Odi profanum vulgus et arceo

29/06/05

O Evangelho segundo Cunhal


Génesis
Ao princípio era o capital; não havia nem sol, nem prosperidade, nem existia coisa alguma que o capital não mergulhasse em total escuridão. Era a idade das trevas, a chamada longa noite fasssista. E Marx disse: «Faça-se luz» e fez-se luz. E Marx gerou a Engels, e Engels gerou a Lenine, e Lenine gerou a Mao-Tse-Tung, que teve três filhos, Ho-Chi-Min, o primogénito, e Pol Pot, o meão, e Arnaldo Matos, o caçula. E a todos Marx pôs no Paraíso Socialista, que fica a Leste de Lot, na Terra do Nunca.
No segundo dia da Criação, Marx criou os quatro elementos naturais: a água, o ar, a terra e o fogo. E pôs na terra os animais, e no ar as avezinhas, e na água os peixinhos de todas as espécies; não pôs nada no fogo, por falta de tempo, mas achou Marx que tinha feito obra bem feita e sentiu-se satisfeito.
E ao terceiro dia Marx fabricou por suas mãos uma estranha criatura, com um inovador mecanismo reprodutivo, e chamou-lhe Mulher, e deu-lhe o nome de Passionaria, e ofereceu-a ao triunvirato, para que a tomasse quem quisesse. E Marx disse: «Ide e multiplicai-vos» e assim se fez, milhares de marxistas floresceram e tudo rolava perfeitamente no Paraíso Socialista, e Marx sorria embevecido, por ver tanta felicidade, do alto da Sua imponente figura, as longas e protectoras barbas dardejando bondade em todas as direcções.
Ao quarto dia, criou Marx a economia planificada, esplêndida invenção que permite a justa distribuição da pobreza, e assim nasceu a sociedade sem classes e sem exploradores e explorados e sem capitalistas e sem tesos. Marx proveu a todas as necessidades do rebanho, e o mundo vivia na santa paz daquele Senhor.
E ao quinto dia, inventou Marx o demónio em pessoa, o ser mais odioso que alguma vez pisou e pisará a terra, com focinho de porco e cartola com as cores da bandeira americana e chispes a condizer, e ao criá-lo foi dizendo: «Este é o porco capitalista, o explorador da classe operária e das massas oprimidas; tomai e comei, este é o meu cordeiro que deveis correr sistematicamente a pontapé, e depois deveis caçá-lo e amarrá-lo e temperá-lo com sal e assá-lo em forno a lenha; fazei isso em memória de Mim.»
E ao sexto dia, Marx, achando-se já vagamente cansado, endrominou o pão e o circo, e nisso ficou desde então consistindo a parte lúdica reservada aos felizes contemplados com a Sua benção, os sortudos a quem era dado o beneplácito socialista e a felicidade suprema de ser chamado de "camarada".
E ao sétimo dia, que era um 1º de Maio, Marx descansou. E dali em diante ficou para sempre sendo esse o dia daquele Senhor, o dia Socialista em todo o Seu esplendor, durante o qual é proibido produzir seja o que for de útil, quanto mais trabalhar, e em que apenas devem os camaradas demonstrar a sua imensa gratidão ao Luminoso e às Suas luminosas ideias. E ficou então determinado que seria de toda a prudência aplaudir, durante as 24 horas de cada 1º de Maio, o camarada presidente, doravante conhecido como "o paizinho dos povos", e dar vivas aos camaradas do comité central, e agitar flores e cartazes de incentivo aos camaradas trabalhadores, empunhando letreiros com pichagens alusivas, e as camaradas mulheres arranjaditas para o desfile, e as camaradas crianças de lenço vermelho ao pescoço, saudando o futuro radioso desde já assegurado, e tudo, mas absolutamente tudo, na mais perfeita ordem, as tropas alinhadas ao milímetro, os tanques e os carros de assalto garbosamente rebrilhantes, e os camaradas securitários perfilados, as metralhadoras aperradas, as matracas impecavelmente limpas.
E assim nasceu o conceito de felicidade absoluta, assim despontou um sol igual para todos, assim desabrochou a verdade a que temos direito, etc., na terra prometida, uma terra sem desfavorecidos nem favorecidos, e para todo o sempre, e amén.

Números
E estando certo dia Lenine, filho de Engels, pregando no monte de Barabinks, dele se aproximou um social-democrata, da tribo dos Liberais, e lhe perguntou: «Mas como sabes tu, irmão, aquilo que é melhor para o Povo? Acaso não será este suficientemente inteligente para decidir o que mais lhe convém?» E respondeu Lenine: «Em verdade te digo, mas verdade verdadinha: o Povo é muito infantil, é assim a modos que uma criança a quem é necessário repetir as coisas infindavelmente, até que a entendam, e mesmo que a entendam por fim não é seguro; não há, pois, tempo a perder; a revolução deve avançar a todo o vapor, quer o Povo queira quer não queira; no fundo, no fundo, nós, os camaradas ascetas, puros e imaculados de pensamento, é que sabemos aquilo que interessa ao Povo, porque estamos inspirados pela graça socialista e mandatados por Marx, criador de todas as coisas, devidas e indevidas.» E, em dizendo isto, lá foi Lenine pregar para outra freguesia. E ficou toda aquela gente que o estivera ouvindo meditando gravemente, uns cabisbaixos outros nem tanto, e havia quem dissesse «pois, o camarada tem toda a razão» e outros que, certamente possuídos pelo demo e pela cobiça, rosnavam coisas, diziam «mas que grandessíssimo filho-da-puta», ou «vai trabalhar, malandro» e aleivosias que tais. Mas Lenine e os outros doze camaradas do comité central nunca por nunca ouviam estas coisas, porque os anjos do Socialismo não têm ouvidos e porque, em última análise, vozes de burro não chegam ao céu, como todos sabemos, e o que interessa é a Fé, que move montanhas, como sabemos outrossim.
E houve uma vez em que se acercou do apóstolo Beria, que era um dos Doze, certa mulher com seu filhinho nos braços e lhe falou deste modo: «Camarada Beria, estou enferma, o meu filhinho está à morte, meu marido foi requisitado para obras na Sibéria; eu sou do Povo e em verdade te digo: o socialismo apenas nos trouxe fome e miséria; no tempo do Czar, mesmo que não tivessemos a santa liberdade, tínhamos pão; que pretendeis fazer, camarada, vós outros do Partido, para acabar com a fome aqui, nesta terra a que vós chamais paraíso?» E disse Beria para o lado, ao ouvido do camarada Secretário Geral: «Ó Lenine, foda-se, desenrasca lá esta merda, diz qualquer coisa à gaja, eu cá não sou de paleio, o meu negócio é dar porrada, se quiseres espeto-lhe já um tiro nos cornos, mas não me ponhas a falar com as massas, pela tua rica saudinha!» E o camarada supremo não foi de modas e respondeu à mulher deste jaez: «Mas como pretendes tu, mulher de pouca fé, que a gente resolva um problema que não existe? Fome? Qual fome, qual cacete, mulherzinha! Isso não é fome. No paraíso não existe fome, raios! Isso é mas é cólicas, ou o caralho. Não estarás tu mas é grávida, ó chavala, hem? Ora, ora, desampara-me a loja e vai-te curar. Andor. Xô.» E com um gesto seco a despediu, não sem antes brandir o chicote que trazia, exibindo assim a sua justa indignação pelo atrevimento daquela serigaita reaccionária.

