Odi profanum vulgus et arceo

30/07/04

Conselho de quê?


O novo Governo, presidido pelo "blaseur" mais pateta da história nacional, reuniu hoje e produziu a seguinte deliberação: constitua-se um grupo de estudos para investigar, analisar, inventariar os fogos recentemente ocorridos em Portugal; determine-se quem, quando e onde os resultados apresentados por esse grupo de estudos devem ser analisados; nomeie-se um outro grupo que terá por funções determinar que medidas deverão ser tomadas em conformidade.

Se não fosse o do costume, isto seria suficiente para duas coisas, a saber: primeiro, demitir o Governo; segundo, queimar todos os nossos Ministros em auto-de-fé ad hoc, em local a combinar.

Isto não tem graça nenhuma, vejamos. Que os tipos, sejam eles quais forem, andam a gozar - já todos sabemos de ginjeira; mas nomear uma comissão para nomear outra comissão, convenhamos, já é um pedaço de gozo a mais. Portugal está a arder e estes gajos entretêm-se a arranjar tachos uns aos outros? Deliberam sobre estas ingentes questões, enquanto o fogo lambe as janelas de S. Bento, de Belém, do S. Carlos, do Carmo e da Trindade?

Há coisa de um ano, escrevi aqui mesmo umas coisas igualmente a respeito dos incêndios. Alguns comunistóides fizeram o favor a si próprios de ler aquilo que julgaram ser diatribe e verborreia demoníaca, própria do "fascista" que eu, pelos vistos, devo ser e que já era na altura. Pois bem, um ano depois - como disse então - a coisa não está na mesma; enganei-me; a coisa está ainda pior. O país arde e os nossos governantes assobiam para o ar, nomeiam-se uns aos outros para mais umas comissoezitas, nas quais nunca põem os pés, obviamente, e continuam alegremente fingindo que fazem alguma coisa além de receberem as remunerações principescas que atribuem a si mesmos, mais alcavalas.

Ardeu, senhores. Ardeu, caramba! Está ainda a arder, Portugal. Não têm vergonha? Nem um pouco, nada, nada, nada? Como conseguem dormir?

A tropa em patrulhas, ó paulinho das feiras? 250 feijões-verdes, de 15.000? O que é isso, brincadeira? E agora dobra a parada, 500 mancebos, para que servem?

Mais uma comissão para estudar o quê, ó pintarolas engatatão? Querem o quê, ver se realmente está tudo queimado ou se nem por isso? E medidas, zero?

Que vergonha, camaradinhas. O Governo português, esse grupo excursionista constituído por "dandys" mentecaptos, ganhou hoje o direito a reforma compulsiva sem retribuição. Que digo eu? Esses gajos deviam ser todos imediatamente feitos prisioneiros, sob custódia das Forças Armadas, e julgados por traição à Pátria em tribunal militar.

Têm legitimidade democrática para governar, não têm é o direito de dizer umas larachas com a desgraça que por aí vai.

Qual é a área ardida, quantos mortos e feridos, quantas habitações e vidas destruídas? Toda, demasiados de uns e de outros, muitas e demais, respectivamente.

O que fazer quanto à piromania endémica que assola Portugal? Combatê-la com firmeza, condenando exemplarmente os mandantes e os executantes.

O que fazer quanto aos fogos que lavram neste momento? Apagá-los com todos os meios ao dispor e com todos os que estiverem disponíveis, o que não é exactamente a mesma coisa.

Aí estão, antecipados, os resultados da primeira comissão de estudo e as conclusões da segunda. De borla. E não é por eu ser um génio por aí além. Qualquer labrego diria exactamente a mesma coisa precisamente ao mesmo preço. Não é preciso inventar nada. Basta dizer basta.

comentários



A verdade a que temos direito


O Diário, extinto órgão não-oficial do Partido Comunista Português, tinha aquele curioso "lead": a verdade a que temos direito. Já o oficial difusor dessa verdade - o Avante, como é sabido - apresenta uma outra máxima condutora, se bem que um pouco intrigante: proletários de todo o mundo, uni-vos!.

Do primeiro se poderá concluir que existe uma outra verdade, para além daquela a que "temos direito", a qual será, portanto, uma verdade a que não temos direito. Do segundo, não se entende bem a que proletários se referem, onde se escondem, o que fazem na vida, e ainda para que lhes é tão veementemente recomendado se unam.

A cartilha comunista, que também deu por outras designações, como internacionalismo proletário ou "socialismo real", sempre lidou pessimamente com este tipo de questões terminológicas; como Pilatos, os comunistas sempre tiveram muitas dúvidas a respeito daquilo que é, ao certo, a verdade. Daí a evidente atrapalhação, se do tema se trata, quando obrigados a lidar com tão delicada questão. A verdade comunista só muito circunstancialmente teve alguma vez alguma coisa a ver com a verdade. É verdade que sempre foram especialistas na manipulação da realidade, como sempre se comportaram com extremo profissionalismo quando era necessário maquilhar factos, ou pessoas, ou episódios históricos. Durante a longa noite comunista (1917-1989), a verdade oficial era uma coisa sem qualquer intersecção com a verdade pura e simples. De resto, uma coisa não tem necessariamente a ver com a outra, como se sabe, dependendo em exclusivo dos interesses propugnados; e isto era devidamente fundamentado na velha regra nacional-socialista de os fins justificarem os meios.

Daí "a verdade a que temos direito", uma fórmula para justificar o atropelo sistemático da realidade; nos regimes comunistas, a História era escrita posteriormente, ou seja, depois de revista e convenientemente maquilhada de acordo com a cartilha e com as conveniências do momento.

Entre outros serviços dedicados à causa da reescrita histórica - brilhantemente retratada por George Orwell, na obra 1984 - existia o célebre Komitet Gosudarstvennoy Bezopanosti (KGB - Comité de Segurança do Estado); o mais conhecido chefinho destes prestimosos serviços de ajuda humanitária às vítimas da mentira capitalista foi Lavrenti Pavlovich Beria (1899-1953). Famoso por ter dirigido com mão de ferro a campanha da verdade estalinista, Beria ficou também célebre por ter sido ele próprio vítima da reescrita histórica soviética: depois da morte de Estaline, e tendo este caído em desgraça política, o mais famoso torcionário baixinho da História foi fuzilado em segredo no pátio da prisão de Lubianka; mas não apenas isso lhe sucedeu, e já não era pouco; o regime, através dos próprios serviços que Beria ajudara a criar, tratou de imediatamente apagá-lo - a ele, Beria - da História. Todas as fotografias onde aparecia ao lado do "Paizinho dos Povos" (Estaline) foram ligeiramente retocadas e, em vez dele, ou aparecia um outro camarada qualquer, ou era-lhe pintada por cima a paisagem de fundo, ou ficava um buraco, simplesmente; as referências ao camarada Beria desapareceram dos livros - fossem eles quais fossem, a editar ou reeditar -, dos documentos oficiais públicos (uma raridade), dos manuais escolares, dos arquivos jornalísticos.

Beria foi apagado da História, num módico de tempo, e assim, oficialmente, Beria nunca existiu. Era esta a verdade a que os povos da Rússia e colónias tinham direito. O criminoso que auxiliou o maior facínora de sempre a alcançar o poder absoluto deixava assim, administrativa e burocraticamente, de ter alguma vez existido; ou seja, quando Béria deixou de interessar ao regime, o regime eliminou Béria do acervo de verdades oficiais. No imaginário comunista, não existe Liberdade mas "liberdades" - como não existe verdade mas "verdades". Se alguma coisa não convém, elimina-se, não existe, nunca existiu; portanto, se não existe, se nem sequer é mentira, não poderá nunca ser verdade. Eis a lógica indestrutível e pedra basilar desta "ideologia", cujas fundações de raiz psiquiátrica e de cariz patológico são hoje reconhecidas por alguns especialistas.

No entanto, não apenas alguns outros especialistas nem querem ouvir falar do assunto, quanto mais reconhecê-lo, como há ainda muita gente que acredita em uma ou em mais do que uma das "verdades" propaladas pelos comunistas. Quinze anos depois da queda do "muro de Berlim" e da desagregação do império soviético, restam algumas bolsas de resistência ao senso-comum, de aversão ao reconhecimento dos factos, de repulsa pelo primado iluminista da razão. Restam alguns países (Cuba, China, Vietname, Coreia do Norte) e sobram alguns Partidos Comunistas legalizados em países democráticos; mas o que paradoxalmente continua a existir é um longo cortejo de pessoas com tiques comunistas, prudentemente disfarçados.

Na era do PC (politicamente correcto), o regime órfão de pai ideológico - e filho de mãe incerta -, muitas coisas foram herdadas e muita gente estrebucha ainda a cada passo, fugindo-lhe o pé para a chinela comunistóide, as ideias imbuídas de mui altruísta espírito igualitário. Continua-se a praticar a arte da reescrita. Se não é conveniente ou não encaixa perfeitamente, apaga-se. Mantém-se a lógica da liberdade de opinião, desde que a opinião seja igual à minha; se é diferente, apaga-se e, por conseguinte, como antes, nem sequer é mentira - nunca existiu, pura e simplesmente.

