas por agentes policiais, não apenas como manobra de desinformação mas também pela forma como esta escrita macarrónica denuncia o grau de instrução de grande parte dos mesmos agentes. De resto, as próprias polícias nacionais já devem estar neste momento a preparar (ou a executar) o contra-contra-ataque; não é previsível que este "serviço público" venha a gozar de muito longa vida, ou sequer de boa saúde.

É possível também que a iniciativa tenha surgido de boa-fé, por parte de alguém que foi efectiva e sistematicamente perseguido pelos escriturários armados. Acontece, sim, e por demasiadas vezes. Já todos vimos brigadas de trânsito emboscadas em locais estratégicos; uns metros mais à frente, lá está a "banca das multas", uma mesa desmontável com seu escrivão fardado sentado numa cadeirinha desdobrável. É verdade e é demasiadamente sistemático, por mais oficialmente desmentida que seja esta verdadeira caçada, para que as pessoas de bem não se revoltem, não reajam, não se defendam como puderem. O "polícia de trânsito" personifica o que de pior existe nessa entidade abstracta que é o Estado; era assim antes da abrilada e é o mesmo hoje em dia; dantes, avisavam-se os outros condutores, com sinais de luzes, de que estava "a bófia" na estrada; actualmente, os meios são mais sofisticados, mas a intenção é rigorosamente a mesma: ludibriar a autoridade.

A qual, por seu turno, se moderniza igualmente. Não há dinheiro para quase nada, mas lá vai aparecendo para oferecer à BT viaturas topo-de-gama "descaracterizadas", radares, detectores e outros "gadjets". É uma espécie de corrida aos armamentos, da sociedade civil contra a autoridade do Estado, sendo que os agentes desta servem preferencialmente o próprio Estado e, em última análise, o seu próprio emprego e respectivas despesas, desprezando aquilo que deveria ser a sua missão e que é a sua divisa: pela Lei e pela Grei. Cada vez mais nem uma coisa nem outra, é mais ou exclusivamente pelo dinheiro, o vil metal, o pilim; a grei que se amanhe.

É triste, tudo isto? É. É Portugal no seu pior, doente. É a cultura da esperteza saloia, é a arte do desenrasca, é a vida no limiar da decência.

O RadaresDotCom não é de forma alguma uma causa e não é apenas uma consequência. É um sintoma. De decadência.

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13/09/05



Circulação em rotundas
Tendo em conta as disposições aplicáveis do Código da Estrada, na redacção que lhe foi conferida pelo Decreto-Lei nº 44/2005, de 23 de Fevereiro, constantes dos artºs 13º, nº 1; 14º, nºs 1 a 3; 15º, nº 1; 16º, nº 1; 21º; 25º; 31º, nº 1, c) e 43º e as definições referidas no artº 1º do mesmo Código, na circulação em rotundas os condutores devem adoptar o seguinte comportamento:

1. O condutor que pretende tomar a primeira saída da rotunda deve:
Ocupar, dentro da rotunda, a via da direita, sinalizando antecipadamente quando pretender sair.

2. Se pretende tomar qualquer das outras saídas, deve:
Ocupar, dentro da rotunda, a via de trânsito mais adequada em função da saída que vai utilizar;
Aproximar-se progressivamente da via da direita;
Fazer sinal para a direita depois de passar a saída imediatamente anterior à que pretende utilizar;
Mudar para a via de trânsito da direita antes da saída, sinalizando antecipadamente quando for sair.

Sinalização de manobras:
Todas as manobras que impliquem deslocação lateral do veículo decorrente da mudança de via de trânsito ou saída da rotunda devem ser previamente sinalizadas.

Transcrição de esclarecimento da DGV, em formato PDF.
Imagem de DGV



Culpa rotunda


A vizinha do guarda-factos esteve hoje quase a ser passada a ferro por um troglodita (ou "orangotango", como lhe chama), que atravessou três faixas de rodagem, directo a uma saída, e lhe espatifou a frente do carro. Não entendi se isto sucedeu numa rotunda ou numa auto-estrada, mas parece evidente que existe aqui uma série de confusões.