Deuteronómio
E estando Honecker em peregrinação à terra santa, que ficava em certa ilha a uma quantas milhas náuticas de Miami, topou a certa altura com Fidel, alcunhado de "O Pregador", pelas belas e intermináveis pregações que usava fazer amiúde, e disse-lhe Honecker: «Atão, ó Castro, tás fixe?», ao que o insigne mestre de obras socialistas retorquiu: «Hombre, siempre, siempre hasta la victoria, el pueblo unido jamás será vencido, arriba la revolución» e seguiu dizendo outras coisas assim, as quais eram retiradas de uma gravação muito bem sucedida ao longo de quase todo o século I da nossa Era (séc. XX da era do galileu que não se pode dizer), e que era conhecida pelo título de "a cassette", e que pretendiam alguns invejosos tratar-se da mais pura propaganda soviética, um método sonoro e ruidoso de lavagem ao cérebro para utilização sistemática nas mentes simples e nos cérebros diminutos dos povos e das populações de todo o mundo. E irritava isto profundamente a todos os inspirados pela graça marxista, em todo o mundo, pois que de mui grande mentira se tratava, e tal se comprova facilmente pela quantidade de bulas e outros despachos das entidades de todas as Internacionais, da I à V, de ideólogos tão insuspeitos como Trotsky ou Krushev, desde Moscovo até Lisboa, passando por Phnom Phen e Pequim.
Nunca por nunca, em todo o lado e principalmente nos locais de implantação do socialismo real, se utilizou semelhante método de eliminação do pensamento pela repetição acéfala de lugares-comuns e de palavras-de-ordem. Está escrito nas verdadeiras tábuas do Kremlin: «Todo aquele que propalar qualquer verdade não oficial está condenado às chamas do inferno capitalista; tremei, agitadores reaccionários e outros exploradores das massas trabalhadoras! Este é o poder da verdade inteira, aquela que foi dita pelo Senhor Lenine, que está sentado à direita de nosso Pai Marx, única e verdadeira fonte de todo o conhecimento; a nossa verdade é aquela que permanecerá como a única, a inteira e a fundamental da existência, para todo o sempre ou apenas enquanto não deixar de ser conveniente.»
E foi por isso, convencido pela convicção absolutamente cega do camarada cubano, que mandou Honecker erguer um muro que protegesse o paraíso socialista da poluição capitalista, uma barreira contra as más influências e a dissolução dos costumes; e chamou-lhe "muro anti-fasssista" e mandou decorá-lo com arame farpado de belo efeito, em duplas e triplas fieiras, e com engenhocas diversas de disparo automático, e com torres de vigia muito elegantes, e nestas colocou uns guardas armados de Kalashnikov, esse expoente do intrínseco pacifismo socialista, e deu toda a liberdade para que dezenas de mastins famintos atacassem quem porventura se atrevesse a tentar entrar em território daquela república democrática. Tudo de boa fé e imbuído do mais profundo espírito democrático, de acordo aliás com a designação oficial do país, e foi também com a mesma motivação pacifista e não agressiva que foram instalados mísseis, convencionais e atómicos, ao longo de toda a linha que, nas terras demoníacas ocidentais, era conhecida como "cortina de ferro", ou "muro da vergonha". Óbvias manobras de desestabilização da felicidade instituída em todos os territórios que ficavam a Leste do Inferno; a intenção mais do que evidente, não apenas para a construção do muro mas para a instalação dos mísseis, era a do mais férreo pacifismo; manobra profundamente amistosa e pacífica, destinada a persuadir os pobres trabalhadores, aprisionados do lado de fora do muro, das excelentes e filantrópicas intenções do chamado socialismo real. O muro continha, em cada pedra e em cada tonelada de cimento, uma mensagem subliminar: "camaradas do ocidente e trabalhadores em geral, vocês desculpem lá, pá, mas isto aqui no socialismo é tão bom, a gente sente-se aqui tão bem e isto já está tão cheio que não podemos aceitar mais gente"; o que o muro queria dizer, em suma, era que os pretendentes a entrar no paraíso eram muitos, mas os recursos do paraíso não chegavam para acolher todos; e quanto aos mísseis, tratava-se evidentemente de artefactos pirotécnicos, sofisticados, é certo, mas unicamente destinados a servir para o foguetório comemorativo que inevitavelmente se seguiria à (futura, próxima, inevitável) libertação do "ocidente".
E um dia sucedeu que certo fariseu, Gorbatchov de seu nome e "careca malhado" de alcunha, decidiu reduzir tudo aquilo a patacos, o muro, as armas e os mísseis; para grande surpresa de qualquer democrata que se preze, não houve, como seria de calcular, uma invasão maciça de trabalhadores desejosos de entrar no paraíso socialista mas, pelo contrário, uma imediata e gigantesca correria de trabalhadores a fugir do paraíso e deprimentemente ávidos de aderir ao decadente modo de vida capitalista. E bem depressa todos os países que beneficiavam da bem-aventurança socialista trataram de se passar para o campo adversário. Traidores, obviamente.
A revolução triunfará, inexoravelmente. Se está nas escrituras que triunfará, não há que duvidar de que triunfará. A revolução vencerá. Triunfará. Vencerá. Triunfará. Vencerá. Triunfará. Vencerá. Triunfará. Vencerá. Triunfará. Vencerá. Triunfará. Vencerá. Triunfará. Vencerá. Triunfará. Vencerá.