Alguns esquerdistas que se julgam pessoas de boa fé são absolutamente incapazes de sequer admitir que exista a remota possibilidade de alguém pensar de modo diferente. O pensamento monolítico está previsto nos textos constitucionais de algumas democracias ocidentais, o que não deixa de ser um interessante contra-senso. Portugal é exemplo disso, vide o Artº 46-nº4 da CRP; sabe-se lá se com fundamento no número de mortos provocados pelos regimes fascistas ou nazis, durante a 2ª Guerra Mundial (1939-45), a Constituição da República Portuguesa proíbe liminarmente o direito de associação a associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista; no pressuposto de que essa poderá ser uma limitação aceitável às liberdades individuais, talvez fosse de considerar a extensão da mesmíssima restrição a organizações que perfilhem a ideologia comunista. Se o prurido legislador é numérico (50 milhões?), por maioria de razões a coisa deveria ser extensiva aos comunistas e seus acólitos (70 milhões); se é por questões de duração (5 anos), muito mais há que pôr fora da carroça, constitucionalmente, os criminosos que durante 72 anos exterminaram povos inteiros, perseguiram e liquidaram cidadãos comuns, executaram limpezas étnicas (arménios, chechenos, uzbeques, eslavos de diversas etnias).

Mas enfim, já cá se sabe: estas verdades foram apagadas da História. Não existem. Nunca existiram. São, portanto, mentira. Se, por acaso, fossem verdade e fosse em conformidade corrigido aquele artigo da CRP, seriam imediatamente ilegalizados o PCP, o BE, o PCTP-MRPP e outros grupelhos comunistóides.

E os simples mortais não têm direito a acreditar em mentiras, mesmo se essas mentiras foram ou forem verdade.

Risque-se. Apague-se. Nunca veremos reescrito, provavelmente, o nº4 do artº 46:

Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem as ideologias fascista ou comunista.

comentários

27/07/04

Olimpíadas da asneira




Esta bannerzito consegue alinhar duas asneiras em seis palavras (33%), no mesmo boneco. Merece, por conseguinte, amplamente, a medalha de ouro da burrice linguística, na variante de Português.

Lá diz o ditado cibernético: programador que faz bannerzitos engraçados, ou é atrasado mental ou usa termos esquisitos e desgraçados.

Vá lá, não se enerve. Aposte coeles. Vai ver que não ganha nada.

comentários

26/07/04

Um testamento político

O que somos nós, pobres humanos, senão a soma algébrica daquilo que nos acontece?

Esta muito retórica mas simples pergunta poderia ser da autoria de um qualquer filósofo, humanista ou pensador, mas não é; lembro-me perfeitamente de a reproduzir em voz alta, assim, textualmente, uma e outra e outra vez; e aconteceu que, ao contrário da teoria geralmente aceite, ou seja, que uma coisa repetida até à exaustão acaba por perder o significado, quanto mais a repetia mais real me parecia a verdade contida naquelas palavras, mais sólida, mais simples ainda do que ao princípio.

É possível que tenha escutado esta fórmula da boca de alguma pessoa de mais idade, de velho ou de velha, que são quem mais sabe da vida e quem menos se preocupa com a complexidade das coisas. Poderá nem ter sido exactamente com estas palavras, mas deve ter sido isso, ouvi e apreendi, guardei-a como minha na minha própria cabeça; ali ficou, esquecida mas latejante e viva, pulsando e germinando até ao dia em que viesse a ser necessária. E também isto é uma das coisas que nos aconteceram e acontecem, aquilo que aprendemos e usamos, ou que não sabemos que é ensinamento mas guardamos; a aprendizagem também sucede com cada qual de forma diferente e, no fim, o que resta antes da morte é o que sobra intacto na memória, e isso é o que geralmente se diz ser a sabedoria.

Não foi nada fácil, confesso, desfazer todo o meu passado, rasgar mentalmente tudo o que tinha lido, esquecer tudo o que tinha por certo ou, dito de outra forma, concluir que tudo o que eu tinha por verdade absoluta estava afinal completamente errado. Nessa como em qualquer outra ocasião de ruptura total, de mudança radical, é humanamente compreensível que busquemos a fórmula mágica do entendimento; nos momentos de decisão fundamental, é normal que tentemos entender as nossas escolhas, e para isso apenas nos podemos socorrer de palavras ou, no mínimo, não temos alternativa senão verbalizar as ideias da forma mais arrumada possível.

No fundo, durante essa hora decisiva - não cronometrei o tempo, evidentemente, mas não deve ter durado mais do que isso - o que estava mais em causa não era a ideia subjacente à fórmula, mas as palavras que a constituem; como o próprio significado, as partes e não o todo. E se, em vez de "soma algébrica" fosse "equação"? E porquê "pobres"? E em vez de "acontece", não seria melhor "sucede"? E não seria mais exacto se este verbo estivesse no pretérito?

Não. Ficou assim mesmo, desde esse dia e até hoje, o que é uma parte insignificante dos meus 44 anos. Eu sou, como qualquer outra pessoa, um simples ser-humano constituído por tudo aquilo que me aconteceu até hoje. Não me reconheço em verdade mais simples, como disse não sei que poeta.

E aquilo que sucedeu comigo foi ter passado toda a minha vida adulta, até àquele dia, como homem de esquerda, anti-fascista, anti-colonialista, progressista, do lado do povo e contra a burguesia. Se bem que sempre tenha sido anti-comunista, era-o de forma complacente e um pouco paternalista, considerando que mesmo os comunistas estavam do meu "lado da barricada" contra o capital, a exploração do homem pelo homem, a justiça social e a igualdade de direitos e de oportunidades.

E sucedeu também ter sofrido na pele a vacuidade das políticas de esquerda, o desemprego forçado por motivos de saúde, a exclusão social por estar desempregado, o facto de não ter quaisquer direitos cívicos por ser branco, português, homem e de meia idade. Sucedeu que, fora eu negro ou cigano ou toxicodependente, por exemplo, e teria direitos; assim, nada feito, os meus direitos cívicos resumem-se a descontar os meus impostos, religiosamente e por toda a vida, para que os privilegiados dos tempos modernos - que não descontam nada nunca nem produzem coisa alguma - recebam aquilo que eu e os outros "privilegiados" pagamos. Sucedeu isso comigo, e vi depois - vejo todos os dias - que o mesmo acontece a milhares e milhares de outros novos excluídos como eu: professores que não têm direito a subsídio de desemprego; projectos de criação de empresas que são bonificados com 10% se o proponente for mulher, e mais 10% se for menor de 25 anos. Vejo, por exemplo, serem atribuídas casas - construídas e pagas por conta dos contribuintes - oferecidas a custo zero, ou a preços simbólicos, a pessoas que nunca descontaram um centavo em toda a sua vida, estrangeiros, apátridas, elementos de minorias étnicas; vejo serem atribuídos a granel subsídios a toxicodependentes e a marginais, estando estes automaticamente habilitados a receber aqueles filões do erário público apenas pelo facto de serem considerados como "excluídos" ou "desfavorecidos"; vejo anunciadas linhas de crédito altamente bonificado (como sempre, à custa dos impostos alheios) apenas para "jovens", o que serve para enriquecer fraudulentamente os respectivos famliares; vejo os bandidos protegidos por lei e as vítimas desprezadas pelas polícias e pelos tribunais; vejo as estatísticas e leio que "morrem quatro crianças por hora, à fome, só em Angola" e vejo na TV as recepções sumptuosas e a vida luxuosa dos "camaradas" que encabeçaram as revoluções terroristas naqueles países. Vejo tudo isso, como vê qualquer pessoa que não finja ser cega, e sinto um tremendo, profundo, esmagador nojo por pertencer à mesma espécie zoológica a que essa gente pertence.

Nesse entardecer de Dezembro do ano 2000, deu-se uma verdadeira revolução na minha vida. Não ficou pedra sobre pedra. É isso que acontece sempre que nos cai em cima o mais pesado dos pedregulhos, a evidência. Enquanto o sol se punha, nasceu um reaccionário no lugar do progressista. Lembro-me de que nem dormi, nessa noite, tal era a pressa que tinha em estrear a minha nova pessoa, um reluzente direitista, agora certo de que afinal estava tudo errado e que era absolutamente necessário começar tudo de novo, ou mesmo voltar ao princípio, se preciso for.

Naquele dia, naquela hora, enquanto o sol se punha por detrás do Pacífico, vi com os meus próprios olhos a mais terrível das verdades. Que, em duas palavras, estava redondamente enganado. Que sempre tinha estado enganado. Que era tudo uma grande mentira. Que não existe barricada alguma, nem lados da barricada. Que a exploração do homem pelo homem existe, sim, mas como lei universal e não como aberração da natureza. Que a justiça social não vale nada sem a justiça pura e simples. Que a igualdade é uma metáfora política. Que os meus "camaradas" se preocupavam apenas consigo mesmos. Que o povo apenas pretende ascender à burguesia. Que, em suma, nem todos os pobres e todas as pessoas de esquerda são visceralmente boas nem todos os ricos e todas as pessoas de direita são obrigatoriamente más.

Claro que não foi em apenas 60 minutos que implodiram 25 anos de ideias feitas. Esse processo foi relativamente longo. Mas a minha polícia mental privativa, apanágio de qualquer esquerdista, que nunca me tinha deixado pensar em paz e sossego, impedia-me de retirar ilacções do observado, de concluir pela prática; assim, todas as dúvidas e perplexidades foram ao longo dos anos metodicamente terraplanadas, sempre levando à conta de "ligeiro desvio" e de coisa corrigível aquilo que era obviamente inadmissível: a riqueza patrimonial dos "camaradas", a sua dedicação indiscriminada a quaisquer "causas" que lhes pudessem render prebendas ou dividendos políticos, o seu atávico desprezo pelo mais elementar senso de justiça desde que a "justiça" a aplicar não se enquadre no seu mesquinho, pequenino, ridículo interesse partidário. Principalmente, os milhões de mortos, as vidas destruídas, os povos exterminados, enfim, a miséria generalizada e as tragédias humanitárias em que resultaram sistematicamente todas (todas, sem qualquer excepção) as tentativas de implementação dessas ideias. Sejamos claros: o comunismo, entendido este como o conjunto das ideias esquerdistas radicais, foi a maior tragédia que a humanidade alguma vez conheceu. Isto não é questão de opinião, é facto transparente, atestado por qualquer manual de História contemporânea ou pela mais elementar observação racional.