Seja qual tiver sido o caso, bem poderá a vizinha ficar na sua, tem razão, porque em caso algum pode um condutor atravessar, ou cruzar, o trajecto de outra viatura - venha da direita ou venha da esquerda, a não ser nos casos de ter prioridade e, mesmo assim, com limitações.

No entanto, se a coisa se passou numa rotunda, ora bem, vamos lá ver, há umas coisinhas a esclarecer.

A maior parte dos cidadãos automobilizados nacionais não faz a mais pequena ideia de que existe uma "pequena" diferença entre uma rotunda e uma auto-estrada: não apenas pelo facto de a primeira ser mais para o redondo e a segunda mais para o comprido, mas principalmente porque os limites de velocidade são de, respectivamente, 40*** e 120 km/h. Embora ambas as "coisas" possam ter três ou mais faixas de rodagem, as finalidades destas são completamente diferentes:

1. Tecnicamente, numa rotunda não existem ultrapassagens mas apenas circulação em faixas diferentes.
2. As faixas de rodagem das rotundas servem exclusivamente de "corredores" em direcção à saída mais adequada.
3. A passagem das faixas interiores para as exteriores (aproximação à saída) é feita gradualmente, cedendo passagem a quem seguir pela (faixa à sua) direita.
4. A única semelhança que existe entre uma rotunda e uma auto-estrada é quanto ao acesso: em ambos os casos, quem lá circula tem prioridade sobre quem nelas pretende entrar.

Parece óbvio e faz todo o sentido, mas anda toda a gente, por simples ignorância, a fingir que não é assim. A lógica (da batata) corrente é a seguinte: se esta rotunda tem três faixas, então a da direita é para andar devagar, a do meio para seguir um bocadinho mais depressa, e a da esquerda é para ultrapassar toda a gente. Ora, para já não falar do limite de velocidade (não é fácil ultrapassar muitos carros a 40 km/h), a força da gravidade encarrega-se de desmentir esta ideia simplista; a força centrífuga aumenta quanto mais depressa e quanto mais próximo do centro se estiver a circular; o limite de velocidade nas rotundas serve, por conseguinte e entre outras coisas, para evitar que os mais apressados sejam atirados para fora - contra os carros que circulam mais na periferia ou mesmo contra a berma.

Continuamos a ver, por aí, automóveis a "ultrapassar" outros no interior de rotundas e, o que é muito pior, existe uma verdadeira pandemina de "rotundadores piscados": totós que contornam toda a rotunda, sempre muito encostadinhos à direita e com o "pisca" eternamente ligado para a esquerda. É vulgar que mesmo viaturas policiais (e da Brigada de Trânsito) o façam, pachorrenta e estupidamente.

Há dias, uma amiga "deu um toque" precisamente nestas condições e, porque "o outro" não queria declarar-se como culpado, resolveu chamar a Polícia. Contou-me que estava sossegada, porque o "xôr agente" declarou, no local, que a culpa era evidentemente do tal "outro", não dela; e disse mais: "numa rotunda, deve-se circular sempre pela faixa da direita com o "pisca" sempre ligado para a esquerda, até à saída que se pretende". Isto foi dito por um "agente da autoridade", valha-me Santa Bárbara!

É claro, é lógico, é evidente que a "culpa" do "toque" foi da minha amiga. De caras. Mas que grande totó. Ora vejamos: então, se o limite de velocidade é de 40 km/h e se deve circular sempre pela direita, para que diabo servem as outras faixas? Para idiotas que pretendem ser multados por excesso de velocidade? E ainda: se toda a gente circular apenas pela faixa mais exterior, como podem aceder à rotunda os automóveis que chegam aos acessos? Esperam indefinidamente que acabe a hora-de-ponta? Se a "lógica" vigente tivesse um pingo de razão, não seria mais prático fazer rotundas com uma única faixa de rodagem? Assim já não havia dúvidas...

Esta questão entronca na velha e relha teoria existencialista portuguesa: a legislação existe só para chatear e aplica-se apenas aos outros, quando serve os meus interesses, ou, em alternativa, aplica-se apenas a mim, quando serve os meus interesses. Ora, as leis, e nomeadamente a regulamentação do Código da Estrada, têm uma finalidade e uma fundamentação ligeiramente diferentes: regular a convivência nos grupos humanos, em função dos interesses de todos e com base numa lógica utilitária, de viabilização e de optimização dessa convivência. É por isso que não existe Código da Estrada no deserto do Sarah ou no pico do Monte Everest, por exemplo: é que não é preciso, não serve para nada.