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28/06/05

Colecção de cromos


Em catraio, havia um jogo tramado, apenas para especialistas, uma coisa que se chamava "o vira" ( juôgo do bira, mais propriamente): consistia em bater com a mão em concha num cromo "deitado de costas", de forma a fazê-lo virar de lado; para ganhar o cromo do adversário era necessário apenas ser o primeiro a virá-lo. De facto, um jogo tão estúpido como parece, mas lembro-me perfeitamente de que passávamos horas naquilo e havia os campeões, rapazes que manuseavam grandes maços de cromos, colecções enormes de jogadores da bola. Havia os "mais ruins" (os mái rôins), aqueles cromos que, ninguém sabia porquê, eram editados em menor quantidade: o Tomé, da União de Tomar, o famoso Caiçara, avançado do Vitória de Guimarães, o Jacinto João do Vitória de Setúbal, o guarda-redes Benje, do Varzim. Naqueles épicos tempos de jogos tão estranhos como o "espeta", o "trincolé" e o "chincalhão", a colecção de cromos era o expoente máximo da riqueza pessoal; os maços de cromos ficavam tão ensebados e passavam tantas vezes de mão como as notas de banco dos adultos, e serviam realmente, para nós, os putos, como moeda de troca e como factor de prestígio. Uma beata podia valer um cromo "fácel", um cigarro inteiro cotava-se em quatro "fáceles" ou um "rôin"; já uma "chicla", por exemplo, podia valer entre seis e oito fáceis ou um ruim e três "repetidos".

Desenterraram-se-me, assim de repente, estas longínquas recordações, quando por mero acaso abri uma engraçadíssima página da net: Os Maiores Cromos Portugueses, nem de propósito. Tem pouco a ver com aqueles tempos de escola primária, são apenas cromos virtuais, mas valeu a visita. Não tem (ainda?) nem o Alberto João Jardim nem o Jerónimo de Sousa, nem sequer um Júlio Isidro, dois Eládios Clímacos ou três Marias Vieiras, e a alguns da colecção ainda faltam os dizeres, mas lá está, assim comássim, folhear aquilo é um bocado bem passado - de ambos os lados. Bem escrito e melhor pensado, eis uma excelente ideia escondida nos recessos cibernéticos.

O visitante até pode votar no maior cromo nacional, de Zé Cabra a João Baião, passando por ícones tão destacados da patarequice lusa como Jorge Sampaio, Joel Branco, Linda Reis, Graça Lobo, etc. Só vendo e lendo. Uma iniciativa benemérita e patriótica. Parabéns ao autor.

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26/06/05

(rigorosos) exclusivos aqui do Zé Maria Pincel - III


"O amor é louco, não façam pouco" desta loucura e ausência

lyrics monica sintra - pensa bem cantadeira

etimologia "vaca fria" Delhi

manahmanah os marretas

censura cartoon "José Vilhena" ícone

letras pritty para chatear

alugar filmes porno de fatinho e gravata

"moscas, melgas e mosquitos" utilidade

resumo "floresta portuguesa" depauperada

"marca portuguesa" de roupa pinko

legalizar jantes e suspensões torcidas

xamon permanece cheiro sabonete

Fluxograma de reinício de actividade de aparelho bonecos

"contentores de lixo" nas ruas cheios de lixo aluguer

Luis Miguel ��chame A M�� La Culpa lyrics

texto manueu bandeira

quim barreiros "bacalhau à portuguesa" lyrics

o que faz um draive e qual a sua função? segredo de iniciado

"editor adjunto" "euro 2004" db

"faqueiro da sua vida" revista lux


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25/06/05

São os caracóis, são os caracolitos

Uma dose de caracoletas, esplêndida, mesmo assim, em travessa rasca de zinco. Bem passaditas, com bastante sal e aquele molhinho delicioso, misterioso, avermelhado e com uns grãos de qualquer coisa estranha no fundo da taça. Ganchos apropriados, de cabo branco e ponta curva. Cervejola preta a acompanhar. O empregado cortou a pedido o som da televisão. Lá fora, a minha hora de fim de tarde - o mundo suspenso, ganhando balanço para mais uma noite escura.

A perfeição em novo e insuspeitado formato. A vida é bela, por instantes.

Ao meu lado, o compadre comenta que "as caracoletas têm um bocado de ranho".

Fim

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época de exames

excertos do blog Cindycato de Terroristas Blogosféricos (http://cindyterblog.blogspot.com/)

Não estamos aqui para fazer amigos. O nosso objectivo é unica e exclusivamente demonstrar o lado mais ridículo da blogosfera. O lado das amizades. Da proliferada troca de favores, ou seja, o acto de comentar um blog porque o/a autor(a) desse blog comenta o outro blog. Situações como as que ainda agora aconteceram com a Blogotinha de tomar o número de visitas pela qualidade do blog. Não, isso não é qualquer tipo de metonímia, nem nada que se pareça. Simples estupidez. (http://cindyterblog.blogspot.com/2005/06/esclarecimento-populao.html)

Talvez como consequência dessa atitude, a maioria dos posts que se referem à Cindy, não saberão muito bem que posição tomar. Não sabem se concordar connosco ou discordar por completo. Também aqui está presente o mercantilismo. “Será que se eu disser que até concordo com eles perco visitas e comentários?” – deverá ser esta a dúvida. Contudo, as vozes concordantes começam a surgir. Julgo que a consciência para a necessidade de mudança na blogosfera é generalizada, mas nem todos a admitem. Seremos nós uma espécie de referendo sobre o aborto? (http://cindyterblog.blogspot.com/2005/06/vamos-l-ver-se-nos-entendemos.html)


