Odi profanum vulgus et arceo

26/02/06

A(bre)núncio

Senhora (masculina ou feminina)
Precisa-se
para cavalheiro (masculino) mais ou menos em bom estado de conservação.
Indicar motivo da resposta.

(anúncio publicado no DN de ontem, 25)

Obs.: por Despacho de um burocrata/democrata qualquer, algures no pós-PREC, todos os anúncios de oferta de emprego têm de "aceitar" ambos os sexos. Em nome da "igualdade" dos ditos e das respectivas "oportunidades" de emprego. Daí o esplêndido surgimento de novas profissões, cargos e modos de vida como ministra, juíza, secretário de direcção, cerzideiro, lavadeiro, homem-a-dias, porteira de discoteca, "presidenta", generala, marinheira, "feijona-verde", prostituto, chula, vendedeiro, engomador, governanto, sapateira, recepcionisto, "comanda" (Regimento de Comandos), canalizadora, estucadora, pedreira (de toscos e de limpos), sinaleira, telefonisto, desmanchadeiro, árbitra, capadora, forcada, verduga, carrasca, ditadora, manicuro, pedicuro, saltimbanca, trapezisto, palhaça, marçana, homem da fava-rica, etc., etc., etc.
Tudo M/F, como manda a Lei.

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19/02/06

O anonimato, velha e relha questão


Só representando o papel de homem nulo, indiferente, distraído sem talentos nem capacidade de conhecimento e apreciação consegui escapar às investigações sôfregas e persistentes do enxame de espiões que infesta Lisboa. Passei assim a ser olhado como um homem vulgaríssimo. Firmado no conceito da minha nulidade, consegui escapar. Não obstante, não deixei de ter sobressaltos todas as vezes que havia uma rusga policial, o que frequentemente acontecia. A cada uma delas, novos alarmes.

Mil vezes me julguei espiado pela polícia e outras tantas me supus perseguido pela milícia destes vis e infames quadrilheiros A imaginação sobressaltada representava-me já enterrado numa masmorra como asilo que me fora destinado, ouvindo o arrastar das grilhetas, a sentir o seu peso. Todas estas fantasmagorias bastavam para me enregelar e prostrar de terror, e, tremente, sentia-me aniquilado.

Quantas vezes, durante a noite, o mais pequeno ruído me fez cobrir de suores de morte! Quantas outras tantas vezes as pancadas na aldraba da minha porta me causaram temores, tremuras e apertos de coração! A minha situação durante seis meses foi bem digna de dó.

Não obstante, tive a coragem de prosseguir nas minhas anotações e de concluir a obra que começara. E se forem consideradas as inquietações que ela me custou, bem como os perigos a que me expus, este livro merece ser recebido com indulgência e alcançar algum êxito.

Logo que me foi oferecida a oportunidade de publicar as minhas notas, agarrei-a com ambas as mãos.

Neste livro revelo Lisboa nos seus aspectos moral, físico, civil, político e religioso, e forneço pormenores interessantes e curiosos sobre esta cidade, sobre a corte, os habitantes e os costumes. Todas estas observações valem pela novidade e revelam, com verdade, as gradações da rudeza, da ignorância, da nulidade e do ridículo desta sociedade que acumula aqueles defeitos com presunção, orgulho e pretensiosismo. A culpa deste estado cabe, no geral, certamente ao povo português, mas principalmente recai sobre aqueles que o governam. Não me foi possível alindar as imagens que aqui deixo; fazê-lo seria faltar ao respeito que devo à verdade.

Pessoalmente, nada temo ao publicar o resultado das minhas observações; receio, porém, que grande número de outros indivíduos venha a ser vitima inocente da vingança do governo português...

Essa vingança perseguirá com persistência, que não abrandará, o desgraçado que se torne suspeito de ser autor desta obra, pois basta tal suspeita para, se o puderem haver às mãos, com os tormentos mais cruéis acabarem com ele. E tal vingança, mesmo em países onde as leis mais cuidadosamente velam pela segurança dos indivíduos, mesmo aí alcançar - se o não puderem raptar, o punhal ou o veneno bastarão para o roubar à sociedade, armas que os portugueses costumam usar.