E é por isso que agora digo o que digo e penso como penso. Que acho o "antigamente" incomparavelmente melhor do que o "actualmente". Quantas pessoas morriam à fome, antes do 25A, e quantas morrem agora; quais eram os indicadores de crescimento e de progresso, tanto de Portugal como das ex-colónias, e quais são eles hoje; qual era a franja de excluídos, a percentagem de pobreza absoluta, e qual é a actual. Afinal, era melhor "dantes"; a "revolução" foi um erro, um retrocesso, uma sórdida e lamentável mentira.

Vejo agora, sem lentes de aumentar, que a liberdade política nunca existiu; que a "igualdade" social é um mito; que a fraternidade é uma palavra completamente vazia, simples arma de arremesso, uma clava discursiva, uma simples moca politicamente correcta. Que todas as sociedades são constituídas por exploradores e por explorados, que sempre assim foi e que, provavelmente, sempre assim será. Que os valores supremos, os únicos pelos quais vale a pena lutar, são a verdade, a dignidade e a justiça. E que o único objectivo político alcançável, o único regime exequível, é o da mais pura decência: fazer o possível por construir algo de útil, sem prejudicar o próximo.

Soma algébrica, é verdade, não apenas daquilo que nos acontece mas de tudo o que fazemos. Um canalha é a soma de todas as suas canalhices. Uma pessoa de bem é o contrário de um canalha, ou seja, alguém cujo somatório de canalhices é igual a zero. Da mesma forma que os regimes políticos se avaliam pelas suas consequências sociais e não pelas intenções que apregoam, por mais altruístas que pareçam.

E reconhecer os próprios erros, mesmo que seja muito tarde na vida, não é vergonha nenhuma e será sempre infinitamente melhor reconhecê-lo do que persistir nele - mesmo que isso implique termos de aceitar a nossa própria estupidez, por termos levado tanto tempo a abrir os olhos.

No fundo, foi isso que aconteceu comigo e não me envergonho sequer de o reconhecer publicamente. Que seja para desconto dos meus pecados.

comentários

23/07/04

To: Dodo
Sent: Friday, July 23, 2004 1:23 PM
Subject: Stop Premature Ejaculation!

Want A Bigger Penis?

The tests that took place over a 2 yar period showed that out of the 17,000 Males from around the world who participated, the average gain after 4 months of taking VP-RX pills was 3.02 Inches! Amazing, PERMANENT RESULTS that will last.

READ MORE INFO HERE
 

no more emailz


No. No! Noooooooooooo!
I do'nt need a bigger penis. I don't want a bigger penis. My penis is ok as it is, thank you. Please, don't touch my penis. Leave my fuckin' penis alone. Stop that spam shit. Go fuck yourself (use your own, huge penis, who gives a shit).

(será que assim estes gajos deixam de chatear?)

comentários

Mais um testezinho da treta

CWINDOWSDesktopnightmare.jpg
Nightmare Before Christmas!

What movie Do you Belong in?(many different outcomes!)
brought to you by Quizilla

Pois, pois, mas lá continuas a cair na esparrela. Porque será? "Em que filme é que você entra"? "Que espécie de tarado é você"? "Que génio louco é você"?

Que raio de coisa mais estúpida. A ver se invento por aqui uns testes baris:
- que personagem de Walt Disney é você?
- qual é a sua personalidade queirosiana?
- qual é a sua maior dúvida existencial?
- qual é o seu género de engatatão (engatatona)?
- que tipo de pancada gosta mais de levar?
- que cérebro gostaria de ter?
- se você fosse fruta, seria qual?
- que espécie de imbecil se considera?

(não gramo que me tratem por você, nem de perguntas em brasileirês, mas tá bem)

comentários




Carlos Paredes
(16 Fevereiro 1925 - 23 Julho 2004)











ficheiros de música (extractos):
http://www.arlivre.com/audio/cpcpt4.mp3
http://www.arlivre.com/audio/cpcpt5.mp3

Para ouvir algumas interpretações de Carlos Paredes, existe este site... japonês!

Biografia: http://ptvip.com/notaveis/carlosparedes/

comentários

20/07/04

to whom it may concern

Portal dos professores

Depois de uma simples vista de olhos, é capaz de ter algum interesse. Não para mim, felizmente, que já me deixei de masoquismos. Mas suponho que ainda existam, algures, pessoas dedicadas ao ensino; gente que adora sofrer, que aprecia pontapés, que adora ser mal tratada, ser desconsiderada, ser desprestigiada; verdadeiros e verdadeiras masoquistas, por conseguinte. Sei que as há, como as bruxas.

Ensinar é servir de bandeja na mão, venerador, atento e obrigado, os conhecimentos que a clientela manda vir. Os clientes dão pela designação genérica de "alunos" e têm sempre razão, como em qualquer outra actividade comercial. Do chamado docente, que os clientes chamam "setôr" ou "pssst" ou "ó fáxavor" ou ainda "ó caramelo", espera-se que não faça ondas, que ande caladinho como o roedor que é e que, em especial, cumpra as tarefas administrativas dos chamados "auxiliares de acção educativa" (os contínuos, nos bons tempos do antigamente); a estes, nada é exigido, a não ser que façam greves e reclamem sistematicamente da sua delicada condição de "trabalhadores", pobrezinhos e perseguidos. A entidade patronal, neste subsector dos serviços, é o Estado - uma entidade abstracta cuja função consiste em planear reformas.

Mas quem realmente manda no "sistema de ensino" é uma entidade ainda mais abstracta do que a anteriormente referida: são os "paizinhos" os verdadeiros patrões. São eles que escolhem o "menu" e as rotinas às quais os empregados-de-mesa professorais devem caninamente obedecer. Qualquer mijadela fora do penico, isto é, qualquer assomo de autoridade ou laivo de competência pedagógica ou, pior ainda, qualquer vestígio de profissionalismo, deve ser e será imediatamente esmagado, passado a ferro, terraplanado, por todos os "comités" disto e daquilo, comissão directiva, conselhos pedagógico e disciplinar, assembléia de pais, mais o resto da parafernália repressiva, os sindicatos, os processos administrativos e disciplinares, e - em especial - as chamadas "reuniões", proforma legal destinado exclusivamente a fingir que se faz alguma coisa.

É o chamada ensino à la carte em toda a sua pujança, esplêndida invenção dos iluminados e esclarecidíssimos educadores da classe operária; as escolas são depósitos de crianças e de adolescentes, são semelhantes a colónias de férias mas na variante grátis, onde se praticam as mais diversas actividades lúdicas, como jogar à bola, brincar às escondidas, riscar automóveis, "negociar" avaliações e, de vez em quando, falar de coisas chatas (Matemática, Português, História, etc.).

Foi você que pediu? Então vá lá, meta-se nisso, abra o portal. Não se esqueça da moca.

comentários

19/07/04

hit the road, Jack

Não deixa de me surpreender. A regularidade, quero dizer.

Entre a tarde de 6ª Feira e a manhã de 2ª Feira, Portugal pára. Isto é facilmente comprovável através de qualquer contador de visitas.

Mas não é grave. O que é grave é o que isso significa: estando toda a gente muito entretida a actualizar o seu blog, durante a semana (que era suposto ser) de trabalho, não deve restar muito tempo para trabalhar. Porque, evidentemente, esta regularidade implica também o seguinte: dois terços dos bloggers nacionais "blogam" nos locais de trabalho, no "horário de expediente", com os computadores e as ligações da entidade patronal.

Menos ao fim-de-semana, porque o fim-de-semana é sagrado. É um novo conceito: depois da "semana inglesa", essa grande conquista dos trabalhadores, agora temos a semana portuguesa - cinco dias de "bloganço" e dois de "merecido descanso". Ou seja, está descoberta a fórmula mágica do completo engonhanço.

Bem sei que me estou repetindo, neste como em outros assuntos. É normal, é a idade a bater. Mas acontece que, além do atávico fascínio pelo fenómeno (da regularidade física do bloguismo tuga), a lata dos vizinhos não deixa de me surpreender: e é lê-los, cada vez mais verborreicos, desancando o "sistema", o Governo e as "injustiças sociais", execrando o país que "não funciona", choramingando pela revolução que ponha "esta merda toda de pantanas", e quejandos exercícios de estilo.

Ninguém compreende como é possível ainda existir esta queirosiana choldra infecta, que foi em tempos jardim à beira-mar plantado. O blogador típico inquieta-se, destilando verve, com os desequilíbrios sociais, com a pobreza, com o tradicional atraso nacional, com a irritante burocracia, com o despesismo do Estado e com o papel de Portugal no mundo; coisas assim, grandiloquentes. Tudo enquanto rouba o patrão, os contribuintes e, em última anáilse, o Estado - ou seja, o país; enquanto reflecte sobre as causas, procurando uma solução milagrosa, ao blogger português não ocorre nunca ser ele próprio um indício actuante do problema. E milhares de indícios, em especial se não fazem rigorosamente nada de produtivo, sete dias por semana, são um pouco mais do que meros indícios: quanto mais não seja enquanto exemplo, são já uma das causas.

Afinal, não há grande mistério (nem muito que se lhe faça, pelos vistos) quanto ao índice de regressão português: basta olhar para os gráficos.