Mas aqui, em Lisboa ou em Freixo-De-Espada-À-Cinta, essas regrazinhas servem, são indispensáveis, e pretendem tornar possível que as pessoas se desloquem nas suas viaturas de forma minimamente segura e civilizada. Nada mais, e já não é pouco.





*** Em certos casos, nomeadamente em rotundas de escoamento de tráfego, fora das localidades e geralmente em nós de acesso a auto-estradas, o limite de velocidade pode ser de 50 ou de 60 km/h; depende também da dimensão (diâmetro) da rotunda e de outras condições de segurança.

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11/09/05

A Relíquia



''Ladies and Gentlemen ... We've Got it''

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10/09/05

As pombinhas do Katrina


Não são propriamente pombinhas. São aves, também, mas de mau agoiro. Mais encorpados e corpulentos do que as pombas, bastante maiores e muito mais pesados. Têm um voo lento e indolente, raramente batendo as asas; descrevem círculos a grande altitude, aguardando a oportunidade ideal para aterrar e por fim devorar os cadáveres em decomposição.

Têm o bico adunco e forte, apropriado para rasgar e cortar a carne putrefacta, base da sua alimentação. O pescoço é desprovido de penas, para que possam mergulhar a cabeça no interior das carcaças sem embaraços. As patas são fortes e providas de garras afiadas como lâminas, perfeitas ferramentas para agarrar despojos sem largar.

Fingem que são pombinhas, sobrevoando o rasto de martírio que o Katrina deixou, mas não são. São os urubus do costume, farejadores de sangue e desgraça. Estão por todo o lado, com os seus ares superiores e o seu cheiro característico, nauseabundo, a formol de Kremlin e a mau charuto cubano.

São os abutres do Katrina, afinal. Já se sabia, já se lhes conhecia a intrepidez e a sanha, e por isso o festim não surpreende; mas é, ainda assim, um espectáculo repugnante.

Cada vítima é devorada até não restar nada, nem os ossos lhe deixam, e não lhes chega nunca, querem mais e mais, sempre mais cadáveres, quantos mais melhor, querem mil, querem dez mil. É uma fome insaciável, esta que sentem; não uma fome, em rigor, não são exactamente ânsias de estômago o que lhes desperta o apetite; o que pretendem é apenas que o número aumente, que a estatística inflacione, que a contagem dos mortos cresça, e cresça cada vez mais. Quanto mais mortos, maior a culpa "deles" outros, os americanos; quanto mais forte a destruição, mais forte a convicção: o Senhor Bush é culpado.

Nada mais interessa. Só isso. O Senhor Bush é culpado. É ele. Estão a ver? Foi ele quem, por sua mão, esborrachou cidades inteiras. Nem Deus, com a Sua própria mão, poderia ter causado tamanha destruição. Foi ele. Foi Bush, o Demónio da Esquerda necrófaga.

É necessário que alguém diga a esses abutres: tirem as patas, bichos nojentos!

Desapareçam.

Ou, ao menos, fechem a matraca. Deixem as pessoas fazer alguma coisa por aqueles desgraçados. Abstenham-se, por amor de Deus. Parem com a obsessão, a perseguição, a blogorreia anti-americana. Vão morrer longe, seus filhos-da-puta!




(Sobre o título deste post, ver um outro, posterior, no qual se reconhece a paternidade da expressão e o desconhecimento dessa paternidade, à data da escrita)

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OK KO


O semanário Tal&Qual publica hoje (ontem), na "secção" Perguntas Com Resposta, uma intrigante elucidação à seguinte questão de um leitor: "Qual é a origem da expressão O.K.? Foi nos Estados Unidos que se utilizou pela primeira vez?"

Bem, afinal são duas perguntas, mas responder à primeira equivale a esclarecer também a segunda. Afinal, e mais uma vez, fiquei na mesma: dizem eles que o etimologista Allen Walker Read "descobriu" que OK era uma abreviação de grafias incorrectas da expressão "All Correct"; e que isto deu em "Oll Kurrect" ou em "Ole Kurrect". Daí o OK. Piu!