A Blogotinha é tão politicamente correcta que até a responder a insultos o é. Provavelmente, porque todos os dias procura aumentar a sua média de visitas por forma a chegar ao topo. O sonho dela é ser o Pacheco Pereira: escrever coisas que não interessam a ninguém mas que geram polémica. Vá se lá perceber isto... (http://cindyterblog.blogspot.com/2005/06/se-eu-fosse-cirurgio.html)

cumixoso: Caixa de Insultos?? Nao é necessário... ter um blog roxo, com o titulo de "cindy", um contador que começou no milhão e 3 pastilhas que têm como nome "van der.. GAY" não necessita de ter caixa de insultos...; (http://cindyterblog.blogspot.com/2005/06/momento-blogotinha_18.html)

Afufalhada...No mínimo?
Apresenta-se a Blogotinha, Raínha dos Posts inúteis! Calcula-se que, mais de 50% do tempo passado no emprego será feito a postar: "está calor, comentem", "o meu patrão coçou a virilha, abre-se já um poll", "Qual é o teu Legume? Participa já". O mais incrível neste blog porém, é a quantidade de visitas que obtém (640 pessoas em média/dia), o que leva a pensar que afinal não só as moscas são atraídas por merda. (http://cindyterblog.blogspot.com/2005/06/blogotinha.html)



Língua Portuguesa: 15
Introdução à Sociologia: 19
Educação Visual: 11
Técnicas Laboratoriais: 14
Álgebra: 14
Expressão Dramática: 18
Química: 12
Educação Física: 10

Aprovado com a média geral de 14 valores

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os passageiros do vento




O génio tem um preço, de facto. Procurei François Bourgeon na Google e fui dar, surpreendentemente, a uma série de becos sem saída ou, como é tecnicamente mais correcto dizer-se, "dead links".

François Bourgeon é "só" o mais espantoso autor de banda desenhada do século XX. Nada mais, nada menos. Não sou especialista no assunto, mas parece-me que ambas as coisas, pranchetas e diálogos, são de sua autoria. Para além do argumento, é claro. Perfeito. Maravilhoso. Cinco estrelas, vinte valores. A série Os Passageiros do Vento, cinco tomos, é absolutamente imune a qualquer espécie de qualificativo, porque o brilhantismo resplandece por si mesmo, evidentemente, sem palavras a atrapalhar; os livros devem simplesmente ser lidos, vistos, relidos e vistos outra vez, e outra, e outra.

Apenas 237 resultados da pesquisa restrita a páginas em Português ilustram perfeitamente a genialidade do autor. Mesmo sabendo que a tradução até não está nada mal feita (e que, por coincidência, o nome de quem traduziu não aparece em lado algum), não me recordo de alguma vez ter lido a mais ínfima referência a este ícone da literatura contemporânea. De resto, a máfia intelectual portuguesa, que se entretém amiúde a debitar umas coisas sobre aquilo que é e não é literatura (com "éle grande", diriam esses pacóvios), nem considera a chamada "banda desenhada" como algo digno de apreciação(*). Compreende-se. A ignorância resulta da castração intelectual, e esta é consequência da institucionalização da mediocridade. Em Portugal, é naturalíssimo que praticamente ninguém conheça François Bourgeon; e que se tenham editado apenas 4.000 exemplares de cada um dos livros dele. Em Portugal, o génio não vende. Não existe, portanto. O pessoal é mais afeiçoado ao Tio Patinhas, nos bonecos, e ao Avô Cantigas, na indústria porreirista.

Mas isso agora não interessa nada, como diz não sei quem.

A acção(**) passa-se no século XVIII, em França, em Inglaterra e em vários pontos de África. Excerto de um diálogo entre Isa, a figura feminina central, e um padre da Missão francesa na feitoria de Judá, no actual Benim (ex-Daomé).

_ É verdade que os daomeanos fazem às vezes sacrifícos humanos?
_ Infelizmente!... o sangue é o laço sagrado entre os homens e o cosmos. Só ele permite entrar em comunicação com os deuses e os antepassados.
_ Então, onde nós só queremos ver barbárie, existe um acto religioso comparável ao que o leva todos os dias a beber o sangue de Cristo?!...
_ A analogia é audaciosa... Hum! Prefiro não a seguir por essa encosta arenosa.
_ No entanto, é por um caminho de certo modo mais movediço que o senhor segue uma igreja que, ao mesmo tempo que prega o amor do próximo, não hesita em se fazer cúmplice e aliada dos mercadores de escravos!?...



imagem: http://www.lambiek.net/bourgeon.htm
biografia: http://www.bdparadisio.com/scripts/detail.cfm?Id=269
(*) À excepção de Hugo Pratt, essa bandeira (trapalhona) da intelectualidade bacoca. Digo eu, que não aprecio, mas que além disso não passo de tremendo ignorante na matéria.
(**) Os Passageiros do Vento. 3. A Feitoria de Judá, ed. Meribérica/Liber (copyright Éditions Glénat, 1981)

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24/06/05

O Melga


Uns viram costas ostensivamente, fingem-se distraídos, outros rapam do telemóvel e desatam a fingir que estão a fazer imensas chamadas urgentíssimas, outros ainda piram-se de imediato, vou ali num pulo ver se está a chover, deixei uma panela ao lume, vou jantar que tenho fome, adeuzinho.

O Melga é um gajo verdadeiramente assustador: marreco até parecer um ângulo recto com pernas, a quase 90 graus, consegue projectar de forma impossível a cara, o nariz metediço bem à frente, beiçola de ex-mulato deslavado ou, melhor dizendo, assim como que se fosse da raça de Michael Jackson, ou seja, ex-preto. Não é pela malota ou pela tromba deslavada que o Melga é assustador mas, precisamente, por causa daquela maldita penca; aquele nariz é a imagem de marca do fulaninho, o mais cusco e má-língua cá do bairro e arredores; e ver a penca dele é muito mau sinal, porque fica-se logo a saber que o resto vem atrás - o que não indicia nada de bom.