Posted by Hello

comentários

ámen


Sent: Tuesday, June 15, 2004 4:26 PM
Subject: Livrai o Brasil da ação maléfica da esquerda católica! . eaq

Está permitida a reprodução total ou parcial desta notícia; não é necessário citar a fonte: Atualidade Brasileira

A João Paulo II: "Livrai o Brasil da ação maléfica da esquerda católica!"

Filial pelo do Brasil pacífico e laborioso, angustiado pelo eclodir de conflitos que poderão levar o País a uma sangrenta guerra social

CIDADE DO VATICANO, Junho 11, 2004 (AB) - É com preocupação que nosso povo, pacífico, laborioso e religioso, assiste ao eclodir de conflitos que poderão levá-lo a uma sangrenta guerra social. Muitos desses conflitos crescem pela agitação de sacerdotes e leigos da "esquerda católica", que apóiam soluções violentas para os problemas sociais e que contam com a omissão, quando não com o apoio ostensivo, de Prelados dos mais altos na Hierarquia eclesiástica brasileira.

É o que afirma, em extensa mensagem que acaba de chegar a S.S. João Paulo II, a Associação dos Fundadores da TFP - Tradição, Família e Propriedade (para receber gratuitamente, por e-mail, o texto completo da carta a S.S. João Paulo II, clique no link: CartaJoaoPauloII:TextoCompletoGratuito).

Sob a égide da "esquerda católica", com a colaboração da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) - órgãos da Conferencia Nacional dos Bispos Católicos (CNBB) - se articulam os tentáculos da ação subversiva, para encaminhar o País pelas sendas da miséria e da fome, acrescenta a carta. O próximo passo poderá ser uma guerrilha rural que leve ao Brasil a uma situação similar à da Colômbia. O quadro se vê agravado pela presença da "esquerda católica" no atual governo, cujos membros ocupam postos-chave a partir dos quais desenvolvem uma ação em prol da luta de classes.

A missiva faz referência a livros do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira nos quais o autor denunciou a esquerda eclesiástica encastoada na CNBB, como sendo a força capaz de contaminar a opinião pública brasileira, pacata e conservadora, com as febricitações da demagogia revolucionária (Prof.Plinio:EnviarMaisInfo).

E conclui com um apelo: Santo Padre, uma palavra Vossa, envolta pelo alto prestígio que cerca a Cátedra de Pedro, pode desautorizar eficazmente as maléficas articulações da "esquerda católica" e salvar o Brasil de um desastre sem precedentes. Não permitais que, em nome da Igreja Católica, leigos, religiosos e - oh! dor - até altos eclesiásticos conduzam nossa Pátria, que nasceu sob o signo da Cruz, para uma fratricida guerra social, tão avessa ao espírito cristão e à índole bondosa de nosso povo! Ouvi, Santo Padre, o apelo filial e angustiado que Vos dirigimos: "Salvai o Brasil da ação maléfica da esquerda católica!"

040611AB - Atualidade Brasileira

LINKS DE OPINIÃO:

CartaJoaoPauloII:Concordo ---- Discordo ---- EmTermos

CartaJoaoPauloII:MinhaAdesão (ao clicar neste link, favor acrescentar nome completo, cidade e RG ou CIC; seu e-mail será impresso e enviado a Roma, junto com as demais adesões recebidas; pode incluir nomes e dados de familiares, amigos e colegas de trabalho, com o prévio consentimento destes)

OUTROS LINKS:

CartaJoaoPauloII:TextoCompletoGratuitoPorE-Mail

CartaJoaoPauloII:TextoCompletoGratuitoPorCorreio (acrescentar nome e endereço postal)

TELEFONE DE CONTATO:

Associação dos Fundadores da FP - Tradição Família Propriedade

Tels.: (011) 38223241 (011) 3661-8545

Rua Alagoas, 344 - 01242-000 - São Paulo (SP) -

LINK DE REMOÇÃO:

Retirar dodo2004@iol.pt (por favor, para facilitar a remoção, não modifique este e-mail)

POSTDATA URGENTE:

Está no prelo o livreto "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" (20 capítulos breves, 56 pp.). Oferecemos enviar gratuitamente, por e-mail, em formato Word, o Indice e a Introdução. Caso desejar a edição impressa, clique no link "Desejo Adquirir", incluindo nome, endereço postal e telefone de contato, e receberá as instruções de pagamento (valor do exemplar, correio incluido: R$ 10,00)

Livro:DesejoReceberIntroGratuitamentePorE-Mail

Livro:DesejoAdquirirPorCorreio

A difusão desta mensagem e seu conteúdo são de exclusiva responsabilidade da agência Atualidade Brasileira.


comentários

16/07/04

Posted by Hello

 

boas-férias!










(esta imagem foi retirada do site da Guardia Civil espanhola, mas parece-me que foi por eles gamada de outro sí­tio - é uma montagem - porque lembro-me de a ter já visto algures)

comentários

15/07/04


ironia do destino

Consciência
Descobri que sou um atrasado mental! No entanto, não fiquei muito preocupado, pois o atraso é só de cinco minutos.

publicado por ironia_do_destino por volta das 17:54


Pão
Se eu fosse padeiro, punha à porta um cartaz com a seguinte inscrição: "Não há pão para malucos".

publicado por ironia_do_destino por volta das 13:01


Preçário
Ao entrar num restaurante, reparei que o preçário era precário. Saí imediatamente...

publicado por ironia_do_destino por volta das 12:49


do blog ironia do destino
imagem de http://www.i-claudius.com/cartoons/

comentários

_ Nós, em Portugal, queremos acabar com os ricos!
_ É curioso; no meu país, o que nós queremos é acabar com os pobres...

Este diálogo terá sido produzido em 1975, entre o então comandante do COPCON e um jornalista de um qualquer país nórdico; não encontrei nenhuma sustentação factual comprovativa, podendo a citação não passar de pura lenda.

abençoados os pobres de espírito

O presidente vitalício da confederação geral de sindicatos comunistas, Qualquer Coisa Da Silva, em entrevista à RTP (?), ontem, deixou escapar o seguinte, lapidar, genial, subtil raciocínio:

No ano passado, existiam em Portugal 2% de ricos; este ano, existem 4%! Ou seja, hoje há o dobro dos ricos que existiam no ano passado.

Extraordinário. Note-se que deverá ter-se tratado de simples lapsus linguae, com efeito, e muito provavelmente o autor já terá sido chamado à ensaboadela da ordem na Soeiro Pereira Gomes; deve estar ainda, neste momento, levando na touca, o homenzinho, porque uma destas não lembraria nem ao careca (o SG do Partido, em pessoa). Os comunistóides estão sujeitos a uma estreitíssima cartilha e, de facto, aquilo não é o da Joana, era o que faltava, agora um camarada lembrar-se de inventar diatribes; se não está no manual, não existe, e esta dos 4% de ricos não está no manual. Portanto...

Mas não deixa de constituir interessante sintoma, este deslize, e mereceria alguma análise especializada. Repare-se no mecanismo mental: sem mencionar quaisquer outros números, se duplicou o número de "ricos" portugueses, em apenas um ano, isso não é sintoma de progresso e não evidencia qualquer melhoria das condições económicas e sociais; pelo contrário, o dobro dos ricos (pois, claro, 4% é o dobro de 2%, precisamente) apenas quer dizer que existem hoje duas vezes mais "exploradores" do que no ano passado; ora, como a origem do mal é a constituição de riqueza, não a eliminação da pobreza, duplicado o número de ricos duplica também o número de "explorados"; ou, vistas as coisas de outra maneira, duplica a "exploração" das "classes trabalhadoras", dobra o saque praticado pelos "maus" sobre os "bons". Não é lógico? É, pois, de uma clareza assustadora.

Dando de barato que o forte daquele senhor não seja a álgebra, ainda assim faz alguma confusão que se possa atingir tais níveis de imbecilidade. Uma percentagem, sendo relativa (um número em relação ao universo ao qual se refere, xis em relação a éne) é também absoluta, ou seja, se eram 2 e passou a 4, houve 2 que deixaram de ser "não-ricos". E isso é, obviamente, uma clara melhoria e não um retrocesso. Quanto mais elevada for a percentagem de "ricos", menor será a de "pobres", questão de evidente lana caprina, porque não há nada acima do todo (100%), nesta acepção: a população portuguesa, ou mundial, nunca poderá ultrapassar 100%. Não, monsieur de La Palisse nunca teria dito isto.

O que interessa a estas reses esquerdistas é, por paradoxo, a capitalização do descontentamento social; por isso se dedicam a "causas" altamente meritórias, sistematicamente relacionadas com a "defesa" dos interesses das classes "desfavorecidas". Nesta perspectiva, compreende-se que lhes faça alguma diferença que haja cada vez mais "ricos": é que, assim sendo, também haverá cada vez menos "pobres" e, portanto, menos elementos no seu "target" de marketing político. Se, por hipótese académica, existissem 96% de ricos e 4% de pobres, um comunista faria tanto sentido como dar uma martelada na cabeça, ou cortar a gente a própria cabeça com uma foice.

Em países evoluídos, como a Finlândia, a Dinamarca, a Islândia, a Noruega, o Canadá, a Nova Zelândia, a percentagem de "ricos" é elevadíssima; não é obviamente baixíssima, como acontece, paradigmaticamente, nos países mais atrasados do mundo (por exemplo, o Togo, Angola, o Vietname, a Coreia do Norte, o Haiti, Timor-Leste). Por estranha coincidência, todos os países nos quais estão praticamente resolvidos os problemas sociais, não apenas o regime político-económico é esplendorosamente capitalista como as esquerdas têm uma representatividade simbolicamente democrática, isto é, não passam de grupos folclóricos superior e ironicamente tolerados, sem terem alguma vez metido prego nem estopa na construção do sistema que, obviamente, dizem combater... mesmo se comprovadamente funciona, ou por isso mesmo.