Macacos me mordam. É com estas ingentes questões que se me arrepelam as meninges. Nem durmo, com niquices destas, é cada insónia que nem digo nem conto.

Lembro-me de ter escutado esta interpretação, pela primeira vez, há mais de 20 anos, debitada por ilustríssima cachola, respeitável engenheiro e tudo. Lembro-me também de que fugi para a casa-de-banho mais próxima, para me rir à vontade sem dar muita bandeira.

OK não é o contrário de KO? Estar knockout não é o contrário de estar OK, e vice-versa? Ou seja, ao pugilista que leva um jab mais violento, um uppercut em cheio ou uma série de valentes murraças (punches), e fica estendido no chão (por vezes desmaiado, sem sentidos), enfim, como se designa a derrota por incapacidade física, num combate de Box? Não é Knock-out? Não perdendo aos pontos nem por desistência, qual é a terceira hipótese?

Já não percebo nada. É por isso que vou fazendo cada vez mais perguntas e cada vez menos afirmações. Mesmo aquilo que parece mais evidente, como é o caso, segue de preferência em correio amarelo, ou seja, em forma de pergunta. Se calhar, estou enganado, mais uma vez, o que nada me espantaria.

De facto, esta deixou-me KO. E pior ainda (quase komatoso) quando o próprio Houaiss confirma a versão do "Oll Kurrect" e nem sequer refere a possibilidade de a coisa provir da linguagem de "boxeur"; uma enciclopédia, idem; o Dicionário da PE sequer refere tal, não há OK em Português.

Mas enfim, se porventura, um dia, alguém de gabarito atestar a minha(?) tese, vou finalmente poder condecorar-me a mim próprio com a seguinte medalha: descobri um erro nos calhamaços do "maior, mais moderno e mais completo dicionário da língua portuguesa". Hip hip hip...

Enfim, ó Antônio, companheiro, sem ofensa, OK?

OK não é abreviação de coisa alguma; OK é a inversão das iniciais da expressão KnockOut, utilizada em pugilismo e outras modalidades de combate pessoal, para designar o atleta que não é capaz de se levantar do "ringue" dentro de um determinado período de tempo; OK assume, pela inversão das iniciais do significante original e, por consequência, do respectivo sentido (significado), uma acepção positiva (bom, bem, correcto), e significa assentimento, consentimento, conformidade, bem-estar, etc.

OK. Se non é vero, é bene trovato.



(P.A. (pior ainda): a Wikipedia informa que OK "vem de" Okay, mas não explica de onde vem este.)


Adenda, em 12.09.05, 17:00 h
Sobre esta ingente e urgente questão, a "M" fez o favor de me enviar, directamente do Canadá, um endereço que esparrama alguma luz sobre o assunto: http://www.ebicom.net/~rsf1/ok.htm.

Pois diz lá que a coisa veio dos índios Choctaw. Pois diz que eles pronunciavam "Okeh" para significar "tudo bem", ou "tá fixe, meu" ou ainda "baril", "tá-se bem", etc. Pronto, pois diz. OK! É uma explicação. Tem viabilidade, sim senhora. Muito agradecido.

No entanto, porém, contudo, e na presunção de que a precedência tem alguma validade factual, devemos considerar que "Although boxing also existed during the Roman era, it wasn't until the 18th century that it became a popular professional sport in England". Algures em 1700 e qualquer coisa, portanto; talvez um século antes de o Grande Chefe Pushmataha se sair com tão brilhante e condensada expressão. E convenhamos que a "nobre arte" sempre foi um poucochinho mais popular e disseminada do que as culturas nativas norte-americanas.

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09/09/05

Voilá




LE PORTIER
(a Cyrano)
Vous ne dinez donc pas?

CYRANO
Moi?. . .Non.

Le portier se retire

LE BRET
(a Cyrano)
Parce que?

CYRANO
(fierement)
Parce. . .
(Changeant de ton, en voyant que le portier est loin)
Que je n'ai pas d'argent!. . .

LE BRET
(faisant le geste de lancer un sac)
Comment! le sac d'ecus?. . .