Justiça lhe seja feita, o Melga redefiniu o próprio conceito de "chato com'à potassa"; ele é a própria chateza em pessoa, e faz gala disso, até ao absurdo. Geralmente, o que apetece fazer - a quem tem de levar com ele - é espetar-lhe de imediato um murro nos cornos, derrubá-lo com toda a limpeza e encher-lhe o focinho de pontapés. Pessoalmente, Deus me perdoe e me desvie dos maus pensamentos, já por diversas vezes dei comigo a arquitectar planos para o assassinar, à paulada, ou com um tiro de zagalote em cheio naquelas beiças de um cabrão; o mais agradável, no entanto, confesso, seria atá-lo a um poste de iluminação pública e, depois de devidamente amordaçado, desvendar-lhe a anatomia de um ombro, por exemplo, a golpes de corta-unhas - assim, tic tic tic tic, até ao osso, e deixá-lo depois esvair-se em sangue. Recordo perfeitamente que fiquei muito contente comigo mesmo, quando inventei esta inovadora e maquiavélica forma de liquidar chatarrões; e de facto, convenhamos, é de certa forma gratificante e consolador poder, ao menos, imaginar a sensação, a satisfação que seria dar cabo dele por este método.

Enfim, não se pense que sou só eu quem detesta, odeia, abomina aquele restolho de ser-humano; assim de cabeça, enumero de repente uns dez ou quinze gajos que eram capazes de lhe fazer coisas ainda mais incríveis do que aquela do corta-unhas. Já vi tipos, absolutamente lívidos e cheios de olhares esgazeados, espumando de raiva só por verem o animal à sua frente.

É que é mesmo insuportável, caramba. Conhece de cor e salteado a vida de toda a gente, mesmo ou principalmente a das pessoas que não conhece. Geralmente bêbedo a partir das duas da tarde, todos os dias do ano, há mais de 30 anos, é menino para provocar sistematicamente seja quem for, é capaz de interromper qualquer conversa e de se meter em absolutamente qualquer assunto, quer saiba alguma coisa a respeito quer, em especial, se não souber patavina. Nunca ouve uma única palavra que se lhe diga, mas tem sempre o palpite pronto, artilhada a observação mais cretina possível, a insinuação mais soez e canalha que imaginar se possa. A cada nova sessão de porrada que lhe toca em cima dos lombos, quando algum desconhecido se marimba para a "deficiência" que ele tem nas costas, o Melga acaba sempre por sair impante e sereno, dardejando uma auréola de heroísmo e de quase santidade.

Na tradição contracultural da juventude que anda hoje pelos quarentas, esta grandessíssima besta nunca pronuncia as palavras "sim", "muito" ou "pá", apenas para dar alguns exemplos da novilíngua da geração abrilina; utiliza, no lugar daquelas, respectivamente, "yá", "bué" e "meu" (ou "man"). Uma das características mais irritantes, e que o torna espécime único entre a raça dos chatos, é o vício de tocar sistematicamente no interlocutor, enquanto fala, e note-se que ele fala, evidentemente, o tempo todo; aliás, aquela mania não é bem "tocar", é mais dar umas pancadinhas, umas palmadas ou umas tapinhas com as costas da mão, para chamar a atenção a quem de momento o está a aturar; dá mais uma pancadita num braço, no ombro, na barriga, e acompanha sempre a coisa com um "ouve!" gritado; de maneira que, em cada minuto, a vítima leva dez pancadas e ouve dez vezes "ouve!", mesmo que tente interromper, mesmo que tenha um súbito ataque de caganeira, ou ainda que lhe dê um enfarte do miocárdio ali mesmo.

O epíteto mais carinhoso que lhe é de ordinário dispensado, seja por quem for, é o de filho-da-puta. Também nesse ramo etimológico, imaginação não falta a quem algum dia teve o azar de o conhecer. Evidentemente, é muito raro alguém dizer-lhe em plenas trombas coisinhas deste calibre; regra geral, é pelas costas ou, por outra, é pela marreca - porque ninguém se arrisca a tê-lo por inimigo. Se bem que toda a gente saiba perfeitamente que não é como inimigo que ele é mais perigoso, mas como amigo, precisamente; mais curial seria dizer que é indiferente, afinal, o tipo é mauzinho para com os amigos e diz tantas filha-de-putices de uns como de outros. É indiferente. O cabrão debita continuamente fel e maledicência e é o mais competente dos intriguistas que alguma vez surgiram à superfície da terra.

O Melga é o Melga, não há outro. Na juventude, que nunca largou em absoluto mas que já lá vai em termos cronológicos, algures no passado, desenvolveu um problema de consolidação articular na zona lombar; depois, com o passar do tempo e a acumulação de copos, drogas e má vida em geral, a coisa degenerou em artrose complexa e, uns anos mais tarde, resultou naquilo a que ele hoje dá a pomposa designação de "espondilite anquilosante". Evidentemente, a história que pôs a circular, e que perdura, não tem nada a ver com degenerescência óssea: diz que foi numa cena de pancadaria, em pleno Bairro Alto, que levou uma cacetada nas costas, logo ele que estava ali, qual cavaleiro andante dos injustiçados nocturnos, apenas tentando proteger não sei quem, já não me lembro exactamente porquê; o que aconteceu, como sempre acontece nos sarilhos em que se mete, não teve nada a ver com ele mesmo, ou ia só a passar ou estava a defender alguém. O verdadeiro herói, em suma.

E culto como poucos, vagamente genial. É perfeitamente capaz de comentar um desafio de futebol estando de costas para a televisão e sabe sempre, sem nunca olhar para o écrã, se foi ou não falta, quem substituiu quem, o que está o árbitro a dizer e o que tem o treinador visitante no bolso esquerdo. Nunca manifesta a mais leve dúvida sobre questões tão simples e transparentes como a situação da balança de transacções correntes, a situação política no Daomé ou a História comparada da filosofia segundo Hegel; conhece, de resto, em perfeito detalhe, por exemplo, o funcionamento dos motores da nave Challenger ou o método de fabrico das fraldas descartáveis. Nunca entupiu, absolutamente, perante assunto algum.

Escondido atrás da malota, sentindo-se protegido pelo putativo estatuto de "deficiente" (e nas circunstâncias heróicas em que tal "aconteceu"), e ainda para mais estando permanentemente carregado de gasolina de avião e de outras substâncias químicas, o Melga acabou por conseguir um estatuto de totais inimputabilidade e irresponsabilidade; por fim, resolveu em seu proveito exclusivo um dos mais profundos e antigos problemas da humanidade - é feliz. Ninguém o chateia, porque é ele quem chateia toda a gente. Ninguém o agride, porque ele é aleijadinho. Ninguém o confronta, porque ele não é nem branco nem preto, e nem sequer mulato. Como não é realmente amigo de ninguém, passa por amigo de todos e, portanto, todos são seus amigos. Não tem problemas ditos emocionais, nenhuns, porque tem o sexo na língua e não onde é costume. É o maior e o mais antigo dos cromos, uma pequena figura pública, e anda por isso sempre contente da vida.