As precauções que tomei constituem a minha segurança - não sou suspeito nem o serei nunca, podendo voltar a Portugal sem receio. Vivo num país onde a liberdade dos cidadãos é respeitada e protegida, onde se não teme as violências do funesto despotismo dos ministros e dos reis; mas tantas pessoas têm sido vexadas, perseguidas, ultrajadas e tratadas com tão revoltante indignidade pelos poderes de Portugal que é lícito conjecturar que uma tal vingança venha a cair sobre um desses repatriados, suspeitosamente acusados. Para evitarem equívocos e acertarem, hão-de envolver muitos na mesma suspeita e os que tenham revelado faculdades de observação, sensibilidade, coragem, energia e algum talento literário - serão as infortunadas vítimas, cujas cabeças hão-de tombar aos golpes da vingança portuguesa.

Desde já denuncio a toda a Europa esse novo atentado. Se vier a haver alguém violentamente maltratado pelo governo português e se depois de preso desaparecer e perecer violentamente vítima da sanha ministerial dos subdéspotas de Portugal - pela morte da vítima se identificará o assassínio.

Nesse caso terei sido eu, com o meu livro, a causa inocente da sua perda. Tenho, portanto, o dever de ser o seu vingador retomando a pena para revelar universalmente este novo crime dos ministros de Portugal. Demonstrá-lo-ei com tanta energia como verdade e apontá-lo-ei tanto mais atroz quanto é inocente a vítima, chamando sobre os autores do crime a indignação de toda a Europa e a abominação dos séculos.



J.B.F Carrére, Panorama de Lisboa no ano de 1796, prefácio do autor, pág. 21
ed. Biblioteca Nacional, série Portugal e os Estrangeiros
BN, Lisboa, 1989

(Nota: para uma perspectiva mais actual, onde se lê "governo português", leia-se "blogosfera portuguesa", e onde se lê "ministros", leia-se "blogs de referência")

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11/02/06

Sílvia Alberto


Bonita
Simpática


Sanpaku

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08/02/06

Cartoon publicitário


O Sr. Garcia, dono de uma fábrica de pregos, pediu a um publicitário que lhe criasse um cartaz para promover a sua empresa.

No dia seguinte, o publicitário apareceu na fábrica, radiante.

_ «Ora aqui está, xô Garcia» - e desenrolou o cartaz: um crucifixo, Cristo pregado de pés e mãos; por baixo, os dizeres

Pregos Garcia
mil anos de garantia


_ «Homem», diz o Sr. Garcia, «mas o que é isto? Você quer ver se me arranja chatices? Ora, ora, volte lá para o seu boteco e traga-me uma coisa mais maneirinha.»

O publicitário engoliu em seco e foi embora.

No dia seguinte, regressou com novo cartaz: Cristo pregado na cruz, mas com um dos braços solto, pendurado. E os dizeres

Com Pregos Garcia
isto não acontecia



_ «Homem, caramba, assim não pode ser! Então não vê que uma coisa destas pode ofender? Vá, vá, vá; tente lá fazer melhor e depois volte.»

No dia seguinte, o publicitário estava de volta com outro cartaz: desta vez, não havia Cristo, apenas o crucifixo com os seguintes dizeres por baixo:

Com Pregos Garcia
o Homem não fugia


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07/02/06

Haja esperança, ao menos em Esperanto


POR LA BONEGECO DE LA HUMURO
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Ci-muzeo kaj la urbo de Porto, ambau ekde la 1997-a jaro dividas la atenton pri la bildodesegno. Gi enkadrigas en la Internacia Galerio de Bildodesegno kaj celas la tutan disvastigon de aro de eroj, kiuj enkorpigas la gravecon de la humura desegno en la mondo.
Ankorau nedefinitiva, la Virtualan Muzeon de Bildodesegno oni malkovru kiel dinamikan spacon, kies personaj, temoj, galerioj, ktp, lautempe longe kreskos.
Gi celas valorigi la universalan bildlingvon ege dezirante la bonegecon de humuro. De estinteco al estanteco, car la homeco ridanta kaj ridiganta ciam dauras kaj ec antauas la prahistoriajn spurojn de la kavaj homoj. Pro tio ci-muzeo ankau malfermas spacon al sugestoj kaj helpagoj. Ili estas bonvenaj.