CYRANO
Pension paternelle, en un jour, tu vecus!

LE BRET
Pour vivre tout un mois, alors?. . .

CYRANO
Rien ne me reste.

LE BRET
Jeter ce sac, quelle sottise!

CYRANO
Mais quel geste!. . .

Edmond Rostand, Cyrano de Bergerac, Cena 1.IV (excerto)

fontes
texto: Worldwideschool
imagem: IMDB

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08/09/05

Haiku (2)


O dia nasce com sol:
sempre, de novo,
esperança inteira.

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06/09/05

Testosterona e octanagem


Em Portugal, cumprir o código da estrada é coisa de "roto", de "mariquinhas"; por exemplo, fazer pisca à direita é "gay"; ah, e então encostar à faixa da direita, isso sim, isso é que é gay! E os tipos das motinhas ligarem o farolim à noite, ó-ó, isso é que é gay, é gay até dizer chega!

Não existe, no condutor luso, a mais leve réstia de preconceito em relação à direita propriamente dita, seja ela qual for; o problema é só mesmo com a direita rodoviária, por assim dizer. Claro que, além deste comportamento verdadeiramente másculo, há também o chamado condutor totó, felizmente em desprezível minoria, aqueles caramelos que - sabe-se lá se por serem realmente "gays" - adoram a faixa da direita, desde que seja numa rotunda, e ligam os piscazinhos em todas as curvas, à direita e à esquerda. Mas são poucos, estes totós, valha-nos isso.

O condutor português típico não se rege por princípios mas por "fezadas"; tem sistematicamente uma "fezada" de que pode passar, pode ultrapassar, e pode, principalmente, trespassar os "outros", sejam eles quem forem, e seja lá como for. Para este canónico machão empedernido, mesmo que seja, ou principalmente se for uma mulher, os "outros" são sempre uma cambada de aselhas que estão (ou estavam) "mesmo a pedi-las". Castigam com buzinadelas e com frenéticos sinais de luzes "quem se lhes atravessa na frente". Insultam e gesticulam, "mandam" invariavelmente que os "outros" se vão mas é foder, mais a puta da mãezinha deles, e outras coisas assim.

Radica este instinto predatório e exacerbadamente competitivo, que patrioticamente confere a Portugal um distinto lugar cimeiro em todas as estatísticas de acidentes, a nível europeu, numa confusa premissa de carácter sexual, ou seja, transformando o acto de conduzir (ir de um lugar para outro) em algo de evidentemente viril, forte, másculo. Daí a "verdade" axiomática, nunca escrita, raramente dita, mas sempre presente: eles, os "outros", são todos uma cambada de paneleiros, bichonas, gays. "Eu" é que não, ó, está-se mesmo a ver, "eu" cá sou o maior e "tira-te daí, ó palerma".

De facto, para um rapazola na sua motorizada de 50 cc, que maior prova de coragem física - e, por consequência, de virilidade - do que circular de noite sem qualquer luz de presença? Nem farol à frente nem luz de travagem, nada, e acham-se assim, simplesmente, "o máximo". A contaminação competitiva, a sanha viril é de tal forma que muito pouca gente se apercebe disto: mais de noventa por cento dos veículos de duas rodas circulam, de noite, sem qualquer luz ligada. Relembremos o motivo: ligar as luzes é gay.

Depois da idade estúpida, à qual infelizmente ninguém escapa, o jovem da motorizada passa para as quatro rodas e continua, de forma adaptada, a demonstrar aos "outros" que é macho, muito, muito macho. Começa por um "carrito", com o qual vai fazendo umas brincadeiras, como "assapar" em qualquer rua de bairro, fazer uns "piões", umas "reviengas" (manobras proibidas) e umas "arrenúncias" (manobras perigosas). Depois, segundo o padrão mais comum, o jovem casa, constitui família e compra uma viatura maior e mais potente; de resto, também tipicamente, continuará nesta rotina, trocando de carro a cada dois anos, e sempre procurando um automóvel maior, mais recente, mais potente e mais imponente do que o anterior. Um fenómeno que se pode talvez transformar, sem grande risco de confusão, em paradigma: o automóvel característico é de um tamanho e de uma potência inversamente proporcionais à potência do proprietário e ao tamanho (do pénis) que este pode exibir, à consorte ou aos amiguinhos, quem sabe. Ou seja, quanto mais pequeno é o pénis e/ou quanto mais diminui a libido de cada qual, maior é o seu carro, e mais este exibe comportamentos agressivos ao volante. Isto, pelo menos, e salvo raras excepções, até que diminuam drástica e definitivamente os níveis de hormonas masculinas no sangue, ou seja, a partir dos 55 a 65 anos; então, não raramente o "ás" do volante passa à categoria de totó, como se comprova pelo número de velhotes que vai cometendo seus crimes de trânsito por pura aselhice. Talvez exista uma relação directa entre os níveis de produção de testosterona, por um lado, e de adrenalina, por outro, o que poderia explicar muita coisa.