O truque da mentalidade comuno-maniqueísta é obliterar a fatia largamente maioritária - nos países de desenvolvimento intermédio, entre 50 e 80% da população - que não é nem "rica" nem "pobre": as chamadas classes médias, a burguesia, segundo a própria e anacrónica designação marxista. Para a qual interessa estrategicamente fingir que, entre ricos e pobres, apenas existe uma imensa e desabitada terra-de-ninguém. O que, evidentemente, é o maior equívoco e a mais gigantesca falácia da História - sem os quais aquela ideologia perderia a razão de ser.

Existem instrumentos e indicadores, internacional e politicamente aceites, adequados à determinação dos níveis sociais de "pobreza" e de "riqueza"; mas isso são, obviamente, coisas que não interessam para nada aos arquitectos dos amanhãs que cantam. Na desesperada - porque absolutamente infundada - tentativa de fazer crer às camadas sociais inferiores que a "injustiça" se resolve com o nivelamento por baixo, os esquerdistas agarram-se sofregamente aos números da riqueza; esquecendo, muito convenientemente, que também isso é um valor absoluto, que depende e cresce ou diminui conforme estiver organizada a respectiva criação; a riqueza existente é e será sempre, também e como a população, 100%. O que há para "distribuir" (o verbo em comunistês que significa "produzir") é o total existente em cada momento, nem mais nem menos; é possível "distribuir" 100, não 110 ou 200% do que existe. E é precisamente este excedente que o marxismo tem para oferecer, ou seja, 10% de coisa nenhuma e o dobro de nada.

De resto, quanto às faixas de pobreza efectiva (o limiar de sobrevivência determinado pela FAO), estas dependem mais de factores demográficos e de recursos locais do que de quaisquer políticas, mais ou menos milagrosas, mais ou menos capciosas. Não sendo possível aumentar o "bolo", nem à custa de qualquer fermento ideológico, o que existe para "distribuir" depende do número de bocas e, principalmente, dos pares de braços para trabalhar e da qualidade dos cérebros que irão organizar ambas as coisas, produção e distribuição.

Acabar com a fome no mundo não é acabar com a pobreza, mas tentar o contrário, ou seja, eliminar a pobreza para acabar com a fome, isso sim, é a tarefa primordial de todas as pessoas de bem: classe à qual seriam bem vindos, apesar de tudo e contra as suas próprias convicções, aqueles que persistem em negar a realidade. Mesmo aqueles cuja inteligência, sabotada ao longo de décadas, se recusa a funcionar. Mesmo os que de há muito se despediram da sua humana condição.

E, realmente, espumar de raiva porque há mais ricos é esquecer que isso significa mais riqueza e menos pobres. Os novos 2% de ricos não vieram de Melmac, sr. Silva.

Shame on you, mister Silva.

comentários

com certeza


Com certeza

...com certeza!

O conjunto de letras CONCERTEZA não consta de qualquer dicionário ou enciclopédia da Língua Portuguesa. Exceptuando o Houaiss, que não foi consultado por não estar aqui à mão.

Como diria o inefável porta-voz do Benfica, "concerteza" é uma palavra que não existe, repito, NÃO EXISTE.

Ainda não foi inventado o megafone blogosférico, mas aqui fica uma pobre imitação:



concerteza não existe

concerteza é erro

concerteza = tremenda bacorada



Em Português, o que existe é com certeza, duas palavras; expressão constituída por preposição e substantivo feminino; locução adverbial com significado equivalente a "certamente".

(19.000 na Google!)

comentários

14/07/04

Alt F4


A ideia é muito simples mas, surpreendentemente, ainda nenhum programador mais expedito se abalançou a executá-la; o que não surpreende, vendo bem, porque a qualquer programador profissional nunca sobrou o tempo para aprender a ler e, de resto, uma coisa exclui a outra. Das "software houses" e dos fabricantes de computadores, não há muito a esperar nesta área e muito menos ainda se poderá contar com a própria Microsoft, que sempre investiu preferencialmente na mais pura estupidez artificial, aquilo a que chamam "inteligência artificial".

Em resumo, tratar-se-ia de criar um botão programável em qualquer "standard mouse", que permitisse fechar automaticamente (ou, melhor ainda, nem chegar a abrir) qualquer página ou blog que contivesse um ou vários dos termos ou expressões arroladas pelo utilizador. Dito de outra forma: quando se faz "click" num "link", ou quando se escreve um endereço no "browser", seria bom que o programa, ainda antes de começar a abrir a página, consultasse o respectivo conteúdo de texto em busca de erros; estes constariam de uma lista associada, construída pelo utilizador, e a simples detecção automática de um ou vários dos items listados provocaria o abortamento da abertura da página (com um caixa de verificação de erro) ou o seu fecho imediato com um simples "click" do botão esquerdo, por exemplo.

Tecnicamente, seria associar os comandos Ctrl+F (ou Ctrl+L) a Alt+F4, com um critério de busca intermediário. Nada mais simples. Aliás, já antes referi a absoluta necessidade de uma ferramenta deste género e, que diabo, sejamos coerentes, não seria demasiado ter este utilitário em vez ou no lugar das inúmeras funções que ninguém ou quase ninguém utiliza, num teclado vulgar, ou mesmo no "rato"; nem que fosse necessário iniciar a produção em série de "ratos" com um terceiro (ou quarto) botão, exclusivamente dedicado a esta utilíssima tarefa: poupar a nossa vista, resguardar os nossos neurónios, proteger a nossa fedúncia linguística. Em última análise, isso iria também poupar imenso tempo de navegação, para já não falar na poupança que acarretaria no uso de "bandwidth" ou na contagem de volume de tráfego; evitar automaticamente que abrissem páginas contendo atentados à Língua Portuguesa, além de altamente patriótico, culturalmente meritório e neurologicamente saudável, seria uma tarefa merecedora dos maiores elogios, aplausos, quem sabe umas c'roas valentes, e ainda o aplauso generalizado da comunidade fedúncica nacional (somos poucos mas bons, conheço pessoalmente cerca de 50% dos outros).

Existe corrector ortográfico no Word (F7), como na maior parte dos processadores-de-texto. O próprio OE (Outlook Express...) tem a coisa incorporada no botão "send". Porque não o mesmo no "browser"?

Existem realmente, além das toleráveis gralhas, coisas que inviabilizam completamente a leitura; erros graves que, no cérebro fedúncico, bloqueiam qualquer capacidade de apreensão subsequente; ou seja, trocando por miúdos, e falo por mim, se bem que em nome dos camaradas portadores de pancada quejanda: certas construções agramaticais, expressões-chave, designações, vox-populizações, estruturas erradamente incorporadas ou importadas, tudo isso ou apenas uma das coisas, é motivo mais do que suficiente para parar de ler, fechar a página e, de preferência e enquanto me lembrar, nunca mais voltar àquele endereço. O problema é que, apenas no blogbairro, já existem 3.000 números de porta; é precisamente para lidar com grandes volumes de informação que existem os computadores, portanto apenas um programa seria capaz de suprir a falha.

Assim de repente, a nossa listinha teria, à cabeça, os seguintes ferrolhos linguísticos:

Há vinda para cá (ou para o diabo que o carregue) 
Benvindo (a/s)
consta-se
não vão haver
um dos que foi (subiu, desceu, etc.)
ela gosta que
há dias atrás (semanas, meses, anos)
quanto muito
lembro-me que
à vezes em que
há vezes que
Bacalhau há Braz
penso de que
pede-lhes para pararem (subirem, etc.)
sair para fora
descer para baixo
entrar para dentro
subir para cima
destrocar dinheiro
antes prefiro
manti (manteu, etc.)
preveu
póssamos
póssa-mos
hádem
pareçe (desapareçe, cresçer, praçeta, etc.)
fostes (parastes, ligastes, etc.)
acima de tudo, queremos cumprir os objectivos
o jogo tem noventa minutos
É assim:
á-de
empedimento
deparei-me com (deparou-se, depararam-lhes, etc.)
aqui à atrasado
aqui há atrasado
anteonte
puzios
puzi-os
pú-zi-os
quer-me a mim parecer

Uma ideia acessória poderia ser a selecção de novas expressões/palavras, nas páginas que passassem o crivo, com o botão direito do "rato" e a opção "add to bull-shit list". Evidentemente, para visitar blogs como o do AlVino, por exemplo, seria necessário desactivar o xislofene(*).

Fica a sugestão. Qualquer coisinha, o email é dodo2004@iol.pt. No caso de algum programador se julgar capaz para a tarefa, pedia-lhe encarecidamente que arranjasse um tradutor de português/Português profissional, antes de nos escrever; diga-lhe de viva voz da sua disponibilidade, habilitações, etc., mas é absolutamente imprescindível que o email seja redigido por aquele profissional; é que a lista acima - com muitas outras coisas - consta das nossas "email policies"; portanto, mensagens com erros são apagadas na origem, nem sequer tomamos conhecimento.


(*) - XISLOFENE™ é uma marca registada de ® http://001.blogspot.com; todos os direitos reservados. © Esperando o tal Godot, ou isso


comentários

12/07/04

quésse dezer


Vi n'A Razão das Coisas (saúdinha) o link para esta bródecastação das manifs que o BE está a preparar. Agora é que a coisa vai piar fininho. (piar, não fiar)

comentários

Minhas senhoras e meus senhores...