Pois, bruxo, eu bem dizia. Falai no mau. Lá vem ele.

Foda-se.

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10/06/05

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09/06/05

Luís, seu palerma, enfim, compincha, camarada, irmão de Letras


"No mais, Musa no mais, que a lyra tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se accende o engenho
não no dá a patria, não que está mettida
no gosto dea cubiça e na rudeza
de huã austera apagada e vil tristeza".

(Canto X estrofe 145)

Dá aí uma palavrinha a Deus; por minha intenção; crente e prestes, bem sabes; obrigado; fico devedor


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08/06/05

My name's Dodo. Dodo Bird.


Without the final "t", please. Godot, with that final "t" is actually something else.

Let me put it once again this way: nothing to do with diapers.

Just Dodo. Loose the fuckin' T. Have some tea. Whatever.

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07/06/05

em menos de um fósforo


Pela terceira vez o digo aqui, em três anos consecutivos: o problema dos incêndios não é a falta de limpeza das matas. A falta de limpeza das matas não tem nada a ver com a ocorrência de incêndios e muito menos com a sua frequência. A "limpeza das matas", na acepção geralmente aceite e difundida, é um perfeito disparate: absolutamente inviável, dada a dimensão e as características dos terrenos; totalmente contraproducente, porque os matos e os restolhos são o alimento da floresta e do bosque; inteiramente falaciosa, já que se trata de puro pretexto para que nada de eficaz seja feito.

Toda a gente sabe perfeitamente quais são as causas dos incêndios que vão destruindo, ano após ano, as nossas manchas florestais: a desertificação do espaço rural, o plantio industrializado de "madeira de crescimento rápido" (em especial o eucalipto) e os interesses das indústrias que dependem daquela matéria-prima, a especulação imobiliária, a facilidade de recrutamento de incendiários, a desorganização das entidades envolvidas, a corrupção generalizada em todos os sectores envolvidos no combate aos incêndios. A repetição sistemática da falaciosa "limpeza das matas", por parte de governantes e responsáveis, com eco acefalamente matraqueado na comunicação social, destina-se exclusivamente a desviar as atenções da opinião pública em relação aos reais motivos da questão.

É um truque velho e relho, em tempos utilizado em exclusivo pelos comunistas mas hoje plenamente adoptado pelos inimigos de antanho, os capitalistas: repetir à exaustão uma patranha, até que ela se transforme em verdade universal; é a conhecida técnica de "uma mentira muitas vezes repetida acaba por ser verdade". O povo gosta de coisas simples e, de facto, "falta de limpeza das matas" é muito mais fácil de decorar do que, por exemplo, termos tão vagos e terminologia tão difícil de pronunciar como "especulação imobiliária" ou "corrupção generalizada"; de resto, assim culpa-se alguma coisa que não se sabe como poderia ser feita e que, em qualquer dos casos, teria sempre de ser feita "por eles", pelos outros, os "maus", e nunca por nós mesmos, os "bons", por conseguinte.

Como se trata de tarefa obviamente hercúlea, presumivelmente impossível, está justificado à cabeça que nada se faça porque, é claro, "não há meios humanos nem materiais". Portanto, é o argumento perfeito: a causa dos incêndios é a "falta de limpeza das matas" mas, como não é possível "limpar as matas", assim de repente, os incêndios continuam e são, por conseguinte, uma fatalidade em relação à qual não há nada a fazer... a não ser, talvez, continuar a pedir mais "limpeza de matas".

É realmente (e evidentemente) necessário o natural, previsível e rotineiro arranjo das áreas junto a edifícios, estradas e outras infra-estruturas dispersas, nas zonas florestais; que sejam efectuados o desbaste e a remoção de vegetação rasteira e de restolhos, em todas as zonas de habitação ou de trânsito que possam vir a ser afectadas pelos incêndios florestais. Mas não é a estas acções, de tão evidentemente necessárias, que se refere a propalada "limpeza das matas"; com esta expressão, pretende-se fazer passar a mensagem de que é necessário "roçar" todo o mato que reveste o solo da floresta; é cortar árvores mortas, arrancar cepos, remover as matérias caídas das árvores, folhas e galhos, raspar à sacholada todo o terreno, ou presumivelmente meter o arado e revolver toda a terra em volta de quaisquer raízes, até deixar apenas as árvores propriamente ditas; o que não estiver na vertical e não tiver mais do que uns quantos centímetros de diâmetro, arranca-se, corta-se, leva-se a aterro. A "limpeza das matas" consistirá, portanto, em rapar literalmente - não deixando absolutamente nada nos solos - todos os milhões de hectares dos terrenos florestais nacionais, públicos e privados.

Ora, além de impossível, esta ciclópica e, ainda para mais, cíclica tarefa seria o mesmo que - pura e simplesmente - matar a floresta. Quebrado assim o ciclo biológico, retirada a matéria cuja decomposição iria constituir a fonte de nutrientes dos espécimes arborícolas, nenhuma árvore sobreviveria mais do que um ou dois anos. Findos os quais, os próprios terrenos, descarnados e despojados de matéria orgânica, iriam começar a desintegrar-se, por pura exaustão, e a transformar-se em granulado de matéria inorgânica: primeiro, terra e pedras, depois areia e pedras e finalmente, também pela acção dos elementos naturais (chuva e vento, que iriam "lavar" o que restasse), os terrenos transformar-se-iam em pó e pedras: deserto. Ou seja, uma bela paisagem marciana.


P.S.: pelo que vou lendo, e a julgar, nomeadamente, pelas reacções aos dois anteriores pregões que aqui deixei, sobre o mesmo assunto, é necessário ser engenheiro agrónomo para dizer umas asneiras sobre a floresta; ou Chefe de Corporação de Bombeiros para mandar umas bocas sobre o fogo; ou, se calhar, Presidente da República para perorar sobre o estado da Nação. Não sendo nem uma, nem outra, nem outra das coisas, respectivamente, julgo-me no direito de dizer as asneiras que entender, mandar as bocas mais imbecis deste mundo e do outro, sempre que me der na telha, ou mesmo perorar e invectivar o meu peixinho vermelho, ainda que por escrito. Oh, well, shoot me.