Muzeado de bildlingvo universaligas la lingvon de bildodesegno.
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Luís Humberto Marcos
Museu Virtual do Cartoon


As caricaturas "satânicas"
http://permanent.nouvelobs.com/cgi/edition/aff_photo?cle=20060202.OBS4859&offset=1

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Kongeriget Danmark


bandeira da Dinamarca; click para ouvir o hino

Hino Nacional da Dinamarca
(click para ouvir)
(ficheiro do hino alojado em http://www.navyband.navy.mil/anthems/denmark.htm)

DANISH LYRICS

Der er et yndigt land,
det står med brede bøge
nær salten østerstrand;
nær salten østerstrand;
det bugter sig i bakke, dal,
det hedder gamle Danmark,
og det er Frejas Sal
og det er Frejas Sal

Der sad i fordums tid
de harniskklædte kæmper,
udhvilede fra strid;
udhvilede fra strid;
så drog de frem til fjenders mén
nu hvile deres bene
bag højens bautasten
bag højens bautasten

Det land endnu er skønt,
thi blå sig søen bælter,
og løvet står så grønt;
og løvet står så grønt;
og ædle kvinder, skønne mø'r
og mænd og raske svende
bebo de danskes øer
bebo de danskes øer

Hil drot og fædreland!
Hil hver en danneborger,
som virker, hvad han kan!
som virker, hvad han kan!
Vort gamle Danmark skal bestå,
så længe bøgen spejler
sin top i bølgen blå
sin top i bølgen blå

---
ENGLISH TRANSLATION

I know a lovely land
With spreading, shady beeches
Near Baltic's salty strand;
Near Baltic's salty strand;
Its hills and valleys gently fall,
Its ancient name is Denmark,
And it is Freya's hall
And it is Freya's hall

There in the ancient days
The armoured vikings rested
Between their bloody frays
Between their bloody frays
Then they went forth the foe to face,
Now found in stone-set barrows,
Their final resting place
Their final resting place

This land is still as fair,
The sea is blue around it,
And peace is cherished there.
And peace is cherished there.
Strong men and noble women still
Uphold their country's honour
With faithfulness and skill
With faithfulness and skill

Praise King and Country with might
Bless every Dane at heart
For serving with no fright
For serving with no fright
The Viking kingdom for Danes is true
With fields and waving beeches
By a sea so blue
By a sea so blue
(fonte: http://david.national-anthems.net/dk.txt)



EMBAIXADA DA DINAMARCA EM PORTUGAL
Rua Castilho, 14 C -3º Andar
1250LISBOA
Tel: 21 351 29 60
Fax: 21 357 01 24
(fonte: http://europa.eu.int/youreurope/nav/pt/citizens/addresses/pt/entryintoms/pt.html)

Informações sobre a Dinamarca
C.I.A.: http://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/da.html
Wikipedia (Eng.): http://en.wikipedia.org/wiki/Denmark
Wikipédia (Port. Br.): http://pt.wikipedia.org/wiki/Dinamarca

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06/02/06

Ecce fascismus


Em Agosto do ano passado, ficou aqui o aviso: Diácono Remédios estava a afiar o lápis azul.

Pronto. Já está. Os neofascistas tomaram o poder. A primeira vítima portuguesa detectada é um blog designado por Ordem Negra. Presumo, a julgar pelo nome, que será alguma coisa relacionada com o fascismo, propriamente dito, mas não devemos tirar conclusões precipitadas. Para quem abre aquela página, o que aparece é isto(*):

CONTENT WARNING
Some readers of this blog have contacted Google because they believe this blog's content is hateful. In general, Google does not review nor do we endorse the content of this or any blog. For more information about this message, please consult our FAQ.

I do not wish to continue | I understand and wish to continue



Tradução
AVISO SOBRE CONTEÚDO
Alguns leitores deste blog contactaram a Google, porque são de opinião que os conteúdos deste blog são odiosos. Regra geral, a Google não examina e nós não sancionamos os conteúdos deste ou de qualquer outro blog. Para mais informações sobre esta mensagem, é favor consultar as nossas FAQ (perguntas mais frequentes).

Não pretendo continuar | Fico ciente e pretendo continuar



Falo por mim. Não ia entrar no site. Mas, assim sendo, fico ciente e pretendo continuar.

Ora vejamos o Ordem Negra.



(*) Pelo que depreendo, a página de "aviso" apenas aparece no caso de aquele endereço não constar do histórico de visitas; à segunda tentativa, como é lógico, e dentro do prazo determinado nas configurações (nº de dias a conservar no histórico), a simpática missiva já não chateia e entra-se directamente no blog. Olha que bem.

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03/02/06

Bull

You are .gif Sometimes you are animated, but usually you just sit there and look pretty.

Which File Extension are You?