... isto é Português.

comentários

isso é que era gude!

Sent: Monday, July 12, 2004 7:49 PM
Subject: [Portugueses-pela-Galiza-lusofona] Portugal na CNN - Votação



Toca a votar pessoal...

  Hoje é a CNN que pergunta se a Grécia mereceu vencer o Euro 2004?

  O sim está a ganhar!!!! inconcebível!!!!

  Vota bem... e passa!


  http://edition.cnn.com/SPECIALS/2004/euro2004/


-Xavier

comentários

estupidez de luxo

Na Lux desta semana...
Henrique Mendes morreu de cancro fulminante.
A tristeza dos filhos de Diana, na inauguração de um monumento em memória da princesa.
Não perca ainda a faca de mesa e a colher de sobremesa. O faqueiro da sua vida. Todas as semanas com a Lux. Já nas bancas.

(anúncio na Rádio Comercial)

Por amor de Deus, que raio de país é este?!?!?

comentários

10/07/04

Déjà vu


Falhada a tentativa de golpe palaciano, os comunistas e outros esquerdistas preparam-se agora para a manobra clássica: a desestabilização sistemática, provocando níveis de convulsão social suficientes para que seja accionado o artigo 195 da CRP (Demissão do Governo). As oposições, falhado o plano A - eleições antecipadas por iniciativa presidencial - avançam agora para o mais que previsível plano B - a agitação social, como forma de alcançar rigorosamente o mesmo objectivo, isto é, forçando o PR a dissolver a Assembléia da República com a consequente marcação de eleições antecipadas.

A demissão do Secretário Geral do PS é, na prática, o primeiro passo desse plano B. Seguem-se as típicas manifestações "de massas", as greves consecutivas, os boicotes, a pressão mediática, a boataria, a intoxicação catastrofista, por parte dos fazedores de opinião do costume; por fim, quando a crispação atingir o auge, é muito provável que surja a violência, confrontações nas ruas, manifestações estudantis, o estendal completo. Nada de novo, portanto.

Sua Excelência o Presidente da República, quando decidiu não dissolver a AR, em perfeita sintonia com o espírito e com a letra da Constituição, sabia perfeitamente o que se iria passar a seguir. Provavelmente, Ferro Rodrigues tê-lo-á informado previamente daquilo que tencionava fazer, num caso ou noutro; portanto, o PR sabia, o PS sabia e todas as outras oposições, desde o parque jurássico leninista ao berloque de esquerda, todos os dirigentes estavam fartos de saber o que se iria passar a seguir. Será certamente o "Verão quente" de 1975, em versão revista mas não aumentada: felizmente, já não existem hoje tantos comunistas, em quase trinta anos muitos portugueses adquiriram certos hábitos de higiene, e o nível médio de militância da população baixou a níveis mais civilizados e europeus.

Evidentemente, os cordeis da agitação social (estudantes, CP, TAP, EDP, Petrogal, etc.) continuam nas mãos de meia-dúzia de dinossauros esquerdistas; basta que uma manifestação corra mal, que um agente mais nervoso dispare um tiro, ou que haja uma carga mais violenta, por exemplo, para que o caldo político esteja entornado. Os de sempre sabem como as coisas se fazem; depois de convenientemente formatada a "opinião pública", apenas necessitam de um ou dois mártires, ou coisa que o valha, para garantirem os resultados pretendidos. E estes são, evidentemente, forçar o PR a cumprir o estipulado no número 2 do tal artigo 195: «O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado.»

Não funcionou de uma forma, há-de funcionar da outra. Isto não é surpresa nenhuma. O que é, de facto, espantoso, é ver, ouvir e ler (como diz um dos hinos marxistas) pessoas inteligentes e insuspeitas, das esquerdas mas também de algumas direitas, debitando impropérios sobre a "injustiça" da situação, com perdigotos indignados à mistura, reivindicando eleições a qualquer preço, mesmo que este seja a mais radical paralisação do país. O último relatório da OCDE resume o "estado da nação" numa frase: Portugal parou no tempo. Coisa que não aquece nem arrefece aos profissionais da luta política, é claro, mas era suposto as pessoas - a esmagadora maioria, dizem os números - terem algum cuidado com o que dizem e com as consequências que daí poderão advir para a sua Pátria. De facto, pendurar a bandeirinha na "marquise" não é grande espingarda, enquanto manifestação patriótica.

Mesmo descontada a sua aversão congénita ao trabalho, ao Português comum e, principalmente, aos compatriotas não tão comuns como isso, deveria fazer alguma espécie que se ande permanentemente a contar votos; não deve ser muito difícil perceber o que está por detrás das magnas bojardas igualitárias, ou em que consiste, afinal, mais esta "justiça" que agora se reivindica. Supondo não ser necessário fazer um boneco da situação, é realmente assustador que tanta gente de bem se tenha já esquecido daquilo que representaram e representam, na prática histórica, as boas intenções dos amigos dos pobrezinhos, de como aquilo que dizem não tem absolutamente nada a ver com aquilo que fazem, de que para um consumidor de causas qualquer causa é excelente e totalmente irrelevante; que as "justas reivindicações" são armas de arremesso político, sem qualquer vestígio de justiça; que "o nosso povo" e "os trabalhadores" são puros chavões da nomenclatura sanguinária; que esta nomenclatura é constituída por tudo, menos por povo e menos ainda por trabalhadores.

Esperar que um comunista alguma vez mude de opinião é com toda a certeza o único dogma comprovável, de todo o arsenal daquela liturgia maniqueísta; se alguma vez isso acontecesse, não haveria nem liturgia, nem maniqueísmo, nem dogma, nem comunismo. Mas esperar que pessoas na plena posse das suas faculdades mentais se apercebam, a tempo e em tempo, que estão a entrar no jogo anti-democrático - isso é que não será talvez demais. Esperemos que não seja tarde.

comentários

09/07/04

... a propósito do post anterior (nem de propósito)

férias
é oficial. com o verão vêm as férias, com as férias vem a vontade de desprendimento. Por isso o nosso blog regressará à normalidade em meados de outubro. até lá estamos a meio gás.


A citação é de um conhecido blog português, que não se refere com link para evitar pruridos e comichões.
Mais de três meses de férias três. Nada mau. E férias bloguistas, note-se. O que será no local de trabalho, vulgo emprego, do(s) autor(es). Repare-se no tom oficial, oficialmente escarrapachado. Repare-se no tom desprendido, na vontade manifesta. Repare-se no tom de absoluta normalidade, na lata mais que tranquila. Mire-se com inveja estival o marimbanço para a maiúscula inicial, essa formosa figura de estilo tão em voga no blogbairro. Admire-se o ar já vagamente dolente do próprio bairro, a meio gás, ó brilhante, resplandecente, supimpa metáfora. Trinta e cinco palavras apenas, outras tantas pinceladas certeiras, e aqui está a essência nacional "em todo o seu esplendor".
Viva Portugal.

comentários

08/07/04

humpfrrgh!!!

Começaram as férias. Nota-se. A vizinha de cima vai chinelando pela casa, com socas de madeira. No 2º esquerdo, o garoto insuportável mostra ao bairro inteiro que seu prestimoso papá também tem dinheiro para comprar uma "bruta aparelhagem". Por baixo da minha janela, um grupo de pré-adolescentes reflecte em altos berros sobre o que vão chutando de uns para os outros (a bola, evidentemente). Não há nenhuma escapatória. Nada. Estou completamente cercado pelo Verão.

Impossível trabalhar, ler, escrever. Ou pensar, sequer. As coisas saltam na cabeça, aos arrancos, nas escassas fracções de segundos em que, por mera coincidência, se faz algum silêncio. Os decibéis nunca baixam de um nível mínimo de estupidificação máxima. O povo tem horror do(*) silêncio, como tem do vazio ou da assimetria.

É o tempo da toalha pelos ombros, dos calções pintarroxos, da chinela colorida, da areia misturada com suor, das cascas de banana, dos ossos de frango e dos cotos de costeletas. Do bronze nos costados e dos miolos torrados. O intervalo repugnante que vai da ociosidade até ao descanso, este intervalo de rotina entre o S. Pedro e o S. Martinho.

O que fazer? Como se acaba com isto? Como exterminar os veraneantes e os turistas e a gentinha de bem, essas massas em férias? Como liquidar essa escumalha fétida que se encontra no seu "descanso" anual? Para moscas, melgas e mosquitos, outro dos males do estio, há muito que existem inúmeros e cada vez mais radicais remédios. Para o calor, o maldito, arranja-se sempre qualquer coisa, água fresca, frigoríficos, ar-condicionado (a melhor invenção do século XX); mas para esta maltosa despejada das escolas, mai-los parentes licenciados dos respectivos empregos, nada, ó miséria, não há nada a fazer. Não se podem enxotar, como a moscaria, quanto mais exterminar.

Não consigo pensar. Já tinha dito? Não oiço nada dentro da minha cabeça, tal é o ruído cá fora. Que horror. E pensar que há quem pague fortunas para se enfiar em areais sobrelotados, onde as pessoas se estendem às camadas, como os frangos de churrasco, virando periodicamente para tostarem por igual. E adoram, pelos vistos, isso e ir para a bicha da água se querem beber, para a bicha do restaurante ou do bar, se querem comer, para a bicha do autocarro ou para as filas de trânsito intermináveis, na ida e na vinda de e para o charco infecto a que chamam praia, para a bicha do WC se uma necessidade fisiológica apertar... bem, pelo menos os 10% que se dão a esse trabalho . É "fazer praia", isto, como lhe chamam. Talvez a única coisa que "fazem" realmente durante o ano inteiro. Bolas, até já me saem cacofonias. Inferno. Porcaria. Raisparta.