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06/06/05

Na frente


O Dragoscópio consta da lista de ligações do Portal Nacionalista, na categoria de "Blogues nacionais" (national blogs, se fosse em Inglês). Não sei se lhe dê, caro Drago, ou os parabéns ou os pêsames. Mas enfim, aqui fica devidamente bufado o facto, que suponho não ser ainda, pela modéstia que lhe é unanimemente reconhecida, do seu conhecimento.

E dou graças a Deus, já agora, por duas coisas, uma óbvia e outra subtil: por raramente alguém aqui vir e por ser absolutamente impossível, a seja quem for, carimbar aquilo que escrevo. E fica o lembrete: descascar mais umas quantas vezes no trogloditismo ultra-direitista, na brutalidade de tudo aquilo que é hiper, radical e definitivo - sobas da Madeira e outras sobras assim.

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Portugal Telecumunicassões


Voçê está aqui
http://www.ptcom.pt/vtsolucoesespeciais/noticias.aspx?idtipo=npnc

Serviço temporariamente indísponivel.
http://www.ptcom.pt/error.aspx?aspxerrorpath=/vtsolucoesespeciais/default.aspx

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05/06/05

coração apetitoso

Por mais que vire e revire, não se deixa cozinhar, este coração. Bem rijo ele é, caramba, que rijo mesmo, parece um coirato. Isto nem com as moelinhas, nunca tal vi, carne mais dura não há. Coração empedernido, é o que é, com este garfo o pico e ainda assim, nada, lá deixa sair uma gotita ou outra, de vez em quando, grande avarento, mas ali continua frigindo, indiferente, coriáceo, frrgeee, de um lado e de outro, uma e outra vez. Ponho mais um pouco de manteiga, uma talhada de banha, umas gotinhas de azeite a ver se encorpa ou se se deixa finalmente vencer e amacia, pincelo com molho picante, alho e flor de sal com ervas aromáticas, tudo macerado em almofariz antigo, supremo requinte de culinária, mas nem assim, este coração não deixa, não se comove nem um pouco, nada, nadinha, com a minha fome. Que já vou babando alarvemente, pois, pois vou, antecipando o prazer de o filar a mãos ambas, de o retalhar à dentada, sôfrego, mastigando-lhe os pedaços suculentos, aquelas nervuras misteriosas onde quase tudo o que aconteceu ficou gravado para sempre. Ah, apetece-me roer-lhe aqueles detalhes de complicadíssima designação e as cavernas onde tanta coisa se passou. Desfazer selvaticamente todos aqueles veios e as nervuras pormenorizadas, que mais parecem cicatrizes. Abri-lo à mão e descobrir-lhe por fim os segredos mais profundos, como quem arromba a porta da alma.

Queria cozinhar este belo coração para o meu jantar, e comê-lo assim, simples, sem qualquer espécie de acompanhamento. Mas ele não: não quer. Vai ficar tão duro como sempre foi. Já vi tudo. Não adianta insistir; quando não, queima.

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04/06/05

Nej No Nein Non Nei Ne Ei Oxi Niet Hayir Neen Não Nu Nie


A URSS implodiu, em 1991, e hoje existem mais treze Estados independentes; catorze, se contarmos com a própria Rússia, ela mesma uma federação gigantesca, na qual prosseguem actualmente as mais sangrentas das guerras independentistas, das quais o caso mais conhecido é o da Tchechénia.

Na zona de influência ex-soviética, correspondente ao espaço geográfico do (obviamente) extinto Pacto de Varsóvia, a Checoslováquia partiu-se em dois: República Checa e Eslováquia. A Federação Jugoslava de Tito desfez-se, por entre carnificinas abomináveis, e surgiram de novo as nações que originalmente a constituíram, Bósnia, Croácia, Macedónia, Eslovénia, Sérvia e Montenegro. Outros países reassumiram a independência, como foi o caso da Moldávia, e persistem conflitos de cariz étnico-religioso-cultural em diversas zonas, correspondentes a nações que foram em tempos independentes ou autónomas, como o enclave de Nagorno-Kharabak ou a Arménia.

Na Ásia, arrastam-se desde há longos anos situações de guerrilha independentista, como em Caxemira, região disputada pela União Indiana e pelo Paquistão, ou no Aceh, zona ao Norte da ilha indonésia de Sumatra.

No Médio Oriente, vive-se um clima de instabilidade permanente, à qual não será com certeza alheia a chamada questão judaico-palestiniana; os palestinianos lutam pela criação do seu Estado independente desde, praticamente, a data da fundação do Estado de Israel (Maio 1948). A esta questão interminável não será por certo indiferente o fenómeno global que geralmente se designa por "terrorismo".

Na Europa, o Reino de Espanha aglutina cinco regiões administrativamente autónomas; destas, duas (Catalunha e Galiza) possuem partidos independentistas e uma (Guipzcoa, ou País Basco) está desde há largos anos mergulhada numa infindável luta de guerrilha pela independência.

Ainda na Europa, existem igualmente tendências e mesmo Partidos independentistas na Escócia e na Irlanda do Norte, ambos partes integrantes do Reino Unido. Países tão diversos e tão pequenos como a Bélgica ou a Suíça mantêm um frágil equilíbrio institucional entre as suas comunidades linguísticas, duas no primeiro caso e quatro no segundo. A ilha do Chipre está dividida em duas metades, a grega e a turca, o que implicou o mais confuso dos tratados de adesão à UE, com metade a pertencer e a outra (ainda) não.

Os exemplos de aglutinação artificial de nações, países ou culturas, em todo o Mundo, são inumeráveis; é um fenómeno que não funcionou nunca, a não ser através do uso sistemático da força e, mesmo assim, nunca por muito tempo. Mais tarde ou mais cedo, qualquer império se desfaz e todos os países ocupados acabam por se libertar. Entre o Império Romano e o Império Soviético, a maior diferença é que um durou 503 e o outro 72 anos; muito provavelmente, a longevidade do primeiro ficou a dever-se muito mais à imposição de uma Língua comum, o Latim, do que a qualquer imprescrutável ou subtil bondade do sistema que propugnava.