Existem estudos para comprovar a teoria. De resto, basta observar comportamentos, uns quilómetros de estrada, dentro e fora de localidades. O labéu "pisca-à-direita-é-gay" insere-se nesta lógica de cariz sexual: se os "outros" são gays, é porque "eu" não sou; logo, não apenas fica por demais evidente que "eu" sou muito macho como os "outros" apenas têm aquilo que merecem, que "eu" lhes passe por cima, que os atire para a berma, eles que se fodam, afinal não passam de picolhos, ora, ora, que os pariu, cá vou eu, vruuuum.

Os sinais de trânsito, verticais e horizontais, são portanto, e na mesma ordem de ideias, simples ornamentos com os quais as autoridades resolvem embelezar e abrilhantar as rodovias. Coisa de rotos, dessas tais autoridades, está-se mesmo a ver. É tudo gay, por conseguinte, que se lixem. Estacionar ou parar em qualquer lado é de macho. Fazer gincana entre as faixas de rodagem é de macho. Acelerar quando "cai" o sinal vermelho é de macho. Ultrapassar pela direita é de macho. É tudo de macho, e portanto está muito bem.

Pisca à direita é que é gay? Ligar o farolim é que é gay? Respeitar a prioridade é que é gay? Ceder a passagem, quando tal se justifica, é que é gay?

Ai é? Tá bem. Olhem, psst, ó camaradinhas, uma palavrinha para vocês, ok?

Para isso, que não sei quê é que é gay, literalmente: caguei.


(Ele até há quem diga que ter um blog é gay...)



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Dúvidas existenciais


Para que serve a ex-Comissão Reguladora do Comércio de Bacalhau, agora promovida a Comissão Nacional do dito peixe?

Porque será que é proibido urinar ou defecar na via pública, para toda gente menos para os cães? Se me achar em aflições, posso largar um presente volumoso em pleno passeio desde que alguém apanhe a merda com um saco de plástico?

Qual será a posição sexual preferida pelo casal Barbie e Action Man?

O Dr. Marques Mendes não tem quaisquer hipóteses na política e, com ele, o PSD "não vai a lado nenhum", por ser baixo ou por ser pequenino? Qual deveria ser então a altura mínima para os mancebos em início de carreira?

Porque será que não existe um único padre, um único governante ou um único deputado com a mais pequena deficiência... física?

Se os fumadores, como é sabido, se vão matando aos poucos por causa do fumo, quantos cigarros seguidos é necessário um gajo fumar para se suicidar de repente, à séria?

Diz a medicina tradicional que a homeopatia é uma trafulhice, porque prescreve simples placebos e, se estes fazem qualquer efeito, é apenas por sugestão; ora, o mesmo não sucede, na maioria dos casos, com os fármacos aprovados?

Porque é que nunca, jamais, em tempo algum, alguém espetou uma murraça no focinho do Avô Cantigas? Serei apenas eu a espumar de raiva quando vejo aquele trombil de gajo bonzinho, barilasso até à medula e muito amigo das criancinhas?

Sendo a ociosidade a mãe de todos os vícios, como é possível que existam funcionários públicos anti-tabagistas e que alguns deles nem sequer dêem na cocaína ou no cavalo? Serão quase todos viciados só em copos, jogo e maledicência?

Será que os ricos se ralam muito com aquela parábola bíblica do camelo e do buraco da agulha?