Deve ter sido assim, numa destas ocasiões de ociosidade oficial e de completa confusão, que nasceu o estilo Artur Portela Filho. O tal. Que. Escrevia. Às mijinhas. A gozar. Positivamente. Com a gente. Mas, enfim, como o compreendo. Tenho que passar outra vez para o horário nocturno, é o que é.

Chiça. Vou mas é cozinhar. Coelho assado, hmmmm.

(*) isto aqui será "do" ou "ao"?
Lembrete: comprar daqueles tampões de ouvidos, maravilhosos, com cera revestida a algodão.

comentários

Livro V - 34
Sempre poderás dar um bom curso à tua vida, visto poderes tomar o bom caminho, seguindo-o de verdade e fazendo o bem. Eis duas faculdades comuns ao espírito de Deus e ao do homem e ao de todo o ser racional: não ser obstaculizado por nada estranho, fazer consistir o bem na disposição íntima e numa conduta conformes à justiça; e pôr os desejos dentro desses limites.

Livro VII - 2
Os princípios têm vida. Como poderiam eles morrer, a menos que as ideias que lhes correspondem se extingam? Mas estas, depende de ti reavivá-las de contínuo.
Posso, sobre qualquer assunto, formar opinião apropriada. Sendo assim, porque me ralar? O que se passa fora da minha inteligência não existe para a minha inteligência. Penetra-te disto e estás no bom caminho. Está na tua mão reviver. Vê de novo as coisas como as viste já, e isso é reviver.

Livro IX - 10
O homem, Deus, o mundo, dão fruto; todo o ser dá seu fruto na estação própria. Pode o costume aplicar a palavra, na estação própria, ao fruto da videira e a outros semelhantes; pouco importa. A razão dá fruto, a um tempo universal e individual, e dela nascem outros produtos da mesma natureza que a razão.

Livro XII - 15
Quando a chama da candeia continua a brilhar até à extinção sem nada perder do seu brilho, a sinceridade, a justiça, a temperança que em ti se atearam vão extinguir-se antes de tempo?

Livro XII - 22
Persuade-te de que tudo é opinião e a opinião de ti depende. Elimina, quando quiseres, a tua opinião e, tal como um navio que dobrou o cabo, encontrarás logo bom tempo, todos os elementos acalmados e uma enseada ao abrigo das vagas.


Pensamentos, Marco Aurélio (121-180 d.C.)
Marcus Aelius Aurelius Verus foi nomeado César no ano 139, Cônsul em 140, Imperador em 161.

obra citada: versão portuguesa de João Maia, Ed. Verbo, Lisboa 1971 - Biblioteca Básica Verbo (Livros RTP), nº 36

comentários

07/07/04

Com a (muito) devida vénia...


SER POETA moderno

Ser poeta é ser mais alto, é bater com os cornos no tecto...
É ter de mil desejos o esplendor, e ficar frustrado frente ao televisor!
É ter cá dentro um astro que flameja, e na estupidez circundante
ser só uma vela que almeja!
É ter garras e asas de condor, e levar chumbada da maralha agachada!
É ter fome, é ter sede de infinito, não ter cinco euros p’ró bitoque e
beber meio tinto na tasca do jacinto!
É condensar o mundo num só grito, e ficar roufenho vociferando
esse tamanho berro quejando!

E é amar-te assim, embriagadamente...
É seres corpo e sexo e sábado à noite em mim
E dizê-lo em karaoke a toda a gente!

Sulturas

comentários

06/07/04

You Can Leave Your Head On

Baby cut off your throat real slow
Cut off your toes
I'll Cut off your toes girl
Rip off your chest yes, yes, yes

You can leave your head on
You can leave your head on
You can leave your head on

Go over there turn on the lights, all the lights
Come over here, stand on that chair
Baby thats right
Raise your arms up in the air
And now shake em

You give me reason to live
You give me reason to live
You give me reason to live
You give me reason to live

Sweet darling
You can leave your head on
You can leave your head on baby
You can leave your head on
You can leave your head on

Suspicious minds are talking
There trying to tear us apart
They don't believe this love of mine
But they don't know what love is

They don't know what love is
They don't know what love is
They don't know what love is
I know what love is

You can leave your head on
You can leave your head on
You can leave your head on
You can leave your head on

Joe Joker

comentários


O tamborzinho

Um dos livros mais marcantes da minha vida tinha capa rígida e figuras extraordinárias, a cores; chamava-se "Bambi" e era da autoria de Walt Disney. Adorava abri-lo, ao meu precioso calhamaço de banda desenhada, numa página à sorte, como ainda hoje faço com Os Maias, e reler daí em diante, maravilhado, virando as folhas com cuidado, afagando e cheirando o papel. Gastei com ele quase toda a minha prenda de aniversário desse ano, vinte escudos, e com o que sobrou comprei um belo gelado de cone.

Certo dia, que foi o último da minha infância, emprestei o livro a um amigo e, naturalmente, foram passando semanas, depois os meses, e nada de "Bambi"; tinha saudades, eu, do meu livro; depois de muito insistir com aquela besta-quadrada, que tinha o dobro do meu tamanho, lá consegui reaver o meu tesouro colorido.

Vinha desfeito, rasgado, a capa rota e bandeando; tinha manchas, faltavam pedaços de páginas, até o cheiro não era o mesmo. Fiquei destroçado. E nunca mais emprestei um livro - já lá vão quase quarenta anos. Sepultei-o com todas as honras, numa caixa de cartão enchumaçada com jornais, no sótão lá de casa.

Mas ainda me lembro perfeitamente da história toda, que misturava os anões da Branca de Neve com uma corça lindíssima e outros animais de todos os tamanhos e feitios; um deles, o meu preferido, era um coelho juvenil que tinha o hábito de bater com as patas no chão, a ritmo e a despropósito; por isso lhe chamavam Tamborzinho. E foi desta personagem que retirei a frase que desde então me acompanha, espécie de lema profundo: se não tens nada de agradável ou de útil para dizer... não digas nada. .

Agradável ou útil, nisto se resume tudo aquilo que se pode dizer, e escrever é dizer de outra forma, como pintar, esculpir, construir ou compor. Porque mesmo as coisas desagradáveis podem agradar e porque a utilidade é um conceito muito abrangente; escrever coisas desagradáveis ou aparentemente inúteis pode ser ainda literatura; por definição, apenas o tempo se encarrega de fazer a distinção; e pode até acontecer que um qualquer naco de prosa, obscuro e de autor incógnito, adquira carácter literário, ganhe notoriedade com a "patine" de décadas ou de séculos. Pode mesmo um qualquer texto, fraco, tíbio, de interesse apenas para quem o redigiu, tomar alguma - ou muita - relevância, até mediática.

Aquele meu primeiro funeral literário, acompanhado pelo tremendo desgosto e a sensação de angústia que sentimos sempre que nos morre alguém, deixou na criança que eu era marcas profundas e indeléveis. E isso aconteceu por causa da forma quase trágica e canalha como me morreu nas mãos um livro. Levarei comigo o coelhinho traquina e a sua frase célebre, a que serviu para toda a minha vida, a que foi útil, guardada na massa cinzenta da memória; arderá comigo quando arder esta outra caixa onde está guardada.

Vem isto a propósito da imensa produção escrita que por aí vai, deste fenómeno recentíssimo dos "diários virtuais". Da tremenda ilusão que tudo isto é, e de como tanta gente anda pateticamente fascinada com aquilo que escreve. Do deslumbramento pacóvio a que se entregam, de forma comicamente trágica e definitiva - ou vice-versa - os autores de tão profícua, alargada, abrangente, ecléctica produção.

Gente que, escrevendo umas coisinhas, se imagina já em cerimónias com o Rei da Suécia, trajando fraque e recebendo braçadas de flores aristocráticas; escrevinhações que não poderão ser nunca, pela simples ordem natural das coisas, nada mais do que isso mesmo, promovidas por grupos de amigos à categoria efémera de texto legível ou, pior ainda, relevante; juvenis incapazes de alinhar correctamente cinco palavras, de alinhavar uma ideia coerente, de criar uma única frase com sentido, impantes e arrogando em volta os seus putativos, incríveis, mirabolantes méritos "literários". Uma coisa é escrever, outra é escrevinhar; outra ainda será - apenas e quando muito para os próprios "autores" - redigir umas coisas giras.

O resultado visível - e, em centenas de casos, excruciante - é abrir a gente um blog e ler "levava-mos" ou "pareçe" ou "dissestes" ou "á de ser"; é demasiada tortura para o mais comum dos mortais, presumindo que este sabe, pelo menos, ler. Há uma lista de frases-chaves que um ser humano normal faz aos seus botões, assim que abre um endereço desconhecido e topa com as altamente profundas reflexões de um "blogger" típico: quando a coisa começa com "Eu acho que", a pergunta é "ah sim? E eu com isso?"; e fecha-se; ou então, para "Na minha opinião", diz-se a um botão alternativo "Pois, pois, quero lá bem saber disso para alguma coisa"; ou, mais prosaicamente, "ó pazinho, não me chateies, adeus"; ou "olha-me este", "ok, tá bem, tchau", coisas assim, até não haver botões disponíveis. Ainda não existe nenhum mecanismo que nos avise do perigo, para a saúde mental e para a qualidade de vida do incauto visitante, que é entrar no blog X ou Y ou Z; obra meritória, isso sim, seria a criação de um serviço de avisos à navegação, com detecção automática de atentados à Língua Portuguesa, com avisos do género "Perigo! Cada palavra, cada erro" ou "Stop! Bacoradas a granel"; melhor ainda seria se este serviço detectasse bacocos, espertalhões e poetas, por exemplo: "Alto! Cuidado! Blog giraço", "Achtung! Jungend!", "Este diz que é poeta!", etc. Não havendo destas maravilhosas ferramentas de navegação, temos que, portanto, os blogs continuam como os melões - mas ainda mais provavelmente verdes, ou secos, ou completamente ocos; não se pode nem cheirar, nem apalpar nem sopesar um blog, é uma maçada, ainda valem menos do que um belo exemplar de Almeirim.