Com todos os exemplos e ilustrações da História, mesmo assim, os povos europeus parece não terem aprendido nada. Com o argumento, falacioso e propalado em exclusivo por uma mais do que suspeita classe política, de que era necessário "combater" o poderio económico norte-americano, constitui-se em 1992 a chamada União Europeia - como aparente consequência natural da precedente Comunidade Económica Europeia (1951). De simples associação económica transnacional (CECA), passou a espaço económico europeu (CEE) e por fim a união política europeia (UE), e tudo isto em apenas 41 anos; primeiro, eram seis países, mas rapidamente a "comunidade" se alargou a nove (1973), depois doze (1986), quinze mais tarde (1994) e, por fim, a 1 de Maio de 2004, os actuais 25 países; estão na calha mais umas quantas adesões ao "clube europeu", de países tão elegantemente eclécticos e de identidade tão "europeia, democrática e ocidental" como a Turquia, a Croácia, a Roménia e a Bulgária.

Por algum motivo que, pelos vistos, ninguém entende, a Noruega já recusou - por duas vezes - o convite para se tornar membro do clube. A Suíça também vai recusando, como pode, permanecendo cada vez mais nitidamente como uma ilha de terra rodeada de mar europeu que se lhe alastra em redor.

Estamos agora na fase final do processo de construção do colosso europeu; para que se possa iniciar a criação das FAE (Forças Armadas Europeias) e do SSE (Sistema Social Europeu), para que seja possível eleger de imediato o PUE (Presidente da União Europeia) e para que seja possível liquidar de vez todos e quaisquer direitos de soberania ainda na posse dos governos locais, é necessário agora, por conseguinte, legalizar o processo por via administrativa (dita democrática). A este processo administrativo convencionou-se chamar "promulgação da Constituição Europeia" e existem dois processos para o efeito: o referendo ou a votação parlamentar.

A situação actual do processo de promulgação da chamada Constituição Europeia indicia vícios de forma e um incómodo, tremendo, paradoxal deficit democrático, consistindo no seguinte: a coisa põe-se a referendo ou a votação parlamentar, nos 25 países; enquanto todos aprovarem, de uma forma ou de outra, muito bem; mas se (ou quando) começar a haver referendos ou votações negativas, suspenda-se de imediato. É brilhantemente democrático, por assim dizer. Ou os cidadãos europeus aprovam o papel ou, caso contrário, não têm nada nem para aprovar nem para desaprovar. Mais tarde, quando for "politicamente oportuno", o processo de promulgação (aprovação) volta ao princípio. Existem, portanto, duas posições possíveis em relação à Constituição Europeia: ou aprovar ou aprovar.

O que está em causa não é, exactamente, o simples conteúdo daquele documento. Por alguma razão na maioria (15) dos países o processo de aprovação é o da via parlamentar e apenas sete o farão por referendo.

O que está em causa não é, em, rigor, se a população europeia quer ou não quer isto ou aquilo. Como é evidente, as populações votam "sim" ou "não" conforme aquilo que lhes dizem ser o melhor, sem o mais básico dos conhecimentos sobre o assunto, qualquer que ele seja.

O que está em causa não é a substância, o conteúdo e o articulado dessa hipotética Constituição, mas os pressupostos que lhe deram origem. Os Estados Unidos da América são constituídos por 50 Estados com uma Língua comum e uma História, ao menos recente, igualmente comum. Não é aos Portugueses (ou, é legítimo supor, aos Estónios ou aos Checos, por exemplo) que os EUA "fazem sombra", de um ponto de vista económico ou de ameaça militar.

O que está em causa não é, em suma, a aprovação ou a desaprovação de um texto constitucional para a Europa. A Europa é, como sempre foi, não um país num continente mas um Continente com países.

São os próprios conceitos subjacentes, aquilo que está em causa com esta Constituição. Não pode haver maioria a votar "sim" porque, para começar, nem sequer existe "população europeia", mas populações europeias; um Catalão vota, quando muito, como Espanhol, nunca votará enquanto "europeu"; qualquer Francês vota como Francês, não como "europeu"; e quem diz Espanhol ou Francês diz Belga, ou Polaco, ou Holandês ou qualquer dos vinte e cinco; mesmo o Alemão vota, e esse ainda de forma mais evidente, apenas como Alemão, sempre como Alemão e no exclusivo interesse da Alemanha - mas nunca, nunca, nunca como "europeu".

E é, por fim, uma questão de bom-senso, aquilo que está em causa. É atalhar desde já a marcha inexoravelmente repetitiva da História e inviabilizar à nascença a mais do que previsível, a inevitável desagregação que sucederá ao "sonho europeu" - um pesadelo adiado. É ter o poder de evitar agora a fome, a guerra e o sofrimento, a longa noite obscurantista que fatalmente se seguirá à ruína do "projecto" europeu, quando as nações mais fracas se fartarem da opressão das mais fortes. É não deixar que uma ideia condenada à falência se imponha a tudo e a todos, fazendo tábua-rasa de todo e qualquer laivo de personalidade - nacional, regional ou individual. É preservar as gerações futuras, a dos nossos filhos ou, no máximo, a dos nossos netos, ao massacre absoluto da diferença e da diversidade. É impedir agora a destruição total no futuro.

O que está em causa não é o "sim" ou o "não" à Constituição Europeia; é o não à União Europeia; é o sim à paz.

(http://open-dictionary.com/No)

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(rigorosos) Exclusivos aqui do Zé Maria Pincel - II


timpano do juizo final altissimo de autumn

"miss nua" "miss praia"

um jogador Fiódor Dostoiévski resumo 1866

emery fata

" Regulamento de postura municipal" autarquia

"Hino do Canadá" anthem

protecções que se mexam

conas tesas

hostgold opinioes amigaveis

enfermagem "fazer a múmia"

algoritmo de von misses versoes sectoriais

propriedade Islan kontra

por que a extinção da "doninha fedorenta"

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LIG9499

"regulamento de postura municipal"

"hino espanhol"+cantado

o que e agravante para cidania plena camaradas

sovkhoz kolkhoz diferença

bandeira presidencial inglesa asteada tradução

anos60*musica*download nazare porto benfica letra

gajas boas grossas de olhão

"os nortenhos" + variantes hollywood

tapete de arraiolos seteais torre

bomba de diafragma norden


(rigorosos exlusivos I)

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