Não seria possível a Paula Bobone dar umas explicações de boas maneiras ao Cavaco Silva, ainda antes da campanha eleitoral? Bastaria arranjar umas fatias de bolo-rei, para treinar e também como material de reflexão e estudo.

Existirá música pimba nos países civilizados, como a Noruega, a Finlândia e a Islândia? E grupos folclóricos, também haverá lá disso?

É impressão minha, ou anda muita gente feliz da vida por causa da desgraça horrível que sucedeu aos americanos?

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03/09/05

Now, it's our turnado


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02/09/05

Direitos adquiridos


Figura legal de absoluta e exclusiva patente comunista, os chamados "direitos adquiridos" aplicam-se apenas a "trabalhadores" e a titulares de cargos políticos; quem não for "trabalhador" (funcionário público efectivo, reformado, pensionista, assalariado não sujeito a contrato com termo), ou quem não ocupar qualquer tacho da administração pública, fica de fora da coisa, não abicha qualquer espécie de "direito adquirido", nas perspectivas formal e legal.

Mas, afinal, o que vem a ser essa coisa dos "direitos adquiridos"? Se bem que não seja fácil espremer respostas concretas, a partir do oceano de vacuidades e de indefinições em que o tema está mergulhado, poderíamos resumir a questão numa fórmula compreensível para o comum dos mortais: um direito adquirido é a vantagem, a mais-valia ou a prerrogativa que uma entidade (pessoal ou colectiva) consegue, em determinados momento e circunstâncias, e que se torna definitiva pelo uso e pelo simples passar do tempo.

Para um leigo na matéria, e suspeitando liminarmente de que tal coisa nem sequer existe em forma de lei, talvez seja mais fácil definir a expressão através de um exemplo ilustrativo: os "almeidas".

Os "trabalhadores" da recolha do lixo, em determinado Concelho, entram em greve por um motivo qualquer; sendo a entidade patronal a própria autarquia, ou seja, o Estado português, são estabelecidas conversações entre as duas partes, por forma a que o serviço seja retomado com a maior brevidade possível; ao Partido naquela ocasião maioritário, na Câmara respectiva, não convém absolutamente nada que o impasse se prolongue, porque as eleições seguintes estão à porta e as ruas atulhadas de lixo implicarão certamente algum descontentamento dos munícipes, logo menos votos, logo a perda da maioria, logo a abolição de uma série de cargos na administração local, a começar pelo próprio Presidente; por seu turno, os "almeidas" sabem que estão altamente protegidos pelas leis laborais; são funcionários públicos "efectivos", não podendo portanto ser substituídos e muito menos despedidos por se recusarem a trabalhar (nisso consiste, resumidamente, a chamada Lei da Greve).

Nos sucessivos encontros entre os representantes dos "trabalhadores" (sindicalistas profissionais) e do patronato (o Vereador do pelouro), tendo em vista a resolução dos "problemas" que os primeiros alegam, decorrem verdadeiras negociações entre as partes, sendo que uma se limita a reivindicar e a outra a fingir que defende os interesses dos seus eleitores. Sendo a situação de evidente chantagem, e sem qualquer alternativa de resolução, à administração resta apenas aceder a todas as reivindicações apresentadas, fingindo ambas as partes algumas cedências. Os trabalhadores do lixo, por um motivo qualquer e que para o caso já não interessa, "exigem" que o seu horário de trabalho passe a ser integralmente nocturno (remunerado a 300%) e que passe a regime de "circuito" (o trajecto que têm de percorrer) e não de horário completo (ou seja, quando terminarem o "circuito" podem ir para casa); se a administração ceder neste ponto, em troca, os "trabalhadores" prontificam-se a regressar ao trabalho... nessa mesma noite.

Os trabalhadores costumam ser, nestas negociações, de uma generosidade comovente. Portanto, notemos bem: eles "oferecem" o cumprimento da sua obrigação em troca da cedência a uma reivindicação abstrusa. A outra parte (o Estado, os contribuintes), transitoriamente representada por elementos de determinado Partido político, ou cede e concede (à custa de todos os cidadãos) ou a greve prolongar-se-á indefinidamente; portanto, ao Presidente da Câmara não resta senão assinar o "acordo" - se não quer deixar de o ser nas eleições seguintes.