Pelos vistos e pelos lidos, não apenas ninguém se lembrou de avisar destas coisas os presumidos "autores" como a estes não ocorreu tão flagrante evidência. Uma tristeza, para os próprios quando a realidade lhes desabar em cima, e deprimente para quem - por algum ainda que insondável motivo - os tiver de ler. O deserto, quando o tempo, esse Deus verdadeiro, eterno, omnipotente e omnipresente, cumprir a sua função e reduzir tudo à primitiva insignificância.

Exceptuando os raríssimos casos nos quais não existe nem intenção nem pretensão a qualquer espécie de cariz literário, nove décimos do que se escreve no blogbairro são constituídos por puro detrito grafado. Do décimo restante, nove décimos são horrivelmente pedantes, constituídos por verdadeiras matilhas de "consagrados" das mais diversas áreas e que usam os blogs para todos os fins menos armarem ao escritor (felizmente), se bem que se fartem de escrever nos jornais, por exemplo, e que tenham diversas obras publicadas. Finalmente, existe uma ínfima parte de uma ínfima parcela que tem realmente qualidade; destes, restarão talvez um ou dois dentro de cinco anos. E seria bom, até porque desejar não custa nada, que os génios múltiplos do blogbairro usassem o seu tamborzinho como aquilo que ele é: um dispositivo para fazer barulho. Sabendo perfeitamente, como todos sabemos, que toda a gente aqui toca só na sua caixinha, apenas ouvindo - muito ao longe e vagamente - os ruídos de alguns outros. Todos lemos na diagonal, isto que pretende ser acervo e não passa afinal de imenso, gigantesco, ligeiramente nauseabundo aterro literário. Pouca gente confessa tal coisa, mas em segredo toda a vizinhança blogueira sabe perfeitamente que ninguém lê coisa nenhuma de produção alheia, e apenas e só à cata de coisas que digam respeito a si próprios, a fina flor do entulho.

O Bloguês é uma nova, recente e efémera linguagem. Utilizá-lo, ainda que bem, não pode ser senão uma pobre macaqueação da escrita enquanto acto literário. Pode ser uma ferramenta tecnologicamente evoluída, como foi o escopro, o papiro, a pena de pato, a máquina de escrever, o processador-de-texto. Mas não tem nem cheiro nem toque; serve para guardar e para experimentar, não serve para publicar. O livro, já como objecto, como coisa, é absolutamente insubstituível. E de outro e paradoxal modo se pode dizer também que não é por um livro estar impresso que passa necessariamente à categoria de obra literária; pelo contrário, a poluição editorial sempre existiu e muito provavelmente continuará existindo; apenas agora, por estes meses, com a facilidade "bloguística", a coisa vai tomando proporções de catástrofe, tão maciço é o derrame de crude palavroso, espesso e negro. Inflação opinativa, caleidoscópio de egos inchados, moderna floresta de enganos vicentina, eis por antecipação alguns dos retratos que no futuro alguém traçará, no caso de haver quem se dê ao trabalho de analisar estes despojos.

E o facto indesmentível é que aqui há muito ruído, mas muito pouco de agradável e menos ainda de útil. Tamborzinho tinha razão. Mais vale não dizer nada.

azul cobalto






imagem de azul cobalto

comentários

02/07/04

Rumor: an assertion or set of assertions widely repeated though its truth is unconfirmed by facts or evidence.

"A rumor goes in one ear and out many mouths," reads an ancient Chinese proverb. In the original Latin, "rumor" was a synonym for "noise." Rumors, gossip and hearsay have long been regarded — and derided — as forms of idle, destructive chatter.

Though unreliable by their very nature, rumors can prove to be true. "Rumor is not always wrong," noted Tacitus, the Roman historian. The crux of the matter isn't truth value per se, but the absence of verification.

While they are similar in that and other respects to urban legends — indeed, on occasion it's difficult to tell the two genres apart — rumors differ from legends in that they're shorter-lived and aren't typically passed along in narrative form.

Urban legends


David Emery escreve coisas muito interessantes mas, neste particular, quanto a boatos, "bocas da reacção", maledicência... não tem grande conhecimento de causa; vê-se logo que não conhece a vaterland do "falar pelas costas", a Pátria verdadeira do mexerico, o país onde "cortar na casaca" é o mais praticado e admirado desporto nacional. Portugal é o mais antigo ninho de víboras da Europa, eis a insuspeita verdade. Somos os maiores nisso, ao menos. O próprio conceito está imbuído de portugalidade, tal é o número e a variedade terminológica correlacionada; traquetice, diz-que-disse, parece que, ouvi dizer, "constou-me", tem cara de...

Intriga, bisbilhotice, atoarda, as primas direitas do boato, fazem parte da nosso "imaginário colectivo" - nem de propósito. Nenhuma Língua é tão ricamente elaborada ou se assemelha - mesmo vagamente - a tal filigrana de significados; apenas em Português existe esta coisa extraordinária que é a má-língua.

comentários

01/07/04

----- Original Message -----
Sent: Thursday, July 01, 2004 5:37 PM
Subject: [Portugueses-pela-Galiza-lusofona] ELOGIO DE PORTUGAL....

WWW.ELCONFIDENCIAL.COM

Con  Lupa - JESÚS CACHO:01/07/2004

ELOGIO  DE PORTUGAL, UN PAÍS CON UNA FEROZ LIBERTAD DE EXPRESIÓN, DEL QUE LOS  ESPAÑOLES TENEMOS MUCHO QUE APRENDER

Muchos españoles están  descubriendo estos días, aparentemente sorprendidos,la existencia en la casa  de al lado de un vecino llamado Portugal, un vecino bastante más pobre que  nosotros pero capaz de organizar una evento tan importante como un Campeonato  de Europa de fútbol, de construir una serie de estadios, todos magníficos, de  ganar a la millonaria selección española, e incluso de colocar como presidente  de la Comisión Europea a uno de sus políticos, José Manuel Durao  Barroso.

Ese  país, cuya selección jugó y ganó ayer la primera semifinal de dicho campeonato  contra Holanda, lo cual ya es de por sí un triunfo, sigue siendo un gran  desconocido para España y los españoles. ¿Por qué? Porque los españoles, con  la inveterada suficiencia de quien se cree superior, se han negado siempre a  entender ?en realidad ni siquiera lo han intentado- a Portugal y los  portugueses.

Cuando  la realidad es que España y los españoles tendrían ?tendríamos-mucho que  aprender de nuestros vecinos atlánticos. Aprender y lamentar la ausencia en  España de esa elite intelectual, empresarial y política que habla idiomas,  elite muy cercana a Gran Bretaña y a la cultura francesa, muy poco  hispanófila, pero muy tolerante, muy abierta, muy  cosmopolita. En  Portugal sería impensable contar con un presidente de la República que no  hablara francés e inglés. La mayoría de los portugueses se esfuerzan por hablar español ante españoles, haciendo gala de una actitud cívica en e trato  que tan difícil es de encontrar en el páramo hispano.

El presidente,  Jorge Sampaio, vive en su casa, en su propio domicilio, comoel primer  ministro. A ninguno le da por convertirse en un Trillo.  Nadie enloquece  con el cargo. Nadie se prevale de su condición. Antonio Vitorino, actual comisario europeo, dimitió de su cargo como ministro ?socialista, por cierto- tras descubrirse un desfase de 8.000 escudos (unas 6.000 pesetas) en las cuentas de su ministerio.

Semanas atrás, el  presidente ZP se trasladó a Lisboa en su primera visita relámpago al país  vecino, y no se quedó a cenar con Durao Barroso a pesar de haber sido  invitado. Todo un síntoma. Vistas así las cosas, no es extraña esa inveterada  desconfianza que comparte la clase política portuguesa hacia España,  desconfianza que la prensa se encarga de mantener viva. Sus razones tendrán.

Todo el edificio de  ese Portugal Abierto ?la vieja aspiración de quienes aquí persiguen una  España Abierta capaz de superar sus viejos atavismos-se asienta  seguramente sobre una feroz libertad de expresión que todos defienden y que se  manifiesta en los debates ?políticos, económicos- que se celebran en la  televisión y en los textos que aparecen en diarios y semanarios (de gran  importancia en el país vecino).

Comparar esa  libertad de prensa, ese valor cívico del que hacen gala las elites portuguesas  para hablar alto y claro, y criticar lo que juzgan merecedor de crítica, con  el miedo a hablar de nuestros ricos, de nuestros empresarios, de nuestros  políticos, fieles devotos de la ley del silencio, y con el secretismo y la  rendición a los poderes políticos y económicos que hoy caracteriza a la prensa  española ?no digamos ya a la televisión-es como para echarse a llorar. ¿De  qué presumen, entonces, los españoles ante Portugal y los portugueses? Ese es,  sin duda, uno de los grandes misteriosde la Historia Universal.

www.elconfidencial.com

portugueses pela galiza lusofona
http://galiza_gz.tripod.com/

comentários