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Cédula pessoal

Momento de crítica livresca

«Enquanto estudantes, não temos de estudar; enquanto trabalhadores, não temos de trabalhar; enquanto membros da comunidade, não temos de (nem podemos) mexer uma palha.»(*)

Esta citação é do livro Bilhete de Identidade, escrito por Maria Filomena Mónica, e foi para aqui transcrita com modificações a nível de pontuação. O que remete imediatamente para a questão mais pungente, por assim dizer, que a leitura desta obra por certo fará germinar no cérebro de qualquer pessoa habilitada com o Curso Geral dos Liceus, ou equivalente: será que a Maria não tinha dinheiro para pagar a um bom revisor de provas? Ou terá sucedido que a Filomena faltou a todas as aulas de Português, até ao 5º ano? Ou, ainda, andará nossa Mónica lendo António Lobo Antunes desde a mais tenra infância?

Não se pretendendo escritora, muito modesta e apropriadamente, Filomena Mónica editou um caso paradigmático de algo que poderia ser, ou ter sido, obra de mérito e a merecer reflexão, mas que perde irremediavelmente pela falta de revisão; nestas condições, com o material tal e qual seguiu para a editora, torna-se difícil, quase impossível, a leitura das suas memórias. O que é, evidentemente, uma pena. Eis um caso exemplar de desperdício. Não se trata de perfeccionismo, muito longe disso, mas apenas do mais básico grau de exigência, prerrogativa de qualquer leitor, compulsivo ou não, ou de qualquer simples consumidor de livros.

Uma vírgula mal colocada, como sabe o mais mediano dos alunos liceais, pode alterar completamente o sentido de uma frase; o mesmo vale para o excesso, a profusão de vírgulas, coisa na qual a amiga Mena também parece ser especialista, à semelhança do anteriormente referido produtor de livros.

Antigamente, falava-se aos jovens da importância da pontuação citando a velha lenda da "pichagem" dos tempos de Salazar. Sucedeu uns dias depois de o ditador ter "caído da cadeira"; no longo e histórico muro da Rua da Alfândega, em Lisboa, apareceram - em letras garrafais - os seguintes dizeres:

Morra Salazar
Não Faz Bem à Nação

A coisa ter-se-ia tornado notada, e politicamente delicada, se não tivesse surgido mão caridosa, e igualmente anónima, que rapidamente torneou o problema:

Morra Salazar?
Não! Faz Bem à Nação

Apenas dois sinais de pontuação que viravam completamente do avesso o sentido das palavras.

Se necessário fosse, a prova definitiva de que o material publicado deve estar formalmente correcto reside nisto: a autora consegue condensar, em apenas vinte e quatro palavras, todo o conceito de portugalidade, resumir os pilares existenciais do português comum, caricaturar com rigor a chamada "alma nacional" portuguesa; no entanto, a pontuação absolutamente desastrada da frase liquida na origem, por ausência de forma ou por deformação, o conteúdo da mensagem. Tanto assim que todo o presente texto, despretensiosamente crítico, se refere ao problema da forma e não à densidade, à curialidade, à precisão cirúrgica do conteúdo; aquela construção frásica tripartida, se bem escorada, representaria talvez o diagnóstico mais certeiro alguma vez produzido sobre Portugal e a sua doença crónica, a preguiça mórbida; ora, como está, conforme saiu da editora, o livro, as frases, o diagnóstico, tudo acaba por evidenciar aquilo que pretende denunciar: preguiça.

Enquanto escritores, pelos vistos, não temos de saber escrever. Faltou essa.

O que não invalida, mesmo assim, que a autora de Bilhete de Identidade tenha conseguido, de facto, traçar um retrato fidedigno do Portugal do terceiro quartel do século XX; apresenta-nos, de forma quiçá questionável, o seu próprio percurso de vida, como bilhete de identidade, tornando-se mesmo de certa forma incómoda, pela exposição da intimidade de pessoas ainda vivas; mas o que perpassa naquelas páginas é bastante mais do que um simples B.I., é também a cédula pessoal da alta burguesia lisboeta, o boletim de sanidade da intelectualidade de então e o passaporte que existia naquela época para escapar à mediocridade vigente.

Ponto final, parágrafo?


Bilhete de Identidade
Memórias 1943-1976
Maria Filomena Mónica
Alêthea Editores, Lisboa, Outubro 2005
ISBN 989-622-012-3

(*) pág. 273

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02/02/06


pain



pain




http://www.biotherapy-clinic.com/pain.html
http://www.as.wvu.edu/mlastinger/pain.htm

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