Por conseguinte, a partir do momento em que existe este acordo, um conjunto de prerrogativas abusiva e violentamente "conquistadas" passa automaticamente à categoria de "direitos adquiridos". Isto é, nenhuma administração subsequente - da mesma ou de qualquer outra orientação política - a poderá sequer alterar.

"Direito adquirido", nesta lógica, poderá ser tudo aquilo que uma pessoa ou um grupo de pessoas conseguirem obter... seja por que meios for, desde que num quadro supostamente legal. Mesmo que as circunstâncias, as conveniências e os interesses envolvidos se alterem, o direito adquirido é intocável, perene, permanente. Se, num futuro próximo ou remoto, naquela Câmara Municipal mudar a maioria, ao novo Presidente é vedada qualquer tentativa de alteração do statu quo de privilégio abusivo; ainda que em todas as outras Câmaras do país não exista o mesmo regime de excepção, naquela a situação permanecerá para todo o sempre, sem paralelo, uma coutada particular de um grupo profissional irrisório.

Do ponto de vista dos "trabalhadores", o negócio é excelente: utilizam determinada legislação (direito laboral), em determinado contexto, para obter benefícios que serão, posteriormente, cobertos por um enquadramento de tipo uso capião (direito de propriedade). E é também uma verdadeira mina ideológica, já que possibilita a eternização de qualquer prerrogativa, por mais que a realidade demonstre a sua intrínseca injustiça, a sua evidente inutilidade ou a sua notória obsolescência.

Assim sendo, e levando ao extremo a interpretação do conceito, qualquer benefício obtido através de vazio legal ou de erro jurídico será igualmente válido e eterno, mesmo que haja postcipado preenchimento daquela lacuna ou posterior correcção do juízo formulado.

Noutra perspectiva, são também os "direitos adquiridos" os responsáveis pela rigidez do mercado de trabalho: "trabalhador" que se consiga integrar "no quadro", seja por que meios for, não sairá nunca mais; o seu emprego deixa de o ser a partir do momento em que se transforma em "direito adquirido" e, por conseguinte, o mesmo "trabalhador" pode e deve deixar de trabalhar... porque dali já ninguém o tira; os outros, os que não são "do quadro", esses sim, que trabalhem (ou não, tanto se lhes dá). O que explica também a transformação das classes profissionais em verdadeiras seitas secretas, às quais apenas acede quem já lá se encontra e "adquiriu" o seu "posto de trabalho", sabe-se lá por via de que esquemas ou cunhas.

Trata-se de um fenómeno vertical. Por alguma razão existem médias de acesso superiores a 19 valores nas Faculdades de Medicina, por exemplo: é que aos médicos não convém muita concorrência, de tão habituados que estão ao seu estilo de vida e a todos os seus "direitos adquiridos", os legítimos e principalmente os ilegítimos, que minguariam certamente com o aumento da oferta, com a formação de mais e mais profissionais "concorrentes". Por alguma razão existem cada vez menos pessoas com emprego "fixo", detentoras de todos os direitos laborais (adquiridos e outros), e cada vez mais trabalhadores a "recibo verde", aos quais não são "concedidos" direitos de espécie alguma (subsídio de desemprego, "baixa" remunerada, licenças de parto ou de funeral, etc.).

Os "direitos adquiridos" de uma regressiva maioria implicam, segundo o mais básico princípio de basculação social, a retirada de quaisquer direitos a uma progressiva minoria de deserdados, seres humanos desfasados no tempo. Aos que chegaram tarde demais ao festim abrilista. Aos que não se despacharam a tempo de participar no saque legalmente previsto pela Constituição socialista.

O que sobra para quem teve azar, ou não foi "esperto", ou para quem teve o azar e a estupidez de nascer nos últimos anos, é já o fundo da gamela, é muito pouco, ou quase nada. Os que já cá estavam adquiriram tudo, e agora já não há nenhuns direitos para adquirir. Apenas deveres. A começar por liquidar os direitos adquiridos, desde o lixo nocturno a 300% até à reforma dos deputados em 8 anos, passando pelos médicos a 20 contos a consulta e os parasitas pagos para não fazer nada. A tarefa não é hercúlea. Basta virar esta merda toda ao contrário. Venha o reviralho.


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